segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Viagens à tasca

Como não há duas sem três, voltamos à tasca da margem sul para repescar «Kill The Moonlight» dos Spoon e «Strawberry Jam» dos Animal Collective, uma das grandes obras de 2007.
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Já aqui expressei a minha admiração por Britt Daniel e os seus Spoon. Também já tive a oportunidade de referir que neste ano de 2007 decidi apostar um pouco mais no colectivo texano. Depois do deleite com «Ga Ga Ga Ga Ga», à primeira oportunidade e em troca de alguns euros, «Kill The Moonlight» ganhou corpo e lá apagámos os MP3 do computador. Editado em 2002, «Kill The Moonlight» é o quarto e um dos melhores álbuns dos Spoon. Composto por doze potenciais singles, Britt Daniel e companhia apresentam uma sonoridade fresca e deveras sedutora. «Small Stakes» e «The Way We Get By» (tema que «comercializou» a banda) é rock inteligente e cheio de «nervo»; «Paper Tiger» e «Back To The Life» são pop elegante e sinistra mas bem intencionada; o falsete de Daniel em «Something To Look Forward To», o swing despretensioso de «All The Pretty Girls Go To The City» e o apontamento beatbox de Daniel em «Stay Don’t Go» são momentos de puro encanto. Pelo meio ainda há espaço para momentos Pixies (ouça-se «Jonathon Fisk» e «You Gotta Feel It») e, a fechar, «Vittorio E.» numa pequena e etérea anotação de Britt Daniel. Trinta e cinco minutos de muito boa música em mais um álbum de excepção dos norte-americanos Spoon.
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Aquando do presente tropeção, os Animal Collective tinham acabado de editar «Strawberry Jam» (para ver, caro amigo, o quão atrasadas andam estas minhas divagações bloguistas). Após a minha (recente) descoberta e fascínio pelo universo paralelo Animal Collective, das amostras sucessivas que iam surgindo no YouTube à rendição perante «Person Pitch» de Panda Bear, «Strawberry Jam» era aguardado com grande ansiedade. Posição não isenta de risco, diga-se de passagem, pois quando as expectativas são altas o resultado é quase sempre diminuto. No entanto, Avey Tare, Panda Bear, Geologist e Deakin deram bem conta do recado e «Strawberry Jam» resultou num dos grandes trabalhos de 2007 (a par de «Person Pitch»). Os ambientes esquizóides regressam em força, as vocalizações únicas e extravagantes de Avey Tare estão no seu auge (ouça-se, por exemplo, «For Reverend Green») e as canções (agora sim podemos afirmar que existem canções dos Animal Colective) são o resultado perfeito de exercícios anteriores. Todavia, «Strawberry Jam», tal como qualquer outro trabalho dos Animal Collective, não é de fácil audição. Para o ouvinte habituado à construção estrofe / ponte / refrão / estrofe, esqueça «Strawberry Jam». Aliás, esqueça que alguma vez existiram os Animal Collective. Contudo, para os conhecedores deste mundo, nas agradáveis «irregularidades» sonoras de «Strawberry Jam» surge um leve romantismo, até agora desconhecido na sonoridade da banda. «Fireworks», um dos momentos mais bem conseguidos na carreira do colectivo norte-americano, é o exemplo máximo desse mesmo enfeitiço. «Cuckoo Cuckoo» e «#1» são etéreos e perfeitos para qualquer sonhador. «Peacebone» é uma mescla de sons e ambiências que culminam num rebuçado delicioso. «Chores» podia muito bem figurar na banda sonora de um filme de Emir Kusturika. «Unsolved Mysteries» é, tal como o título indica, misterioso e «Derek», a fechar, é a parada militar deste colectivo animal, é certo, mas domesticado…
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Para finalizar deixo «Fireworks» dos Animal Collective, uma das canções que marcaram o ano de 2007.
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domingo, 30 de dezembro de 2007

