terça-feira, 28 de agosto de 2007

Viagens à tasca

Apesar dos mais recentes copos (aquisições), o estado de espírito ainda não era o melhor. Vagueamos pelas ruas da cidade e damos de caras com a segunda alternativa à habitual tasca. Como tive a oportunidade de referir no último capitulo, a oferta no El Corte Inglês (ECI) é extremamente variada e, de vez em quando, encontram-se agradáveis surpresas, mas os preços revelam-se na maior parte das vezes proibitivos.

Todavia, qualquer tasca que se preze tem as suas «promoçõezinhas» e o ECI não é excepção. As escolhas finais passaram pelos DVDs retrospectivos das videografias da islandesa Björk e dos veteranos Metallica e pelas últimas edições dos The Rapture, com «Pieces From The People We Love», e a recente e mais que justificada revisão da matéria dada dos Garbage.

Enquadrado na assinalável retrospectiva discográfica encetada por Björk em 2002/2003, «Greatest Hits: Volumen 1993-2003» é mais um dos artigos de colecção obrigatórios para qualquer fã de Björk e um excelente cartão de visita para os designados novos públicos (caso ainda os hajam para Björk). Vejamos uma coisa, Björk é, actualmente, uma artista «intocável»; tem um estatuto que lhe permitiu editar os menores «Medúlla» e «Drawing Restraint 9» e manter o mesmo culto e aceitação de público e imprensa especializada. Ora, diga-se que grande parte dessa admiração resultou das edições discográficas das quais as peças apresentadas no DVD em análise fazem parte. Porém, há que admitir que outra grande parte dessa quota de unanimidade advém dos próprios vídeos que compõem «Grestest Hits». O período exposto compreende os álbuns de originais «Debut», «Post», «Homogenic» e «Vespertine» e julgo que não chocaria ninguém se admitisse estarmos perante a época mais fértil da carreira desta islandesa. Como se não bastasse «Grestest Hits» contém alguns dos mais preciosos vídeos dos últimos anos, de que são exemplo «All Is Full Of Love», «It’s Oh So Quiet», «Joga», «Bachelorette», ou mesmo «Hidden Place». Numa análise mais detalhada podemos adiantar que de «Debut» encontramos «Human Bahaviour», «Venus As A Boy», «Play Dead», «Big Time Sensuality» e «Violently Happy»; de «Post» estão «Army Of Me», «Isobel», «It's Oh So Quiet», «Hyper-ballad», «Possibly Maybe» e «I Miss You»; «Homogenic» está representado por «Joga», «Bachelorette», «Hunter», «Alarm Call» e «All Is Full Of Love»; e, por fim, «Vespertine» empresta «Hidden Place», «Pagan Poetry» e «Cocoon». Como extras mostram-se «It’s In Our Hands» (tema originalmente editado em «Greatest Hits») e «Nature Is Ancient» (apresentado na «Family Tree»). A cereja em cima do bolo é a apresentação cronológica dos vídeos, o que dá a oportunidade ao espectador de ter uma visão da evolução sonora e visual de uma das mais respeitadas artistas mundiais. Factor negativo é a exclusão de qualquer peça de «Selmasongs», a banda sonora de «Dancer In The Dark».
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Pedimos algo mais forte e a videografia dos Metallica é colocada no balcão. Para os mais atentos, há cerca de um mês e meio (por alturas do SBSR) expus aqui algum desconforto sentido perante o ambiente metal composto por um público trintão e saudoso da sua rebeldia de juventude dos anos 90, o que não deixou de causar alguma estranheza. Porém, o espírito vivido durante o SBSR já lá vai e os mais recentes acontecimentos quotidianos pediam algo pesado e nostálgico. Resultado? Metallica! «The Vídeos: 1989 – 2004» apresenta toda a videografia dos norte-americanos. A viagem, proposta por James Hetfield e companhia, inicia-se com «One», o primeiro vídeo da carreira dos Metallica e primeiro single do quarto álbum de originais, «…And Justice For All». A jornada prossegue para o álbum da mediatização dos Metallica. Comummente identificado como o «The Black Album», os seus singles promocionais «Enter Sandman», «The Unforgiven», «Nothing Else Matters», «Wherever I May Roam» e «Sad But True» são, ainda hoje, os temas mais aguardados em qualquer concerto do colectivo de São Francisco. Todavia, estes mesmos vídeos (à excepção de «The Unforgiven») são, porventura, os mais pobres da carreira do colectivo. A história prossegue com a saga, menos consensual para os fãs, mas mais desafiante para a banda, de «Load» e «Reload». Os singles da sequela passam pelo obscuro «Until It Sleeps», os radio-friendly «Hero Of The Day» e «Mama Said», o mais «metallico» «King Nothing», o superior «The Memory Remains» com a preciosa ajuda de Marianne Faithfull, «The Unforgiven II» e o acelerado «Fuel». Dos dias garageiros dos Metallica encontramos «Turn The Page» e «Whiskey In The Jar». «No Leaf Clover» assinala a colaboração com Michael Kamen em «S&M». Passamos pela banda sonora de «Missão Impossível 2» com «I Disappear» e terminamos com temas de «St. Anger» e «Some Kind Of Monster». Ao todo são 21 vídeos, versões alternativas de «One» e «The Unforgiven»; «2 Of Us» (a gravação home video editada em 1989 em VHS) e um trailer do aprovado DVD «Some Kind Of Monster». Razões mais que suficientes para apostar na mais recente proposta dos Metallica.

