segunda-feira, 22 de agosto de 2011

2011 | Viagens à tasca em período de férias VI

Sempre que percorro as tascas de um outro país, um dos principais objectivos é conhecer alguma da cultura local. Este ano os escaparates destacavam Wir Sind Helden e Beatsteaks, mas as sugestões passaram pelos Tocotronic, Einstürzende Neubauten, Kettcar e Element Of Crime. Excluídos os Einstürzende Neubauten, já que a ideia seria descobrir novidades, e depois de uma rápida espreitadela aos chatinhos Element Of Crime e aos interessantes Kettcar (pena só estar disponível um disco ao vivo), apostei nos Tocotronic. No entanto, a derradeira passagem por Berlim começa com um disco que já ia “encomendado”.

East Side Gallery

Pantha Du Prince, projecto do alemão Hendrik Weber, é um sucesso nas minhas viagens de automóvel. Música feita de imagens. Paisagens planas. Ambientes serenos. Ritmos negros. Cadência techno. Sentimentos. Elementos que parecem dispares, mas que Pantha Du Prince trabalha como ninguém. «Diamond Daze», o debut álbum do projecto que ainda não teve edição internacional, data de 2004, e regista o período em que Hendrik Weber semeia as texturas hipnóticas e ambiências mecânicas que mais tarde resultaram em «This Bliss» (2007). Canções construídas em laboratório e que têm alimentado o culto em torno de Pantha Du Prince. Apesar de este ser um campeonato diferente para mim, o certo é que há algo na música de Pantha Du Prince que me fascina. «Eisregen» e «St. Denis Bei Licht», por exemplo, são canções fantásticas. Momentos techno que abrem com ritmos hipnóticos e aos quais Hendrik Weber lhe vai adicionando novos e importantes elementos que parecem retirados do imaginário Angelo Badalamenti/David Lynch. No entanto, nem sempre essa técnica acumuladora dá bons frutos. «Circle Glider», por exemplo, perde-se nos vários caminhos que pretende explorar e «Satin Drone» simplesmente não resulta melodicamente. Ainda assim, o disco é bem recomendável. Não estivéssemos perante um dos melhores produtores e “remisturadores” da actualidade.

Passamos então aos Tocotronic. Banda de Hamburgo que aparece pela segunda vez neste espaço. Já em 2007, aquando da minha viagem pela Suiça, tinha apostado nos Tocotronic e no seu rock com tempero indie de finais dos anos 80 e inícios de 90. Na altura o disco em destaque era «Kapitulation», sendo que agora a proposta recaiu sobre «Schall & Wahn». Álbum de 2010 que alcançou o nº 1 do top germânico, o primeiro da banda. A toada indie rock mantém-se, mas agora são as melodias The National e a energia The Walkmen que mais encantam («Eure Liebe Tötet Mich» e «Schall Und Wahn» são excelentes). Percebemos que os Tocotronic são músicos atentos e que conseguem facilmente assimilar novas ideias e influências. No entanto, continuamos a encontrar a electricidade dos R.E.M. de 80 («Bitte Oszillieren Sie»), a aspereza dos Sonic YouthEin Leiser Hauch Von Terror») e as estruturas PavementMacht Es Nicht Selbst»). Descortinamos, ainda, uma melancólica e recomendável secção de cordas em «Das Blut Na Meinen Händen» e «Im Zweifel Für Den Zweifel», a faceta mais punk dos Tocotronic em «Stürmt Das Schloss» e o momento mais etéreo em «Gift». Um excelente disco totalmente cantado em alemão.

Para fechar esta minha primeira passagem por Berlim apresento um dos discos que marcou presença em todas as tascas por lá visitadas. Lucy Wainwright Roche é filha dos músicos Loudon Wainwright III e Suzzy Roche e meia irmã de Rufus e Martha Wainwright. O passado de Lucy Roche passa por Nova Iorque, cidade onde nasceu, completou o liceu e o mestrado em Educação, mas também pelo Ohio e a sua formação académica em escrita criativa. Além do brilhante percurso escolar, sempre que podia, Lucy acompanhava Rufus Wainwright nas suas várias digressões como backup vocal. Verificamos que a música sempre fez parte do background de Lucy Wainwright Roche. Devido à sua história e família, a estreia em disco lá foi causando algum burburinho. No entanto, «Lucy» foi mesmo a maior desilusão deste Verão de 2011. O disco já é de 2010, mas a música parece amarrada à folk dos anos 60. Atenção, não tenho nada contra a folk e à “message music” ligeira que marcaram a década de 60. Porém, as canções de Lucy Wainwright Roche apresentam-se desprovidas de sentimento. É evidente a qualidade musical e melódica, mas falta o essencial: a profundidade emocional. A paixão do singing-songwritting e pela canção. Desta forma, e neste território musical, mais vale aguardar pelo novo trabalho de Rosie Thomas.

