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domingo, 14 de dezembro de 2008

2008 | Viagens à tasca em período de férias VI

Chegamos então a Londres, a verdadeira capital europeia da cultura pop. Cidade onde a cada esquina se esconde uma sala de espectáculos, uma livraria ou uma loja de discos. Com Museus e Parques à séria e alguns monumentos memoráveis. As suas ruas oferecem animação e boa disposição em qualquer dia da semana. Razão pela qual se beberam muitas pints, fizeram-se demasiadas viagens underground e as chicken wings caíram sempre bem à ceia. Dei de caras com o grande Philip Seymour Hoffman e perdi as contas às lojas de discos que encontrei e aos discos que comprei. Por isso optei por expor esta segunda etapa das férias de 2008 por categorias. Desta forma, em vez de descrever uma determinada ida à Zavvi (antiga Virgin) ou à HMV, decidi destacar os EP, os singles, as edições especiais, as promoções, os guilty pleasures, as apostas, etc.. Assim, neste primeiro post, destaco o EP.
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Big Ben & London Eye
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Desde 2001 que faço por seguir todos os passos dos Sparklehorse, projecto do norte-americano Mark Linkous. «It’s A Wonderful Life» revelou-se, desde então, num pequeno pedaço de céu que me continua a musicar maravilhas aos ouvidos. Afectuosas músicas que têm em Tom Waits, PJ Harvey, Nina Persson (The Cardigans) e Dave Fridmann (Mercury Rev, The Flaming Lips, Mogwai, Clap Your Hands Say Yeah, MGMT, etc.) os parceiros perfeitos na demanda à canção pop com um travo down-indie. Rapidamente adquiri o não menos singular debut álbum «Vivadixiesubmarinetransmissionplot» (1995) e o seu distinto sucessor «Good Morning Spider» (1998). Já em 2006 foi editado «Dreamt For Light Years In The Belly Of A Mountain», álbum que, incompreensivelmente, acabou ignorado por quase todo o mundo. Contudo, o que me traz a Mark Linkous é «Chords I’ve Known» (1996), um simples EP que nos mostra cinco temas a la Sparklehorse em dez minutos e que continuava em falta na discografia lá de casa. Cinco canções distintas, mas que se relacionam na mesma procura pela melodia perfeita. Dez minutos de música que parecem gravados no sótão de Mark Linkous, mas que mais uma vez nos emocionam e marcam. Do instrumental «Midget In A Junkyard» que parece retirado de «Gulag Orkestar», de Zach «Beirut» Condon, à fantasia pop low-fi de «Heart Of Darkness» (numa versão alternativa à que saiu no álbum de estreia) e «Almost Lost My Mind». Descortinamos a admiração de Mark Linkous por Lou Reed em «Dead Opera Star» e «The Hatchet Song» fecha o EP em forma de lullaby. Excelente aquisição que efectuei no coração do Soho.
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O segundo EP, este adquirido no bairro de Chelsea, trata-se de uma das mais marcantes estreias do século XXI. Em 2004 os escoceses Franz Ferdinand reviraram o mundo melómano do avesso com o homónimo álbum de estreia. «Franz Ferdinand» é pop&roll ao serviço de hedonistas que procuram a dança, o deleite e a canção. Ora bem, antes da capitulação perante o álbum, a banda editou um primeiro EP intitulado «Darts Of Pleasure» (um dos grandes singles da estreia em LP). Além de «Darts Of Pleasure» (primeiro em versão estúdio e no fim a Home Demo) este EP inclui os lados-b «Van Tango» e «Shopping For Blood», tal como a versão Home Demo de «Tell Her Tonight». Cinco canções que ateavam o rastilho para a excitação que se viveu com «Franz Ferdinand». Porém, já aqui Alex Kapranos cantava e declarava sem quaisquer rodeios: «Ich heisse super fantastische». Frase que nós corroboramos, pois já aqui se pressentia a história que a banda escocesa estava prestes a escrever e o swing punk pop rock já nos entusiasmava até ao tutano.
