domingo, 30 de setembro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias IV

Após três dias em Genève, durante os quais não nos limitamos a bebedeiras, decide-se partir à descoberta da Suiça. Voltamos à estação de comboios e o primeiro destino escolhido é Bern. A capital política suíça, em fase de restauro para o Euro 2008 (organização conjunta da Áustria e da Suiça), é uma cidade pacata. Percorremos as suas ruas e nada nos faz ver que aquela é a capital de um dos países mais ricos do mundo. O tempo era escasso, pois a hora de partida para mais um canto helvético estava marcada para o final da tarde. Descobrimos a rua comercial lá do sítio e qual não é o nosso espanto quando o CityDisc se apresenta mais uma vez. Não resistimos e decidimos investir em souvenirs

Marktgasse - Bern

As escolhas de mais uma visita tasqueira recaíram sobre a folk.

Os britânicos The Coral são um caso misterioso. A sua música é simples, simples demais por vezes, e estranha, mas a cada nova audição sentimo-nos mais identificados com a banda e com a pop beatlesca a la Echo & The Bunnymen adicionada de pitadas de Nick Drake que apresentam. Aquando da passagem por Bern, o colectivo preparava-se para editar o mais recente «Roots & Echos», mas foram os poucos francos suíços marcados em «The Invisible Invasion» que resultaram em mais uma compra. O que dizer deste «The Invisible Invasion»? O trilho da banda não muda muito e mais uma vez revelam-se mestres em compor boas canções pop com um travo folkIn The Morning», «Cripples Crown», «Something Inside Of Me», «Far From The Crowd», «Late Afternoon» e o exercício à The Smiths «So Long Ago» são excelentes exemplos disso). Para a produção convocaram Geoff Barrow e Adrian Utley dos Portishead e os cenários ficaram mais sombrios (ouça-se, por exemplo, «The Operator»). Contudo, os The Coral continuam a jogar no mesmo campeonato de uns Gorky’s Zygotic Mynci e dos The Zutons. A imprensa especializada continua a gostar destes seis jovens amigos de rua, as rádios vão seleccionando um ou outro tema (destaque para «Pass It On» de «Magic And Medicine») e por estes lados a música continua a ouvir-se no estéreo lá de casa.
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Johnny Cash é um dos maiores símbolos da América do Norte. Conhecido como «Man In Black» a sua história é feita de sucessos e insucessos. Porém, não fosse o produtor Rick Rubin e Johnny Cash teria perecido esquecido do público em geral. Por mais incrível que possa parecer no início dos anos 90 Johnny Cash foi ignorado pelas editoras discográficas, mas Rick Rubin, um dos mais requisitados produtores da actualidade, não hesitou em apostar em Cash. O resultado ficou registado na «colecção» American Recordings (editora de Rubin) e além dos diversos prémios ganhos com as várias gravações Johnny Cash viu a sua carreira rejuvenescer. A ideia era simples, Johnny Cash interpretava temas novos e composições de universos mais ou menos contemporâneos seleccionados por Rick Rubin. Sessões que foram registadas e reveladas pelas, até à data, cinco edições «American Recordings». Da passagem por Bern, a escolha (mais uma vez muito influenciada pelo preçário) recaiu sobre «American IV: The Man Comes Around». As escolhas para este quarto capítulo revelaram-se irrepreensíveis. O country-blues dos originais «The Man Comes Around», «Give My Love To Rose» e «Tear Stained Letter» combinam na perfeição com covers pessoalíssimas de Cash para «Hurt» (dos Nine Inch Nails), «Personal Jesus» (dos Depeche Mode), «Bridge Over Troubled Water» (de Paul Simon), «I Hung My Head» (de Sting), «In My Life» (dos Beatles) e «I’m So Lonesome I Could Cry» (de Hank Williams). Como bónus encontramos ainda as presenças de Fiona Apple, na soberba interpretação de «Bridge Over Troubled Water», Nick Cave na, não menos espectacular, versão de «I’m So Lonesome I Could Cry» e John Frusciante, que dá uma mãozinha em «Personal Jesus».
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Como aperitivo deixo «Hurt» (dos Nine Inch Nails) na voz de Johnny Cash. É certo que o vídeo foi rodado poucos meses antes do desaparecimento de Cash, o seu estado físico já não era o melhor, mas o tema é sem dúvida uma das pérolas deste «American IV» (a par de «Personal Jesus», «Bridge Over Trumbled Water» e «I’m So Lonesome I Could Cry»).