Viagens à tasca

Rapidamente a minha obcecação tasqueira reactivou e após novo fim-de-semana, nova escorregadela (no orçamento). A culpa é da tasca da margem sul! De uma assentada perfiz a discografia, em termos de álbuns originais, do «eterno adolescente mais maduro da América» Conor Oberst a.k.a. Bright Eyes e dos já sólidos The National.
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Comecemos pelos The National (na minha opinião, os grandes vencedores da corrida ao melhor álbum de 2007, com o sublime «Boxer»). Na colecção de CDs originais lá de casa estavam em falta «Sad Songs For Dirty Lovers» (2003) e «Alligator» (2005). Como é da praxe, e após se tornarem na mais recente dependência auditiva, há que ter os discos em formato original. «Sad Songs For Dirty Lovers», segundo álbum na carreira do colectivo norte-americano, é mais um exemplo revelador da discutível opção gráfica patenteada nas capas dos discos dos The National e do apurado sentido melodioso da banda. A música (o que realmente interessa aqui) é afectiva e harmoniosa. «Cardinal Song», a abrir, dá-nos uma perfeita visão americana dos Tindersticks, com o canadiano Owen Pallett a.k.a. Final Fantasy à mistura. «Slipping Husband» revela uns The National mais mexidos, mais pop, mais radio-friendly, mais senhores de si mesmo (com direito a berraria e tudo). «90-Mile Water Wall», o melhor dos doze temas aqui apresentados, é doce e etéreo, dando indícios do que se seguiria com «Alligator» e «Boxer». «Thirsty» mantém os ambientes serenos e melódicos e «Available» é acelerada e forte, com portentosos riffs que mais tarde fariam mossa nos Editors. No entanto, «Murder Me Rachel» é exercício indie rock que se desenquadra um pouco da musicalidade dos The National. «Sugar Wife», «Throphy Wife» e «Patterns of Fairytales» parecem exercícios inacabados, não se sabendo ao certo qual o rumo desejado. E «Lucky You» fecha as hostilidades em mais um exercício competente, não passando daí. Desequilibrado este «Sad Songs For Dirty Lovers», mas depois de «Boxer» tudo é perdoado e tudo acaba por soar suave e doce.
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Mudamos de disco e aos primeiros acordes de «Alligator» percebemos que algo mudou nos The National. A música é agora ainda mais envolvente. Ouvimos uma banda mais madura. «I had a secret meeting in the basement of my brain», canta Matt Berninger em «Secret Meeting» (tema de abertura) e nós imaginamos que foi esta autêntica auto-descoberta a razão para este passo de gigante. Se anteriormente os The National se evidenciavam, a espaços, pelo sentido melódico de um Leonard Cohen e/ou Tindersticks, agora juntam-lhes temperos Joy Division (ouça-se «Lit Up» e «Abel»), acidez Nick CaveKaren»), bálsamos Rosie ThomasDaughters Of The Soho Riots»), aromas WilcoVal Jester») e momentos de pura magia que misturam orquestrações Disney com atmosferas dream indie popThe Geese of Beverly Road» e «City Middle»). «Alligator», depois de dois álbuns e um E.P. (já aqui documentados), marca a estreia pela histórica Beggars Banquet e o apurar da linguagem The National, no primeiro grande álbum deste colectivo sediado em Nova Iorque.
