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O passeio marítimo de Algés acolheu, entre os dias 10 e 12 de Julho, a segunda edição do
Optimus Alive! As bandas em cartaz faziam do evento lisboeta o mais desejado da temporada festivaleira de 2008. Em três noites assistiram-se a algumas estreias em solo nacional e a alguns regressos há muito aguardados. Porém, houve a necessidade de fazer opções: logo no primeiro dia, além de termos de escolher entre os concertos de
Beck e
Duran Duran, que actuaram no décimo quarto
Super Bock Super Rock que decorreu no Parque Tejo, e actuações de bandas como os
Vampire Weekwend,
MGMT,
The National e
Rage Against The Machine que passaram por Algés, foi necessário escolher entre os
Spiritualized e os Vampire Weekend, os The National e os MGMT, os
The Hives / Rage Against The Machine e os
Hercules And Love Affair. Foi difícil, confesso, mas a vida é feita de escolhas e aqui ficam as minhas:
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O meu Optimus Alive!08 começou às 18h50m do dia 10 na tenda
Metro On Stage, o palco secundário do festival, com o
afro-indie-rock-pop&roll-e-mais-qualquer-coisa dos nova-iorquinos
Vampire Weekend. Temas como «
Cape Cod Kwassa Kwassa», «
Walcott», «
M79», «
Oxford Comma», «
One (Blake’s Got A New Face)», «
Mansard Roof» e o inevitável «
A-Punk» fizeram as delícias dos presentes. Numa altura em que o sol ainda se fazia sentir, as lonas de plástico que vestiam o
Metro On Stage aqueceram ainda mais as hostilidades, activando a energia da prestação da banda de Ezra Koening e que o público retribuiu. Quem assistiu ao concerto teve muitas dificuldades em manter-se quieto. Ouviu-se um tema novo, apinhado de «
uuuhhhhssss» e «
yeahs», e dançou-se/saltou-se muito. No fim, só tive pena de não ouvir a extraordinária versão que os nova-iorquinos fazem ao clássico «
Exit Music (For A Film)», dos Radiohead.
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Refrescado o espírito, com o habitual sumo de cevada, seguiu-se a escolha que mais me custou em todo o festival:
MGMT ou
The National? Dado ter assistido à singular apresentação dos The National na
Aula Magna, a 11 de Maio, permaneci no encalorado Metro On Stage para ouvir os temas que compõem «
Oracular Spectacular». No entanto, depois do fulgor demonstrado pelos Vampire Weekend, posso afirmar que os compatriotas MGMT não souberam manter o nível e a actuação foi tudo menos espectacular. Após um conveniente atraso de vinte minutos (relembro que a banda brasileira
Cansei de Ser Sexy havia entretanto cancelado a sua actuação), Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden não se mostraram à altura dos acontecimentos nem do palco secundário que podia muito bem ser o cenário principal em qualquer canto do mundo. A equipa que auxiliou os norte-americanos também não ajudou em nada e os problemas técnicos foram uma constante. Andrew VanWyngarden mostrou alguma falta de profissionalismo e o concerto que supostamente deveria ser um pouco maior, devido ao cancelamento Cansei de Ser Sexy, acabou em menos de uma hora com o adoçado «
Kids» transformado em exercício
noisy-clumsy, com muito
feedback à mistura. O público tentou sempre equilibrar as coisas, mas infelizmente este era um dia não para os MGMT.
.Um pouco desiludido e com o estômago vazio segui para o palco principal à procura de algo estimulante. Os The National haviam terminado a sua actuação (morna segundo algumas testemunhas) e os
Gogol Bordello preparavam-se para incendiar o Palco Optimus. Como não conheço a carreira destes nova-iorquinos (mais uns na noite da passada quinta-feira), depois de uma meia hora explosiva do
gypsy folk punk da banda de Nikolai Gogol decidi saciar outras necessidades e como a área da restauração se situava perto do
Metro On Stage acabei por me render às capacidades em
DJing de
Peaches. Excepcional selecção de temas e artistas que resultaram numa ardente e provocadora prestação da canadiana.