sábado, 29 de setembro de 2007

She Wants Revenge Take 2

Após quinze meses da excelente estreia em palcos nacionais, inserida no Lisboa Soundz 2006, os She Wants Revenge preparam-se para editar o segundo álbum, sucessor do trabalho homónimo, também, de 2006. Coincidência ou não, o grafismo de novo «This Is Forever» reproduz o primeiro «She Wants Revenge», mudando só a cor de fundo. Se na estreia a contradição persistia, com a capa branca a contrastar com o negrume das composições, neste «This Is Forever» a escuridão parece desempenhar o papel principal. No entanto, convém esclarecer que estes She Wants Revenge não nos trazem nada de novo. O som já foi mais que explorado, os ambientes mais que estudados e o talento vai surgindo de quando em vez. Temas como «These Things», «Out Of Control» e «Tear You Apart» destacam-se de outros como «I Don’t Wanna Fall In Love» ou o novo «Written In Blood». A fórmula revela-se gasta e Justin Warfield e Adam Bravin parecem dirigir-se a um beco sem saída. Ficaremos a aguardar pelas próximas propostas destes norte-americanos, mas a vontade de ouvir o novo «This Is Forever» esmoreceu um pouco. Quem sabe se num futuro concerto nos voltam a convencer.
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Por agora fica a recordação da passagem do colectivo de L.A. por Lisboa, com «Red Flags And Long Nights».
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The National | Apartment Story

É, finalmente, conhecido o segundo single extraído de «Boxer», quarto álbum dos norte-americanos The National e, até à data, um dos mais conseguidos álbuns de 2007. Depois de «Mistaken For Strangers», uma combinação viciante de ambientes Depeche Mode com ritmos The Cure e espírito Joy Division, «Apartment Story» está aí para dar vida ao culto The National. Para marcar o ritmo desta «história» Matt Berninger e os irmãos Dessner e Devendorf dão uma piscadela aos New Order, mas é a arte e o engenho dos The National que fazem a diferença. «I’m getting tied, I’m forgetting why» canta Berninger e nós, sem nos apercebermos, ficamos cada vez mais envoltos no som deste grupo de amigos do Ohio. «So worry not / All things are well / We'll be alright / We have our looks and perfume on»...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias III

Voltamos a Genève. Na última jornada demonstrei o quão tentadora a FNAC genebrina se revelou. Os gastos foram consideráveis e a satisfação também. Contudo, as restrições encontravam-se, igualmente, de férias e a veia consumista ressurgiu. Tive a oportunidade de mencionar que Genéve tem 2 grandes tabernas (pelo menos as que conheci). Ora, depois de corrermos todas as letrinhas do alfabeto nas mais variadas secções da FNAC (destaque para os Wray Gunn, a única representação nacional na secção pop/rock internacional) descobrimos, perdida na estação local de comboios, o CityDisc. Julgo que podemos afirmar estar perante a Carbono helvética. Não que a sua característica principal seja a revenda de artigos usados, mas o espírito e a música que se vive enquadram-se na perfeição com a “fundação carbónica” portuguesa.
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Route du Lac Léman
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Ora bem, na primeira visita ao CityDisc as escolhas recaíram sobre «Open Season» de Feist, «Psyense Fiction» dos UNKLE e «Drill A Hole In That Substrate And Tell Me What You See» de Jim White, artigos que se encontravam a apetitosos preços entre os 2,50 FCH (aproximadamente € 1,50) e os 10,00 FCH (mais ou menos € 6,05).
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O projecto britânico UNKLE editou há algumas semanas «War Stories». Contudo, foi «Psyence Fiction» (primeiro e até à data o melhor álbum do colectivo) que acabou por surgir na factura final do CityDisc, substituindo a velhinha cópia lá de casa. Aclamado por críticos e público, «Psyence Fiction», editado em 1998, reúne uma multiplicidade de artistas convidados que assegurariam, logo à partida, grande exposição e alguma aceitação. Dj Shadow, Thom Yorke, Richard Ashcroft e Badly Drawn Boy eram cabeças de cartaz no projecto de James Lavelle. Temas como «Guns Blazing», «Lonely Soul», «Bloodstain», «Unreal», «Rabbit In Your Headlights» fizeram as delícias de muitos melómanos. O trip-hop juntava-se ao rock e à pop, o hip-hop abraçava o downtempo, o rock alternativo dava de caras com a música electrónica e a celebração da música era a mais valia do disco. «Psyence Fiction» acabou por se revelar num dos grandes álbuns da década de 90. Não bastando, a presente edição suíça inclui «Be There», tema que parte do instrumental de «Unreal» e que com a preciosa ajuda de Ian Brown se tornou no maior sucesso comercial do colectivo (editado no EP com o mesmo título um ano depois de «Psyence Fiction»).
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Relativamente a Leslie Feist, julgo que já tive a oportunidade de aqui frisar estarmos perante uma das vozes mais sexys e frescas da pop do século XXI. Feist fez-se notar em 2004 com o soberbo «Let It Die». É nesse mesmo «Let It Die» e nas varias estórias que dele brotaram que «Open Season: Remixes And Collabs» se baseia. Estamos perante uma compilação de remisturas de temas de «Let It Die» e colaborações de Feist com outros universos. No campo das remisturas, destaque para o apontamento pessoalíssimo e ao piano de Gonzales em «One Evening»; a versão lounge da magnífica cover de «Inside And Out» dos Bee Gees; a remistura «One Room One Hour» da autoria de Feist, Gonzales e Renaud Letang para «Gatekeeper»; a visão de «Mushamboom» dos The Postal Service; e a versão melosa de Renaud Letang e Gonzales para «One Evening». Relativamente às colaborações, as amostras são escassas, passando por «Snow Lion» com Readymade FC; «The Simple Story» com Jane Birkin; e «Lovertits» com Gonzales. No fim, o resultado acaba por ser uma enorme manta de retalhos (15 faixas ao todo) e além de muitas remisturas serem perfeitamente dispensáveis houve colaborações, muito mais interessantes que as seleccionadas, que ficaram de fora, como são exemplos «Know-How» e «The Build-Up» com os Kings Of Convenience (incluídos em «Riot On An Empty Street») ou «La Chanson de Satie» com Arthur H (incluído em «Adieu Tristesse»).
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Chegamos à América(na) profunda. Jim White pode facilmente ver-se associado a projectos ou mundos como Calexico, 16 Horsepower, Woven Hand, Handsome Family, Lambchop, Johnny Dowd, Tom Waits, Wilco, Willard Grant Conspiracy, etc., etc., etc. Tudo «farinha do mesmo saco» estará o leitor a pensar. Pois é, mas é esta mesma farinha que me tem cativado mais nos últimos anos. Jim White, com «Drill A Hole In That Substrate And Tell Me What You See», só veio adensar ainda mais esse sentimento e revelar o autor como mais um singer-songwriter norte-americano de eleição. «Drill A Hole...» data de 2004 e revela-se num excelente sucessor dos reconhecidos «Wrong-Eyed Jesus» e «No Such Place». Desta forma, e mais uma vez com o deserto californiano como pano de fundo, Jim White volta a cantar e a encantar. «Static On The Radio», em dueto com Aimee Mann, é uma das mais fascinantes gravações dos últimos anos; a sensibilidade de «Bluebird» chega a arrepiar; o devaneio lounge de «Combing My Hair In A Brand New Style» leva-nos a abanar a anca em ritmo country; a confissão de «That Girl From Bronwnsville Texas» converte o maior céptico ao cristianismo; o delírio com marca registada Eels de «If Jesus Drove A Motorhome» não deixa ninguém indiferente; e «Phone Booth In Heaven» faz-nos sonhar. É certo que pelo meio encontramos temas menos magnetizantes, mas «Drill A Hole…» é mais um grande álbum de Jim White, no qual as composições se revelam autênticas lullabies.
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Desta vez a escolha final recaiu sobre «Be There», com Ian Brown ao volante da máquina UNKLE.
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quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Beirut | Nantes