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Os ares de Chelsea fizeram-me bem. Além de me brindarem com a estreia dos Franz Ferdinand, presentearam-me com um EP de uma das bandas mais aplaudidas de 2008, os Fleet Foxes. «Sun Giant» foi editado poucos meses antes do lançamento do LP homónimo que tem percorrido todas as listagens com o melhor deste ano que agora termina. A pop barroca da banda de Seattle é, sem dúvida, uma das imagens de marca de 2008 e «Sun Giant» (o tema que abre o EP) é a melhor introdução aos Fleet Foxes e à sua música. Melodia perfeita para um exemplar momento canónico e a capella capaz de persuadir qualquer descrente. Um pequeno hino à vida e à constante mutação da natureza: «What a life I lead in the summer / What a life I lead in the spring». Porém, o melhor do disco surge com «Mykonos», o momento rock bucólico do EP. Mais uma vez a melodia é abrilhantada pela introdução vocal de Robin Pecknold. A canção revela-se free as a bird até ao momento em que Pecknold afirma «Brother, you don’t need to turn me away». As emoções estão à flor da pele, mas a banda volta a pegar na canção para um triunfante final. Os restantes temas do disco mantêm o apurado sentido folk da banda ao qual lhe é adicionado elementos eclesiásticos e rock clássico. Factos que fazem deste «Sun Giant» o melhor EP de 2008.
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Quarto EP, quarta pérola (esta encontrada em Charing Cross)! «Head’s Up» é mais uma estreia em disco. Desta feita os estreantes surgem do Canada e dão pelo nome de Death From Above 1979. Jesse F. Keelerno (baixo e sintetizador) e Sebastien Grainger (bateria e vozes) foram as forças motrizes deste colectivo stoner electro punk rock que por vezes pisca o olho ao death metal. Escrevo “foram” porque, infelizmente, o duo já se separou, deixando para trás uma das carreiras mais promissoras que nunca o chegou a ser por culpa própria. «Head’s Up» (2002) antecede a autêntica bomba que foi «You’re A Woman, I’m A Machine», de 2004. Apesar dos dois anos que separam ambas as edições, os trabalhos não se distanciam muito um do outro. A banda pratica um frenético stoner punk rock que destila energia e pujança por todos os lados e temas como «Dead Womb» (ao qual os conterrâneos Crystal Castles foram buscar um sample que lhes deu um jeitão em «Untrust Us»), «Too Much Love» e «Losing Friends» justificam-no. «Do It!» (aqui numa versão ao vivo) é capaz de ser o tema que mais se distancia dos demais, pois pressentimos a influência da produção superior dos franceses Daft Punk. No entanto, o ritmo é sempre acelerado e cada momento é único, pelo que o seu desaparecimento constitui uma das grandes perdas dos últimos anos.
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O quinto destaque, adquirido já na famosa Oxford Street, vai para os britânicos Klaxons e o seu EP de estreia «Xan Valleys EP». Lançado em 2006 e antecedendo o LP «Myths Of The Near Future», os Klaxons davam aqui os primeiros passos da aventura electro punk que mais tarde lhes valeu o Mercury Prize de 2007. O EP é composto por três temas que surgiram no alinhamento final do álbum de estreia («Gravity’s Rainbow», «Atlantis To Interzone» e «4 Horsemen Of 2012»), um tema exclusivo («The Bouncer»), duas estrondosas remixesGravity’s Van She Remix» e «Atlantis Crystal Castles Mix») e o vídeo para «Gravity’s Rainbow». Não sendo o melhor do trio, encontramos aqui alguma da nata já produzida pelos Klaxons. «Atlantis To Interzone» e «Gravity’s Rainbow» são duas das composições mais bem conseguidas do trio. Por sua vez, «The Bouncer» e «4 Horsemen Of 2012» revelam uma banda mais vulgar, com um bom sentido musical, mas alguma falta de brilho (não basta ser cool para fazer boa música!). O vídeo de «Gravity’s Rainbow», assemelhando-se a um autêntico home made video, enquadra-se perfeitamente com o início de carreira dos Klaxons. No entanto, as versões dos australianos Van She e, principalmente, dos canadianos Crystal Castles acabam por repor o fulgor inicial e o disco termina muito bem.