domingo, 21 de agosto de 2011

Bon Iver | Holocene

«Holocene» é já o segundo vídeo a ser extraído de «Bon Iver», o segundo e homónimo álbum do projecto do norte-americano Justin Vernon.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

2011 | Viagens à tasca em período de férias V


Brandenburger Tor

Uma das bandas que até há bem pouco tempo passava completamente despercebida nas tascas de Lisboa são os norte-americanos The Black Keys. O duo, composto por Dan Auerbach (guitarra e voz) e Patrick Carbey (bateria e produção), fez os seus primeiros ensaios em Akron, Ohio, decorria o ano de 2001. Em 2002, editam o álbum de estreia «The Big Come Up» e as comparações com os The White Stripes são inevitáveis. Electric power blues com tempero garage rock que muito deu que falar na passagem dos anos 90 para os anos 00. Uma guitarra, uma bateria e uma voz poderosa e visceral. Género que não pegou em Portugal, mas que eu sempre acompanhei com os citados The White Stripes e, numa variante mais pop, com os The Strokes, The Kills e Yeah Yeah Yeahs. Os The Black Keys são uma descoberta relativamente recente. Se no ano passado Madrid me proporcionou «Attack & Release» e «Brothers», este ano Berlim ofereceu-me «Thickfreakness» (2003). Trabalho gravado e produzido pela própria banda em cerca de catorze horas. Um disco composto por onze canções urgentes e de textura blues-rock. Tudo apresentado de uma forma rude, mas extremamente eficaz. «Thickfreakness», «Hard Row», «Set You Free» e «Have Love Will Travel» são excelentes canções, dignas de figurarem num qualquer best of da dupla. Já «Hurt Like Mine» e «If You See Me» expõem a faceta mais controlada e, consequentemente, menos excitante dos The Black Keys. No entanto, o que impressiona é o facto de dois músicos com pouco mais de vinte anos (recorde-se que «Thickfreakness» foi editado em 2003) conseguirem escrever e produzir música tão “crescida”. Canções calejadas que encontram em Dan Auerbach o seu narrador de eleição.

A par dos The Black Keys, os norte-americanos Death Cab For Cutie (DCFC) também não têm a vida facilitada por cá. Os discos da banda de Bellingham, Washington, são difíceis de encontrar. A procura de Berlim reservou-me a edição limitada e comemorativa dos dez anos de «Something About Airplanes» (1998). Uma década de pop seminal e tempero lo-fi de «Bend To Squares», «Champagne From A Paper Cup» e «Line Of Best Fit». Canções que misturam a pop beatlish de Elliott Smith e Ben Folds, com arranjos John Vanderslice. Ambientes explorados pelos Built To Spill, The Shins e Rogue Wave, mas com a carga emocional de uns Red House Painters («Your Bruise») e Mazzy Star («Sleep Spent»). A receita saiu-se bem em 1998 e o percurso da banda de Ben Gibbard (The Postal Service e ¡All-Time Quarterback!) é hoje um dos casos de maior sucesso indie norte-americano. Aproveitando a boleia do êxito alcançado, principalmente, com «Transatlanticism» (2003), «Plans» (2005) e «Narrow Stairs» (2008), os DCFC lá se decidiram a reeditar «Something About Airplanes». A ideia seria mostrar aos novos fãs as canções que deram início à viagem da banda. Para o efeito juntaram-lhe um segundo CD com a primeira actuação dos DCFC em Seattle, no Crocodile Cafe, a 25 de Fevereiro de 1998. Uma verdadeira relíquia para quem estima a música dos DCFC.