Depois de se notabilizar como uma das mais marcantes estreias de 2006, com «Gulag Orkestar», Zach Condon e os seus Beirut regressam aos discos com «The Flying Club Cup».
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Apesar do disco ainda não ter chegado aos escaparates, a música já anda de leitor de mp3 em leitor de mp3 e já existe vídeo promocional para um dos mais aguardados discos de 2007. Pela amostra, mais uma vez Condon e companhia abraçam a Europa de Leste e colocam na aparelhagem lá de casa os devaneios sonoros de Emir Kusturica e a sensibilidade de uns Magnetic Fields.
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Enquanto o disco não nos chega oficialmente às mãos, deixo em airplay «Nantes», um excelente teaser para «The Flying Club Cup».

Interpol | No I In Threesome

No espaço de um mês os norte-americanos Interpol editaram, de uma assentada, dois singles do mais recente «Our Love To Admire». «Mammoth», tema que se enquadraria perfeitamente em qualquer um dos dois primeiros álbuns do colectivo («Turn On The Bright Lights» e «Antics») e «No I In Threesome», uma das mais belas canções (se não a mais bela) de «Our Love To Admire». Fica então o mais recente vídeo dos Interpol para aguçar o apetite para o dia 7 de Novembro, no Coliseu de Lisboa...
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segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O doce negrume dos Massive Attack

Depois de editado o Best Of e da vistosa passagem pelo Hype@Tejo, em Julho de 2006, no Terrapleno de Santos, os britânicos Massive Attack regressaram à capital portuguesa para apresentarem (uma vez mais) o álbum dos seus maiores êxitos. Com o Coliseu a abarrotar (confesso que já há algum tempo que não via o recinto lisboeta tão bem preenchido), a noite foi escura e muito quente, mas soube a pouco…
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Numa altura em que já se fala do novo álbum de originais do colectivo de Bristol, 3D e Daddy G acabaram por não mostrar nenhuma das novas composições a figurar em «Weather Underground», limitando-se a «viver dos rendimentos». «False Flags» abriu um concerto que durou pouco mais de uma hora e meia. Pelo palco passaram os «suspeitos do costume» Horace Andy e Liz Fraser e clássicos como «Risingson», «Karmacoma», «Hymn Of The Big Wheel», «Teardrop», «Angel», «Safe From Harm», «Inertia Creeps» e «Unfinished Sympathy» fizeram as delícias de todos os fãs presentes. No entanto, «Man Next Door» ficou mais uma vez de fora, o som nem sempre foi o melhor, Liz Fraser demorou a encarrilar e a mostrar a sua voz etérea e os € 33,00 do ingresso justificavam um pouco mais que hora e meia de espectáculo. No fim ninguém se mostrou indiferente, pois voltou-se a assistir e a sentir ao doce e caloroso negrume dos pioneiros do trip-hop.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias II