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Continuo na Oxford Street para falar de mais dois EP. «Four Winds» do talento Conor «Bright Eyes» Oberst e «Follow The Lights» do workaholic Ryan Adams. Ora bem, enquanto os Bright Eyes são já um habitué por estas paragens, Ryan Adams é capaz de ser um estreante. Todavia, desde «Gold» (2001) que sigo as cantorias deste norte-americano. Compositor compulsivo e de gosto bastante ecléctico. Tanto se afirma num admirador incondicional dos The Strokes, como escolhe o mais recente trabalho de Beyoncé para a sua lista dos melhores cinco álbuns de 2008. Produtor que já trabalhou com meio mundo e onde se destacam Beth Orton, Counting Crows, The Wallflowers e Elton John. O singer/songwriter preferido de Elton John que odeia que o confundam com o canadiano Bryan Adams. Figura de relevo na música americana dos nossos dias. Rapaz que escreveu o hit-single «New York, New York» e que em 2007 editou o saudado «Easy Tiger», álbum ao qual este «Follow The Lights EP» se anexou como um perfeito complemento. Alternative-country de primeira linha que tem em «Follow The Lights» e «My Love For You Is Real» as melhores canções aqui apresentadas. Porém, o destaque vai inteirinho para a versão de «Down In A Hole», original dos Alice In Chains. Mais uma vez Ryan Adams atira-se a temas de outros universos e, como sempre, sai-se extraordinariamente bem. Se já o havia conseguido com o hino britpop «Wonderwall» (versão dos Oasis editada no álbum «Love Is Hell»), agora é a vez de se aventurar no grunge. A canção mantém o seu lado sujo e cru e Ryan Adams mostra que as covers continuam a ser um veículo importantíssimo na sua carreira (um álbum de covers já se justificava). A fechar o EP encontramos (versões alternativas para «This Is It» (tema que abre o flop «Rock N’ Roll»), «If I Am A Stranger» (uma das melhores canções do duplo «Cold Roses») e «Dear John» (tema escrito em parceria com Norah Jones e originalmente editado na banda sonora de «Jacksonville City Nights»). De facto, este é um excelente complemento a «Easy Tiger».
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Quanto a «Four Winds», single extraído de «Cassadaga» (2007), o último álbum de originais dos Bright Eyes, deparamo-nos com cinco excelentes lados-b. Cinco canções que podiam muito bem constar no alinhamento final de «Cassadaga», ou de qualquer outro álbum dos Bright Eyes. Conor Oberst é, de facto, um dos melhores letristas norte-americanos e a folk de «Four Winds» é um pequeno exemplo disso mesmo («Your class, your caste, your country, sect, your name or your tribe / There's people always dying trying to keep them alive» «The Bible is blind. The Torah is deaf. The Qur’an is mute. / If you burned them all together you’d get close to the truth»). No entanto, a alternative-country embebida na pop em «Reinvent The Wheel» não lhe fica nada atrás: «I’m sure the TV sets will tell us when someone reinvents the wheel / Till then I'll have a million conversations about shit that isn't real». Já para não falar do blues rock americana de «Cartoon Blues»: «I felt something changing the world / Like a new constitution / A thief I would have to pursue / At all times / At all costs / The truth!». Descobrimos, ainda, uma voluptuosa linha de guitarra recuperada aos anos 70 em «Stray Dog Freedom» e cedemos por completo perante «Smoke Without Fire» (tema que conta com a participação vocal de Mr. M. Ward) e «Tourist Trap»: dois singulares momentos folksy capazes de arrepiar o próprio Bruce Springsteen.
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Para terminar esta primeira viagem a Londres, escolhi um vídeo dos extintos Death From Above 1979.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Viagens à tasca

Rapidamente a minha obcecação tasqueira reactivou e após novo fim-de-semana, nova escorregadela (no orçamento). A culpa é da tasca da margem sul! De uma assentada perfiz a discografia, em termos de álbuns originais, do «eterno adolescente mais maduro da América» Conor Oberst a.k.a. Bright Eyes e dos já sólidos The National.
