segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Viagens à tasca

Caros, antes de mais peço desculpa pelo hiato de 3/4 semanas sem qualquer post, mas quer a Sardenha quer a Suiça chamaram por mim…

Assim, e com toda a azafama motivada pelo início das férias, ou melhor, pelo início da interrupção no trabalho, ficaram valentes bebedeiras (de caixão à cova, como é apanágio na gíria «tasqueira») por relatar.

Há cerca de 3 semanas a vida não corria como esperado, por isso eu confesso: “andava deprimido”! O trabalho era a cada dia que passava mais desgastante, a vida revelava-se amarga, as pessoas desiludiam-nos, etc., etc., etc. Vai daí decide-se afogar todas as mágoas num autêntico «rally às tascas».

Dado o estabelecimento habitual não nos satisfazer a 100%, há que encontrar alternativas. Apesar da oferta escassa (comparativamente a outros mercados) ainda existem algumas opções «úteis». As escolhas (relativamente às mencionadas alternativas) passaram pela já histórica Carbono e pelo El Corte Inglês.

Enquanto na Carbono há a possibilidade de adquirir artigos recentes e menos novos, relevantes e mais dispensáveis, prontos a estrear e em segunda-mão, mas sempre com um selo de qualidade (achamos nós…); no El Corte Inglês a oferta é extremamente variada, com qualidade mas por vezes «inaudita» nos preços.

Comecemos pela Carbono. Os artigos novos passaram pelo EP dos Sigur Rós «Hoppípolla»; os menos novos pelo álbum de 2003 dos canadianos Broken Social Scene, intitulado «You Forgot It In People»; e os artigos mais antigos, mas menos dispensáveis, passaram pela edição especial e limitada de «Definitely Maybe» dos ofuscados (mas não mortos) Oasis.

Enquanto as tão aguardadas novidades discográficas dos islandeses Sigur Rós não nos chegam aos ouvidos, as variadíssimas edições de singles e/ou EP’s revelam-se preciosas (ora pela sua vertente sonora, ora pela sua parte exterior/visual) para aguçar o voraz apetite nórdico. «Hoppípolla» é composto por 3 peças, o tema título e segundo single extraído de «Takk…» e 2 b-sides; e vem empacotado numa cuidada slimcase. O tema que dá nome ao «disquinho» é a terceira peça de «Takk…» e tem como (excelente) vídeo promocional as rebeldias de alguns «adolescentes de terceira idade». Como b-sides encontramos «Með Blóðnasir» que prossegue com o espírito de caixinha de música que é «Hoppípolla» e «Hafsól», a gravação de estúdio da versão tocada ao vivo de «Hafssol» (tema originalmente incluído no álbum de estreia «Von», mas que ao vivo ganha uma roupagem diferente e é reconhecido como a canção em que o baixista Georg “Goggi” Hólm nos impressiona com o ritmo sibilino produzido com o toque de uma baqueta nas cordas da sua guitarra baixo). Indispensável só para os fãs mais acérrimos deste colectivo islandês, «Hoppípolla» acaba por ser mais uma peça de colecção na discografia dos já obrigatórios Sigur Rós.
.
«Solicita-se uma nova rodada» e acaba-se por descobrir os Broken Social Scene. Mais uma banda canadiana a ter a aprovação de meio mundo melómano. OK. Eu confesso, conhecia uma ou outra música, mas continuava a aguardar pelo momento certo para me aventurar de corpo e alma à causa «social canadiana». O colectivo, formado em 1999 em Toronto por Kevin Drew e Brendan Canning a quem se juntaram mais tarde Leslie Feist, Evan Cranley, Andrew Whiteman e Justin Peroff, estreou-se em 2001 com «Feel Good Lost». Contudo, só em 2003, com o segundo «You Forgot It In People» (agora em análise) e a incorporação de mais 6 músicos, é que os Broken Social Scene se notabilizaram, angariando o Juno Award de Melhor Disco Alternativo do ano. Musicalmente, os Broken Social Club fazem lembrar um pouco o clã norte-americano Lambchop, tornando-se impossível dissociar o bom resultado final dos inúmeros elementos que constituem esta quase irmandade. A multiplicidade de músicos e instrumentos apresenta uma sonoridade abastada, ora densa ora solarenga, ora transmitindo todo o stress urbano ou ambientes mais bucólicos. Acabam, assim, por serem uma mescla do melhor que há nos Sonic Youth, Pixies, Yo La Tengo, Lambchop, Mogwai, Calla, Tortoise e porque não dos conterrâneos Godspeed You! Black Emperror. Mais um excelente exemplo do melhor que a música indie canadiana tem para oferecer nos dias que correm.

Chegamos a «Definitely Maybe» e o leitor deverá estar a pensar: «mas porque carga de água é que este tipo compra um disco do século passado e em segunda-mão?» Bem, antes de mais «Definitely Maybe» é, provavelmente, o melhor álbum dos manos Gallagher e um dos grandes marcos da Britpop da década de 90. Por fim, capitulei mais uma vez ao vício e não resisti à edição especial e limitada na qual está incluído um disquinho bónus com uma das melhores composições de Noel Gallagher, «Whatever». O tema, o mais «beatlesco» do colectivo até à data, foi editado no natal de 1994 e representou uma ponte perfeita entre o marcante «Definitely Maybe» e o consensual «(What’s The Story) Morning Glory?». Quanto ao álbum, «Definitely Maybe» já era mais que conhecido e se ouvirmos «Stop The Clocks» (a colectânea retrospectiva editada no ano passado) verificamos que é o álbum mais representado com «Rock 'N’ Roll Star», «Slide Away», «Cigarettes & Alcohol», «Live Forever» e «Supersonic». Editado no período «pós Kurt Kobain», a estreia hedonista dos Oasis veio espicaçar o panorama discográfico britânico e revelou-se, há cerca de 3 semanas, uma surpreendente redefinição para os meus ouvidos.

Sem comentários: