quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Yeasayer | Longevity


Os norte-americanos Yeasayer estão de regresso aos discos com «Fragrant World», o seu terceiro álbum de originais. «Longevity» é o primeiro vídeo de apresentação.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Patrick Wolf | Overture


Para celebrar os primeiros dez anos de carreira, o britânico Patrick Wolf decidiu editar, ainda durante este ano, o duplo álbum «Sundark And Riverlight». Uma compilação retrospectiva composta por versões acústicas de alguns dos seus temas. «Overture», canção de «The Magic Position» (2007), é o seu primeiro "single".

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Gold rush

I’m so damn gold, oh!” clama Santi White em «Look At These Hoes». A canção, incluída em «Master Of My Make-Believe», acusa também o cruzamento de referências e cadências pop proposto pela norte-americana desde o debut de há quatro anos. No entanto, esta nova entrega de Santigold é mais irrequieta. Em «Santogold» (2008) podíamos sentir o nervo de Santi White em temas como «Shove It» e «The Creator», mas este «Master Of My Make-Believe» mostra-nos outra força. Santi White está agora mais danada e até convocou a irreverente Karen O para o tema com tempero punk «Go!». Musicalmente, os argumentos deste novo trabalho são basicamente os mesmos de «Santogold», mantendo vivo o carácter camaleónico da intérprete. Ska incorporado no dub, reggae apostado na conquista de novos públicos, electrónicas com tempero nórdico e a la Fever Ray integrados em ritmos Caribe, kuduro convertido ao samba e punk misturado com a pop mais brilhante que por aí anda. Elementos fascinantes e que nos oferecem mais um excelente momento Santigold.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Grimes | Genesis


Grimes, o projecto da canadiana Claire Boucher, é já um dos nomes incontornáveis de 2012. «Genesis» é uma das canções mais fortes do ano e o vídeo, realizado pela própria Claire Boucher, não lhe fica atrás.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Bloom


Ultrapassado que está o período anual de férias lá por fora, regresso à minha Lisboa e aos costumes de sempre, retomando também as apostas que vão sendo feitas por cá.

Tenho dito que são bons e a cada novo disco me convencem mais disso. Refiro-me aos norte-americanos Beach House. Dupla que, em 2010, nos ofereceu esse momento de magia pop em forma de algodão doce que é «Teen Dream». A banda está de regresso, com «Bloom», e o algodão doce vem ainda mais açucarado. Na verdade, as novas canções são tão doces que parecem caramelizadas e forradas a mel. Aviso: «Bloom», o quarto álbum de originais dos Beach House, pode tornar-se num caso sério de vício e dependência sonoras. É um disco que segue os caminhos do seu antecessor, mas sem que se sinta o esgotamento da fórmula pop shoegaze de Alex Scally plus voz melancólica de Victoria Legrand. A sua capa pode remeter-nos para o escuro da noite, mas as propostas de «Bloom» são luminosas. Atrevo-me mesmo a dizer que com este álbum os Beach House atingem a plena beleza nas suas canções. Música resplandecente que vem florescendo desde 2006. Enfim, «Bloom»!

domingo, 19 de agosto de 2012

Bat For Lashes | Laura


Bat For Lashes, a.k.a. Natasha Khan, regressa este ano aos discos. «The Haunted Man» chega às lojas em Outubro e o seu single de apresentação é «Laura». Soberba canção que abre o apetite para o novo trabalho da singer-songwriter britânica.

Animal Collective | Today's Supernatural


Os Animal Collective estão prestes a editar «Centipede Hz», aquele que será o nono álbum de originais do grupo norte-americano. «Today's Supernatural», tema que em Julho de 2011 passou pelo palco do CCB menos fantasiado e com o título «Let Go», é o seu single de apresentação. Mais uma excelente canção dos Animal Collective. O vídeo é realizado por Danny Perez.

Dirty Projectors | Gun Has No Trigger


«Swing Lo Magellan», o álbum de 2012 dos norte-americanos Dirty Projectors, é a grande excitação do momento. Um disco repleto de excelentes melodias e canções. Este «Gun Has No Trigger» é o seu primeiro single.

sábado, 18 de agosto de 2012

2012 | Viagens à tasca em período de férias V


Varenna, Lago di Como

Para terminar esta temporada de viagens à tasca em período de férias destaco três apostas. As duas primeiras, o mais recente trabalho dos Dirty Projectors e a banda sonora de «The Girl With The Dragoon Tattoo», têm o selo de 2012, e a terceira, o último álbum dos italianos Verdena, trata-se da já habitual proposta local.

Corre na música dos Dirty Projectors, o mesmo entusiasmo inovador que encontramos nos trabalhos de nomes como Animal Collective, The Go! Team, Grizzly Bear ou, mesmo, Shabazz Palaces, THEESatisfaction e tUnE-yArDs. A procura constante em criar melodias pop com as cadências e os elementos mais improváveis. No caso dos norte-americanos Dirty Projectors, mais uma banda a sair de Brooklyn, essa demanda apoia-se muito em texturas The Magnetic Fields, ritmos Fela Kuti, inspiração Robert Wyatt e efervescência Talking Heads. Mas Dave Longstreth, o académico e mentor do grupo, baralha as suas próprias fórmulas art-pop de disco para disco. No anterior «Bitte Orca», por exemplo, o R&B era crivado pela sua filosofia indie rockStillness Is The Move» continua a ser uma excelente canção). Para o mais recente «Swing Lo Magellan», o compositor volta a piscar o olho ao R&B (ouça-se «The Socialites») e às produções mais orquestrais («Dance For You» e «About To Die» são belos momentos), procurando também parcerias no rock alternativo que, centrando as suas atenções em Neil Young e nos The Replacements, fez história nos anos 90. Note-se o portentoso refrão de «Offsprings Are Blank», o tema de abertura, ou a folk(lore) de «Just From Cheveron», do tema título «Swing Lo Magellan» e «Unto Caeser». Mas o melhor de «Swing Lo Magellan» está nas suas melodias e na forma natural com que as complexas composições dos Dirty Projectors se tornam acessíveis. Canções apelativas e de tempero vintage, como são exemplo «Gun Has No Trigger», «Impregnable Question» e «Irresponsible Tune», que constroem mais um excelente álbum destes nova-iorquinos.

Quanto à banda sonora de «The Girl With The Dragoon Tattoo», filme de David Fincher, o disco foi adquirido devido à estrondosa versão de «Immigrant Song» (original dos Lez Zeppelin, aqui interpretado de forma superior por Karen O dos Yeah Yeah Yeahs). O álbum é composto por instrumentais nebulosos e ambiências sinistras. Um trabalho assinado pela dupla Trent Reznor e Atticus Ross, a mesma que em 2010 venceu o óscar com a banda sonora de «The Social Network» (outro filme de David Fincher) e que, com a ajuda de Mariqueen Maandig (a esposa de Trent Reznor) forma os How To Destroy Angels. Projecto que contribui também para «The Girl With The Dragoon Tattoo» com uma luminosa cover de «Is Your Love Strong Enough?», o tema que em 1985 reuniu Bryan Ferry e David Gilmour. Tudo o resto, ou seja, três discos, trinta e nove temas e quase três horas de música, é feito de instrumentais. Temas que expressam muito bem o que se passa no ecrã (noto o frenesim quase doentio de «A Thousand Details» e «Infiltrator» e a perturbante «Parallel Timeline With Alternate Outcome»). Contudo, esta é uma banda sonora com quase 175 minutos para um filme com cerca de 155 minutos. É muita e boa música, mas julgo que podiam ter deixado algumas destas ideias para as sequelas que ainda hão-de vir.