Passamos às apostas feitas no campo do compact-disc (formato que celebrou há poucos dias os seus 20 anos de vida). Voltamos a relembrar o SBSR deste ano e damos conta de que a ausência dos The Rapture ainda não foi ultrapassada. «Echos» de 2003 é, ainda hoje, um dos álbuns indispensáveis no i-pod. «Pieces Of The People We Love» (sucessor de «Echos» e terceiro álbum na carreira dos The Rapture) está uns pontos abaixo do seu antecessor, mas deixou de ocupar espaço na pasta dos downloads do computador lá de casa, ganhando finalmente corpo. A alma continua a ser festiva, celebrativa, dançante e inflamada. «Get Myself Into It» é o perfeito tónico para essa incessante procura hedonista. Porém, a verdade é que os seus compatriotas LCD Soundsystem monopolizam as pistas de dança e os tops nos quais os The Rapture são presença assídua, pelo que «Pieces Of The People We Love» perde algum do seu fulgor face à concorrência. Contudo, as ancas não deixam de ganhar vida própria e nós não somos de deixar a festa a meio. «It’s the change of a lifetime» canta Luke Jenner e o melhor a fazer é dançar como se não houvesse amanhã…
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A última «bebida», em dose dupla, teve um travo especial. Os Garbage foram, durante a década de 90, uma das mais respeitadas bandas pop-rock. Composta por 3 produtores e uma escocesa fã incondicional de Siouxsie And The Banshees, a banda parecia estar talhada para o sucesso. Não bastasse a presença de Butch Vig (produtor de obras(primas) como «Nevermind» dos Nirvana e «Siamese Dream» dos The Smashing Pumpkins), Shirley Manson, com a sua pose quase insolente, foi aclamada como mais uma rainha do rock saída de terras de Sua Majestade. Contudo, a carreira (até à data) de Butch Vig, Steve Marker, Duke Erikson e Shirley Manson tem-se revelado inconstante. Com um início promissor – «Garbage» e «Version 2.0» eram (e são) álbuns compostos por singles – a banda soube entranhar-se no seio de públicos pop/rock e indie. Temas como «Vow», «Queer», «Only Happy When It Rains», «Stupid Girl», «Milk», «Push It», «I Think I’m Paranoid», «Special» e «You Look So Fine» não ficariam mal vistos tanto no éter de qualquer programa nocturno de autor como na airplay list de qualquer rádio «comercialóide». Porém, a projecção do grupo foi esmorecendo e com os 3.º e 4.º discos de carreira os Garbage pareciam ser uma banda virada para os seus seguidores habituais. «Absolute Garbage» chega na altura certa para avivar a nossa memória e voltar a colocar os Garbage em cena. Como extra, «Absolute Garbage» pode ser adquirido numa edição especial, a qual inclui um CD bónus cheio de remisturas dos mais variados campos, desde Massive Attack a Fun Lovin’ Criminals, dos U.N.K.L.E. aos Neptunes, de Roger Sanchez a Felix Da Housecat. Contudo, esta compilação de remisturas revela-se inconsequente para quem coleccionou os inúmeros maxi-singles que os Garbage foram editando, ficando um travo a fel a ausência de uma outra compilação com todos os preciosos b-sides que a banda, maioritariamente, norte-americana editou até à data. Ficamos a aguardar...

Após mais um valente tropeção, deixo em repeat o fabuloso vídeo de Chris Cunningham para o não menos extraordinário «All Is Full Of Love» de Björk.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Viagens à tasca

Caros, antes de mais peço desculpa pelo hiato de 3/4 semanas sem qualquer post, mas quer a Sardenha quer a Suiça chamaram por mim…

Assim, e com toda a azafama motivada pelo início das férias, ou melhor, pelo início da interrupção no trabalho, ficaram valentes bebedeiras (de caixão à cova, como é apanágio na gíria «tasqueira») por relatar.

Há cerca de 3 semanas a vida não corria como esperado, por isso eu confesso: “andava deprimido”! O trabalho era a cada dia que passava mais desgastante, a vida revelava-se amarga, as pessoas desiludiam-nos, etc., etc., etc. Vai daí decide-se afogar todas as mágoas num autêntico «rally às tascas».

Dado o estabelecimento habitual não nos satisfazer a 100%, há que encontrar alternativas. Apesar da oferta escassa (comparativamente a outros mercados) ainda existem algumas opções «úteis». As escolhas (relativamente às mencionadas alternativas) passaram pela já histórica Carbono e pelo El Corte Inglês.