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Continuamos na América do Norte, mais precisamente no sempre bem vindo estado do Nebraska, para destacarmos Conor Oberst e os seus Bright Eyes. Desde muito cedo que Oberst se revelou um autêntico compositor compulsivo. Aos catorze anos já compunha e editava discos, resultado dos seus vários projectos musicais, desde os Norman Bailer (mais tarde conhecidos como The Faint) aos Commander Venus. Produto dos anos 80, Oberst cresceu a ouvir Nirvana, Rage Against The Machine, Soundgarden e afins. O grunge sente-se nas entrelinhas da sua música. «A Collection of Songs Written and Recorded 1995-1997» foi o primeiro testemunho de Oberst enquanto Bright Eyes. Tal como o próprio nome o denúncia, o disco é uma colecção de temas escritos e gravados entre 1995 e 1997. Registada no sótão de Conor Oberts e num gravador de 4-pistas, esta compilação de vinte excertos musicais acaba por não ser tão fascinante como os restantes exercícios Bright Eyes. De facto, descobrimos verdadeiros desatinos inenarráveis para qualquer um («Solid Jackson» e «Supriya» são bons exemplos disso mesmo). No entanto, lá encontramos, também, o fantasma de Kurt Cobain em versão caseira (ouça-se «Saturday as Usual»); damos de caras com Mark Linkous e os seus delicados SparklehorsePatient Hope In New Show» e «Falling Out Of Love At This Volume»); conhecemos outros devaneios electrónicos e mais pessoais de Conor Oberst («The Invisible Gardener» e «Driving Fast Through A Big City At Night»); e comprovamos a excelência da composição de Oberst («The Awful Sweetness Of Escaping Sweet», «I Watched You Taking Off», «Lila», «The ‘Feel Good’ Revolution», etc.). Compilação irregular, é certo, mas extremamente valiosa para os seguidores dos Bright Eyes.
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Seguimos viagem (cronológica) até ao E.P. «Every Day And Every Night», de 1999. Editado logo após o enigmático «Letting Off The Happiness», «Every Day And Every Night» parece-se já com um conjunto de canções escritas e registadas com um propósito comum: editar uma colecção de canções embebidas na folk, no alternative country e, fundamentalmente, na pop. O timbre de voz de Conor Oberst deambula entre os delírios de Gordon Gano (Violent Femmes) e Robert Smith (The Cure). Se «A Perfect Sonnet», o melhor tema das cinco canções aqui apresentadas, se distingue pelo crescendo emocional, «A New Arrangement» recorre a melodias Nick Drake para uma autêntica prece musical, renovada em «Neely O’Hara». «A Line Allows Progress, A Circle Does Not» junta ensinamentos Adam Kasper aos primeiros momentos folk de Bruce Springsteen. Outra pérola para os fãs dos Bright Eyes.
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A última paragem desta visita tasqueira recupera o ano de 2002 e o álbum «Lifted, Or, The Story Is In The Soil, Keep Your Ear To The Ground». Após «Letting Off The Happiness» e «Fevers And Mirrors», o resultado final do terceiro trabalho dos Bright Eyes não é nada convincente para quem ansiava por algo totalmente diferente/novo. Tudo o que aqui se encontra já se havia saboreado anteriormente. Desde o swing acústico do colectivo à berraria estridente e o apurado lirismo de Conor Oberts, passando pela folk embriagada e a pop esquizóide do Nebraska. Todavia, e após várias audições denotamos uma maior sensibilidade de Conor Oberts para a melodia. Encontramos igualmente instrumentações de sopro e mais composições de cordas capazes de nos hipnotizar. «Lover I Don't Have To Love», «Bowl Of Oranges», «Nothing Gets Crossed Out», «False Advertising» e «Don’t Know When But A Day Is Gonna Come» são algumas das melhores canções dos Bright Eyes. Contudo, «When The President Talks To God», momento crucial para a difusão e popularização da carreira dos Bright Eyes, ainda estava longe, estando em 2002 o culto Bright Eyes reservado a sortudos «happy few».
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Para rematar sugiro a famosa actuação de Conor Oberst, enquanto Bright Eyes, no programa de Jay Leno interpretando «When The President Talks To God».
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sábado, 22 de dezembro de 2007

