O regresso a Portugal resultou, obviamente, num retorno aos roteiros das principais tascas nacionais. Na primeira visita fomos surpreendidos pelos viciantes discos em formato E.P.. Já aqui o transmiti e volto a frisar: sou apaixonado pelos E.P.. Podem não trazer nada de novo, mas estas «pequenas» edições, encaradas como algo menos importante que os álbuns (aumentando o meu interesse), poderão compilar leftovers de outros registos ou aguçar o apetite dos ouvintes para um futuro álbum ou futura carreira cheia de sucessos. As escolhas, de mais uma viagem à tasca, recaíram sobre a mais recente aposta dos Yeah Yeah Yeahs, a estreia dos Bloc Party e o teaser dos Shivaree para o álbum «Who’s Got Trouble», de 2005.
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Gosto muito dos nova-iorquinos
Yeah Yeah Yeahs.
Fashion Punk Pop de alta qualidade. Karen O, uma das muitas rainhas do
rock, sabe o que quer e para onde vai. Os seus variados registos, ora agridoce (ouçam-se «
Down Boy» e «
Is Is») ora grotesco (em «
Rockers To Swallow»), são a mais valia deste colectivo. A música por vezes repete-se, mas as interpretações de O dão sempre um toque cativante aos Yeah Yeah Yeahs. «
Is Is», E.P. que reúne novas gravações de alguns dos temas escritos e esquecidos na gaveta entre «
Fever To Tell» e «
Show Your Bones», é mais do mesmo. Nenhuma das canções aqui incluídas marca, de forma clara, uma viragem de rumo, nada que nos possa dar uma primeira ideia sobre qual o futuro recente deste trio nova-iorquino. Contudo, pergunto: quando se gosta de um determinado doce, repetimos esse mesmo doce que nos satisfaz plenamente ou procuramos outras sacarinas? Karen O volta a ser a estrela da companhia e Nick Zinner e Brian Chase continuam em constante despique um com o outro. O resultado é dezoito minutos de boa música e de pura sedução por parte de Karen O e companhia. «
Rockers To Swallow» é visceral e recupera os bons momentos de Marilyn Manson. «
Down Boy» é marca de registo Yeah Yeah Yeahs, início doce para logo depois Nick Zinner e Brian Chase revirarem tudo do avesso. «
Kiss Kiss» é
punk pop para danças lascivas/sexuais; «
Is Is» acaba por ser o melhor tema aqui apresentado, juntando o belíssimo «
Maps» ao não menos espectacular «
Cheated Hearts». «
10 x 10» tem a árdua tarefa de fechar mais uma proposta dos Yeah Yeah Yeah. Nada de novo, portanto, mas aguçamos o apetite para novidades Yeah Yeah Yeahs.
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Mantemos o registo das vozes femininas, para voltarmos aos
Shivaree. OK, a banda norte-americana é irregular e somente o «
Goodnight Moon» teve algum reconhecimento geral. Porém, há algo na voz e desempenho de Ambrosia Parsley que me prende. Algo de langoroso que busca ensinamentos
pop a uns Sparklehorse, Mazzy Star e, porque não, Portishead. A música mantém a sua vertente indolente. A voz é cativante e a música, sem encantar, satisfaz. Um dos muitos
guilty pleasures do final do século XX a marcar os meus ouvidos (para o bem e para o mal). A
tracklist deste
teaser para o álbum «
Who’s Got Trouble?», trabalho que contém um dos segredos mais bem guardados da
pop («
New Casablanca»), é composta essencialmente por
covers (outra das minhas grandes paixões). Além de «
I Close My Eyes» (primeiro
single do supracitado álbum), encontramos «
Fat Lady Of Limbourg», uma versão de Brian Eno e também incluída em «
Who’s Got Trouble?» e os lados-b «
Fear Is a Man's Best Friend»,
cover de John Cale, «
Strange Boat», cover dos Waterboys e que conta com a participação especial de Ed Harcourt, e «
657 Bed B» (original dos Shivaree). Só para aderentes Shivaree.
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Terminamos esta aventura ao som dos sempre bem-vindos
Bloc Party e mais um E.P.. A compra colmatou uma falha na listagem de discos lá de casa, com o
debut da banda britânica. Não nos alonguemos muito. O que interessa aqui é «
Banquet», tema
indie rock radio friendly com um refrão orelhudo e que recupera Gang Of Four, The Fall e The Cure em pouco mais de 3 minutos. O desenrolar dos acontecimentos para os Bloc Party é conhecido: uma operadora de telecomunicações descobre «
Banquet» e a exposição é fulminante. «
Silent Alarm» é apanhado na corrente e aquando de «
A Weekend In The City», segundo registo de originais, a presença da banda nos
tops europeus já é normalíssimo. Recentemente editaram «
Flux» e as reacções têm sido díspares. Ora se ama ora se odeia, não havendo espaço para o meio-termo. «
Bloc Party E.P.» é de digestão mais fácil. Além de «
Banquet» (a «galinha dos ovos de ouro» do colectivo britânico), encontramos «
She’s Hearing Voices», numa primeira gravação menos sofisticada; «
Staying Fat», ritmo acelerado e
riffs frenéticos com vocalizações sobrepostas e envolventes; «
The Marshals Are Dead», canção que se mostra ainda num estado embrionário e que nunca foi terminada (pelo menos em disco); «
The Answer», que começa ao som de «
Price Of Gasoline» e pelo meio revela alguns
riffs de «
This Modern Love» é, porventura, o outro grande ponto de interesse deste E.P.. No fim há ainda espaço para a versão «
Phones Disco Edit» de «
Banquet», onde a bateria, o baixo e uma pitada de electrónica se evidenciam. Agradável estreia e excelente teaser para «
Silent Alarm».