sábado, 28 de julho de 2012

Lisbon, Oh...


Já no encore, Justin Vernon pede a ajuda do público para entoar «What might have been lost» e, assim, emoldurar «The Wolves (Act I AndII)». Seguiu-se, para fechar a noite, «For Emma» e nós, dominados pela demanda do desassossego dos Bon Iver, sentimos que Justin Vernon e os restantes oito elementos em palco nos dedicavam antes um For Lisbon. Não que a cidade reclamasse mais essa invocação (recorde-se «Lisbon, Oh», do último trabalho «Bon Iver»), mas aquele encontro no Coliseu merecia uma despedida própria. Naquele momento, depois de nos termos perdido pelas invernosas composições de «For Emma, Forever Ago» e aproximado ainda mais das visões paisagistas e contemplativas de «Blood Banks» e «Bon Iver», era o que fazia sentido. Justin Vernon, cumprindo com o ritual, anunciava o seu fascínio pela cidade de Lisboa e carinho pela sala (esgotada há mais de três meses) que o acolhia de braços abertos. Já a banda, quase uma Justin Vernon Band, ou seja, uma versão mais indie e mais folk da Dave Matthews Band, apresentou as canções de Justin Vernon em versões mais rock. O que ninguém estranhou, nem mesmo as canções, pois o percurso sonoro dos Bon Iver já o antevia. Contudo, momentos houve em que a singularidade da música e da voz de Justin Vernon nos levou ao mesmo lugar onde já havíamos descoberto «Flume», «Skinny Love», «re: stacks» e «For Emma». For Lisbon, forever ago…

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Savage night @ Musicbox


Os canadianos Destroyer, banda que edita álbuns desde 1996, passaram recentemente pelo Musicbox e a sala mais acolhedora de Lisboa encheu para os ver, naquela que terá sido a noite mais quente de Julho. É certo que a maior fatia do público presente respondeu ao chamamento devido a «Kaputt», o último e extraordinário álbum da banda e, na minha opinião, o melhor disco de 2011. Pop sofisticada, canções polidas e melodias lustrosas que fazem de «Kaputt» um momento brilhante da pop recente. Daniel Bejar, o crooner errante que em palco demonstra o seu gosto pela palavra (e também por Baco…), e os restantes sete elementos que subiram ao pequeno palco do Musicbox recriaram na perfeição toda a beleza de «Kaputt». Portanto, foi com alguma naturalidade que a cumplicidade se tenha notado mais viva em momentos como «Savage Night At The Opera», «Kaputt», «Suicide Demo For Kara Walker» (momento da noite?), «Blue Eyes», «Chinatown» e «Downtown». Porém, os registos mais antigos desta banda de Vancouver não ficaram esquecidos e, por isso, outros discos, outras canções e outras preciosidades foram recordados. Do deleite de «Your Eyes», a abrir o concerto, à pop The Beatles meets David Bowie de «European Oils», passando pela rapsódia «Rubies», a boémia «Libby’s First Sunrise» e terminando na orquestra shoegaze de «Hey, Snow White», já no encore. Temas que não se esconderam à sombra de «Kaputt», fazendo da actuação dos Destroyer mais uma noite bravia no Musicbox.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Optimus Alive '12: Dia 3

