segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Viagens à tasca

Coincidência ou não, confesso que foi bastante peculiar ficar a saber da separação de Thurston Moore e Kim Gordon ao som de «Demolished Thoughts». Aquando da notícia que colocou um ponto de interrogação no futuro dos Sonic Youth, o “disco da semana” era o mais recente trabalho de Thurston Moore. Sucessor natural do extraordinário «Trees Outside The Academy» (2007), «Demolished Thoughts» tem a particularidade de se concentrar no bucolismo que fez a história musicada de Nick Drake («Illuminine» é uma verdadeira viagem ao passado e à entrada nos seventies). Outra das curiosidades deste novo disco é o facto de Thurston Moore ter chamado Beck Hansen para a produção (alguém se lembra do vídeo de «The Empty Page», dos Sonic Youth?). Escolha que faz todo o sentido, se recuperarmos «Sea Change», o brilhante álbum que Beck editou em 2002. Na altura, Beck Hansen tratava as feridas resultantes de uma relação falhada. Ouvindo agora «Demolished Thoughts», e, apesar da sua edição ter ocorrido em Maio, tudo me leva a crer que este é, também, um disco de despedida. «With benediction in her eyes / our dearest gods are not surprised / You better hold your lover down / and tie him to the ground / Whisper I love you one thousand times into his ear / Kiss his eyes and don’t you cry girl / he won’t disappear / But I know better than to let you go» ouvimos em «Benediction». Já em «In Silver Rain With A Paper Key» deparamo-nos com a lânguida voz de Thurston Moore a declarar «And he disappears today, where he goes he cannot say / The silver rain is all you see, you lost yr lover». Canções que gravitam em torno do desamor. As produções de Beck Hansen ajudam ao festim melancólico, mas o brilho de «Demolished Thoughts» passa pelo enorme talento de Thurston Moore na hora de compor canções pop, com tempero folk e atitude rock.

«My name is trouble / My first name’s a mess». É assim que Keren Ann Zeidel abre «101», o seu trabalho de 2011. Um dos singles mais distintos deste ano e um claro passo em frente nas texturas doces, mas melancólicas, da música de Keren Ann. Canção que encontra em «Blood On My Hands» e «Sugar Mama», o segundo single de «101», os outros momentos declaradamente pop do álbum. Mas, atenção, o encanto não se esgota aqui. «101» é mais um registo requintado de Keren Ann. Um disco composto por rebuçadinhos em forma de canção que aguçam o nosso apetite pela música de molde mais elegante. Apesar das desejáveis novidades, «101» é uma continuação natural de «Keren Ann» (2007) e da aventura Lady & Bird, com Barði Jóhannsson (músico islandês que também surge na ficha técnica deste «101»). Se tanto as baladas de cariz sinfónico «Run With You» e «You Were On Fire», como a “acusticidade” de «All The Beautiful Girls» e «Strange Weather» nos entregam à matriz melodiosa já habitual em Keren Ann, os soberbos «101» e «Song From A Tour Bus» evocam a sua particular e marcante experiência em «Lady & Bird». Portanto, elementos que me motivaram a conhecer e a seguir a carreira de Keren Ann de perto e que, agora, se encontram condensados em «101».

terça-feira, 18 de outubro de 2011

M83 | Midnight City


«Hurry Up, We're Dreaming» é o novo álbum do projecto M83 e «Midnight City» é o seu soberbo primeiro single. O vídeo é realizado por Fleur & Manu.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Viagens à tasca

