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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

2011| Viagens à tasca em período de férias III


Holocaust Memorial

De regresso às férias e a Berlim. Os dias passavam e as pernas começavam a dar os primeiros sinais de cansaço, mas a mente e a minha sede de sight and sound intensificavam-se a cada nova jornada. Berlim é uma cidade fantástica e exerce no visitante uma estranha atracção.

No campo da pop, e já que falo em estranha atracção, o «Best Of The Capitol Years 1995-2007», dos The Dandy Warhols, foi outro dos discos a entrar para o álbum de recordações do Verão de 2011. Na verdade, esta compilação revisita os melhores anos da vida da banda norte-americana. Datas em que os boémios Courtney Taylor-Taylor, Peter Holmström, Zia McCabe e Brent DeBoer nos ofereceram os seus melhores registos: «…The Dandy Warhols Come Down» (1997), «Thirteen Tales From Urban Bohemia» (2000) e «Welcome To The Monkey House» (2003). Discos fortemente influenciados pelo Sex, Drugs & Rock n’ Roll e envoltos no psicadelismo cultivado pelos The Velvet Underground e The Rolling Stones (dois nomes incontornáveis na biografia da banda de Portland, tal como a capa do magnífico «Welcome To The Monkey House» o comprova). Ainda assim, os The Dandy Warhols conseguem mergulhar na brit pop e subir à superfície com verdadeiros hinos indie capazes de se tornarem na cara publicitária de uma grande marca. Canções que não os livram das críticas, sendo mesmo uma das bandas mais subavaliadas do pós-grunge. Música desvairada e afogada em excessos, brada a imprensa especializada. Mas, se assim não fosse, como poderia Courtney Taylor-Taylor escrever canções como «Every Day Should Be A Holiday», «Bohemian Like You», «The Last High» e «Not If You Were The Last Junkie On Earth»? Ou entoar, com ironia, "I never thought you were a junkie because heroin is so passé"? Quanto a «Best Of The Capitol Years 1995-2007», julgo que se trata de uma boa amostra da obra dos The Dandy Warhols. Além das passagens obrigatórias pelos trabalhos supra-identificados, encontramos também alguns temas do menor «Odditorium or Warlords of Mars» e o mediano «This Is The Tide» (o único inédito). No entanto, para quem sempre seguiu a carreira da banda norte-americana que mais parece britânica, é inevitável identificar algumas ausências, como são exemplo «Sleep», «Ride», «Mohammed», «Everyone Is Totally Insane» e as covers «Hells Bells» (AC/DC), «Call Me» (Blondie), e «Relax» (Frankie Goes To Hollywood).

Aproveitando a boleia do «Best Of», pego na compilação que reúne alguns dos momentos mais felizes da carreira dos Madrugada, banda norueguesa que desde início dos anos 00 me seduz com uma sonoridade intensa, mas extremamente requintada. Texturas que integram a sensualidade que fez escola nos trabalhos de Leonard Cohen, arranjos melancólicos e o aprumo melodioso a que nos habituou um Chris Isaak. Tudo muito bem conduzido pela intensa voz de Sivert Høyem. «The Best Of Madrugada» revê, assim, os quase 10 anos de actividade discográfica da banda de Stokmarknes. Cinco álbuns que me passaram um pouco ao lado, confesso, mas que ainda hoje são recordados por algumas das suas canções: «Vocal», «Majesty», «Strange Colour Blue», «Sail Away», «Hands Up – I Love You», «Quite Emotional», «Electric», «The Kids Are On High Street» e «Black Mambo» são obrigatórias. Portanto, já estava mesmo na altura de termos uma compilação como esta. «The Best Of Madrugada» está organizado em torno dos vários singles da banda, de temas ao vivo, versões remasterizadas e uma canção nova («All This Waiting To Be Free»). 28 gravações muito bem ordenadas e condimentadas em dois discos temáticos: se o primeiro apresenta a vertente mais agressiva e up tempo dos Madrugada, o segundo revela o quanto estes noruegueses conseguem ser doces, mantendo a mesma intensidade. Ambientes que não terão continuidade, uma vez que após o falecimento do guitarrista Robert Burås (1975-2007), Frode Jacobsen (baixo) e Sivert Høyem (voz) decidiram por um ponto final aos Madrugada.