Fecho então esta série de buscas discográficas com a proposta italiana. Foi difícil chegar a um consenso, pois a comunicação com os “especialistas” locais foi má e a audição esteve sempre limitada às fracas apostas do momento dos postos de escuta. No entanto, uma rápida pesquisa no Youtube revelou-me «Razzi Arpia Inferno E Fiamme», o single que em 2011 apresentou «Wow», o duplo álbum dos Verdena. A canção é bem-parecida e as suas vestes indie folk convenceram-me. Quanto à banda, composta pelos irmãos Alberto e Luca Ferrari e Roberta Sammarelli, descobri que se estrearam nos discos em 1999 e em 2008 até andaram em digressão com os norte-americanos MGMT. A sua música vive muito da pop britânica dos Embrace (ouçam-se «Scegli Me (Un Mondo Che Tu Non Vuoi)» e «Sorriso In Spiaggia, Pt. I») e da genica dos Muse Miglioramento», «Sorriso In Spiaggia, Pt. II» e «Rossella Roll Over»). Demonstram, também, afinidades com a grandiosidade U2, o recente rock insípido dos The Smashing PumpkinsMi Coltivo») e alguns ambientes AirAdoratorio»). Apostam no rock mais psicadélico («Badea Blues» e «Loniterp»), mas «Wow» não funciona como disco. Aliás, os duplos álbuns estão cada vez mais em desuso e este «Wow» até podia ser bem melhor se fosse mais curto.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

2012 | Viagens à tasca em período de férias IV



Duomo, Milano

Foi através do sítio electrónico da publicação online Stereogum, num artigo sobre as promessas musicais para o ano de 2011, que esbarrei na pop minimal e hipnótica de Youth Lagoon, o projecto do norte-americano Trevor Powers. Logo percebi, no ADN do tema «July», que este era um projecto a seguir. Uma combinação cintilante da melancolia Mark Linkous (a.k.a. Sparklehorse) com a melhor dream pop dos The Flaming Lips e as tonalidades Sigur Rós (o crescendo de «July» e «Montana»), ideias Washed Out (a sedutora nostalgia de «Daydream») e o gosto pelo minimalismo e melodias pop dos The xx (ouçam-se «Posters» e «Cannons»). «The Year Of Hibernation», o debut álbum de Youth Lagoon, agarra-se, também, ao fatalismo Perfume Genius, o projecto do conterrâneo Mike Hadreas. No entanto, ao passo que Mike Hadreas se afoga no seu próprio derrotismo, Trevor Powers sabe controlar esse lado mais negro da sua música com outros elementos mais luminosos. As suas canções demonstram ter o tempero e as quantidades certas de melancolia e sobriedade. Um excelente álbum de estreia de mais um jovem compositor norte-americano, a seguir com atenção.

Grimes, o pseudónimo de Claire Boucher, também constava no supracitado artigo da Stereogum. Na altura, notavam que a canadiana, hoje com 24 anos, ainda tentava encontrar-se com a sua música avant-pop. No entanto, as ideias consistentes e melodias suaves de «Geidi Primes» (2011) já criavam água na boca. «Halfaxa», o debut álbum, adquirido em Milão, mostra-nos alguns ensaios electrónicos de peças maiores. Momentos introspectivos e atmosféricos que, mesmo antes da edição de «Visions», o disco de «Genesis» e «Oblivion» (dois dos melhores singles de 2012), já manifestavam uma identidade própria. Gravações caseiras e de tempero lo-fi processadas via Arthur Russell, o visionário contemporâneo que nos deixou precocemente em 1992. Temas dançáveis e vocalizações angelicais que, aqui, se apresentam no seu estado mais puro e evidenciam a arte de criar ambientes, por Claire Boucher. Dados que fazem de Grimes uma das grandes surpresas musicais dos anos 10.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

