sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O passo certo

«Right Thoughts, Right Words, Right Action». É este o statement dos Franz Ferdinand para este ano de 2013 e o nome certo para aquele que é já o quarto álbum dos escoceses. O irregular «Tonight: Franz Ferdinand», de 2009, veio criar algumas dúvidas quanto ao futuro da banda e até houve quem questionasse a importância da sua pop & roll, certificada em 2004, com o homónimo debut álbum. O cenário não era o melhor, portanto, mas com «Right Thoughts, Right Words, Right Action» os Franz Ferdinand conseguem dar uma resposta inequívoca quanto à referida importância e ao seu papel na música dos dias de hoje. Dão mais destaque à pop que ao roll, é certo, mas o resultado é o melhor desde a estreia em 2004. Ainda assim, Alex Kapranos canta, com alguma ironia, «Don't play pop music / You know I hate pop music», em «Goodbye Lovers And Friends». A banda aposta mais na sua faceta beatlesca, recordando os melhores momentos de «You Could Have It So Much Better», de 2005, mas mantém o espírito cool de sempre («Love Illumination», «Stand On The Horizon» e «Fresh Strawberries» são alguns dos momentos mais luminosos do disco). Os Franz Ferdinand não têm a mesma força de há dez anos, mas mantêm a fasquia alta. Podem já não ser cabeças de cartaz de festivais de verão, mas isso não é o que mais interessa...

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

E os anos 90 aqui tão perto

Há muito que se falava no regresso aos discos dos norte-americanos Mazzy Star. É certo que Hope Sandoval, a voz e a principal figura da banda, foi dando notícias, ora com o projeto Warm Inventions (ao lado de Colm Ó Cíosóig, dos My Bloody Valentine), ora em colaborações com nomes como os The Jesus And Mary Chain, Bert Jansch, The Chemical Brothers, Air, Death In Vegas e Massive Attack. Ainda assim, para quem, durante os saudosos anos 90, se perdeu na redoma melancólica de Hope Sandoval e David Roback, esses episódios souberam sempre a pouco. Em 2011, e depois de quase quinze anos de espera, os primeiros sinais de vida deram-se através do duplo a-side single «Common Burn» / «Lay Myself Down». Canções que integram o alinhamento de «Seasons Of Your Day», o disco de 2013, e perseguem o caminho abandonado em 1996, após a edição de «Among My Swan», e já explorado por outros como Beach House, Keren Ann, Dum Dum Girls e Widowspeak. Portanto, a dream pop bucólica que procura a simplicidade melódica dos The Velvet Underground e atalha pelo shoegaze atmosférico dos 90, resultando em ecos melancólicos e bonançosos, está de volta. Os Mazzy Star não inovaram, é certo, mas oferecem-nos um disco homogéneo e dez novas canções que mantêm vivo o encanto pela sua música, das quais destaco «In The Kingdom», «Common Burn», «California» e «Lay Myself Down».

domingo, 17 de novembro de 2013

Calvi, Anna Calvi

Se tivesse de escolher o melhor debut álbum de 2011, «Anna Calvi» seria o grande vencedor, batendo a concorrência liderada pelos trabalhos de James Blake, Washed Out, Shabazz Palaces e Cults. As canções musculadas da singer-songwriter e a forma apaixonada com que Anna Calvi se entrega a cada momento, muitas vezes comparável à fórmula interpretativa de Jeff Buckley, fizeram de «Anna Calvi» um dos momentos mais fascinantes da nova música britânica. Dados que mereceram a nomeação para o Mercury Prize e me fizeram ansiar por uma segunda entrega de Anna Calvi. «One Breath», o segundo disco da londrina, foi editado há pouco mais de um mês e a sua magia ainda perdura. Onze temas novos, mais uma vez vigorosos e apaixonantes, que prolongam o fascínio em torno de Calvi. «One Breath» mostra-nos mais do mesmo: «Eliza», o primeiro single, é o melhor ponto de contacto com o disco de 2011. No entanto, também há espaço para novos elementos: «Piece By Piece», por exemplo, parece criado da esquizofrenia sonora de Annie Clark, a.k.a. St. Vincent; «Sing To Me» cola-se ao bucolismo de Alison Goldfrapp; «Love Of My Life» é rude e capaz de fazer frente a algumas composições de Josh Homme; «Tristan» pisca o olho a Patrick Wolf, numa perspetiva Calvista e com algumas eletrónicas à mistura; «Carry Me Over» é complexo e bom; e «Bleed Like Me» segue os passos de Jeff Buckley. «One Breath» é mais um excelente disco de Anna Calvi. Um trabalho mais maduro e mais trabalhado que continua a mostrar o melhor que há na pop britânica.