Outra das compilações que decidi adquirir recentemente, aproveitando o preço de ocasião da Amazon, foi «An Introduction To… Elliott Smith». Edição de 2010 que inclui catorze canções de Elliott Smith (1969-2003), o malogrado singer-songwriter norte-americano que nos deixou cedo demais. Catorze soberbas composições que ainda hoje fazem história e, também, as delicias de qualquer geek indie folk com apetite pop. Elliott Smith segue o trilho folk low-fi de Nick Drake e Bob Dylan, enriquecendo a sua textura sonora com a super pop melódica que dominou toda a sua juventude, ao som de Stevie Wonder, The Beach Boys e The Beatles. As catorze canções que compõem esta introdução são extraordinárias, mas quantas outras composições podiam figurar num disco de apresentação do génio de Elliott Smith? Encontramos a love song «Between The Bars», a valsa pensada para a sua mãe «Waltz #2 (XO)», o desencanto de «Angeles», a idiossincrasia de «Ballad Of Big Nothing», «The Biggest Lie» e «Pictures Of Me», a dependência de «Needle In The Hay» e «Last Call» e o hit «Miss Misery» (numa versão caseira e menos pomposa). Ainda assim, sente-se a falta de muitas outras canções, tais como «Condor Ave», «Everything Reminds Me Of Her», «Bottle Up And Explode», «Roman Candle», «Son Of Sam», «Pitseleh», «Say Yes», «Bled White», «Rose Parade», «The White Lady Loves You More», «Junk Bond Trader», «I Didn’t Understand», ou mesmo as covers de «Thirteen» (The Big Star) e «Jealous Guy» (John Lennon). Portanto, mais catorze temas que podiam, perfeitamente, fazer uma bela introdução à obra do cantautor que admirava os The Beatles.

Joseph Arthur é outro dos meus singer-songwriters de preferência. Numa das recentes viagens à FNAC, deparei-me com «The Graduation Ceremony», o seu novíssimo disco de originais. Álbum que sucede à inconsequente aventura com os The Lonely Astronauts e ao projecto Fistful Of Mercy, o qual juntou Joseph Arthur a Ben Harper e Dhani Harrison (filho de George Harrison). Passaram seis anos desde «Nuclear Daydream» (2006), o último trabalho de Joseph Arthur em nome próprio, mas a matriz folk com condimento indie rock mantém-se inalterada. Boas notícias, portanto. Elementos que podemos encontrar na obra de Leonard Cohen, Bob Dylan, Dave Matthews, Elvis Costello, Aimee Mann, etc.. A fórmula pode já estar um pouco gasta, mas há algo na textura acústica e na voz experimentada de Joseph Arthur que me seduz. Elemento que se tinha perdido com «Let’s Just Be» (2007) e «Temporary People» (2008), mas que renasce ao som de canções como «Horses», «Call», «Someone To Love», «Out On A Limb», «Love Never Asks You To Lie» e «Watch Our Shadow Run». Não se tratará do melhor trabalho de Joseph Arthur, mas «The Graduation Ceremony» posiciona-se junto de «Big City Secrets» (1997), «Vacancy» (1999), «Come To Where I’m From» (2000), «Redemption’s Son» (2002) e «Our Shadows Will Remain» (2004).

PAUS | Deixa-me Ser


A banda de Lisboa PAUS, composta por Quim Albergaria (ex-Vicious Five), Hélio Morais (Linda Martini e If Lucy Fell), Makoto Yagyu (If Lucy Fell e Riding Pânico) e João P. "Shela" (If Lucy Fell e Riding Pânico), prepara-se para editar o primeiro e homónimo álbum de originais. Isto depois do surpreendente EP «É Uma Água», de 2010. «Deixa-me Ser» é um primeiro avanço para «PAUS». Que grande malha e que grande canção!

The Walkabouts | The Dustlands


2011 marca o regresso aos discos dos veteranos The Walkabouts. «Travels In the Dustland» será editado a 21 de Outubro e este «The Dustlands» é o seu primeiro single.

domingo, 9 de outubro de 2011

Viagens à tasca

As recentes passagens por Berlim e Estocolmo avivaram a minha vontade de aqui apresentar as minhas apostas e tendências pessoais. Desta forma, e um pouco no seguimento dos recuerdos e episódios vividos na capital sueca, aproveito para destacar os The Radio Dept., provavelmente a banda sueca da minha preferência, e, uma vez mais, olhar para a vida e obra de Patti Smith.