2012 | Viagens à tasca em período de férias III


Arena di Verona

E agora os Okkervil River, banda já recorrente nestes períodos de férias... Tudo leva a crer que os norte-americanos não reúnem grande consenso por cá. Pelo menos, e no que refere às apostas discográficas, é raro encontrarmos um disco dos texanos nos nossos escaparates. Por isso tenho conseguido reunir a discografia dos Okkervil River graças às pesquisas estivais. Se no ano passado encontrei «Down The River Of Golden Dreams» (2003) e «I Am Very Far» (2011), este ano foi «Don’t Fall In Love With Everyone You See» (2002). Aquele que é o primeiro LP da banda, e o sucessor dos EP «Bedroom» (1998) e «Stars Too Small To Use» (1999), mostra os Okkervil River de sempre, mas numa fase inicial da sua carreira. Contactos naturais com a música de Ryan Adams e Bright Eyes, texturas Neutral Milk Hotel e matriz Neko Case meets Giant Sand. Composições folk rock, com queda para a country, mas de olhos postos na pop e no storytelling. Ouça-se a extraordinária evocação do julgamento do homicídio “1991 Austin yogurt shop murders”, em «Westfall»: «They're looking for evil / Thinking they can trace it / But evil don't look like anything».

Quem também iniciou a carreira na folk foi o norte-americano Sufjan Stevens. Apesar de nos últimos tempos ter enveredado por caminhos mais electrónicos, o certo é que as suas composições sempre se apoiaram no trio guitarra acústica-banjo-piano. Ainda assim, na ficha técnica de «A Sun Came!», o debut álbum do singer-songwriter editado em 2000 e reeditado e remasterizado em 2004, verificamos que o músico alargou o leque a instrumentos de sopro (flauta, oboé e saxofone), percussões, baixo, xilofone, sitar e sintetizadores. Tudo pensado, produzido e gravado num 4-pistas pelo próprio Sufjan Stevens (excepção feita para «Joy! Joy! Joy!» e «You Are The Rake», os dois temas “novos” incluídos nesta reedição de 2004). O resultado final, uma mistura de folk com pop barroca e alguns elementos étnicos e mais tradicionais, fica um pouco aquém dos seus discos seguintes, notando-se, aqui, alguma imaturidade na hora de construir uma canção pop. «A Sun Came!» pode não ser aquele debut álbum que marca toda a carreira de um singer-songwriter, mas é um belo disco para quem decidiu gravar um conjunto de canções no seu 4-pistas. Quanto a «Enjoy Your Rabbit», o segundo trabalho do norte-americano, editado em 2001 e reeditado em 2003, é como se tratasse de novo debut. Isto por que Sufjan Stevens coloca de lado a folk para se entregar de corpo e alma às electrónicas. Diríamos tratar-se de um álbum de estreia do projecto paralelo de Sufjan Stevens, o qual já nos ofereceu belos momentos pop (quem se recorda de «The Age Of Adz»?). Um trabalho composto por um ciclo de canções organizado em torno dos animais do zodíaco chinês e que em 2009 acabou por ser recriado pela Osso String Quartet, no disco «Run Rabbit Run». “Instrumentasons” que, aqui e ali, até desenvolvem boas variações indie-pop-qualquer-coisa (ouçam-se

«Year Of The Ox», «Year Of The Dragon» e, claro, «Year Of The Horse»). Peças de fusão fragmentadas que apresentam sempre um ambiente e uma disposição próprios para cada signo. E assim, em vez de dar somente um passo em frente, Sufjan Stevens apostou no triplo-salto em direcção ao desconhecido e por isso atribuía-lhe já o ouro olímpico.

Quanto aos Japandroids, duo canadiano que desde 2009 nos aquece o corpo com as suas texturas garage-punk-rock, também não é fácil encontrar a sua discografia por cá. Se o álbum de estreia «Post-Nothing» (2009) foi descoberto em Madrid, o mais recente «Celebration Rock» (2012) chegou de Milão. Disco que começou a ser gravado ainda em 2010, com a edição do excelente single «Younger Us» (o sexto tema de «Celebration Rock»), voltando a apostar em canções frenéticas e ritmos acelerados. Os Japondroids mantêm, assim, intactos todos os pontos fortes do debut «Post-Nothing». Aperfeiçoam a urgência punk-rock, com um som mais limpo e estruturas amplificadas, mas o frenesim é o mesmo. Melodias proveitosas e canções feitas do entusiasmo “carpe diem”: «Long lit up tonight / And still drinking / Don't we have anything to live for? / Well of course we do / But until they come true / We're drinking» («The Nights Of Wine And Roses»). Um verdadeiro brinde à vida («It's a lifeless life with no fixed address to give / But you're not mine to die for anymore / So I must live», em «The House That Heaven Built»). Esta é, sem dúvida alguma, uma das melhores celebrações da música de 2012.

