Hoje programo a máquina do tempo para 1991: ano marcante para a evolução do
rock alternativo e, em particular, para a minha própria formatação musical. Foi nesse ano (tinha eu dez anos) que despertei realmente para a música. Até então limitava-me a aguentar as rádios da preferência da minha irmã. Período em que era fixe ouvir uns tais de
Bon Jovi e outros tais de
Roxette. No entanto, e graças à mesma irmã, álbuns como «
Metallica», «
Nevermind», «
Apetite For Destruction», «
The Cult», «
Disintegration», «
Ten» e, um pouco mais tarde, «
Automatic For The People» foram entrando aos poucos lá em casa.
Riffs e «
ambientasons» que despertaram o meu entusiasmo pela música e moldaram a percepção que na altura tinha dessa mesma manifestação artística. «
Smells Like Teen Spirit» e «
Alive» são, ainda hoje, marcos incontornáveis desse meu despertar. Ensaios que provocaram em mim uma euforia imensa e que se materializava, principalmente, nas palavras e nos
riffs dos Nirvana e dos Pearl Jam. Kurt Cobain e Eddie Vedder acabaram por ser aclamados como vozes de uma geração desalinhada, para a qual o ruído musical e a rejeição lírica eram peças fundamentais. No entanto, o facto é que o
mainstream abraçou esses (e outros) novos anti-heróis e o
rock alternativo tomou de assalto as listas de vendas de todo o mundo.
. Dezoito anos depois, um dos mais importantes álbuns dessa época é reeditado e remasterizado. Desde então amado por uns e odiado por outros, o histórico
debut dos
Pearl Jam - «
Ten» -, mostra-se de cara lavada e numa versão aumentada. O álbum, que continua a ser o maior sucesso da banda de
Seattle, apresenta-se com uma nova e mais limpa remistura sonora, autoria do colaborador de longa data Brendan O’Brien. As músicas perdem alguma da aspereza que caracterizavam a sonoridade
grunge para dar espaço à voz e às palavras de Eddie Vedder. No entanto, a densidade e o negrume do
blues-rock dos Pearl Jam mantêm-se. Os
riffs continuam «
bigger than life» e as canções mantém a força de 1991. Estranho, é o facto de, caídas do céu, surgirem seis faixas bónus no alinhamento final de «
Ten Redux». Sem qualquer razão aparente somos presenteados com «
Brother», «
Just A Girl», «
Breath And Scream», «
State Of Love And Trust», «
2.000 Miles Blues» e «
Evil Little Goat». Temas que fomos conhecendo ao longo dos anos, mas que inseridos no contexto desta reedição deixam algum amargo de boca. Porquê recuperar estes seis temas e não outros tantos que saíram da fornada «
Ten»? «
State Of Love And Trust» é um dos meus temas favoritos dos Pearl Jam, mas porque raio não há qualquer referência a «
Yellow Ledbetter» (um dos temas mais populares dos Pearl Jam)? E «
Footsteps», «
Dirty Frank», «
Wash», «
Alone»… Tudo temas que marcaram a história dos Pearl Jam e do
grunge de 90. Neste particular, e apesar das opiniões contrárias quanto à política seguida pela editora, tenho que felicitar o trabalho da EMI nas mais recentes reedições dos álbuns dos
Radiohead. Expõem o trabalho da banda num retrato completo e detalhado d
e cada obra dos britânicos. Isto para dizer que «
Ten» merecia mais e não fosse a inclusão do DVD «
MTV Unplugged» e outros
goodies como o
vinyl do concerto de 1992 em
Magnuson Park (gravação também conhecida como «
Drop In The Park»), uma cópia da cassete
demo «
Mamasan» e uma cópia do «
tour diary» de Eddie Vedder esta reedição seria insignificante.