Prendinha de Natal

Os norte-americanos Okkervil River, rapazes que baralharam por completo as famosas listas «best of» de final do ano com o épico «The Stage Names», estão de regresso com um E.P. composto por oito covers e um original. «Golden Opportunities Mixtape» está disponível de forma gratuita no sítio electrónico da banda texana. As gravações live dos nove temas foram registadas nos quatro cantos do mundo e os nomes revisitados vão de Serge Gainsbourg a John Cale, e de Joni Mitchel a Randy Newman... Quanto ao original, «Listening To Otis Redding At Home During Christmas», é tudo menos uma canção de natal. Porém, «Golden Opportunities Mixtape» é um verdadeiro presente de natal antecipado. A fechar fica o vídeo para «Our Life Is Not A Movie Or Maybe» de «The Stage Names».

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

The Kills | U R A Fever

Os The Kills, uma das duplas mais excitantes do indie rock, preparam-se para editar «Midnight Boom», terceiro álbum de originais. Depois do E.P. «Black Rooster» e dos dois bons álbuns iniciais («Keep On Your Mean Side» e «No Wow»), Alison "VV" Mosshart e Jamie "Hotel" Hince voltam a andar de blogue em blogue para apresentar o primeiro avanço de «Midnight Boom». «U R A Fever» revela, uma vez mais, as influências de PJ Harvey e Primal Scream. Enquanto o disco não chega (edição prevista para Março de 2008), fica o vídeo para abrir o apetite.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Sons & Daughters | Gilt Complex

Os Sons & Daughters chegam de Glasgow e são o resultado de uma ideia de Adele Bethel (vocalista). Até à data já gravaram dois álbuns e uma mão cheia de singles. Preparam-se para editar, já em Janeiro de 2008, «This Gift». «Gilt Complex» e «Darling» são as suas primeiras amostras e, uma vez mais, mostram a junção da eficácia punk de uns Yeah Yeah Yeahs e a pujança Death From Above 1979. Por aqui e em repeat contínuo roda «Gilt Complex».

sábado, 8 de dezembro de 2007

Viagens à tasca

Após se registar (apenas) mais um trabalho do norte-americano Ben Harper a minha procura coincidiu com as curvas de oferta de «Colossal Youth & Collected Works» dos fulminantes Young Marble Giants e «Ga Ga Ga Ga Ga» dos Spoon.
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«Colossal Youth» é um daqueles álbuns que me habituei a ver em listas dos mais qualquer coisa. De disco fundamental na era pós punk a um dos mais emblemáticos trabalhos na evolução natural do rock, os Young Marble Giants são um excelente exemplo da velha máxima «keep it simple». O minimalismo é a alma do negócio deste grupo galês, formado em Novembro de 1978 pelos irmãos Stuart e Philip Moxham e Alison Statton. Construções simples dos irmãos Moxham embaladas pela postura «naïve» e despreocupada de Ms. Statton. Foi esse o «modus operandi» seguido pelo colectivo e a principal razão para a aclamação em finais de ’70 e início dos anos ’80 e para o meu contínuo fascínio em pleno século XXI. Por mais anos que passem, «Colossal Youth» soará sempre a actual, continuando a influenciar a maior parte das bandas contemporâneas. Em pouco mais de quarenta minutos ficamos a conhecer o ADN musical do melhor dos Pixies (apesar de até lhes encontrar alguma piada, continuo a pensar que são uma das bandas mais sobrevalorizadas da história da música pop); percebemos as boas referências dadas por Kurt Cobain e Peter Buck; compreendemos algumas interpretações de temas Young Marble Giants por parte de outras bandas («Credit In The Straight World», por exemplo, é revisitado pelo grupo Hole, de Courtney Love); e depreendemos referências em outros campeonatos, caso da adopção