Regressamos à metrópole e a primeira coisa a fazer é saber onde fica a tasca mais próxima. Genève é uma cidade com requinte, chique, elegante, cheia de portugueses e... com 2 grandes tabernas. Por isso a adaptação foi muito fácil e daí a entregarmo-nos aos vícios foi um pequeno passo.
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Jet d'Eau - Lac Léman (Genève)

A primeira das capelinhas genebrinas visitadas, a mais genuína das tascas, a FNAC, destaca-se por não disponibilizar as promoções de fim de estação, já habituais em Portugal. Porém, e para meu espanto, aqui as novidades discográficas são disponibilizadas por 21,90 CHF, o que na moeda comunitária significa(va) cerca de € 13,50. Assim, por mais que pareça estranho, enquanto em Lisboa o novíssimo álbum dos Wilco se vendia a € 18,95, em Genève (caro leitor, Genève está colocada na 2.ª posição do ranking mundial das cidades com melhor qualidade de vida) podiamos adquirir «Sky Blue Sky» por 21,90 CHF... Como poderá depreender bebeu-se muito durante a segunda metade das férias deste ano.

As expectativas eram grandes: novo mercado discográfico, novos costumes, novas tendências e novos bálsamos para alimentar o vício. A estratégia era simples: encontrar artigos estranhos (para as tascas) portuguesas, tentar explorar um pouco da cultura local e averiguar se compensava “importar” um ou outro disquinho.
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Bem, falemos da música, propriamente dita, pois é essa a razão destes «devaneios». Olhando para a minha «escolaridade» musical, quase que posso afirmar ter completado o 1.º ciclo em Seatle. O grunge corre-me nas veias (para o bem e para o mal) e bandas como os Pearl Jam, Nirvana, Soundgarden, Alice In Chains, Mudhoney, etc., etc., etc. fazem parte da minha «cultura geral» (para não dizer ADN). Aquando do início das férias os The Smashing Pumpkins (SP), ou melhor, Billy Corgan e Jimmy Chamberlin, tinham acabado de editar «Zeitgeist», álbum que em Portugal foi disponibilizado única e exclusivamente na edição standard. Em terras helvéticas a versão especial e limitada em formato livro com um total de 76 páginas aguçou o apetite e não resisti.

A promoção ao álbum anuncia estarmos perante a primeira gravação dos SP em 7 anos. Porém, e olhando para trás, a percepção do fim dos SP e o inicio dos vários projectos de Billy Corgan revela-se um exercício difícil. O facto é que tanto D’Arcy Wretzky, como James Iha são passado e Billy Corgan, depois do flop chamado Zwan e do medíocre álbum a solo, sentiu saudades dos estádios cheios e reabilitou os SP com Jimmy Chamberlin. Jeff Schroeder, Ginger Reyes e Lisa Harriton ocuparam os lugares deixados em aberto e «Zeitgeist» foi o resultado final.

Convém desde já esclarecer que não estamos perante nenhuma obra-prima, ao estilo de «Siamese Dream» ou «Mellon Collie And The Infinite Sadness», mas «Zeitgeist» tem conseguido sobreviver e recolocou os SP nas playlists de todo o mundo. Para trás ficou a pop lagareira de «TheFutureEmbrace» e a proclamada «revolução» em «United States» é um bom exemplo disso mesmo. O som é definitivamente mais rude, as guitarras são mais incisivas e o ambiente é mais austero. «Tarantula», primeiro single e tema já rodado neste «diário», «Doomsday Clock», «7 Shades Of Black» e «United States» revelam-no. Porém, «Bleeding The Orchid», «That’s The Way (My Love Is)» (segundo e actual single), «Neverlost», «For God And Country» e «Pomp And Circumstances» tentam seguir as pisadas de outros exercícios mais polidos na carreira dos SP, mas o resultado fica muito distante dos originais. No fim o resultado acaba por ser positivo, mas paira no ar uma sensação de monotonia. Os temas parecem clones de si mesmos e após 52 minutos de música não temos grande vontade em repetir a dose, obrigando-nos, igualmente, a recuperar os míticos «Siamese Dream» e «Mellon Collie And The Infinite Sadness».

Após a viagem ao passado com os The Smashing Pumpkins, optámos por aprofundar um pouco mais o universo francófono. Descobri a chanson française há relativamente pouco tempo. Desde a edição do soberbo «Quelq’un M’a Dit» de Carla Bruni que me tenho aventurado por «território» gaulês. Além de Carla Bruni o panorama actual da música francesa apresenta muito boas apostas e, nos dias que correm, uma colecção de discos sem a presença de Benjamin Biolay, Arthur H, Emilie Simon, Yann Tiersen, Carla Bruni e Keren Ann pode considerar-se incompleta.
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Keren Ann, de ascendência holandesa e russa, nasceu em Israel e passou grande parte da sua infância na Holanda. Cedo se estabeleceu em Paris, onde deu os primeiros passos nas lides discográficas. Com residência actual em Nova Iorque, esta israelita parece ser sinónimo de multiculturalidade. 2007 marca a edição do homónimo e 5.º álbum a solo de Keren Ann. Para trás ficaram as participações com os amigos Benjamin Biolay e Bardi Johannson. A língua inglesa ganha terreno e a sonoridade praticada por Keren Ann revela-se mais familiar que nunca. Reabilita os Mazzy Star, de Hope Sandoval e David Roback, e convida Leslie Feist, Shivaree, Nick Drake, Cat Power e Serge Gainsbourg para a «festa melancólica».
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«It’s All A Lie» mostra o quanto os Mazzy Star nos têm feito falta. «Lay Your Head Down», primeiro single, junta Feist aos mesmos Mazzy Star e o festim lânguido, com direito a palminhas e tudo, é garantido. «In Your Back» podia perfeitamente enquadrar-se na magnífica banda sonora do «Virgens Suicidas» de Sofia Cappolla. Em «The Harder Ships Of The World» damos de caras com o minimalismo de Cat Power. «It Ain’t No Crime», o tema trash do disco, mantém a influência de Cat Power, mas agora são os devaneios à guitarra que sobressaem. «Where No Endings End» chama ao palco François Hardy e os Shivaree fazem-se convidados. Em «Liberty» Nick Drake parece brincar com a caixinha de música dos islandeses Sigur Rós. «Between the Flatland and the Caspian Sea» abraça «Take A Walk On The Wild Side» de Lou Reed para darmos um passeio por Manhatham e «Caspia» recupera as divagações reggae de Serge Gainsbourg.
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«Keren Ann» pode não ser um disco excepcional, mas prende-nos. Keren Ann detém uma voz suave e viciante, revelando-se perfeita para as narrações melosas que apresenta. Assim, depois da minha estreia marcante com «La Disparition», de 2002, «Keren Ann» surge para aguçar e vincar o culto por esta artista israelita.
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Continuamos a pisar solo folk e os Wilco são chamados ao palco. Depois de muito ler na imprensa especializada (principalmente na excelente UNCUT) sobre o génio de Jeff Tweedy, lá me decidi a explorar um pouco mais as facetas destes norte-americanos. Há quem diga estarmos perante a melhor banda norte-americana, mas há também quem se mostre mais céptico, pois os álbuns deste colectivo têm-se pautado pela instabilidade. A sonoridade contínua num limbo entre os belgas dEUS e o alternative-country de um Bruce Springsteen e/ou Bod Dylan. «Sky Blue Sky» é assim mais um disco regular na já considerável carreira dos Wilco. Não será nenhum «Yankee Hotel Foxtrot» (não encontramos nenhum tema como «Jesus, etc.»), é sim um disco que se situa mais no nível de um «A Ghost Is Born». Porém, foi este mesmo «A Ghost Is Born» que deu aos Wilco o Grammy para melhor álbum alternativo de 2002. Por isso, a veneração irá prosseguir e o génio de Jeff Tweedy continuará a viver, pelo menos nas crónicas da imprensa especializada de todo o mundo. Por aqui vai-se ouvindo temas como «Either Way», «Side With The Seeds», «Impossible Germany», «Please Be Patient With Me», «On and On and On», mas o que se vai cantando é «There’s a Light! / What Light?».
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As últimas escolhas da primeira visita à tasca passaram por EPs, esse precioso formato que me vai enchendo os olhos e os ouvidos, esvaziando-me a conta bancária. Sim, sou viciado em EPs! Esses disquinhos malandros que têm 5/6 músicas daquele artista especial e que só são editados no Japão, ou, saíram numa edição muito especial e limitadíssima. Desta vez a escolha recaiu sobre artigos que dificilmente se encontram em Portugal.
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Despachemos os Sigur Rós. Já tive a oportunidade de aqui transmitir a minha «adoração» por este colectivo islandês. As suas edições discográficas revelam-se sempre autênticas peças de coleccionador, ora pela sua componente musical, ora pela vertente visual. Há pouco mais de duas semanas tinha adquirido «Hoppípolla», desta vez «Ný Batterí» e a edição japonesa de «Sæglópur» foram, igualmente, importados para terras lusas. Pouco há a dizer sobre estas duas edições. Enquanto «Ný Batterí» é composto pelo tema título e um dos expoentes máximos de «Ágætis Byrjun», uma adequada introdução ao mesmo «Ný Batterí» e as duas peças que os Sigur Rós compuseram, com a ajuda de Hilmar Örn Hilmarsson, para a banda sonora de «Angels Of The Universe». Desta forma «Ný Batterí» revela-se imprescindível para o fã incondicional dos Sigur Rós e para quem ainda não conhece as contribuições do colectivo islandês para «Angels Of The Universe» (filme de Fridrik Thor Fridriksson), com os exemplares «Dánarfregnir Og Jar∂arfarir» e «Bíum Bíum Bambaló». A segunda aposta, «Sæglópur (Japan Only Tour EP)», junta os lados-b incluídos na edição europeia (CD + DVD) do mesmo «Sæglópur» e «Hafsól» (tema incluído no já referido EP «Hoppípolla». Por fim ainda se adicionam os vídeos promocionais de «Glósóli» e «Hoppípolla», ambos retirados do último «Takk…». Portanto será uma edição só para os seguidores mais acérrimos.
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Chegamos à última bebida da tarde e a escolha recai sobre uma das mais respeitadas bandas do mundo (a minha «melhor banda do mundo»). Os Radiohead, conotados no início de carreira como mais uns «One Hit Wonders», editaram até à data 3 dos mais aclamados discos dos últimos anos. «The Bends», «OK Computer» e «Kid A» continuam a ser referenciados como obras superiores. O facto é que a carreira destes britânicos parece ter esmorecido nos últimos anos. Além de alguns dos seus elementos terem enveredado por carreiras e projectos paralelos, os dois últimos álbuns já não agradaram a todos. Por estes lados o apoio e acompanhamento têm sido constantes. Por isso o EP de edição limitada «Airbag / How Am I Driving?» foi a cereja em cima do bolo. Thom Yorke e companhia voltam a transmitir toda a electricidade, magnetismo e diversidade de «OK Computer». Porém, e dado que «Airbag / How Am I Driving?» foi editado logo após a edição de «OK Computer», os 6 inéditos apresentados revelam-se autênticos «leftovers» do aclamado disco de 1997. Todavia, Ed O’Brien e Jonny Greenwood voltam a seduzir em «Pearly*». «Meeting In The Aisle», instrumental, revela-se numa das primeiras experiências electrónicas que caracterizaram os posteriores «Kid A» e «Amnesiac». «A Reminder» e «Melatonin» são dois apontamentos pessoais de Thom Yorke. «Polyethylene [Parts 1 & 2]» é o andróide paranóico deste EP e «Palo Alto» mantém acesa a chama rock dos Radiohead. No fim a soma das partes acaba por ser melhor que o resultado final, mas o facto de estarmos perante um EP de edição limitada com 6 labos-b de «OK Computer» dissipam quaisquer descontentamentos que possam existir. No entanto, a inclusão do extraordinário «Talk Show Host» (editado na banda sonora de «Romeo + Juliet» de Baz Luhrmann) poderia representar outra cereja em cima de outro bolo…
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Por fim, e como já vem sendo hábito, deixo «Lay Your Head Down» de Keren Ann como aperitivo.
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domingo, 9 de setembro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias I

Estamos, finalmente, de férias… O trabalho, as desilusões e os stresses lisboetas ficam para trás. O primeiro destino é Itália, mais precisamente a Sardenha, e o que se destaca, além das paisagens maravilhosas, são as paradisíacas «calas». Desta forma confesso que não houve tempo nem disposição para grandes «bebedeiras». Praia, praia, praia e mais praia, pois também temos direito… E com esse espírito nem nos queixamos das variadíssimas estações de rádio, ao estilo RFM, que vão passando no autorádio do carro, onde Irene Grandi se mostra grande de mais para toda a concorrência.
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La Pelosa

Todavia, e como manda a tradição, há que abrilhantar a nossa passagem por cada canto do mundo com um «souvenir». Desta vez e já que havia mais que muitas fotografias no cartão de 2 GB de memória, a escolha passou pelo disquinho musical. A poucos minutos da viagem para a Suiça encontramos (no aeroporto de Olbia) um pequeno estabelecimento «cultural». A oferta era escassa e como num dos últimos passeios tasqueiros lisboetas redescobrimos os Oasis, com «Definitely Maybe», optámos por levar para casa o sucessor «(What’s The Story) Morning Glory?», por € 8,00, desfazendo-me da velhinha K7 áudio e dos inúmeros MP3…
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Hello
Roll With It
Wonderwall
Don’t Look Back In Anger
Hey Now!
Some Might Say
Cast No Shadow
She’s Electric
Morning Glory
Champagne Supernova

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Se em «Definitely Maybe» Noel Gallagher cobiçava e conceptualizava uma vida de uma estrela rock&roll, em «Morning Glory?» quase podemos afirmar estarmos na «manhã» seguinte a todos os excessos decorrentes dessa exposição. Da ressaca ouve-se em «Hello» «Nobody ever seems to remember life is a game we play»; em «Roll With It» «I think I’ve got a feeling I’ve lost inside»; em «Hey Now!» «I took a walk with my fame / Down memory lane / I never did find my way back», mas o hedonismo de «Definitely Maybe» afoga igualmente «Morning Glory?» e «Champagne Supernova» é um excelente exemplo disso. Contudo, convém esclarecer que «(What’s The Story) Morning Glory?» foi o epicentro da Britpop (peço desculpa a Damon Albarn). Em 1995 os manos Gallagher e o espírito rock&roll de «Definitely Maybe» receberam de braços abertos a pop e o resultado foi estrondoso. «(What’s The Story) Morning Glory?» vendeu mais de 19 milhões de cópias em todo o mundo. Os Singles «Roll With It», «Wonderwall», «Don’t Look Back In Anger», «Some Might Say», «Morning Glory» e «Champagne Supernova» foram presenças assíduas em qualquer estação de Rádio e TV que exigiam audiências e os Oasis foram apelidados como a melhor banda rock do mundo (pelo menos até à edição do modesto «Be Here Now»).

Como autêntico «souvenir» desta soberba colecção de canções deixo a versão ao vivo e um pouco «adulterada» do melhor tema de «(What’s The Story) Morning Glory?». «Cast No Shadow» foi, na altura, dedicado ao génio de Richard Ashcroft. Imagine se Noel tivesse composto tal homenagem após «Hurban Hymns»…

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Aimee Mann – Rescaldo fora de horas

Confesso que já não estava certo quanto à pertinência da «publicação» desta minha visão da estreia da norte-americana Aimee Mann em território nacional. Isto porque o concerto teve lugar no Coliseu de Lisboa no já longínquo dia 25 de Julho de 2007 (na semana que antecedeu as minhas saudosas férias). Porém, após várias solicitações de alguns amigos (um bem haja a todos os que me têm apoiado e acompanhado nestes meus devaneios, maioritariamente, «alcoólicos»), cá fica o meu relato.

Tratando-se de uma estreia há muito aguardada, foi com algum entusiasmo que o composto (mas não cheio) Coliseu de Lisboa acolheu Aimee Mann. O concerto centrou-se nos temas que deram corpo e alma à obra cinematográfica «Magnolia», de Paul Thomas Anderson. Julgo que por momentos todos os presentes pensaram que Aimee Mann se aventuraria a interpretar os dois temas «perdidos» dos Supertramp, de forma a apresentar a banda sonora – de «Magnolia» – na íntegra. Com isto, facilmente se conclui que os momentos mais altos chegaram ao som de «Save Me», «You Do», «Deathly» e «Wise Up». Todavia, Aimee fez questão de passar por todos os seus álbuns (à excepção do mais recente «One More Drifter In The Snow», pois não «estávamos em época de Natal») e assim, entre outras, ouviram-se «Way Back When» da estreia «Whatever»; «Amateur» e «You Could Make A Killing» de «I’m With Stupid»; «How Am I Different» e «Red Vines» (numa soberba versão acústica) de «Bachelor N.º 2»; «Humpty Dumpty» de «Lost In Space»; e «Video», «Going Through The Motions» e «Little Bombs» de «The Forgotten Arm». Apresentou, ainda, dois temas novos - «Freeway» e «31 Today» - que irão figurar no alinhamento do próximo álbum de originais, a editar em 2008, e tropeçou no ritmo de «Momentum» (da banda sonora de «Magnolia»). Facto que criou uma maior empatia entre público e artista.
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Com uma atitude extremamente correcta e profissional, Aimee Mann chegou a transmitir alguma frieza [já relatada pelo «Público» (e) em geral]. Todavia, Aimee Mann nunca deixou de expressar a sua satisfação por finalmente estar em Portugal e na sua «belíssima» capital. O concerto acabou por ser bom, pois as canções são boas. Aguardaremos por um futuro regresso e, porque não, por novas estreias enquadradas no mesmo nicho de Aimee Man, como são exemplos Tori Amos e Fiona Apple.
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Como recordação e aperitivo para futuras edições deixo em repeat «31 Today», um dos temas novos apresentados no concerto de Lisboa.