«American VI: Ain’t No Grave» de Johnny Cash é, também ele, um disco de despedida. Gravado, essencialmente, entre a morte de June Carter Cash (1929-2003) e o desaparecimento do próprio Johnny Cash (1932-2003) – durante 4 meses –, o sexto capítulo da série American Recordings foi editado só no ano passado e, na KaDeWe, o disco já se encontrava na prateleira dos € 5,00. Negócio irrecusável e concluído na hora. Curioso o facto de me ter aventurado nestes American Recordings aquando da minha passagem pela Suíça Alemã e, agora, terminar a viagem em Berlim. Os elementos continuam a ser os mesmos, ou seja, inspiração e mestria de Johnny Cash e produções de Rick Rubin. Porém, os dez temas que compõem «American VI: Ain’t No Grave» mostram um Johnny Cash frágil e consciente de que o seu tempo está a esgotar-se («I Corinthians 15:55», composição de Johnny Cash, é um limbo constante entre a vida e a morte e «Can’t Help But Wonder Where I’m Bound» um olhar pungente do seu passado). Atenção, não encontramos aqui nada de novo. Johnny Cash reinterpreta temas de outros artistas e, como é habitual, sai-se muito bem. Por isso, «American VI: Ain’t No Grave» vale também pela sua carga histórica, uma vez que reúne algumas das derradeiras gravações de um dos nomes mais importantes da música norte-americana.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Viagens à tasca

Depois de mais uma semana de trabalho, mais dura que o normal, pois ainda nos estávamos a ambientar ao ritmo pós-férias, lá fomos beber uns copos. As escolhas, desta vez recaíram sobre Michael Jackson, Lauryn Hill e seguindo a corrente das tascas helvéticas, Johnny Cash.
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Vamos lá falar de Michael Jackson (MJ). Sempre esteve bem claro na minha cabeça que MJ desempenhou um importantíssimo papel na evolução da música urbana norte-americana, nas suas variadíssimas acepções e estilos. Do R&B ao Rap e do Hip-Hop à Pop. Desta forma, a vontade de comprar uma compilação de Mr. Jackson sempre existiu. Nesta inocente passagem pela tasca das tascas encontrámos artigos ao desbarato e o duplo «The Essential» acabou na nossa conta cliente por apenas € 5,00. O leque musical é extenso, passando pelos originais Jackson 5 até «Invencible», o último flop editorial de MJ, de 2001. É, de facto, um longo apanhado do melhor que Michael Jackson nos deu. Durante a sua infância, com os The Jackson 5, e juventude, nos The Jacksons (evolução natural dos anteriores cinco), a Motown era o pano de fundo e tanto Marvin Gaye como Stevie Wonder eram os ídolos a seguir. Quando em 1979 grava, com a ajuda de Quincy Jones, «Off The Wall» a admiração surge dos quatro cantos do mundo. Temas como «Don’t Stop ‘Till You Get Enough» e «Rock With You» marcavam a estreia em nome próprio de um artista que respirava talento e com um futuro promissor. Os prémios sucederam-se e os álbuns de platina multiplicaram-se. Daí até ao reconhecimento como Rei da Pop foi um pequeno passo. Por tudo isto e muito mais, ouvir este «The Essential» revelou-se uma experiência surpreendente. Se no primeiro CD encontramos os inevitáveis «Don’t Stop ‘Till You Get Enough», «Rock With You», «The Girl Is Mine» (dueto com Paul McCartney), «Billie Jean», «Beat It» e «Thriller»; o segundo capítulo passa pelos não menos importantes «Bad», «The Way You Make Me Feel», «Man In The Mirror», «Smooth Criminal», «Remember The Time», «Heal The World», «Earth Song» e «They Don’t Care About Us». Tudo motivos para recordarmos um dos maiores compositores pop do último século.
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Viramos as atenções para um dos mais conseguidos registos dos últimos anos. «The Miseducation Of Lauryn Hill» é um clássico, por isso mesmo a cópia pirata lá de casa merecia um upgrade. Em mais uma promoção Fnac acabamos por levar o disco para casa e reviver outros tempos. Note-se que esta «sinuosa» educação de Lauryn Hill é mais um tributo à soul dos anos 70 (com a Motown uma vez mais a marcar presença) que um álbum de hip-hop contemporâneo. Porém, é aqui que reside o segredo do seu sucesso. Canções baseadas em memórias soul às quais são adicionados beats contagiantes e uma lírica contemporânea. É, desta forma, um autêntico regresso ao futuro que meio mundo aclamou, nomeou e galardoou. «Ex-Factor» é um lamento delicioso que poderá levar o ouvinte mais sensível às lágrimas; «To Zion», que conta com a ajuda preciosa de Carlos Santana, é um autêntico bombom que Lauryn Hill ofereceu ao seu filho Zion; «Everything Is Everything» conta com John Legend (na altura um perfeito desconhecido) ao piano mas são os beats e o trabalho de edição que despertam a nossa atenção; «I Used To Love Him» regista a sempre agradável presença de Mary J. Blige (uma das rainhas da soul) e a comunhão com Lauryn Hill é perfeita; D’Angelo também surge na lista de convidados e o resultado é o «Melodicodoce» «Nothing Even Matters»; «Doo Wop (That Thing)» foi um dos singles e vídeos mais fortes dos anos ’90; e, a chegar ao fim, temos «Can’t Take My Eyes Off You» a servir de sobremesa.
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Regressamos ao mundo Johnny Cash e ao quinto e simultaneamente primeiro capítulo póstumo da série American Recordings. Se no admirável «American IV: The Man Who Cames Around» Johnny Cash já revelava alguma debilidade física, em «American V: A Hundred Highways», editado a 4 de Julho de 2006 (cerca de 3 anos após o seu desaparecimento), o cenário não é melhor. O ritmo é calmo e os temas são tranquilos, desempenhando como que um papel de despedida. Johnny Cash volta a formar equipa com Rick Rubin. O álbum é, mais uma vez, composto por alguns (poucos) originais e uma mão cheia de versões. No campo dos originais encontramos a serenidade folk de «I Came to Believe» e o country de «Like The 309», a derradeira composição assinada por Johnny Cash. Relativamente às covers, destaque para o tema tradicional «God’s Gonna Cut You Down»; «If You Could Read My Mind», de Gordon Lightfoot; «Further On Up the Road», de Bruce Springsteen; «On The Evening Train», de Hank Williams; «A Legend In Time», escrito por Don Gibson e interpretada por Roy Orbinson; e, a fechar, o «cristalindo» «Love’s Been Good To Me», tema popularizado por Frank Sinatra. O resultado final revela-se mais homogéneo que os seus antecessores, mas a sua serenidade não deixa de transmitir algum vazio e sentimento de perda do génio Johnny Cash.

Um pouco em forma de homenagem deixo Johnny Cash e o vídeo para «God’s Gonna Cut You Down», tema que também foi aproveitado por Moby em «Run On», de «Play».
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domingo, 14 de outubro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias VII

Continuando a saga do período de férias…

Antes de seguirmos viagem para nova cidade descobrimos, numa rua secundária de Zürich, o CD STUDIO – AG. O espaço revelou-se especial e muito bem composto. O ambiente era acolhedor, a música também e as pessoas hospitaleiras. Porém a vida é feita de escolhas e desta vez a selecção final passou pela edição especial de uma das últimas obras-primas pop/rock editadas, o debut dos escoceses Franz Ferdinand; a mais recente edição dos norte-americanos Shivaree e o volume III da colectânea «American Recordings» de Johnny Cash.