Outra banda com dificuldades de colocar os seus trabalhos nas tascas de Lisboa são os Okkervil River. A minha relação com o colectivo de Austin, Texas, nasceu em 2007 com a edição do soberbo «The Stage Names». Em Berlim encontrei «Down the River of Golden Dreams» (2003) e «I Am Very Far» (2011), o segundo e sexto álbuns dos norte-americanos. Folk rock com cadência retro que pisca o olho à pop, sem perder a personalidade indie. Modelo cultivado pelos Neutral Milk Hotel, mas acompanhado de perto pelo lirismo de um Conor Oberst (Bright Eyes) e Stephin Merritt (The Magnetic Fields). Storytelling de primeira linha, portanto, que domina o extraordinário «Down the River of Golden Dreams». Dados aos quais Will Sheff e companhia acrescentam, no mais recente «I Am Very Far», pitadas de Bruce SpringsteenRider»), Mercury RevWe Need A Myth») e Arcade FireWhite Shadow Waltz»).
Empenham-se na cadência waltz de «Wake And Be Fine» e mostram que a pop pode ser um lugar comum para todas as suas influências («Piratess»). Músicas triunfantes, às quais adiciono «The Valley», «Hanging From A Hit», «Show Yourself» e «Your Past Life As A Blast», que constroem um álbum, igualmente, glorioso. Mais um dos Okkervil River.

Quem também não faz nada ao acaso são os …And You Will Know Us By The Trail Of Dead (só o nome já os denunciam), banda oriunda, também, de Austin, no Texas. Formaram-se em 1993 e até à data já nos ofereceram dois dos melhores álbuns dos últimos doze anos: «Madonna» (1999) e «Source Tags & Codes» (2002). Ainda assim, a carreira dos …AYWKUBTTOD tem-se pautado pela irregularidade: «Worlds Apart» e «So Devided» são verdadeiros tiros ao lado. A apetência da banda para o prog-rock épico com tempero post-punk estava lá, mas o todo simplesmente não resultava. «Tao Of The Dead» é já o sétimo álbum dos norte-americanos e o trabalho mais forte desde o seminal «Source Tags & Codes». Na verdade, «Tao Of The Dead» recupera toda a pujança e esplendor da obra-prima dos …AYWKUBTTOD (os trechos «Fall Of The Empire» e «Summer Of All Dead Souls» são soberbos). Tudo muito bem ordenado, aqui, numa edição dupla e limitada. Se no primeiro CD encontramos as duas faixas do disco - «Tao Of The Dead» (35:50) e «Strange News From Another Planet» (16:32) -, no CD dois podemos ouvir as «stand alone versions» dos onze temas que compõem os quase trinta e seis minutos de «Tao Of The Dead», a faixa título, e mais meia hora de música com «The Bubble Demo» (as versões demo). Uma preciosidade que vem acompanhada de dezasseis páginas da ‘comic’ «Strange News From Another Planet – The Voyages Of The Festival Theme» e da respectiva «short story» da autoria do vocalista e guitarrista Conrad Keely.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

2011 | Viagens à tasca em período de férias IV

Se em Portugal desejamos conseguir agarrar aquela edição especial e limitada, ou aquele disco de estreia de um dos artistas mais falados na Uncut e/ou Mojo, em Berlim os nossos desejos são acessíveis e facilmente concretizáveis. Há espaço para o debut que faz furor na imprensa especializada, para aquela edição limitada que faz as delícias de qualquer fã e para o disco/artista que é completamente ignorado pelo mercado português.