do título do álbum para a versão internacional de «Juventude em Marcha» de Pedro Costa. Por tudo isto e muito mais, a atenta editora Domino decidiu recuperar o catálogo Young Marble Giants e numa autêntica edição deluxe lançou para os escaparates uma reedição tripla de «Colossal Youth». Ao álbum original foram adicionados os temas que integravam o single «Final Day» (editado em Junho de 1980), o E.P. «Testcard» (Março de 1981) e a compilação de demos «Salad Days» (de 2000). Mais uma vez a simplicidade marca pontos e mesmo que a grande parte das peças apresentadas não se assemelhe em nada ao formato canção, vislumbramos aqui e ali primorosos momentos pop que nunca perderão a sua vertente neopunk. No terceiro e derradeiro disco deparamo-nos com a gravação (de 1980) das famosas e saudosas «John Peel Sessions». Razões mais que suficientes para nos embrenharmos e embebedarmos ao som Young Marble Giants.
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Chegamos a «Ga Ga Ga Ga Ga» mas (e eu sei que é difícil) não nos engasguemos. Os Spoon já por cá andam há muito e julgo que não têm nada a provar. Britt Daniel é simplesmente um dos génios indie norte-americanos. Lá por casa os MP3 são mais que muitos e por variadíssimas razões neste ano de 2007 decidi apostar de uma forma mais concreta nesta banda de Austin (Texas) e vai daí gastei mais alguns euros num dos segredos mais bem guardados do indie rock contemporâneo. Formados em 1993, o primeiro LP surgiu só em 1996 («Telephono») mas o reconhecimento geral só chegou ao quarto ensaio, com «Kill The Moonlight» (de 2002). Na altura o single «The Way We Get By» obteve alguma exposição mediática, chegando a ser incluído na série «The O.C.» e em alguns outros filmes. Porém, foram «Stay Don’t Go» e «All The Pretty Girls Go To The City» que mostraram uma banda em quase estado de graça. Antes deste magnífico «Ga Ga Ga Ga Ga», os Spoon ainda se mostraram em «Gimme Fiction» (2005), álbum que incluía «I Turn My Camera On», «The Two Sides Of Monsieur Valentine» e «Sister Jack». Ora bem, «Ga Ga Ga Ga Ga» é cumulativamente um dos melhores álbuns da carreira dos Spoon e deste ano 2007. Musicalmente os Spoon poderão ser classificados como o resultado da soma folk dos Wilco, à intuição Tom Waits e à experimentação que fez história nos The Flaming Lips. «Ga Ga Ga Ga Ga» é o aperfeiçoamento dessa adição. «Don’t Make Me A Target» revela os belgas dEUS às voltas com o período «pseudojazz» de Tom Waits. A etérea «The Ghost Of You Lingers» atira os nossos problemas para trás das costas e liberta-nos do stress citadino. «You Got Yr. Cherry Bomb» inicia-se ao som dos britânicos Doves para lhe misturar pitadas Pulp num belo momento dark pop. «Don’t You Evah» pega no ritmo de «All The Pretty Girls Go To The City» e condimenta-o ao som de Beck Hansen. «Rhythm And Soul», e tal como o próprio título indica, é uma canção cheia de ritmo e alma. «The Underdog» abraça a faceta mariachi dos Calexico para libertar efusivos «Yeah!». «Finer Feelings» é a versão mais radio-friendly de Britt Daniel e companhia e «Black Like Me» recupera as construções «beatlescas» do saudoso Elliott Smith. Tudo em trinta e seis minutos de pura magia e encanto Spoon. Como extra ainda nos é oferecido o CD Bónus «Get Nice!» que compila doze faixas adicionais em vinte e três minutos de demos e divagações sonoras. «Ga Ga Ga Ga Ga» é assim mais um clássico para este ano 2007.
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Como aperitivo de mais uma viagem às tascas fica o vídeo de «The Underdog», dos Spoon.
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The White Stripes | Conquest

Continuamos com as novidades audiovisuais para assinalar a mais recente aventura de Meg & Jack White. «Conquest», terceiro single a ser extraído de «Icky Thump», é uma das muitas covers que os The White Stripes se habituaram a incluir nos seus trabalhos. Escrita por Corky Robbins e popularizada por Patti Page em 1950, «Conquest» surge aqui em estilo mariachi, revelando-se uma das grandes canções de «Icky Thump» e um dos mais divertidos vídeos deste final de ano (realização a cargo de Diane Martel).

The Killers | Shadowplay

Os The Killers, que editaram há poucas semanas «Sawdust» (compilação de «lados-b» e raridades), estão de regresso aos vídeos. Apanhando a boleia de «Control», biopic realizado pelo fotografo Anton Corbijn e centrado na figura emblemática de Ian Curtis, a banda norte-americana regista em formato audiovisual a espantosa interpretação de «Shadowplay» (original dos Joy Division), tema incluído na banda sonora de «Control».
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sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

The Dodos | Fools

Numa das habituais consultas bloguistas matinais lá descobrimos o duo norte-americano The Dodos. Meric Long (voz e guitarra) e Logan Kroeber (bateria) chegam de São Francisco e deram-se a conhecer em Março de 2006 com o debut EP «Dodo Bird». «Beware of the Maniacs», álbum de estreia, foi lançado há um ano e, nas entrelinhas dos sons disponíveis via Internet, ouvem-se influências várias como Animal Collective, Neutral Milk Hotel, The Shins e The Flaming Lips. Fica o vídeo de «Fools», um autêntico rebuçado para o fim-de-semana.
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quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Viagens à tasca

Após nos termos perdido na margem sul, a visita tasqueira seguinte foi a meio da semana. Não sei se já tive a oportunidade de referir, mas o meu local de trabalho fica a escassos metros de um dos grandes «traficantes» musicais, o El Corte Ingles. Ben Harper e a mais recente aposta «Lifeline», numa apetitosa edição especial, acabou por servir de sobremesa do almoço de 4.ª feira.
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Note-se que já faz algum tempo que Ben Harper nos vem dando música amorfa. Não fosse a experiência passageira com os veteranos The Blind Boys Of Alabama no magnífico «There Will Be A Light», de 2004, e teríamos de recuar a 1999 para ouvir um disco digno de registo na discografia de Ben Harper. É certo que só depois de «Burn To Shine» é que o culto Ben Harper se massificou. «Live From Mars» e a excessiva difusão da cover «Sexual Healing» (original de Marvin Gaye) acabaram por revelar um segredo que até à data se cingia a alguns «happy few». Resultado? Ben Harper passa de uma discreta Aula Magna para um grandioso Pavilhão Atlântico, com o aborrecido Jack Johnson à sua ilharga. É claro que para Ben Harper o resultado não poderia ser melhor, mas para os fiéis seguidores do compositor de «Waiting On An Angel», «I’ll Rise», «Fight For Your Mind», «Burn One Down», «Excuse Me Mr.», «Oppression», «Jah Work», «Please Bleed», algo se perdeu no caminho do sucesso. Porém, como sou um bocado teimoso, após o aceitável «Both Sides Of The Gun» (com especial destaque para «Morning Yearning»), lá dei mais uma oportunidade a Ben Harper. Conclusão? «Lifeline», apesar de transmitir uma leve sensação de monotonia, evidencia uma banda confiante e genuína no que faz. Gravado em Paris, em apenas sete dias, «Lifeline» tem a vantagem de captar Ben Harper e os companheiros Innocent Criminals despidos de quaisquer produções adicionais. As canções poderiam ser melhores pois Ben Harper já demonstrou que o pode fazer. Contudo, o gospel de «Say You Will», o funky-reggae de «In The Colors», a tranquilidade de «Having Wings» ou a serena batalha de «Fight Outta You» não deixam ninguém ficar mal visto. Registe-se o mérito de Ben Harper em gravar um disco como «Lifeline» e destaque-se a versão especial do disco, a qual inclui um DVD (com o registo audiovisual dos 11 temas que compõem «Lifeline») e um libreto com algumas fotos também documentadas no estúdio onde o álbum foi gravado.

Como aperitivo deixo «Fight Outta You», um dos melhores temas de «Lifeline».

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Regresso morno de Josh Rouse a Lisboa

Há muito que ansiava ver e ouvir ao vivo o norte-americano Josh Rouse. Nas últimas passagens por Lisboa, por uma ou outra razão, não pude estar presente. Dessa forma, logo que se anunciou novo espectáculo de uma das vozes mais doces da pop actual não pensei duas vezes. «Country Mouse City House», álbum de 2007, foi o mote para mais uma visita. O disco, já aqui apresentado, continua a mostrar um compositor a viver dos rendimentos de «Under Cold Blue Stars» e «1972» (as obras-primas de Rouse). Ainda assim, e apesar dos últimos registos não terem atingido o patamar dos supracitados trabalhos, a Aula Magna estava praticamente cheia e o público mostrou um carinho muito especial pelo «cantautor». «Hollywood Bass Player» abriu as hostilidades de uma noite morna, centrada em «Country Mouse City House», «Subtítulo» e «Nashville». Josh Rouse, a meio da actuação, lá confessou estar adoentado há ¾ dias, mas logo adiantou que não gostava de se lamentar e «Feeling No Pain» surgiu para acalentar ainda mais os corações dos presentes. «Comeback (Light Therapy)» aqueceu ainda mais o recinto e «1972», já em fase de descompressão, provou que o segredo de todo o encanto em Josh Rouse está nas entrelinhas de «1972», o álbum de 2003. Pelo meio ouviram-se demasiados temas de «Nashville» e «Subtítulo». Nada que desiludisse os presentes, pois para além da frieza demonstrada por Josh Rouse até o «sound check» realizado durante os primeiros três temas foi perdoado. Temas como «Caroliña», «It Looks Like Love», «It’s The Nighttime», «My Love Has Gone», «Quiet Town», «Why Won’t You Tell Me What» e «Love Vibration» (em forma de despedida festiva) encheram o palco e os espíritos dos seguidores portugueses deste «singer-songwritter» de excepção.