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Comecemos pelos The National (na minha opinião, os grandes vencedores da corrida ao melhor álbum de 2007, com o sublime «Boxer»). Na colecção de CDs originais lá de casa estavam em falta «Sad Songs For Dirty Lovers» (2003) e «Alligator» (2005). Como é da praxe, e após se tornarem na mais recente dependência auditiva, há que ter os discos em formato original. «Sad Songs For Dirty Lovers», segundo álbum na carreira do colectivo norte-americano, é mais um exemplo revelador da discutível opção gráfica patenteada nas capas dos discos dos The National e do apurado sentido melodioso da banda. A música (o que realmente interessa aqui) é afectiva e harmoniosa. «Cardinal Song», a abrir, dá-nos uma perfeita visão americana dos Tindersticks, com o canadiano Owen Pallett a.k.a. Final Fantasy à mistura. «Slipping Husband» revela uns The National mais mexidos, mais pop, mais radio-friendly, mais senhores de si mesmo (com direito a berraria e tudo). «90-Mile Water Wall», o melhor dos doze temas aqui apresentados, é doce e etéreo, dando indícios do que se seguiria com «Alligator» e «Boxer». «Thirsty» mantém os ambientes serenos e melódicos e «Available» é acelerada e forte, com portentosos riffs que mais tarde fariam mossa nos Editors. No entanto, «Murder Me Rachel» é exercício indie rock que se desenquadra um pouco da musicalidade dos The National. «Sugar Wife», «Throphy Wife» e «Patterns of Fairytales» parecem exercícios inacabados, não se sabendo ao certo qual o rumo desejado. E «Lucky You» fecha as hostilidades em mais um exercício competente, não passando daí. Desequilibrado este «Sad Songs For Dirty Lovers», mas depois de «Boxer» tudo é perdoado e tudo acaba por soar suave e doce.
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Mudamos de disco e aos primeiros acordes de «Alligator» percebemos que algo mudou nos The National. A música é agora ainda mais envolvente. Ouvimos uma banda mais madura. «I had a secret meeting in the basement of my brain», canta Matt Berninger em «Secret Meeting» (tema de abertura) e nós imaginamos que foi esta autêntica auto-descoberta a razão para este passo de gigante. Se anteriormente os The National se evidenciavam, a espaços, pelo sentido melódico de um Leonard Cohen e/ou Tindersticks, agora juntam-lhes temperos Joy Division (ouça-se «Lit Up» e «Abel»), acidez Nick CaveKaren»), bálsamos Rosie ThomasDaughters Of The Soho Riots»), aromas WilcoVal Jester») e momentos de pura magia que misturam orquestrações Disney com atmosferas dream indie popThe Geese of Beverly Road» e «City Middle»). «Alligator», depois de dois álbuns e um E.P. (já aqui documentados), marca a estreia pela histórica Beggars Banquet e o apurar da linguagem The National, no primeiro grande álbum deste colectivo sediado em Nova Iorque.