Zürich Hauptbanhof

Relativamente aos aclamados Franz Ferdinand e ao soberbo homónimo álbum de estreia da banda escocesa, julgo que não haverá muito a acrescentar a tudo o que já foi dito. A compra serviu para o devido upgrade da edição standard de «Franz Ferdinand» (um bem haja a quem efectuou o upgrade à cópia pirata da mesma edição standard). Porém, e como seria de prever a música voltou a seduzir. Com o serviço a milhares de kms e o telemóvel em off, foi um regalo reencontrar «Jacqueline» e cantar em uníssono «It’s always better on holiday / So much better on holiday / That’s why we only work when / We need the Money»; Como nos encontrávamos numa entusiástica cidade suíça alemã «Ich heisse super fantastische» fez mais sentido e a música dos Franz Ferdinand incendiou ainda mais as hostes («This fire is out of control / I’m going to burn this city / Burn this city / If this fire is out of control / Then I / I’m out of control / And I burn»). Nunca um disco punk rock pareceu tão dançável e nunca a expressão pop&roll fez tanto sentido como em «Franz Ferdinand». «Take Me Out» é, e será, um dos grandes hinos da geração 00; para muitos o «Paranoid Android» dessa mesma década. Apesar de não serem maníaco-depressivos, o colectivo apresenta tendências bipolares, havendo canções em que surgem diferentes temas justapostos. No fim o resultado é um autêntico caleidoscópio de cores e sons. O ritmo contagia, a seiva das canções é doce como o mel e o festim está sempre garantido. «Jacqueline», «Take Me Out», «The Dark Of The Matinée», «Auf Achse», «Darts Of Pleasure», «Michael» e «This Fire» merecem figurar na lista dos melhores temas editados nos últimos quase 8 anos.

Como bónus desta edição especial encontramos a versão single de «This Fire» (no caso «This Fffire», produzida por Rich Costey) e os lados-b de «Darts Of Pleasure» («Van Tango» e «Shopping For Blood») e de «Take Me Out» («All For You, Sophia» e «Words So Leisure», a versão acústica de «Darts Of Pleasure»). O swing punk pop rock continua lá e esta reentrada em cena serviu para amenizar as constantes incursões na junk-food e kebab.