O derradeiro dia da edição 2012 do festival Optimus Alive, o mais forte do cartaz, foi mesmo o mais concorrido. Jornada destinada, também, aos fenómenos, com os Radiohead a mostrarem-se como o principal factor desestabilizador. As T-shirts alusivas à causa e os "Radiohead freaks" eram mais que muitos.
Foi com a power soul do norte-americano Eli “Paperboy” Reed, uma mistura de James Brown com o swing de Mayer Hawthorne, que a música começou. Interessante prestação e uma voz que não esqueceremos tão facilmente. O Sr. abusou dos Yeahs, mas a festa estava montava. Por isso, dou um salto ao espaço Clubbing para abraçar um pouco da pop, com temperos electrónicos e melodias sedutoras, do duo Best Youth. No entanto, os PAUS já chamavam pelo público e, aproveitei, para conferir a versão live do excelente single «Deixa-me Ser». Não cativaram muito, confesso, e acabo por regressar ao palco Heineken para assistir à calorosa prestação das norte-americanas Warpaint. Banda que continua a apresentar o álbum de estreia «The Fool» e a apoiar-se em êxitos como «Stars», «Bees», «Elephants», «Composure» e, claro, «Undertow». Canções com ADN indie e texturas dream pop. Melodias irresistíveis que funcionaram muito bem e, não fosse o feedback irromper por duas ou três vezes, o concerto teria sido perfeito. The Maccabees foi a banda que se seguiu e o espaço Heineken encheu para ver o grupo londrino apresentar o mais recente álbum «Given To The Wild». Não conheço a carreira destes The Maccabees, mas a sua prestação no Optimus Alive já me fez correr o Youtube em busca das suas canções. Porém, nova pesquisa levou-me também ao palco principal para ver algumas das composições camaleónicas de Dan Snaith, a.k.a. Caribou. Canções elegantes e para headphones que não encaixaram muito bem no palco Optimus. Quanto aos Mazzy Star, e do que deu para ver, pois havíamos que assegurar o lugar para o concerto dos Radiohead, vislumbrou-se a negra melancolia que tanto me marcou nos anos 90. O concerto foi sombrio e Hope Sandoval assumiu a habitual postura blasé, a imagem de marca dos Mazzy Star. Não se criou empatia com o público e por isso, comenta-se, o espaço foi ficando cada vez mais desocupado.
À hora marcada, os Radiohead subiram ao palco principal para tocar «Bloom», o tema que abre também o último registo «The King Of Limbs». Álbum de 2011 que a banda ainda anda a promover e que passou quase todo pelo Optimus Alive (só «Little By Little» e «Codex» decidiram não aparecer). Ouviu-se, também, grande parte de «In Rainbows», o trabalho de 2007, e para compor o acontecimento recuperaram-se alguns dos melhores momentos de «Hail To The Thief», «The Bends», «Kid A», «Amnesiac» e, evidentemente, «OK Computer». Thom Yorke dançou, saltou e até desafinou (em «Climbing Up The Walls» fez tudo para estragar o momento), mas este era um concerto ganho. Bastava aos Radiohead subirem ao palco para o público rejubilar. Portanto, se adicionarmos a esta equação canções como «Pyramid Song», «Exit Music (For A Film)», «There There», «Nude», «Lucky», «Idioteque», «Paranoid Android», «Street Spirit (Fade Out)», «I Might Be Wrong», «Lotus Flower» e «Reckoner», o resultado será a exaltação de uma das maiores entidades criativas da pop. O desfile durou cerca de duas horas, com dois encores incluídos, encerrando ao som de «Street Spirit (Fade Out)». A adrenalina atingia, por esta altura, os seus píncaros.
Dirijo-me para o espaço Heineken, onde os SBTRKT estavam a dar o seu melhor, com «Hold On». Foi pena a prestação do londrino Aaron Jerome estar a entrar nos seus derradeiros momentos, mas o que se passou no palco obriga-me a marcar presença numa próxima visita a Lisboa do projecto SBTRKT. Canções de laboratório que soam muito bem ao vivo. Portanto, Aaron Jerome convence, também, no formato live. Quem não precisava de me convencer era a dupla The Kills. Há anos que esperava pelo momento de os ver em palco e essa sede foi finalmente saciada. Alison “VV” Mosshart e Jamie “Hotel” Hince começaram por anunciar “This ain’t no wow now / … / This ain’t no wow no more”, mas a cumplicidade entre ambos os protagonistas apaixonou-nos e o single «Future Starts Slow» logo repôs os níveis de adrenalina. O público respondeu ao desafio e foi um gozo tremendo ouvir temas como «Kissy Kissy», «Satellite», «Tape Song», «Baby Says», «Last Day Of Magic» e, claro, «Fuck The People». Lá pelo meio, e aquando de «The Last Goodbye», Alison interrompeu tudo para pedir assistência a alguém que sucumbia na plateia.
Ultrapassada a contrariedade seguiram-se «Pots And Pans» e os portentosos «Fuck The People» e «Monkey 23». I say that this deserves a fuckin’ wow!!! Entretanto, a festa dos Metronomy estava prestes a começar e, apesar de já passarem das três da manhã, o fim do festival ainda estava longe. Música electrónica com pinta de pinga amor que nos deixa a menear o corpo continuamente. Foi o encerramento perfeito ao som de «The Bay», «Corinne», «She Wants», «Heartbreaker», «Everything Goes My Way» «Radio Ladio» e «The Look». Não sei o que sentem, mas há muito tempo que eu não saía tão cheio de um dia de festival.