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Continuamos na América do Norte, mais precisamente no sempre bem vindo estado do Nebraska, para destacarmos Conor Oberst e os seus Bright Eyes. Desde muito cedo que Oberst se revelou um autêntico compositor compulsivo. Aos catorze anos já compunha e editava discos, resultado dos seus vários projectos musicais, desde os Norman Bailer (mais tarde conhecidos como The Faint) aos Commander Venus. Produto dos anos 80, Oberst cresceu a ouvir Nirvana, Rage Against The Machine, Soundgarden e afins. O grunge sente-se nas entrelinhas da sua música. «A Collection of Songs Written and Recorded 1995-1997» foi o primeiro testemunho de Oberst enquanto Bright Eyes. Tal como o próprio nome o denúncia, o disco é uma colecção de temas escritos e gravados entre 1995 e 1997. Registada no sótão de Conor Oberts e num gravador de 4-pistas, esta compilação de vinte excertos musicais acaba por não ser tão fascinante como os restantes exercícios Bright Eyes. De facto, descobrimos verdadeiros desatinos inenarráveis para qualquer um («Solid Jackson» e «Supriya» são bons exemplos disso mesmo). No entanto, lá encontramos, também, o fantasma de Kurt Cobain em versão caseira (ouça-se «Saturday as Usual»); damos de caras com Mark Linkous e os seus delicados SparklehorsePatient Hope In New Show» e «Falling Out Of Love At This Volume»); conhecemos outros devaneios electrónicos e mais pessoais de Conor Oberst («The Invisible Gardener» e «Driving Fast Through A Big City At Night»); e comprovamos a excelência da composição de Oberst («The Awful Sweetness Of Escaping Sweet», «I Watched You Taking Off», «Lila», «The ‘Feel Good’ Revolution», etc.). Compilação irregular, é certo, mas extremamente valiosa para os seguidores dos Bright Eyes.
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Seguimos viagem (cronológica) até ao E.P. «Every Day And Every Night», de 1999. Editado logo após o enigmático «Letting Off The Happiness», «Every Day And Every Night» parece-se já com um conjunto de canções escritas e registadas com um propósito comum: editar uma colecção de canções embebidas na folk, no alternative country e, fundamentalmente, na pop. O timbre de voz de Conor Oberst deambula entre os delírios de Gordon Gano (Violent Femmes) e Robert Smith (The Cure). Se «A Perfect Sonnet», o melhor tema das cinco canções aqui apresentadas, se distingue pelo crescendo emocional, «A New Arrangement» recorre a melodias Nick Drake para uma autêntica prece musical, renovada em «Neely O’Hara». «A Line Allows Progress, A Circle Does Not» junta ensinamentos Adam Kasper aos primeiros momentos folk de Bruce Springsteen. Outra pérola para os fãs dos Bright Eyes.
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A última paragem desta visita tasqueira recupera o ano de 2002 e o álbum «Lifted, Or, The Story Is In The Soil, Keep Your Ear To The Ground». Após «Letting Off The Happiness» e «Fevers And Mirrors», o resultado final do terceiro trabalho dos Bright Eyes não é nada convincente para quem ansiava por algo totalmente diferente/novo. Tudo o que aqui se encontra já se havia saboreado anteriormente. Desde o swing acústico do colectivo à berraria estridente e o apurado lirismo de Conor Oberts, passando pela folk embriagada e a pop esquizóide do Nebraska. Todavia, e após várias audições denotamos uma maior sensibilidade de Conor Oberts para a melodia. Encontramos igualmente instrumentações de sopro e mais composições de cordas capazes de nos hipnotizar. «Lover I Don't Have To Love», «Bowl Of Oranges», «Nothing Gets Crossed Out», «False Advertising» e «Don’t Know When But A Day Is Gonna Come» são algumas das melhores canções dos Bright Eyes. Contudo, «When The President Talks To God», momento crucial para a difusão e popularização da carreira dos Bright Eyes, ainda estava longe, estando em 2002 o culto Bright Eyes reservado a sortudos «happy few».
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Para rematar sugiro a famosa actuação de Conor Oberst, enquanto Bright Eyes, no programa de Jay Leno interpretando «When The President Talks To God».
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domingo, 2 de setembro de 2007

Viagens à tasca

O que seria um «rally às tascas» sem passarmos pela FNAC? Seria como passar por Belém sem parar nos famosos pastéis… Visitar Sintra e resistir aos afamados travesseiros da ‘Periquita’… Passar pelo mítico ‘Arroz Doce’ sem darmos um valente ‘Pontapé na Cona’… Assim, e antes de me entregar de corpo e alma a outros prazeres, os das férias, voltamos ao principal local do crime e não resistimos a mais um chamamento de Animal CollectiveSung Tong»), Bright Eyes Fevers And Mirrors»), Antony And The Johnsons The Lake») e - caríssimos, vejam como andava completamente perdido - ao apelo sofredor dos KeaneHopes And Fears»).