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Para as 23h10m estava marcada a actuação dos
The Hives, concerto que ficou marcado pela exuberância e carisma do vocalista Howlin’ Pelle Almqvist. As músicas são, só por si, uma autêntica descarga de energia. O ritmo é acelerado, os
riffs incisivos e os rumos são sempre trepidantes. A presença de Pelle Almqvist amplifica cada explosão e a adrenalina triplica. Personifica o narcisismo da declaração «
Your Favourite New Band» na perfeição e transforma temas simples como «
Main Offender», «
Walk Idiot Walk», «
Tick Tick Boom» e, essencialmente, «
Hate To Say I Told You So» em momentos
bigger than life.
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Antes dos Rage Against The Machine subirem ao palco houve tempo para espreitar o
Metro on Stage e confirmar que os
Hercules And Love Affair vivem muito da presença e da voz de Antony Hegarty. Contrariamente ao esperado, o disco do colectivo não me surpreendeu por aí além e ver o projecto de Andrew Bulter órfão de Antony foi uma pequena desilusão. Retornamos assim rapidamente ao palco principal para recordar memórias e protestos doutros tempos com os
Rage Against The Machine (RATM). Os californianos, inactivos desde Outubro de 2000, regressaram ao activo para uma série de concertos e após o fim dos
Audioslave (super-banda que dificilmente chegaria a algum lado, pois, um pouco à semelhança da má experiência
Red Hot Chili Peppers plus Dave Navarro, julgo que o
funk rapcore metal dos RATM não se enquadra com o vozeirão não tão flexível de Chris Cornell). O espectáculo decorreu como esperado. Zach de la Rocha e Tom Morello não deixaram os seus créditos por mãos alheias e o público delirou ao som de hinos contestatários como «
Testify», «
Bulls On Parade», «
Guerilla Radio», «
Bombtrack», «
Sleep Now In The Fire», «
Killing In The Name», «
Tire Me», etc. Concerto explosivo de quatro músicos que parecem ter recuperado o prazer e o espírito de outros tempos.
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O segundo dia, a meu ver o mais fraco dos três, servia para ver e ouvir uma das maiores lendas vivas da cultura
folk protestante norte-americana e mundial: Mr.
Bob Dylan. Os nomes que passaram pelo palco
Metro On Stage não me diziam nada e dos que figuravam no palco principal somente os ausentes
Nouvelle Vague, o mítico Bob Dylan e os portugueses
Buraka Som Sistema me despertavam o interesse. Ora bem, os franceses
Nouvelle Vague ficaram retidos no aeroporto em Paris e
John Butler Trio esticou a sua actuação por mais quarenta minutos. Oh céus, pensei eu. Aproveitámos o momento para conhecer algumas das atracções do recinto Optimus Alive!08. Janta-se e jogam-se umas partidas (muitas) de matraquilhos. Pela altura do concerto de Bob Dylan estava sedento por boa música e alguma emoção. Notou-se um súbito aumento na média de idades dos presentes e Dylan munido do seu órgão entrou em cena. Ligou o piloto automático, deu o seu concerto padrão e não se esforçou muito mais. Apresentou a sua banda, tocou umas músicas (alguns êxitos e muitos temas menos conhecidos do grande público) e deixou-me completamente enfadado. Por muito que quisesse ver as actuações dos holandeses
Within Temptation e dos sempre festivos Buraka Som Sistema, depois da amorfa prestação de Bob Dylan só consegui mesmo seguir para a minha caminha.
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A terceira e derradeira noite do Optimus Alive!08 iniciou-se com sons australianos. O multi-instrumentalista
Xavier Rudd abriu as hostilidades e conseguiu transportar-me para uma belíssima praia australiana onde o
didgeridoo marcou pontos. Interessante prestação de Xavier que aqueceu ainda mais o meu final de tarde de sábado. Seguiram-se os conterrâneos
Midnight Juggernauts. Os autores de «
Dystopia», um dos discos mais ouvidos durante o primeiro semestre de 2008, são descritos pela
Rolling Stone como «a hipotética colaboração de
David Bowie, na trilogia «
Berlin», com
Kraftwerk e Faust». Existe, contudo, uma vertente mais
rock que me seduz neste trio de Melbourne. O concerto foi empolgante e o público contribuiu para isso. Temas como «
Ending Of An Era», «
Shadows», «
Road To Recovery» e «
Tombstone» obrigaram o público a dançar e todos perdoaram o momentâneo «apagão» que se viveu durante «
Into The Galaxy». Todavia, Andrew Juggernaut e companhia regressaram ao palco para a devida
reprise, fechando em beleza uma convincente primeira actuação em Portugal dos
Midnight Juggernauts.
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A noite prosseguiu com o concerto camaleão de
Róisín Murphy. A vocalista dos
Moloko (banda que vive um período sabático desde 2006, ano em que editou o best of «
Catalogue») já conta com dois álbuns a solo e apesar dos mesmos não manterem os níveis conseguidos pelos Moloko, ao vivo Róisín revela ter a lição bem estudada, mantendo a intensidade alta e dando atractivos espectáculos. As electrónicas merecem toda a atenção dos intervenientes, mas é a figura desconcertante de Róisín Murphy que mais brilha. Fulgor que arde logo aos primeiros instantes da sua actuação e entusiasma a assistência. Excitação que se intensificou às primeiras batidas do soberbo «
Forever More» (única revisitação ao catálogo Moloko). A maioria dos depoimentos descreve uma empolgante actuação de Róisín Murphy e eu, depois de ver os primeiros trinta minutos, acredito que tenha sido um verdadeiro espectáculo.
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Deixo o concerto de Róisín Murphy a meio para ver
Neil Young, o outro sexagenário presente no Optimus Alive!08 e, para muitos, o avô do
grunge. Contrariamente ao que aconteceu na noite anterior, com a actuação de Bob Dylan, a média de idades da assistência era bem mais nova e a bela prestação de Neil Young conseguiu animar os presentes. «
Rockin’ In The Free World» foi o momento da noite, como era de esperar, mas os restantes temas que passaram pelo palco e a que eu assisti não desiludiram e o canadiano
Neil Young saiu de cena com uma das mais acreditadas actuações da segunda edição do Optimus Alive!.
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Por muito que Neil Young merecesse toda a minha atenção, a prestação dos
Gossip no SBSR de 2007 obrigou-me a ir até ao
Metro On Stage. À semelhança do que sucede com os suecos The Hives, a prestação de Beth Ditto é um extra e um factor adicional de interesse nos concertos destes norte-americanos. As músicas são despretensiosas e não pretendem salvar nada nem ninguém, mas o vozeirão e a presença de Ditto são, sem dúvida, mais valias do
rock alternativo dos dias de hoje e «
Standing In The Way Of Control» um dos hinos
indie rock mais forte dos últimos tempos. Banda e público sabiam disso e aquando da passagem de «
Standing In The Way Of Control» pelo
Metro On Stage viveu-se um dos momentos mais loucos a que tive a oportunidade de presenciar neste Optimus Alive!08: Ditto decidiu partilhar as suas emoções com o público e as primeiras filas juntaram-se aos restantes dois elementos que estavam em palco para expressar algum do entusiasmo que sentiam. Comunhão perfeita que fechou mais uma surpreendente passagem dos Gossip pelo nosso país.
.
Ben Harper foi o senhor que se seguiu e para abrir mais um espectáculo em Portugal escolheu duas das minhas músicas favoritas da sua já considerável carreira: «
Jah Work» e «
Excuse Me Mr.». Início auspicioso, pensei. Porém, os temas mais insonsos de «
Lifeline» arrefeceram o ambiente e o autêntico jogo de canções e de emoções protagonizado – se num minuto Ben Harper interpretava o desencanto (esperançoso, diga-se) de «
Welcome To The Cruel World» no instante seguinte proclamava e gritava toda a sua fé em «
Better Way» – não trouxeram nada de novo às já inúmeras actuações deste
singer-songwriter em Portugal. Recordaram-se outras experiências, como «
Burn One Down», e houve tempo para vermos a colaboração com o amigo
Donavon Frankenreiter no tema «
Diamonds On The Inside», mas foi a surpresa «
Boa Sorte/Good Luck», com o
público a interpretar em uníssono os versos portugueses de
Vanessa da Mata, que se voltou a sentir o entusiasmo colectivo. O concerto que durou quase duas horas terminou com o manifesto
reggae de «
My Own Two Hand». Foi, assim, mais uma passagem de Ben Harper por palcos nacionais que não desiludiu nem causou regozijos de maior (excepto para os aficionados).
.Para fechar a noite e o festival a organização ofereceu-nos energia e excitação pelas mãos dos
MSTRKRFT. Dançou-se, pulou-se e cantou-se «
como não houvesse amanhã».