domingo, 2 de setembro de 2007

Viagens à tasca

O que seria um «rally às tascas» sem passarmos pela FNAC? Seria como passar por Belém sem parar nos famosos pastéis… Visitar Sintra e resistir aos afamados travesseiros da ‘Periquita’… Passar pelo mítico ‘Arroz Doce’ sem darmos um valente ‘Pontapé na Cona’… Assim, e antes de me entregar de corpo e alma a outros prazeres, os das férias, voltamos ao principal local do crime e não resistimos a mais um chamamento de Animal CollectiveSung Tong»), Bright Eyes Fevers And Mirrors»), Antony And The Johnsons The Lake») e - caríssimos, vejam como andava completamente perdido - ao apelo sofredor dos KeaneHopes And Fears»).
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Comecemos pelo fim. Caro amigo, já relatei, nos últimos capítulos, o meu mal estar perante o que me rodeia. Como em momentos de fraqueza fico mais vulnerável à «bebida», cedi perante o primeiro «guilty-pleasure» de há muito. Os Keane são um caso desconforme. São capazes de fazer o melhor e o pior num inocente disquinho de quarenta minutos. «Somewhere Only We Know» é um dos melhores temas de 2004. «Hopes And Fears» é um dos álbuns mais desiguais desse mesmo ano. Contudo, a melancolia pedia «Somewhere Only We Know». Porquê? Só viria a descobrir depois das férias:
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«Oh Simple things where have you gone?
I’m Getting old and I need something to rely on
So tell me when you’re gonna let me in
I’m getting tired and I need somewhere to begin
»
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Tom Chaplin e companhia descobriam a causa da taciturnidade. «This could be the end of everything / So why don’t we go somewhere only we know?» era a pergunta que se fazia. Mas o espírito que se vivia era o de «Bend And Break»:
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«If only I don’t bend and break
I’ll meet you on the other side
I’ll meet you in the light
If only I don’t suffocate
I’ll meet you in the morning when you wake
»
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A música é limpinha, as composições de piano são eficazes e colam-se nos ouvidos, os temas são quase todos gravados para a rádio e o mais que produzido resultado final acaba por ser positivo. Porém, há falsetes tão doces que chegam a enjoar, «pianadas» tão açucaradas que sentimos os triglicéridos a manifestarem-se. Uma mescla e desigualdade que cativou Portugal, o que possibilitou a edição especial e exclusiva para o nosso país de um CD bónus com a gravação ao vivo de 4 temas na RFMSomewhere Only We Know» e «Bedshaped» incluídas), demonstrando alguma fragilidade vocal de Tom Chaplin.
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Após uma melancolia açucarada e por vezes plagiada decido manter-me ao piano, mas adensar o ambiente. Facilmente se chega a Antony Hegarty e os seus Johnsons. Desde o início da sua aclamada e curta carreira que Antony tem optado por editar diversos EPs. Discos de 3/4 temas que se revelam autênticas peças de coleccionador. Durante a presente visita encontrámos «The Lake», EP que além de apresentar o genial «I’m A Bird Now» através do não menos soberbo «Fistful Of Love» (com a participação especial de Lou Reed) inclui «The Lake» – tema baseado no poema de Edgar Allan Poe – e «The Horror Has Gone». Iguais a si próprios Antony and The Jonhnsons voltam a marcar pontos e a fazer cada peça musical uma profunda mágoa capaz de deixar lágrimas no rosto de qualquer ouvinte. Todavia, sentimo-nos reconfortados com a dor de Antony e a contar os dias para qualquer novidade que seja de Antony Hegarty.
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A próxima paragem foi feita ao som de Conor Oberst. Mais um projecto onde a palavra parece ganhar uma dimensão maior que a própria música. Porém, esta ideia é mais uma das muitas falácias que marcam a pop dos dias de hoje. A música dos Bright Eyes é apaixonante, brilhante e autêntica. O que parece faltar aos novatos Keane, tem o jovem Conor Oberts em excesso: objectividade, sensibilidade e paixão qb. «Fevers And Mirrors» é o 2.º álbum de originais dos Bright Eyes. Editado em 2000 e sucessor do já aqui exposto «Letting Off The Happiness», assinala o marcar de posição no panorama alternative-country norte-americano. Se o desconforto de «Letting Off The Happiness» foi uma mais que bem sucedida estreia (mais em termos musicais que comerciais), «Fevers And Mirrors» prolongou as «febres» e crises existenciais de Conor Oberst e aumentou o culto em torno dos Bright Eyes. Se «Haligh, Haligh, A Lie, Haligh», «The Calendar Hung Itself...» e «The Center Of The World» mostram uns Bright Eyes com os sentimentos mais à flôr da pele, «A Spindle, A Darkness, A Fever, And a Necklace», «The Movement Of A Hand», «When the Curious Girl Realizes She Is Under Glass» e «Sunrise, Sunset» revelam ambientes mais serenos. É mais um grande álbum na mui radiante carreira dos Bright Eyes.
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Demonstrei, há uns «episódios» atrás, o meu recente fascínio pelo mundo desconcertante dos Animal Collective. A meu ver, este animal colectivo norte-americano revela-se, a par dos irmãos The Fiery Furnaces, como o mais fértil em melodias e texturas musicais. Aqui cada nota é única, cada momento é mágico, cada tema é inspirador e criador de imagens. Apesar do meu daltonismo parcial, a música transmite cores (reais e decifráveis), beleza, aromas, fragrâncias, etc. Para este «Sung Tongs» os Animal Collective pegaram nos Beach Boys e convidaram os Neutral Milk Hotel, Flaming Lips, Mercury Ver, Björk, Müm, Nick Drake e mais umas quantas forças musicais para uma irresistível viagem a África. Nos primeiros ensaios segue-se um trilho mais «World Music», mas o resultado é a mais apurada pop dos últimos tempos (o ADN dos Beach Boys não engana). Em «Leaf House» as cores são maioritariamente bucólicas, porém Nick Drake parece juntar-se a Brian Wilson nas solarengas praias da Califórnia, ou melhor, nas Seychelles (já que viajamos pelo continente Africano). «Who Could Win A Rabbit» são os Neutral Milk Hotel a brincar com as sonoridades terráqueas da gélida Islândia de Björk e Müm. Ouvimos «The Softest Voice» e julgamos ver Damon Albarn às voltas por Marraquexe ou mesmo pelo Mali. «Visiting Friends» revela-se numa agradável viagem de doze doces minutos pelas nossas brincadeiras de infância. Sentimos a presença da sempre bem vinda Maria João, mas aqui a música enquadra-se mais no espírito «afro-tribal». O ambiente é mais acolhedor, mais quente, o espírito é mais hospedeiro, sentimo-nos em casa, apesar de continuarmos pelas sempre perigosas mas atractivas paisagens africanas. Desta forma «Sung Tongs» acabou por ser o bálsamo perfeito para os últimos dias antes das férias de 2007.
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Deixo em airplay e em repeat uma amostra do melhor que os Animal Collective são capazes de oferecer: «Leaf House», o extraordinário tema de abertura de «Sung Tongs», de 2004.