Na primeira parte esteve o argentino Federico Aubele que apresentou a sua mais recente proposta «Panamerica». Agradável concerto que revelou o potencial de Federico em construir delicados ambientes temáticos, mais que canções propriamente ditas, ao contrário de Rouse.
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Como autêntico souvenir Josh Rouse disponibilizou «Country Mouse Companion», uma preciosa compilação de temas gravados ao vivo em casa e/ou em estúdio de algumas das composições que fazem parte de «Country Mouse City House» e que acompanham Josh Rouse na digressão que passou por Portugal na semana passada. Nada de extraordinário para a discografia de Josh Rouse, mas para quem segue de perto os passos de Rouse «Country Mouse Companion» acaba por ser uma relíquia interdita nas tascas de todo o mundo. Destaque para as demos registadas em casa de «Hollywood Bass Player» e «London Bridges» a gravação live in studio de «It Looks Like Love» e raridades como «Kuzbass» (escrita em conjunto com David Kominsky), «Start Again» (tema escrito para «Music And Lyrics» mas que acabou por surgir na versão digital da compilação «All-Star Charity CD Serve2: Fighting Hunger And Poverty») e «I Wish We Had».
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Em forma de despedida fica o fecho do concerto de dia 26 de Novembro, ao som de «Love Vibration».