domingo, 12 de agosto de 2012

2012 | Viagens à tasca em período de férias II


Bellagio, Lago di Como

Do mercado discográfico italiano não há muito a dizer. Numa curta análise e comparação com a realidade portuguesa, notei que a oferta é maior (o que não é difícil), os preços são idênticos, mas o consumidor é completamente descurado. Será possível, nos dias de hoje, uma loja de discos não permitir a audição de um determinado disco porque este não se encontra nos postos de escuta? Pois bem, em Milão, é assim que funciona. Como se não bastasse, o trabalhador de uma La Feltrinelli, Mondadori, ou mesmo, Fnac milanesa demonstra grandes dificuldades em comunicar inglês e vende discos como se estivesse a vender roupa ou, mesmo, batatas.

Problemas de expressão à parte, sigo viagem com alguns discos que constavam na lista “a comprar” antes da passagem por Milão. «Replica», do projecto de Daniel Lopatin, Oneohtrix Point Never, era desejado devido às maravilhas que lhe eram atribuídas na blogosfera, das quais já tinha aprovado algumas («Replica», o single, é um tema saboroso). No entanto, havia algo de misterioso e por descobrir no ciclo de canções que Daniel Lopatin criou a partir de fragmentos lo-fi obtidos em inúmeros anúncios de televisão. “Ambientasons”, feitos de sintetizadores vintage e da vontade de recuperar algo do passado. Pequenos momentos que sempre estiveram connosco, sendo despertados pela mestria de Oneohtrix Point Never em criar ambientes e lugares comuns. «Replica» mexe com o nosso passado e acaba por mexer também connosco. Uma obra que, em certos detalhes, se posiciona ao lado de «Person Pitch», de Panda Bear, com Brian Eno sempre à espreita. Composições em jeito de música ambiente, sem nunca chegarem ao campeonato da música de elevador. Electrónicas de sentido alargado, mas pensadas nos pormenores.


Outro disco que procurava há já algum tempo era «Coastal Grooves», o debut álbum de Blood Orange, o mais recente projecto de Devonté Hynes. Trabalho já descrito como uma profunda viagem à cultura pop de 80 da música norte-americana e que Devonté Hynes compôs depois de se instalar em Nova Iorque. O músico, nascido em Houston, no Texas, mas criado em Essex, em Inglaterra, explora assim o glamour e a extravagância da noite nova-iorquina, cruzando ritmos lânguidos e riffs ligeiros com elementos pop apaixonados, mas despretensiosos. Canções que misturam a melancolia e a paixão, o ciúme e a perda, a ansia de um novo amor e a saudade. Musicalmente, «Coastal Grooves» mostra o seu interesse pelos lugares propostos por Twin Shadow, perseguindo, também, as melodias lo-fi de Ariel Pink e a sabedoria dos The Deehunter. Este é um disco repleto de potenciais singles (além dos inevitáveis «Forget It», «I’m Sorry We Lied», «Champagne Coast» e, claro, «Sutphin Boulevard»). Só é pena a não inclusão de «Dinner» e «Bad Girls», dois dos primeiros temas gravados por Blood Orange, mas isso deve estar guardado para a possível Deluxe Edition, a editar daqui a uns anos.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

2012 | Viagens à tasca em período de férias I


Piazza del Duomo, Milano

Chegou a melhor época do ano! Férias, descanso, viagens, novidades, hotéis, museus, sol e shopping… Desta vez o destino foi Milão, com passagens obrigatórias por Verona (Obrigado Gi), Lago Maggiore e Lago di Como. Além do escape, a procura pelo loja de discos mais próxima ofereceu-me alguns souvenirs importantes. Primeiro, e como já vem sendo habitual por estas ocasiões, centro as minhas atenções no formato EP.