Voltamos a tropeçar nas surpreendentes promoções helvéticas aos «American Recordings» de Johnny Cash. Desta vez o tropeção foi no volume III, intitulado «American III: Solitary Man». Mais uma vez Johnny Cash apresenta-se ao seu melhor nível. Mais uma vez o minimalismo das interpretações marca pontos. Mais uma vez a selecção de versões é surpreendente. E mais uma vez a parceria de Johnny Cash com Rick Rubin arrecadou um Grammy, na categoria de melhor performance country masculina com a magistral gravação do tema título (uma versão de Neil Diamond). Traído pela sua saúde fragilizada, «Solitary Man», editado em 2000, foi a resposta musical de Johnny Cash à crescente debilidade física. O tema de abertura marca um pouco o sentimento de Johnny Cash. «I Won’t Back Down» (original de Tom Petty) é um autêntico testemunho de resistência («You can stand me up at the gates of hell / But I won’t back down»), tal como a superior versão de «The Mercy Seat» de Nick Cave («And I’m not affraid to die»). Desta vez a lista de convidados passa por Will Oldham, Tom Petty e Sheryl Crow. As interpretações Cash de universos mais ou menos reconhecíveis são os já referidos «I Won’t Back Down» (Tom Petty), «Solitary Man» (Neil Diamond), «The Mercy Seat» (Nick Cave) e ainda «One» (U2), «I See Darkness» (Will Oldham) e «Wayfaring Stranger» (tema tradicional dado a conhecer pelos saudosos 16 Horsepower). Quanto a originais, encontramos um apetitoso «Before My Time» e algumas reinterpretações de temas com marca registada Johnny Cash, das quais se destaca «Field Of Diamonds» que conta com a participação de June Carter Cash e Sheryl Crow. Mais um grande disco de Johnny Cash e Rick Rubin!
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Chega a vez dos Shivaree. Desde que Ambrosia Parsley surgiu no éter a dar as «boas noites à lua» que faço por dar atenção a este colectivo norte-americano. Os discos são medianos, é verdade, mas encontramos sempre três ou quatro pérolas dignas de registo. Desde o tema de maior sucesso «Goodnight Moon» aos radio-friendly «I Close My Eyes» e «John 2/14», do melancólico «Oh No» aos lânguidos «Daring Lousy Guy» e «Arlington Girl», do belíssimo «New Casablanca» aos devaneios pop qualquer coisa de «Bossa Nova» e «Pimp». Não fosse o suficiente para adquirir o mais recente «Tainted Love: Mating Calls And Fight Songs», deparei com um disco de versões. Há dias confessei a minha paixão pelo formato EP, hoje tenho de revelar a minha admiração pelas covers. Para a gravação deste «Tainted Love» Ambrosia Parsley convocou não só os dois parceiros habituais (Danny McGough e Duke McVinnie) como também Benjamin Biolay, Mickey Petralia, Chris Maxwell, Phil Hernandez, Mathew Cullen, Doug Weiselman e Scott Bondy, todos eles instrumentalistas, todos eles produtores. Desta forma, cada um produziu e ajudou a edificar um ou mais temas de «Tainted Love». O disco, como informa o sítio electrónico oficial, serve para relembrar as primeiras estórias amorosas que se vive(ra)m na adolescência: o primeiro encontro, o primeiro namoro, o primeiro beijo, etc. Para que tudo corresse da melhor forma Ambrosia seleccionou alguns temas que tratam o Amor por Tu. Bette Midler (com a ajuda de Phil Spector), Chuck Berry, R. Kelly, Michael Jackson, Tanya Tucker, Gary Glitter, Ike Turner, Rick James, Möntley Crüe, Spade Cooley e Led Belly foram as escolhas finais. Mais uma vez o disco é mediano e mais uma vez encontramos agradáveis surpresas, como são os casos do smooth alucinatório «Don’t Stop ‘Til You Get Enough» de Michael Jackson (que contou com a ajuda de Doug Weiselman); o folk R&B em «Half On A Baby» de R. Kelly (produção de Mickey Petralia); a harmonia de «Paradise» original de Phil Spector mas interpretado por Bette Midler (com a marca registada Benjamin Biolay); a pop açucarada em «Hello! Hello! I’m Back Again» de Gary Glitter (com o dedo de Danny McGough); o rock em «Cold Blooded» de Rick James (participação de Phil Hernandez); a interpretação muito ao jeito cabaret de «Looks That Kill» dos Möntley Crüe (mais uma vez com o auxílio de Phil Hernandez); e a despedida em «Goodnight, Irene» popularizada pelos Lead Belly (que contou com a ajuda de Chris Maxwell). Não estamos perante o melhor dos Shivaree, é verdade. Contudo, para que tal fosse possível teríamos que efectuar uma cuidada triagem a todos os registos do colectivo, juntando o melhor num só álbum. Enquanto isso não acontece, vamos esperando por encontrar mais jóias Shivaree.

Como destaque final, apresento uma das últimas gravações dos Franz Ferdinand, a cover de «All My Friends» dos não menos aclamados LCD Soundsystem. Registe-se que o vídeo é realizado por Anna McCarthy, irmã do guitarrista Nick McCarthy.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias V

Como tive a oportunidade de salientar no último capítulo, a passagem por Bern foi ao estilo «visita de médico». No entanto, diga-se de passagem que a capital política helvética não apresentou grandes locais de interesse (a chuva também não ajudou muito). Seguimos então para Zürich e nova cidade, novo tombo.

Zürich revelou-se uma cidade encantadora. Moderna, jovem, rebelde, e ainda assim politicamente correcta. À luz do dia os habitantes parecem respirar uma inquietude que se revela ao raiar da noite. Um desassossego contagiante que não deixa ninguém indiferente.
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Zürich
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Não fossem razões de sobra, Zürich está repleta de tascas. Em cada canto parece surgir uma mega e/ou microstore. Por isso segui a velha máxima de melhor curar ressacas: 'prolongando a bebedeira'…