East Side Gallery

«Sir Lucious Left Foot… The Son Of Chico Dusty», de Antwan André Patton, a.k.a. Big Boi, é um desses discos. Editado em 2010 e aprovado pela crítica, o verdadeiro debut de Big Boi (já que «Speakerboxxx» é, tecnicamente, um álbum dos OutKast) foi completamente ignorado em Portugal. Desatenção imperdoável, pois os singles que antecederam o seu lançamento previam algo grande. Algo capaz de igualar os feitos alcançados por «Speakerboxxx / The Love Below», o último grande momento discográfico da dupla Outkast. Por isso, enquanto lá fora se celebravam e auscultavam as rimas e os beats de Big Boi, em Portugal apostava-se na repetida recuperação de Eminem e companhia. O certo é que «Sir Lucious Left Foot… The Son Of Chico Dusty» foi mesmo o grande concorrente de «My Beautiful Dark Twisted Fantasy», de Kanye West, no campeonato rap de 2010. Big Boi construiu um álbum com a matriz hip-hop, mas cheio de funk, r&b e singlesShine Blockas» é um excelente exemplo disso). Um disco que apresenta as canções mais funky e upbeat na sua primeira metade («Daddy Fat Sax», «Shutterbugg» e «General Patton» marcam pontos nesse campo), deixando para a segunda parte os temas mais suaves e down-tempoHustle Blood», que conta com a voz de Jamie Foxx, «The Train Pt. 2 (Sir Lucious Left Foot Saves The Day)», «Be Still», com a participação de Janelle Monáe, e «Shine Blockas» são notáveis). Composições que vêm dar protagonismo a Big Boi, mostrando que o mesmo não merece ficar na sombra de André Lauren Benjamin, a.k.a. André 3000 (a outra metade dos OutKast).

2010 foi também o ano de Aloe Blacc, com o álbum «Good Things». No entanto, a estreia discográfica do autor de «I Need A Dollar» data de 2006. «Shine Through» foi aposta da Stones Throw e o depoimento de Egbert Nathaniel Dawkins III sobre as suas raízes culturais. Temos hip-hop norte-americano (Aloe Blacc deu os primeiros passos na indústria discográfica, em 1995, ao lado do DJ e produtor Exile no duo Emanon), sem nunca perder de vista a salsa e os ritmos latinos (os pais do cantor são panamenses) e a soul. Elementos que encontramos logo em «Whole World», o tema de abertura de «Shine Through», no qual Aloe Blacc vai identificando os vários nomes que o têm influenciado. De Nina Simone a António Carlos Jobim, passando por Marvin Gaye, David Miles, Stevie Wonder, ou mesmo Ella Fitzgerald e John Coltrane. Porém, o desfile de referências musicais não se esgota aqui: «Long Time Coming», por exemplo, é uma surpreendente adaptação do original de Sam Cooke «A Change Is Gonna Come», «Caged Birdsong» é o momento hip-hop em jeito old school do disco, «Bailar (Scene I)», «Patria Mia», «Gente Ordinaria» (um remake de «Ordinary People» de John Legend) e «Severa» revelam a faceta mais latina de Aloe Blacc e «Nascimento (Birth)» é uma homenagem a Milton Nascimento. Com tantas tendências, «Shine Through» acaba por se revelar um pouco irregular. Porém, há algo de “produto inacabado” nestas canções que me fascina. A sensação de DIY caseiro que nos apresenta um compositor talentoso e capaz de se desembaraçar em qualquer um dos campeonatos identificados. Um cantautor de excepção que nos oferece excelentes canções como «Busking», «Shine Through», «Arrive» e «One Inna».

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

2011| Viagens à tasca em período de férias III


Holocaust Memorial

De regresso às férias e a Berlim. Os dias passavam e as pernas começavam a dar os primeiros sinais de cansaço, mas a mente e a minha sede de sight and sound intensificavam-se a cada nova jornada. Berlim é uma cidade fantástica e exerce no visitante uma estranha atracção.