sábado, 16 de novembro de 2013

Dança da melancolia

«Unlearned», o disco de covers editado este ano pelo singer-songwriter Scott Matthew, tem magia. Catorze canções que, segundo o próprio, definiram muito a sua forma de compor e interpretar música. De Bee Gees a Radiohead, passando por John Denver, Joy Division (soberba a versão de «Love Will Tear Us Appart»), Janis Ian, Neil Young, Charlie Chaplin (lindíssimo momento com «Smile», a canção festiva mais triste da história da música), Whitney Houston (o que dizer deste «I Wanna Dance With Somebody»?)... Temas de diferentes épocas e de diferentes universos, é certo, mas tudo muito bem pensado e redescoberto pela particular visão e singular forma interpretativa de Scott Matthew. Uma mistura perfeita de Antony Hegarty e Burt Bacharach. Música pop apresentada em modo crooner, de uma forma melancólica e alternativa à pop. Um piano, uma guitarra, uma voz singular e, esporadicamente, um violoncelo (participação especial de Carlos Tony Gomes), um ukelele e um acordeão (com Celina da Piedade). Dados que compuseram uma noite excecional, revelando um Pequeno Auditório do CCB mágico e Scott Matthew um mago perfeito. «Unlearned» foi o mote para o concerto do australiano. Mas, além das histórias editadas e contadas em disco, o cantautor não esqueceu Burt Bacharach («This Guy’s In Love With You»), nem os Sex Pistols («Anarchy In The UK»). Do seu reportório não ouvimos muito, mas «In The End», «Abandoned», «White Horse», «Friends And Foes», «The Wonder Of Falling In Love», «Little Bird» e «For Dick» fizeram as delícias dos fãs mais devotos. 2013 tem sido um ano com bons discos, mas não tão bons concertos. Scott Matthew passou pelo CCB e ofereceu-nos um concerto íntimo e muito especial.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Quebrar o silêncio

De volta aos concertos e aos posts. Em pouco mais de uma semana organizei uma visita ao Musicbox para sentir de perto o noise rock dos norte-americanos No Age e passei pelo Coliseu de Lisboa para o aguardado encontro com os britânicos Foals.

Do concerto dos No Age, marcado para as 2 da manhã - mas com início bem perto das 3 horas, devido ao que me pareceu um inexplicável entusiasmo em torno dos If Lucy Fell -, posso dizer que tudo aconteceu muito tarde. Dean Spunt (baterista e vocalista) e Randy Randall (guitarrista) apresentaram «An Object», o quarto e o mais introspetivo álbum do duo, e portaram-se muito bem. A maior parte do público que enchia o Musicbox saiu a correr com o fim da atuação dos If Lucy Fell (provavelmente saíram todos em direção em Braga para assistir à última prestação da banda). Ficaram poucos, mas a festa fez-se. Ao som de temas como «Teen Creeps», «C’mon, Stimmung», «No Ground» e «Eraser» chegámos bem perto das 4 horas de manhã. Foi um bom concerto, mas os No Age e quem foi ao Musicbox para os ver mereciam melhores horas.

Em relação aos Foals, banda que apresentava em Lisboa «Holy Fire», o concerto só veio reforçar a ideia que temos da sua música. Canções com corpo rock e alma indie que muito deram que falar com a edição de «Antidotes» (2008) e «Total Life Forever» (2010). «Holy Fire», o disco editado este ano, entregou-nos canções mais musculadas (ouçam-se, por exemplo, os singles «Inhaler» e «My Number»), mas nunca perde de vista os momentos mais “atmosféricos” e melodiosos dos britânicos. Em palco notámos todos esses aspetos da música dos Foals, mas algo faltou naquela noite de 29 de outubro. O alinhamento, com acelerações e travagens sucessivas, não foi o melhor e raros foram os momentos em que o público se mostrou realmente entusiasmado (recordo «My Number», «Red Socks Pugie» e, já no encore, «Inhaler»). Momentos mais serenos, com «Last Night», «Prelude» e «Spanish Sahara», também se destacaram, mas enquanto concerto a duração pareceu curta e muitas foram as pontas soltas.