A primeira paragem teve o selo de qualidade da Musikhug, um dos estabelecimentos mais completos visitados até a data. Contudo, e apesar dos vários andares com as mais variadas secções e departamentos, a selecção pop/rock destacou-se pela negativa. Os principais aliciantes desta tasca passam pela música clássica, pelo Jazz e pelos instrumentos musicais. Nada contra a música clássica, nada contra o Jazz e nada contra os instrumentos. Mas em período de férias há que ingerir alguns doces… Desta forma ao primeiro contacto com os «aromas» de Zürich, a preços abaixo do mercado português, optámos por aprofundar o culto Johnny Cash e, mais uma vez, fazer o upgrade da cópia lá de casa do debut dos britânicos Hard-Fi.
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«Stars Of CCTV» foi gravado, produzido e editado (por apenas £ 300) em Outubro de 2004 pelos próprios Hard-Fi. As primeiras 500 cópias rapidamente esgotaram. Já em Junho de 2005 e após o sucesso alcançado em concertos e do culto que andava «de boca em boca», a Another Necessary Record recupera o disco. O inconformismo e urgência de Richard Archer e companhia (muito ao estilo de uns The Clash e Sex Pistols) revelam-se numa mais valia desta autêntica colecção de singles. Política, dinheiro, subúrbios e desilusões são os temas de preferência. Mas a música também marca pontos e o rock açucarado de uns Franz Ferdinand, The Strokes, ou mesmo Dexy’s Midnight Runners, ajudam a engrandecer as suas composições pop&roll. «Cash Machine», «Tied Up Too Tight», «Living For The Weekend», «Better Do Better» e «Hard To Beat» encheram o éter e os tops europeus em 2005 e após a nomeação para o Mercury Prize publicações como o semanário NME, a revista Q e o tablóide The Sun não hesitaram em eleger «Stars Of CCTV» como «álbum do ano». Por aqui e enquanto não conhecemos o novo «Once Upon A Time In The West» vamos contemplando as 11 estrelas da constelação «Stars Of CCTV».
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Voltamos a Johnny Cash e aos seus American Recordings. O volume que desta vez encontrámos em promoção foi o primeiro, o original «American Recordings». O álbum, aclamado por meio mundo, venceu o Grammy para melhor álbum de folk contemporânea e, com a ajuda preciosa de Rick Rubin, ressuscitou a carreira de Johnny Cash. A ideia, o desejo e o segredo para o sucesso da parceria Rubin & Cash era captar a essência da música e espírito de Johnny Cash. O minimalismo assumia o papel principal. Cash pegava na sua guitarra e interpretava temas novos e algumas versões. Enquanto exercícios como «Delia’s Gone» (primeiro single que contava com a participação de Kate Moss no vídeo promocional, realizado por Anton Corbijn), «Let The Train Blow The Whistle» e «Redemption» faziam as delícias dos já inúmeros seguidores de Cash; versões de artistas mais contemporâneos, como Tom Waits («Down There by the Train»), Leonard Cohen («Bird On A Wire») e Loudon Wainwright («The Man Who Couldn’t Cry») abriam as portas a novas audiências. Johnny Cash era de novo aplaudido por críticos e público. Já em 2003 a revista Rolling Stone incluiu «American Recordings» na lista dos 500 melhores álbuns de todos os tempos (posicionando-se na 364.º posição). «The Man Who Cames Around» parece estar uns pontos acima deste «American Recordings», mas o essencial continua lá e Johnny Cash mantém o nível habitual.
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Como destaque final deixo a rodar o novíssimo single dos britânicos Hard-Fi. «Suburban Knights» está incluído no mais recente «Once Upon A Time In The West», o segundo álbum da carreira da banda, e evidencia-se por estar alguns pontos abaixo de qualquer tema do debut «Stars Of CCTV».
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domingo, 30 de setembro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias IV

Após três dias em Genève, durante os quais não nos limitamos a bebedeiras, decide-se partir à descoberta da Suiça. Voltamos à estação de comboios e o primeiro destino escolhido é Bern. A capital política suíça, em fase de restauro para o Euro 2008 (organização conjunta da Áustria e da Suiça), é uma cidade pacata. Percorremos as suas ruas e nada nos faz ver que aquela é a capital de um dos países mais ricos do mundo. O tempo era escasso, pois a hora de partida para mais um canto helvético estava marcada para o final da tarde. Descobrimos a rua comercial lá do sítio e qual não é o nosso espanto quando o CityDisc se apresenta mais uma vez. Não resistimos e decidimos investir em souvenirs

Marktgasse - Bern

As escolhas de mais uma visita tasqueira recaíram sobre a folk.