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Comecemos pelo fim. Caro amigo, já relatei, nos últimos capítulos, o meu mal estar perante o que me rodeia. Como em momentos de fraqueza fico mais vulnerável à «bebida», cedi perante o primeiro «guilty-pleasure» de há muito. Os Keane são um caso desconforme. São capazes de fazer o melhor e o pior num inocente disquinho de quarenta minutos. «Somewhere Only We Know» é um dos melhores temas de 2004. «Hopes And Fears» é um dos álbuns mais desiguais desse mesmo ano. Contudo, a melancolia pedia «Somewhere Only We Know». Porquê? Só viria a descobrir depois das férias:
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«Oh Simple things where have you gone?
I’m Getting old and I need something to rely on
So tell me when you’re gonna let me in
I’m getting tired and I need somewhere to begin
»
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Tom Chaplin e companhia descobriam a causa da taciturnidade. «This could be the end of everything / So why don’t we go somewhere only we know?» era a pergunta que se fazia. Mas o espírito que se vivia era o de «Bend And Break»:
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«If only I don’t bend and break
I’ll meet you on the other side
I’ll meet you in the light
If only I don’t suffocate
I’ll meet you in the morning when you wake
»
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A música é limpinha, as composições de piano são eficazes e colam-se nos ouvidos, os temas são quase todos gravados para a rádio e o mais que produzido resultado final acaba por ser positivo. Porém, há falsetes tão doces que chegam a enjoar, «pianadas» tão açucaradas que sentimos os triglicéridos a manifestarem-se. Uma mescla e desigualdade que cativou Portugal, o que possibilitou a edição especial e exclusiva para o nosso país de um CD bónus com a gravação ao vivo de 4 temas na RFMSomewhere Only We Know» e «Bedshaped» incluídas), demonstrando alguma fragilidade vocal de Tom Chaplin.
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Após uma melancolia açucarada e por vezes plagiada decido manter-me ao piano, mas adensar o ambiente. Facilmente se chega a Antony Hegarty e os seus Johnsons. Desde o início da sua aclamada e curta carreira que Antony tem optado por editar diversos EPs. Discos de 3/4 temas que se revelam autênticas peças de coleccionador. Durante a presente visita encontrámos «The Lake», EP que além de apresentar o genial «I’m A Bird Now» através do não menos soberbo «Fistful Of Love» (com a participação especial de Lou Reed) inclui «The Lake» – tema baseado no poema de Edgar Allan Poe – e «The Horror Has Gone». Iguais a si próprios Antony and The Jonhnsons voltam a marcar pontos e a fazer cada peça musical uma profunda mágoa capaz de deixar lágrimas no rosto de qualquer ouvinte. Todavia, sentimo-nos reconfortados com a dor de Antony e a contar os dias para qualquer novidade que seja de Antony Hegarty.
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A próxima paragem foi feita ao som de Conor Oberst. Mais um projecto onde a palavra parece ganhar uma dimensão maior que a própria música. Porém, esta ideia é mais uma das muitas falácias que marcam a pop dos dias de hoje. A música dos Bright Eyes é apaixonante, brilhante e autêntica. O que parece faltar aos novatos Keane, tem o jovem Conor Oberts em excesso: objectividade, sensibilidade e paixão qb. «Fevers And Mirrors» é o 2.º álbum de originais dos Bright Eyes. Editado em 2000 e sucessor do já aqui exposto «Letting Off The Happiness», assinala o marcar de posição no panorama alternative-country norte-americano. Se o desconforto de «Letting Off The Happiness» foi uma mais que bem sucedida estreia (mais em termos musicais que comerciais), «Fevers And Mirrors» prolongou as «febres» e crises existenciais de Conor Oberst e aumentou o culto em torno dos Bright Eyes. Se «Haligh, Haligh, A Lie, Haligh», «The Calendar Hung Itself...» e «The Center Of The World» mostram uns Bright Eyes com os sentimentos mais à flôr da pele, «A Spindle, A Darkness, A Fever, And a Necklace», «The Movement Of A Hand», «When the Curious Girl Realizes She Is Under Glass» e «Sunrise, Sunset» revelam ambientes mais serenos. É mais um grande álbum na mui radiante carreira dos Bright Eyes.
