terça-feira, 30 de setembro de 2008

2008 | Viagens à tasca em período de férias III

Voltemos ao recente período de férias e à Bélgica. A última deslocação inter-cidades teve como destino Lovaina, um autêntico pólo universitário belga que respira juventude e história. Enquanto a chuva não apareceu conheceram-se algumas das principais atracções históricas locais. Porém, às primeiras pingas de chuva avistou-se uma FNAC (o que não deixa de ser uma das atracções locais…).
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Praça Grande de Lovaina

Tal como sucedeu em anos anteriores, quando viajo para um novo país o interesse e a curiosidade de conhecer alguma da música local é estimulado. Além dos dEUS, dos Soulwax, Zita Swoon, K’s Choice e Millionaire, descobri em Lovaina duas novas bandas belgas. Aliás, a verdade é que descobri somente uma, pois os autores de um dos discos que acabaram na bagagem de mão já haviam passado pelo i-pod lá de casa.
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Comecemos pela novidade, que se apresenta em neerlandês. Pelas pesquisas que efectuei na Internet, os Monza surgiram em 2000 e o álbum de estreia - «Van God Los» - data de 2001. «Attica!», o terceiro registo de originais, era um dos discos com maior destaque na secção «Expressão Neerlandesa» da FNAC de Lovaina. A breve audição efectuada na zona de pré-escuta revelou uma banda rock interessada no movimento indie belga (preconizado nos anos noventa pelos dEUS), mas igualmente atenta aos ensinamentos Joy Division de finais da década de setenta e difundidos actualmente por nomes como os Interpol e os Editors. Paralelamente identificam-se, na musicalidade dos Monza, a severidade de uns Nirvana, o indie rock praticado nos anos oitenta pelos R.E.M. e/ou Screaming Trees e a aspereza dos Sonic Youth, mas é o lado mais pop da banda que acaba por colocá-los ao lado dos compatriotas Soulwax. Nada que menospreze a sua música, antes pelo contrário. Todavia, os Monza mostram-se mais impetuosos e os fortes riffs das guitarras de Bruno Fevery e Kris Delacourt só fazem aumentar a exuberância e a urgência da sua música. Nota final para o excelente «Conquistadores» que, não manchando a imagem rock do colectivo, nos dá um notável momento pop capaz de alimentar alguma inveja entre os britânicos Editors e/ou Doves.
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Seguimos à descoberta e deparamo-nos com os Girls In Hawaii. Banda que iniciou a sua actividade, também, em 2000 e que, inevitavelmente, saiu da «movida» indie belga. Os dEUS voltam a ser inventariados e anexados a eles surgem agora os Grandaddy, os The Flaming Lips e os Blonde Redhead. A banda apresenta, assim, uma musicalidade mais pop que os anteriores Monza, revelando um lado etéreo e mais sonhador. Até à data o meu contacto com estes Girls In Hawaii tinha ocorrido em 2006, com o filme «Dans Paris», de Christophe Honoré (o mesmo realizador de «Les Chansons D’Amour»). Na altura, o ritmo hipnotizante de «Flavor» contagiava Anna (personagem interpretada por Joana Preiss) e seduzia-me até ao tutano. Não descansei enquanto não descobri quem tocava e que tema era. «Flavor» é ainda hoje uma das canções mais magnetizantes que ouvi e é, sem dúvida alguma, o melhor tema de «From Here To There» (2003), o debut dos Girls In Hawaii. Nenhum outro tema alcança a excelência de «Flavor», mas também nenhuma canção envergonha banda e temas como «Time To Forgive The Winter», «The Fog», «Casper», «Organeum» e «Bees & Butterflies (Down)» merecem toda a minha atenção. No cômputo geral, «From Here To There» é um álbum mediano e, quiçá, um pouco desequilibrado. Poderá, igualmente, ser encarado como um autêntico álbum de fotografias, nas quais poderemos encontrar umas mais espectaculares que outras, mas recordamos, sempre, momentos afectuosos. Tudo resultado da pop neo-psicadélica que a banda pratica.
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Depois de exploradas as secções belgas e dado o boletim meteorológico não melhorar, segui para os escaparates internacionais e, longe de pensar que estaria perante uma das grandes desilusões de 2008, decidi apostar no novo trabalho das/dos Cansei de Ser Sexy (CSS), a banda brasileira mais internacional da actualidade. Que terá mudado na banda de Lovefoxxx comparativamente à estreia de 2006? Infelizmente nada mudou. A pop despretensiosa e disfarçada em punk rock brasileiro continua a ser a imagem de marca do colectivo. Os sintetizadores dividem o protagonismo com os riffs de guitarra e o baixo de Adriano Cintra aquece o clima. Lovefoxxx mantém os registos descontraídos do debut «CSS», mas as letras e respectivos títulos das canções perderam a graça e o festim low-tech desapareceu. A presença de Kim Deal e das suas The Breeders ainda se faz sentir, mas a preocupação da banda parece ser agora a exposição na MTV, perdendo-se algum do entusiasmo do irreverente «CSS». Todavia, «Donkey» não deixa de ser um álbum competente e as/os Cansei de Ser Sexy uma banda capaz de me levar ao Coliseu dos Recreios no próximo dia 28 de Outubro.
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Chegamos ao derradeiro souvenir de Lovaina e, curiosamente, a uma das grandes surpresas de 2008: «Nouns» do duo No Age. Formados em Dezembro de 2005 por Dean Spunt (bateria e voz) e Randy Randall (guitarra), esta dupla, sedeada em Los Angeles, fez furor no seio do movimento indie rock com «Weirdo Ripper», colecção de cinco EPs que viu a luz do dia no ano passado. O disco provocou alguma ansiedade entre os mais atentos, com bloguers e imprensa especializada à cabeça. «Nouns» foi editado em Maio deste ano e os elogios foram imediatos. Manifestação noisy punk partidária de uma postura experimentalista, na qual o formato canção nunca é esquecido. Nirvana meets The Fiery Furnaces? Sem dúvida! Pixies meets Animal Collective? Também! Mas a música dos No Age é mais que isso. É ruído baseado na harmonia; caos eléctrico formatado pela melodia; textura punk menos indómita. Será que lhe podemos chamar punk art? Porque não. No entanto, julgo que é redutor caracterizar a música e o alcance de «Nouns» em duas palavras apenas. O hype está garantido e os No Age entram de rompante para a lista de bandas a acompanhar.
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Para terminar deixo o vídeo de «Eraser», um dos temas fundamentais de «Nouns» dos norte-americanos No Age.
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