Os britânicos The Coral são um caso misterioso. A sua música é simples, simples demais por vezes, e estranha, mas a cada nova audição sentimo-nos mais identificados com a banda e com a pop beatlesca a la Echo & The Bunnymen adicionada de pitadas de Nick Drake que apresentam. Aquando da passagem por Bern, o colectivo preparava-se para editar o mais recente «Roots & Echos», mas foram os poucos francos suíços marcados em «The Invisible Invasion» que resultaram em mais uma compra. O que dizer deste «The Invisible Invasion»? O trilho da banda não muda muito e mais uma vez revelam-se mestres em compor boas canções pop com um travo folkIn The Morning», «Cripples Crown», «Something Inside Of Me», «Far From The Crowd», «Late Afternoon» e o exercício à The Smiths «So Long Ago» são excelentes exemplos disso). Para a produção convocaram Geoff Barrow e Adrian Utley dos Portishead e os cenários ficaram mais sombrios (ouça-se, por exemplo, «The Operator»). Contudo, os The Coral continuam a jogar no mesmo campeonato de uns Gorky’s Zygotic Mynci e dos The Zutons. A imprensa especializada continua a gostar destes seis jovens amigos de rua, as rádios vão seleccionando um ou outro tema (destaque para «Pass It On» de «Magic And Medicine») e por estes lados a música continua a ouvir-se no estéreo lá de casa.
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Johnny Cash é um dos maiores símbolos da América do Norte. Conhecido como «Man In Black» a sua história é feita de sucessos e insucessos. Porém, não fosse o produtor Rick Rubin e Johnny Cash teria perecido esquecido do público em geral. Por mais incrível que possa parecer no início dos anos 90 Johnny Cash foi ignorado pelas editoras discográficas, mas Rick Rubin, um dos mais requisitados produtores da actualidade, não hesitou em apostar em Cash. O resultado ficou registado na «colecção» American Recordings (editora de Rubin) e além dos diversos prémios ganhos com as várias gravações Johnny Cash viu a sua carreira rejuvenescer. A ideia era simples, Johnny Cash interpretava temas novos e composições de universos mais ou menos contemporâneos seleccionados por Rick Rubin. Sessões que foram registadas e reveladas pelas, até à data, cinco edições «American Recordings». Da passagem por Bern, a escolha (mais uma vez muito influenciada pelo preçário) recaiu sobre «American IV: The Man Comes Around». As escolhas para este quarto capítulo revelaram-se irrepreensíveis. O country-blues dos originais «The Man Comes Around», «Give My Love To Rose» e «Tear Stained Letter» combinam na perfeição com covers pessoalíssimas de Cash para «Hurt» (dos Nine Inch Nails), «Personal Jesus» (dos Depeche Mode), «Bridge Over Troubled Water» (de Paul Simon), «I Hung My Head» (de Sting), «In My Life» (dos Beatles) e «I’m So Lonesome I Could Cry» (de Hank Williams). Como bónus encontramos ainda as presenças de Fiona Apple, na soberba interpretação de «Bridge Over Troubled Water», Nick Cave na, não menos espectacular, versão de «I’m So Lonesome I Could Cry» e John Frusciante, que dá uma mãozinha em «Personal Jesus».
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Como aperitivo deixo «Hurt» (dos Nine Inch Nails) na voz de Johnny Cash. É certo que o vídeo foi rodado poucos meses antes do desaparecimento de Cash, o seu estado físico já não era o melhor, mas o tema é sem dúvida uma das pérolas deste «American IV» (a par de «Personal Jesus», «Bridge Over Trumbled Water» e «I’m So Lonesome I Could Cry»).