Posso afirmar que a minha relação com a dream pop de tempero shoegaze dos suecos The Radio Dept. amadureceu com «Clinging To A Scheme» (2010). Situação que, não só, me obrigou a recuperar «Lesser Matters» (2003) e «Pet Grief» (2006), mas, também, a visitar a magnética selva Amazon para comprar «Passive Aggressive | Singles 2002-2010». Formados em Lund, corria o ano de 1995, os The Radio Dept. contam com três álbuns de originais e um braçado de pequenas maravilhas pop em formato canção. Alguns desses momentos foram editados através do single e do EP, mas, verdade seja dita, nunca alcançaram a atenção devida. Volvidos oito anos após o primeiro registo discográfico, a banda decide lançar «Passive Aggressive». Trabalho que, num primeiro disco, reúne os singles editados entre 2002 e 2010 e disponibiliza, também, num apetitoso segundo disco, alguns dos seus lados-b. Neste particular, tratando-se de uma colecção de sobras, as quais não encaixaram nos álbuns, noto que esta poderá ser a cereja em cima do bolo para os habituais seguidores dos The Radio Dept.. No entanto, apesar da rodela «B-Sides» nos revelar alguns exercícios incompletos («Tåget» e «Slottet» são dois exemplos), o facto é que a música não deixa de seduzir. Ouçam-se «Mad About The Boy», tema que parece produzido por Pantha Du Prince, a etérea «You And Me Then?», a atitude punk de «Liebling» ou, mesmo, «Messy Enogh», canção com alma The Cure, mas cara The Radio Dept.. O resultado final é bastante positivo, mas, ainda assim, não posso deixar de apontar a falta de «Falafel», «Deliverance», «Let Me Have This» e, principalmente, «I Don’t Like It Like This». Quanto a «A-Sides», a outra metade de «Passive Aggressive», é um autêntico desfile pop com algumas da melhores canções da última década. Exemplos? «Why Won’t You Talk About It?», «The Worst Taste In Music», «Freddie And The Trojan Horse», «Pulling Our Weight» (esta, nem a “Marie Sofia Coppola Antoinette” escapou), «David», «Where Damage Isn't Already Done» ou «Heaven’s On Fire». A fechar somos, ainda, brindados com a corrosiva e exclusiva para esta colectânea «The New Improved Hypocrisy».

Agora, Patti Smith e «Outside Society». Mais uma colectânea de singles e a primeira do género na carreira da norte-americana. Isto porque «Land (1975-2002)», o notável primeiro disco retrospectivo de Patti Smith, juntava a alguns singles, lados-b, demos, covers e outras composições que marcaram os dezassete anos pós «Horses» (1975). É precisamente com «Horses» e o seu portentoso single «Gloria», tema construído a partir da música, com o mesmo nome, de Van Morrison e as palavras de Patti Smith, que «Outside Society» se apresenta. Não sendo o maior hit de Patti Smith, esse epíteto fica para «Because The Night», a canção escrita a meias com Bruce Springsteen, «Gloria» é a declaração que fez nascer o culto em torno da artista, dando, também, os primeiros passos para o surgimento do movimento punk, em Nova Iorque. Os versos “Jesus died for somebody’s sins / But not mine” são, ainda hoje, identificados como porta-estandarte do movimento mais anarquista da música pop. Palavras que, agora, ressoam de forma diferente. Isto porque «Just Kids», a impressionante obra que consagrou Patti Smith com o National Book Award, na categoria non-fiction, está ainda muito fresca. Na verdade, este «Outside Society» quase parece uma tentativa de prolongar o sucesso alcançado e, com isso, arrecadar mais royalties para editora e artista. Que fazer quanto a isso? Vivemos num mundo capitalista, certo? Julgo que não me compete criticar quem aproveita da melhor forma o momento e as oportunidades que vão surgindo. Por isso, «Outside Society» soube que nem ginjas e se até «Just Kids» bastava desfrutar «Land (1975-2002)» e «Twelve», disco composto por covers, agora sinto a imensa necessidade de explorar ao pormenor cada disco e cada canção da extraordinária carreira de uma das personalidades mais fortes da música norte-americana.

sábado, 8 de outubro de 2011

Junior Boys | Banana Ripple

«It's All True», o quarto álbum dos canadianos Junior Boys, ainda não me convenceu inteiramente. O duo synth-pop volta a apresentar excelentes canções, mas a pop requintada de «So This Is Goodbye» (2006) e «Begone Dull Care» (2009) perde alguma da sua exuberância nesta nova entrega. No entanto, «Banana Ripple», o novo single, é delicioso.

domingo, 2 de outubro de 2011

dEUS | Constant Now

«Keep You Close» é o mais recente trabalho dos belgas dEUS e «Constant Now» é o seu primeiro single. Canção que não surpreende, mas mostra o carácter indie e as texturas habituais dos dEUS.