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Demonstrei, há uns «episódios» atrás, o meu recente fascínio pelo mundo desconcertante dos Animal Collective. A meu ver, este animal colectivo norte-americano revela-se, a par dos irmãos The Fiery Furnaces, como o mais fértil em melodias e texturas musicais. Aqui cada nota é única, cada momento é mágico, cada tema é inspirador e criador de imagens. Apesar do meu daltonismo parcial, a música transmite cores (reais e decifráveis), beleza, aromas, fragrâncias, etc. Para este «Sung Tongs» os Animal Collective pegaram nos Beach Boys e convidaram os Neutral Milk Hotel, Flaming Lips, Mercury Ver, Björk, Müm, Nick Drake e mais umas quantas forças musicais para uma irresistível viagem a África. Nos primeiros ensaios segue-se um trilho mais «World Music», mas o resultado é a mais apurada pop dos últimos tempos (o ADN dos Beach Boys não engana). Em «Leaf House» as cores são maioritariamente bucólicas, porém Nick Drake parece juntar-se a Brian Wilson nas solarengas praias da Califórnia, ou melhor, nas Seychelles (já que viajamos pelo continente Africano). «Who Could Win A Rabbit» são os Neutral Milk Hotel a brincar com as sonoridades terráqueas da gélida Islândia de Björk e Müm. Ouvimos «The Softest Voice» e julgamos ver Damon Albarn às voltas por Marraquexe ou mesmo pelo Mali. «Visiting Friends» revela-se numa agradável viagem de doze doces minutos pelas nossas brincadeiras de infância. Sentimos a presença da sempre bem vinda Maria João, mas aqui a música enquadra-se mais no espírito «afro-tribal». O ambiente é mais acolhedor, mais quente, o espírito é mais hospedeiro, sentimo-nos em casa, apesar de continuarmos pelas sempre perigosas mas atractivas paisagens africanas. Desta forma «Sung Tongs» acabou por ser o bálsamo perfeito para os últimos dias antes das férias de 2007.
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Deixo em airplay e em repeat uma amostra do melhor que os Animal Collective são capazes de oferecer: «Leaf House», o extraordinário tema de abertura de «Sung Tongs», de 2004.

sábado, 14 de julho de 2007

Viagens à tasca

Pois é, 10 dias após a última visita à tasca o meu lado sedento de música voltou a causar estragos… Desta vez a procura já estava estipulada: «ou havia ‘aquilo’ e ficávamos felizes da vida», ou, então, «não havendo ‘aquilo’, adiava-se os gastos em vicíos e saíamos, igualmente, felizes da vida» (ou mais ou menos). Puro lirismo, meu caro…

Sim, eu confesso, tenho que pedir ajuda e começar a ir às reuniões dos dependentes anónimos de gastar € em música. É mais forte do que eu…

Desta vez o desejo recaiu, mais intensamente, sobre «Letting Off The Happiness» - podemos quase afirmar que se trata do álbum estreia dos Bright Eyes (banda, ou projecto, de Conor Oberst, para muitos o Bob Dylan da nossa geração) - e sobre o essencial da carreira de Mr. Bruce Springsteen.

Se Bruce Springsteen vem para mostrar o melhor da sua longa e já institucionalizada carreira, Conor Oberst revela os seus primeiros passos, mais a sério, nas lides discográficas.