«Earth Division», o malfadado disco dos escoceses Mogwai, o qual não passou incólume às London riots de 2011 (recordo que a primeira tiragem do EP foi destruída num incêndio), foi um dos EP adquiridos. Quatro canções, qual delas a mais distante do sonante turbilhão eléctrico Mogwai, que buscam uma visão mais calma e plácida na música do grupo. Portanto, esqueçam os ruidosos riffs e as características ondas sónicas em modo repeat dos Mogwai. «Earth Division» é composto por temas outonais e bucólicos, criados em torno do piano e da viola, do violino e do violoncelo e da harmónica. Canções gravadas nas mesmas sessões de «Hardcore Will Never Die, But You Will» (2011), mas que acabaram excluídas do seu alinhamento final. Leftovers estranhos, quando enquadrados na discografia dos Mogwai, dos quais nos colamos a «Drunk And Crazy», o momento mais electrónico do EP e a canção que realmente merece destaque.


«An Argument With Myself» é o EP de 2011 do sueco Jens Lekman. O senhor já não editava nada desde 2007, ano em que revelou algumas das suas cartas de amor, em «Night Falls Over Kortedala». O EP antecedeu a edição de «I Know What Love Isn’t», o novo álbum de Jens Lekman que chega às lojas já no próximo mês de Setembro, com cinco canções leves e propicias para a época estival, com passagens por África (via Vampire Weekend) e pela América Latina. O singer-songwriter mantém a pose e a atitude de crooner, continua a cantar as histórias do seu dia-a-dia (desta vez até descreve a passagem de Kirsten Dunst por Gotemburgo) e volta a abraçar o romantismo pop dos Belle & Sebastian e de Stephin Merritt (The Magnetic Fields). Entrega-se aos ritmos quentes do tropicalismo e às cadências tribais para criar um verdadeiro baile de festas, numa qualquer instância balnear. Coisa boa e recomendável.


E agora um pouco de yogaGonjasufi, a.k.a. Sumach Ecks, a.k.a. Sumach Valentine, mostrou-se ao mundo (a solo) em 2010, com o extraordinário debut álbum «A Sufi And A Killer». Posteriormente já nos ofereceu o EP «9th Inning» (2011) e no início deste 2012 voltou à carga com «MU.ZZ.LE», um mini álbum composto por dez faixas, algumas em formato canção, e vinte e quatro minutos de música sombria e apetecível. «MU.ZZ.LE» dá, assim, seguimento à demanda de Gonjasufi pela melodia. Para isso recorre, uma vez mais, ao trip-hop de outros tempos e ao copy+paste que resulta num autêntico choque de civilizações (leia-se referências musicais). Portanto, «MU.ZZ.LE» acaba por ser uma continuação de «A Sufi And A Killer». Um mini álbum feito à imagem do álbum que me conquistou pela sua alma de meditação e pela dança do yin e do yang que percorre todas as suas entrelinhas. Uma dualidade de forças presente e sedutora, mas difícil de explicar. Gonjasufi, o rapper, o cantor, o DJ e o professor de yoga, mantém assim intactos os créditos de excelente criador de ambientes e de peças pop.


Para terminar, «Mount Wittenberg Orca». Trabalho que reúne os Dirty Projectors e a islandesa Björk. EP composto por oito canções, todas elas escritas por Dave Longstreth para uma iniciativa de beneficência e inspiradas num passeio de Amber Coffman (vocalista e guitarrista da banda) pela montanha Wittenberg. O resultado é feito por vinte minutos de música fresca e cristalinda. Canções sem qualquer maquilhagem e de espírito ecológico, construídas em torno da voz e de instrumentações simples. Portanto, «Mount Wittenberg Orca» é um disco com matriz Dirty Projectors, mas que se aproxima da fase mais crua e despida da música de Björk («Medúlla», de 2004). Não acrescenta nada à discografia de ambos os universos, mas funciona muito bem para o propósito que viu nascer o projecto. Note-se que todas as receitas deste trabalho conjunto revertem para a National Geographic Society, para a preservação do ecossistema marítimo.