No campo da pop, e já que falo em estranha atracção, o «Best Of The Capitol Years 1995-2007», dos The Dandy Warhols, foi outro dos discos a entrar para o álbum de recordações do Verão de 2011. Na verdade, esta compilação revisita os melhores anos da vida da banda norte-americana. Datas em que os boémios Courtney Taylor-Taylor, Peter Holmström, Zia McCabe e Brent DeBoer nos ofereceram os seus melhores registos: «…The Dandy Warhols Come Down» (1997), «Thirteen Tales From Urban Bohemia» (2000) e «Welcome To The Monkey House» (2003). Discos fortemente influenciados pelo Sex, Drugs & Rock n’ Roll e envoltos no psicadelismo cultivado pelos The Velvet Underground e The Rolling Stones (dois nomes incontornáveis na biografia da banda de Portland, tal como a capa do magnífico «Welcome To The Monkey House» o comprova). Ainda assim, os The Dandy Warhols conseguem mergulhar na brit pop e subir à superfície com verdadeiros hinos indie capazes de se tornarem na cara publicitária de uma grande marca. Canções que não os livram das críticas, sendo mesmo uma das bandas mais subavaliadas do pós-grunge. Música desvairada e afogada em excessos, brada a imprensa especializada. Mas, se assim não fosse, como poderia Courtney Taylor-Taylor escrever canções como «Every Day Should Be A Holiday», «Bohemian Like You», «The Last High» e «Not If You Were The Last Junkie On Earth»? Ou entoar, com ironia, "I never thought you were a junkie because heroin is so passé"? Quanto a «Best Of The Capitol Years 1995-2007», julgo que se trata de uma boa amostra da obra dos The Dandy Warhols. Além das passagens obrigatórias pelos trabalhos supra-identificados, encontramos também alguns temas do menor «Odditorium or Warlords of Mars» e o mediano «This Is The Tide» (o único inédito). No entanto, para quem sempre seguiu a carreira da banda norte-americana que mais parece britânica, é inevitável identificar algumas ausências, como são exemplo «Sleep», «Ride», «Mohammed», «Everyone Is Totally Insane» e as covers «Hells Bells» (AC/DC), «Call Me» (Blondie), e «Relax» (Frankie Goes To Hollywood).

Aproveitando a boleia do «Best Of», pego na compilação que reúne alguns dos momentos mais felizes da carreira dos Madrugada, banda norueguesa que desde início dos anos 00 me seduz com uma sonoridade intensa, mas extremamente requintada. Texturas que integram a sensualidade que fez escola nos trabalhos de Leonard Cohen, arranjos melancólicos e o aprumo melodioso a que nos habituou um Chris Isaak. Tudo muito bem conduzido pela intensa voz de Sivert Høyem. «The Best Of Madrugada» revê, assim, os quase 10 anos de actividade discográfica da banda de Stokmarknes. Cinco álbuns que me passaram um pouco ao lado, confesso, mas que ainda hoje são recordados por algumas das suas canções: «Vocal», «Majesty», «Strange Colour Blue», «Sail Away», «Hands Up – I Love You», «Quite Emotional», «Electric», «The Kids Are On High Street» e «Black Mambo» são obrigatórias. Portanto, já estava mesmo na altura de termos uma compilação como esta. «The Best Of Madrugada» está organizado em torno dos vários singles da banda, de temas ao vivo, versões remasterizadas e uma canção nova («All This Waiting To Be Free»). 28 gravações muito bem ordenadas e condimentadas em dois discos temáticos: se o primeiro apresenta a vertente mais agressiva e up tempo dos Madrugada, o segundo revela o quanto estes noruegueses conseguem ser doces, mantendo a mesma intensidade. Ambientes que não terão continuidade, uma vez que após o falecimento do guitarrista Robert Burås (1975-2007), Frode Jacobsen (baixo) e Sivert Høyem (voz) decidiram por um ponto final aos Madrugada.

«American VI: Ain’t No Grave» de Johnny Cash é, também ele, um disco de despedida. Gravado, essencialmente, entre a morte de June Carter Cash (1929-2003) e o desaparecimento do próprio Johnny Cash (1932-2003) – durante 4 meses –, o sexto capítulo da série American Recordings foi editado só no ano passado e, na KaDeWe, o disco já se encontrava na prateleira dos € 5,00. Negócio irrecusável e concluído na hora. Curioso o facto de me ter aventurado nestes American Recordings aquando da minha passagem pela Suíça Alemã e, agora, terminar a viagem em Berlim. Os elementos continuam a ser os mesmos, ou seja, inspiração e mestria de Johnny Cash e produções de Rick Rubin. Porém, os dez temas que compõem «American VI: Ain’t No Grave» mostram um Johnny Cash frágil e consciente de que o seu tempo está a esgotar-se («I Corinthians 15:55», composição de Johnny Cash, é um limbo constante entre a vida e a morte e «Can’t Help But Wonder Where I’m Bound» um olhar pungente do seu passado). Atenção, não encontramos aqui nada de novo. Johnny Cash reinterpreta temas de outros artistas e, como é habitual, sai-se muito bem. Por isso, «American VI: Ain’t No Grave» vale também pela sua carga histórica, uma vez que reúne algumas das derradeiras gravações de um dos nomes mais importantes da música norte-americana.