sábado, 21 de julho de 2012

Optimus Alive '12: Dia 2

Dia marcado pelos inúmeros sósias de Robert Smith, pela ausência já anunciada de Florence + The Machine e consequente entrada em cena dos amigos de longa data Morcheeba. Contudo, a maratona de concertos começou com a irlandesa Lisa Hannigan. Cantora e compositora que iniciou a sua carreira ao lado de Damien Rice (alguém se recorda da voz feminina que surge em «The Blower’s Daughter» e «9 Crimes»?; e do tema «Silent Night» que encerra o álbum «O»?). O que se ouviu em palco resulta da mistura da sentimentalidade Damien Rice com o éter Holly Miranda e a formalidade Amanda Palmer. Fruto que curiosamente mostrou ter alguns admiradores. A própria Lisa Hannigan mostrou-se surpreendida com a recepção. Mas, do que ouvimos, o nosso afecto até foi merecido. Seguiu-se a dupla Big Deal. Ele (Kacey Underwood) e ela (Alice Costelloe) apresentaram a sua dream pop com rótulo retro, mas o concerto foi anémico e passou-se sem qualquer efervescência. Já os Here We Go Magic, banda de Brooklyn que este ano já nos presenteou com o álbum «A Different Ship», deram conta do recado. Canções com texturas mais ornadas e um sentido de espectáculo ao vivo que tanta falta fizeram aos Big Deal. Simpática prestação que nos fez acreditar numa segunda oportunidade, agora para actuar num recinto mais acolhedor, como o Musicbox.
Sem tempo a perder, os The Antlers sobem ao palco para afinar os últimos pormenores e, sem qualquer pré-aviso, dão início ao seu segundo concerto em Lisboa no espaço de oito meses. A banda de Brooklyn continua a promover o último álbum «Burst Apart», do qual ouvimos temas como «I Don’t Want Love» e «No Widows», e Peter Silberman continua a abusar dos falsetes. Porém, e no seguimento da edição dos recentes EP «(Together)» e «Undersea», pudemos ainda aferir à face mais experimental destes norte-americanos. Não deslumbraram, até porque a música dos The Antlers vive melhor ao frio e na falta de luz do que ao calor que se fazia sentir no Passeio Marítimo de Algés, mas a prestação (a que vi) foi positiva. Sigo, então, para o palco Optimus e dou de caras com outro dos fenómenos dos anos 00, os britânicos Mumford & Sons. Confesso o meu desconhecimento da música destes londrinos, mas o espirito vivido é idêntico ao que se vê em alguns dos Irish Pubs do Cais do Sodré. A diferença residiu no número de assistentes… Quanto aos Morcheeba, detectámos algum nervosismo de Skye Edwards, aquando das primeiras palavras dirigidas ao público. Lamentou-se a ausência de Florence Welch, mas a banda de «Rome Wasn't Built In A Day» não deixou os seus créditos por mãos alheias. Com uma mão cheia de excelentes canções, com o selo de qualidade do trip-hop, os Morcheeba apresentaram-se iguais a si mesmos, ou seja, em forma, mas sem grandes euforias. Decorridos cerca de trinta minutos, durante os quais pude namorar novamente «Otherwise», passo pelo palco Clubbing para apurar o estado da arte dos Art Department (podiam ao menos disfarçar o “just push play”).
Corro para Tricky e o palco Heineken está ao rubro, com o que parece ser um encontro imediato de Tricky Kid com o heavy metal dos Motörhead e algum do público que marcava presença na área. Rebel nineties are back, baby! «Ace Of Spades» soube mesmo bem e a aparente rebeldia / anarquia que se viveu em palco transportou-me para outros tempos e outros quotidianos. A prestação de Tricky não mais atingiu a mesma adrenalina, mas do que se viu e ouviu, o regresso do britânico a Portugal foi bem sucedido. Foi ainda com Tricky em palco que Robert Smith e os seus The Cure me levaram ao palco Optimus. Estão velhinhos, é certo, mas as suas canções permanecem actuais. «Pictures Of You», «Lullaby», «End Of The World», «Lovesong» e «In Between Days» foram algumas das canções que passaram pelo Optimus Alive. É pena que os temas de «Bloodflowers», o subavaliado álbum de 2000, continuem a ser ignorados e «Burn» teimar em esconder-se das multidões. Foi já ao som de «Just Like Heaven», que segui para as concorridas eleições de SebastiAn.
O conceito da sua «Primary Tour» baseia-se na eleição do candidato SebastiAn à governação mundial, ao seu declínio e posterior destruição. Excelente desempenho, que convenceu o eleitorado através de imagens e mensagens de apoio à causa. E nem foram necessários discursos, pois a retórica deste SebastiAn está toda na sua arte “remisturadora”. Terminada a actuação ainda ouvimos ao longe os The Cure, com «Boys Don’t Cry» (impressionante, não?), mas por esta altura o destino já estava traçado e o descanso chamava por mim.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Optimus Alive '12: Dia 1