Enquanto na Carbono há a possibilidade de adquirir artigos recentes e menos novos, relevantes e mais dispensáveis, prontos a estrear e em segunda-mão, mas sempre com um selo de qualidade (achamos nós…); no El Corte Inglês a oferta é extremamente variada, com qualidade mas por vezes «inaudita» nos preços.

Comecemos pela Carbono. Os artigos novos passaram pelo EP dos Sigur Rós «Hoppípolla»; os menos novos pelo álbum de 2003 dos canadianos Broken Social Scene, intitulado «You Forgot It In People»; e os artigos mais antigos, mas menos dispensáveis, passaram pela edição especial e limitada de «Definitely Maybe» dos ofuscados (mas não mortos) Oasis.

Enquanto as tão aguardadas novidades discográficas dos islandeses Sigur Rós não nos chegam aos ouvidos, as variadíssimas edições de singles e/ou EP’s revelam-se preciosas (ora pela sua vertente sonora, ora pela sua parte exterior/visual) para aguçar o voraz apetite nórdico. «Hoppípolla» é composto por 3 peças, o tema título e segundo single extraído de «Takk…» e 2 b-sides; e vem empacotado numa cuidada slimcase. O tema que dá nome ao «disquinho» é a terceira peça de «Takk…» e tem como (excelente) vídeo promocional as rebeldias de alguns «adolescentes de terceira idade». Como b-sides encontramos «Með Blóðnasir» que prossegue com o espírito de caixinha de música que é «Hoppípolla» e «Hafsól», a gravação de estúdio da versão tocada ao vivo de «Hafssol» (tema originalmente incluído no álbum de estreia «Von», mas que ao vivo ganha uma roupagem diferente e é reconhecido como a canção em que o baixista Georg “Goggi” Hólm nos impressiona com o ritmo sibilino produzido com o toque de uma baqueta nas cordas da sua guitarra baixo). Indispensável só para os fãs mais acérrimos deste colectivo islandês, «Hoppípolla» acaba por ser mais uma peça de colecção na discografia dos já obrigatórios Sigur Rós.
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«Solicita-se uma nova rodada» e acaba-se por descobrir os Broken Social Scene. Mais uma banda canadiana a ter a aprovação de meio mundo melómano. OK. Eu confesso, conhecia uma ou outra música, mas continuava a aguardar pelo momento certo para me aventurar de corpo e alma à causa «social canadiana». O colectivo, formado em 1999 em Toronto por Kevin Drew e Brendan Canning a quem se juntaram mais tarde Leslie Feist, Evan Cranley, Andrew Whiteman e Justin Peroff, estreou-se em 2001 com «Feel Good Lost». Contudo, só em 2003, com o segundo «You Forgot It In People» (agora em análise) e a incorporação de mais 6 músicos, é que os Broken Social Scene se notabilizaram, angariando o Juno Award de Melhor Disco Alternativo do ano. Musicalmente, os Broken Social Club fazem lembrar um pouco o clã norte-americano Lambchop, tornando-se impossível dissociar o bom resultado final dos inúmeros elementos que constituem esta quase irmandade. A multiplicidade de músicos e instrumentos apresenta uma sonoridade abastada, ora densa ora solarenga, ora transmitindo todo o stress urbano ou ambientes mais bucólicos. Acabam, assim, por serem uma mescla do melhor que há nos Sonic Youth, Pixies, Yo La Tengo, Lambchop, Mogwai, Calla, Tortoise e porque não dos conterrâneos Godspeed You! Black Emperror. Mais um excelente exemplo do melhor que a música indie canadiana tem para oferecer nos dias que correm.

Chegamos a «Definitely Maybe» e o leitor deverá estar a pensar: «mas porque carga de água é que este tipo compra um disco do século passado e em segunda-mão?» Bem, antes de mais «Definitely Maybe» é, provavelmente, o melhor álbum dos manos Gallagher e um dos grandes marcos da Britpop da década de 90. Por fim, capitulei mais uma vez ao vício e não resisti à edição especial e limitada na qual está incluído um disquinho bónus com uma das melhores composições de Noel Gallagher, «Whatever». O tema, o mais «beatlesco» do colectivo até à data, foi editado no natal de 1994 e representou uma ponte perfeita entre o marcante «Definitely Maybe» e o consensual «(What’s The Story) Morning Glory?». Quanto ao álbum, «Definitely Maybe» já era mais que conhecido e se ouvirmos «Stop The Clocks» (a colectânea retrospectiva editada no ano passado) verificamos que é o álbum mais representado com «Rock 'N’ Roll Star», «Slide Away», «Cigarettes & Alcohol», «Live Forever» e «Supersonic». Editado no período «pós Kurt Kobain», a estreia hedonista dos Oasis veio espicaçar o panorama discográfico britânico e revelou-se, há cerca de 3 semanas, uma surpreendente redefinição para os meus ouvidos.