«The Essential», tal como o próprio nome tenta transmitir, trata-se de uma extensa revisão da matéria dada por The Boss. Cronologicamente compreende 30 anos de carreira (de 1973 a 2003). 30 anos cheios de hits, de sucessos, de desilusões, de amores e desamores, de convicções e orgulho ferido. Enfim, 30 anos que nos mostram a America(na)
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Composto por 3 «rodelas musicais», «The Essential» não censura os primeiros anos de Springsteen e o primeiro acto mostra-nos, entre outros, «Rosalita (Come Out Tonight)», «Born To Run», «Thunder Road», «Badlands», «Atlantic City», o obrigatório «The River» e o histórico «Nebraska». O segundo acto, desta obra tripartida, revela-nos a fase de maior sucesso comercial de The Boss, iniciando com a sequência «Born In The U.S.A.», «Glory Days» e «Dancing In The Dark». Pelo meio apresenta «Streets Of Philadelphia», «Human Touch», «Lucky Town», «Brilliant Disguise», «The Ghost Of Tom Joad», os mais recentes «The Rising» e «Lonesome Day», etc. O terceiro e último acto junta temas inéditos, gravados ao vivo, editados em compilações ou bandas sonoras e esquecidos na gaveta durante muitos anos. Destaque para «Trapped», versão ao vivo do original de Jimmy Cliff; «Missing», composto por cima das batidas iniciais de «Sympathy For The Devil» dos The Rolling Stones; «Lift Me Up», mostrando o falsete etéreo de The Boss; «Country Fair» que surge no seguimento da composição do emblemático «Nebraska», de 1983; e «Dead Man Walkin’» da banda sonora do filme com o mesmo título.
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Os seguidores mais acérrimos poderão questionar onde andam «My Hometown», «Better Days», «Secret Garden», «Murder Incorporated», «Sad Eyes», etc.. Problemas inerentes às «revisões da matéria dada». Contudo, no fim são cerca de 3 horas e 20 minutos de boa música a um preço apetitoso nas lojas FNAC (€ 8,95).
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Chega a vez de Conor Oberst, com os seus Brigth Eyes, e apesar de trilhar um percurso totalmente distinto de Bruce Springsteen, é possível associarmos a sua carreira musical à de The Boss. A base de ambas as histórias é o que comummente é conhecido como singer-songwriting. Enquanto Bruce Springsteen enveredou por um caminho mais mainstream, os Bright Eyes sempre mantiveram a sua vertente indie/americana/alternative country (ignorar os termos que menos gosta), mas o facto é que o público em geral tem apadrinhado e seguido estes norte-americanos de perto.
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«Letting Off The Happiness» data de 1998 e revela-se como uma manifesta declaração de inadaptação ao mundo, na qual não existe espaço para a felicidade. Composto, essencialmente de demos e temas gravados em casa, no sótão ou em qualquer outro recanto da casa, Oberst abre este disco com «If Winter Ends», que reclama:
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«I dreamt of a fever
One that would cure me of this cold winter set heart
With heat to melt these frozen tears
And burned reasons as to carry on
Into these twisted months
I plunge without a light to follow
But I swear that I will follow anything
Just get me out of here
»
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«Padraic My Prince» segue-se-lhe e o desconforto mantém-se («so tonight to compensate i will poison myself»). Adensa-se em «The City Has Sex»: «Well, I’ve cried / And you would think I'd feel better for it / But the sadness just sleeps / And it stays in my spine / For the rest of my life».

Conor Oberst é produto do movimento grunge, tendo como «ídolos» Kurt Cobain, Eddie Vedder, Anthony Kiedis, Chris Cornell, Layne Staley, Zack de la Rocha, etc... Percebe-se, assim, alguma arte em construir canções pungentes, em que o auto-flagelo está a par da sua frustração/inadaptação ao mundo. Porém, há algo que distingue Conor dos demais. Mesmo quando nos parece estarmos perante o ocaso a interpretação de Conor é densa, triste e sincera. Associando esta sinceridade às palavras podemos afirmar que em 1998 (apenas um ano depois de «OK Computer») «Letting Off The Happiness» assinalou em definitivo a entrada em cena de Conor Oberst na lista dos singer-songwriters de eleição.

Tal como afirma em «The City Has Sex», «And there's a boy in a basement with a four track machine / He’s been strumming and screaming all night down there / The tape hiss will cover the words that he sings»…