
.

.
De volta a Braga para notar o excelente regresso de Nick Cave, Warren Ellis, Martyn Casey e Jim Sclavunos. Refiro-me aos Grinderman e ao novíssimo álbum «Grinderman 2». Trabalho que prossegue com a demanda ao rock cavernoso e cru do homónimo disco de estreia (2007). Rock visceral e lúbrico que, por qualquer razão, Nick Cave não encaixa nos seus álbuns com os Bad Seeds e, louvado seja, é enquadrado no universo Grinderman. Um verdadeiro escape que permite a Nick Cave e restantes companheiros de estrada explorar os seus limites e fantasias, seja em termos de cadência sonora ou, mesmo, lírica («Well my baby calls me the Loch Ness Monster / Two great big humps and then I’m gone / But actually I am the Abominable Snowman / I guess that I’ve loved you for too long»). Produto que nasce da experimentação e que nos desperta os sentidos. Se «Evil» é um verdadeiro murro no estômago, «Kitchenette» uma áspera e esquizóide declaração capaz de baralhar qualquer um, «What I Know» um enigmático e perturbador momento e «Palaces Of Montezuma» um sonho em formato canção. Música vivida, composta por homens experientes e magníficos músicos, que mantém intactas a irreverência e espontaneidade da juventude. O certo é que os anos passam e Nick Cave continua a ser sinónimo de qualidade e actualidade e «Grinderman 2» é mais um extraordinário trabalho cravado com o seu nome.

.
Continuo em trilhos experimentais, mas recuo a 2004 para documentar histórias dos anos 80. «Calling Out Of Context», do compositor, multi-instrumentista e produtor Arthur Russell (1951-1992), foi editado pela Rough Trade em 2004 e reúne material seleccionado de «Corn» – álbum que em 1985 acabou rejeitado pela sua editora da altura – e um segundo trabalho, nunca editado, gravado entre 1986 e 1990 para a mesma Rough Trade. Quanto ao resultado final, é surpreendente. Pouco conheço da história e da música de Arthur Russell, mas depois de ouvir canções como «You And Me Both», «Calling Out Of Context», «That’s Us/Wild Combination», «Make 1, 2», «Get Around To It» ou «Calling All Kids» atrevo-me a afirmar que a música perdeu em 1992 e precocemente um dos seus maiores visionários contemporâneos. É incrível como o material aqui compilado se encontre na fronteira entre a mera demo/esboço (gravação em quatro pistas) e o potencial single independente capaz de marcar toda uma época estival («You And Me Both» e «Get Around To It» comprovam-no). Composições registadas nos anos 80, mas que soam a presente e futuro. Ainda assim, a história diz que Arthur Russell passou um pouco ao lado de tudo e de todos.

.
Sem comentários:
Enviar um comentário