As expectativas eram altas. Os Radiohead regressavam a Portugal dez anos depois da última visita, na altura para promover «Hail To The Thief»; os The Cure prometiam uma maratona de êxitos e estórias temperadas com a new wave dos eighties; os Mazzy Star quebravam o silêncio que durou mais de uma década, durante os quais Hope Sandoval partilhou o palco e as suas canções com os The Warm Inventions; os The Stone Roses regressavam também aos grandes palcos para ganhar umas coroas; os The Kills estreavam-se em palcos da capital; os franceses Justice e Sebastian prometiam festa até ao amanhecer; e nomes como Santigold, Metronomy, Tricky, Caribou, SBTRKT e The Antlers ofereciam muita e boa música para animar quem quisesse passar um bom bocado. No entanto, e como é habitual nestas ocasiões, a correria entre palcos e entre universos cancioneiros foram uma constante. Não deu para ver tudo o que se desejava, principalmente na derradeira noite do festival, mas deu para assistir a belos momentos em palco.

Efectuado o reconhecimento ao recinto e explorado o ambiente criado pelos Aeroplane no palco Clubbing, fixo-me no palco Heineken para dar as boas vindas às Dum Dum Girls. Iguais a si mesmas, a banda norte-americana deu voz à pop solarenga de tempero retro que percorre os seus discos. Concerto competente, mas morno para um final de tarde quente. Seguiu-se a Miúda de que todos falam e o factor histeria, sem fundamento, deu os seus primeiros sinais de vida. Com uma atitude de “miúda” que tenta seguir a moda e a boleia do hype Lana Del Rey, Mel, Pedro Puppe e Tiago Bettencourt deram cara ao hit de verão «Com Quem Eu Quero». O público gostou, mas a sensação de desequilíbrio ficou patente. Desequilíbrio que continuou com os LMFAO. Ainda hoje estou para tentar perceber o fenómeno. O concerto foi uma verdadeira festa, com zebras e palmeiras insufláveis, bolas de praia e confettis aos molhos, leggings e sungas, danças paródicas e uma quantidade imensa de música descartável. Porém, o histerismo aliado à velocidade com que os acontecimentos se iam desenrolando em palco animou, e muito, o espaço Heineken. Ultrapassada a histeria metade do público saiu em debandada. Melhor ficámos para receber de braços abertos a pop travestida de Santi White, a.k.a. Santigold.

A norte-americana regressava a Lisboa, depois da actuação no Super Bock em Stock de 2008, para mostrar o mais recente e excelente «Master of My Make-Believe». Apesar de este ano ter trazido consigo uma banda suporte, relembro que na estreia a música era dada por um DJ, o espectáculo Santigold continua muito parecido ao de 2008, no Teatro Tivoli. Canções pop que continuam a inspirar-se no melhor que se vai ouvindo por aí: se «Go», um dos singles de «Master of My Make-Believe» e o tema que abriu o concerto, percorre os caminhos (des)torcidos do punk, «Disparate Youth», outro single, encontra no reggae a sua maior força e «Big Mouth», tema que fechou a actuação, descobre o kuduro dos nossos Buraka Som Sistema. Ainda assim, parece que a retraída prestação de Santi White corta um pouco o entusiasmo que o próprio espectáculo propõe. Julgo que com uma atitude mais expansiva o concerto de Santigold atingiria novos e melhores patamares. Porém, são as canções que aqui fazem a diferença e essas ofereceram-nos um excelente espectáculo. Seguimos, depois, para o palco Optimus para ver uns The Stone Roses, indolentes e enferrujados, a expedir clássicos para uma multidão. Passámos, então, pelo palco Clubbing para sondar o DJing de Miss Kittin. Seguiram-se os franceses Justice e apesar do excelente início, o último álbum «Audio, Video, Disco» cedo nos cortou a elevação criada. O palco pareceu grande demais para a ocasião e, por isso, acabamos a noite ao som da norte-americana Zola Jesus. Pop industrial, meio gótica, meio experimental, que tanto pisca o olho à música clássica, com a sua voz operática, como se atira de corpo e alma à electrónica mais negra (dark wave). Do pouco que se viu e ouviu, descortinámos a tal energia que faltou a Santi White e ouvimos boas canções pop. Óptimo momento que encerrou o meu primeiro dia do Optimus Alive 2012.