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Viagens à tasca

Há algumas semanas tive a oportunidade de visitar, pela primeira vez, a tasca da Margem Sul, a qual se revelou um dos mais estimulantes estabelecimentos «disqueiros». Entre as novidades e as promoções do costume, lá descobrimos artigos raros para a nossa capital (e em formato E.P.)...
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Joan Wasser, mais conhecida por Joan As Police Woman, palmilha os trilhos da música há mais de 10 anos. De eterna namorada de Jeff Buckley a colaboradora habitual de variadíssimos artistas como os Scissor Sisters, Lou Reed, Sheryl Crow, Rufus Wainwright, Antony ou mesmo John Cale, Wasser foi ganhando prestígio e, nos intervalos das suas muitas participações em trabalhos alheios, foi gravando as suas próprias canções. Em 2003 edita «My Gurl», primeiro single e um dos seus melhores trabalhos que um ano depois integra o homónimo E.P. de estreia. «Joan As Police Woman» revela algum desequilíbrio, é certo, mas temas como o soberbo «My Gurl», «Stagger Into The Light» (onde paira o espírito de Jeff Buckley) e «Game Of Life» davam alguns indícios do que seria a sua estreia, em 2006, com «Real Life». Joan Wasser caracteriza a sua música como «punk rock r&b» que resulta de duas grandes influências: a soul clássica de Al Green e Nina Simone e o som rude e experimental de uns Sonic Youth. A experimentação é, de facto, a metodologia favorita de Joan As Police Woman, sendo as divagações sonoras ora ao piano ora ao violino e a sua voz lembra algumas soul artists. Porém, é a assimilação de traços interpretativos de Antony Hegarty e Rufus Wainwright que mais nos fascina. Para primeiros contactos com a obra de Joan As Police Woman aconselho «Real Life» (álbum que inclui o magnífico «I Defy»); para os admiradores «Joan As Police Woman E.P.» representa os primeiros meses de gestação do fantástico «Real Life».
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Se Joan As Police Woman foi uma das grandes surpresas do ano transacto, os norte-americanos The National têm-se revelado um dos melhores partidos neste ano de 2007. Desde a edição de «Boxer» que não consigo parar de os ouvir e de os procurar (ora na internet, ora nas tascas). Nesta estreia sulista encontrámos o saboroso E.P. «Cherry Tree». Lançado em 2004, entre «Sad Songs For Dirty Lovers» (2003) e «Alligator» (2005), este conjunto de sete temas representou um certo limar de arestas por parte dos The National. Se até então a banda revelava potencial, ainda por concretizar, após «Cherry Tree» apuraram-se fórmulas e os The National atinaram, dando indícios do que são actualmente: uma das melhores propostas vindas da terra do Tio Sam. O colectivo continua a abordar Nick Cave, Leonard Cohen, Tindersticks, Tom Waits, Bruce Springsteen, The Walkabouts, etc. de uma forma muito particular. A voz de Matt Berninger engrandece a música e a própria banda, mas é a empatia entre esta autêntica família que mais brilha. Os ambientes são harmoniosos q.b. e temas como «All Dolled-Up in Straps», «Cherry Tree», «About Today» e «Wasp Nest» revelam o início da fase mais proveitosa dos The National. Depois chegaram «Alligator» e «Boxer» e o culto surgiu.
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A última aposta, no meio de tantas outras possíveis, passou pelo álbum de remisturas dos sempre bem-vindos Bloc Party. Pela primeira vez encontrámos o dito álbum a preço decente (aceitável para uma colecção de remisturas, entenda-se) e nem pensámos duas vezes. As canções da recomendável estreia «Silent Alarm» são boas e os convidados, para a metamorfose sonora «Silent Alarm Remixed», foram escolhidos a dedo. O resultado final é bem bom para um álbum de remisturas. Entre as propostas apresentadas encontramos nomes e ambientes tão diversos como Ladytron que nos dão uma visão ainda mais sinistra e mecânica de «Like Eating Glass»; M83 que surge com uma assombrada versão de «The Pioneers»; Four Tet que pega em «So Here We Are» e o resultado é ainda mais etéreo que o original; Mogwai que desiludem um pouco com a pop plana em «Plans»; Nick Zinner (Yeah Yeah Yeahs) que traz lições dadas pelos TV On The Radio para o universo Bloc Party; e os saudosos Death From Above 1979 que dão um interesse adicional ao já por si admirável «Luno». Pelo meio encontramos ainda belíssimos exercícios como «Helicopter [Whitey Remix]» que nos transporta para o mundo esquizofrénico dos Avalanches; o já aqui comentado «Banquet [Phones Disco Edit]» com a bateria e o baixo no volume máximo; a serenidade «This Modern Love [Dave P. And Adam Sparkles' Making Time Remix]» com tempero disco; e o rebelde «Price of Gasoline [Automato Remix]» numa versão mais «kraftwerkiana». Resumindo e concluindo: é mais um excelente conjunto de canções pop com a assinatura Bloc Party.
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Segue-se o vídeo de «Christobel», um dos melhores temas de Joan As Police Woman incluídos em «Real Life» e que conta com a ajuda preciosa de Joseph Arthur.

sábado, 17 de novembro de 2007

David Fonseca | Rocket Man

David Fonseca está de regresso aos vídeos e volta a surpreender. Depois de editar «Dreams in Colour», terceiro e porventura o seu melhor álbum, e de pôr Portugal a assobiar «Superstars», «Rocket Man» (original de Elton John) chega ao mundo audiovisual e o resultado é espantoso. O vídeo é, uma vez mais, realizado pelo próprio David Fonseca.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Maxïmo Park | Karaoke Plays

Autores de um dos grandes concertos de 2007 em palcos nacionais (no saudoso SBSR), os britânicos Maxïmo Park voltam à carga e lançam o quarto single de «Our Earthly Pleasures», o segundo álbum de carreira e um dos mais eficientes conjuntos de canções de 2007. Depois do acelerado «Our Velocity», do doce «smithiano» «Books From Boxes» e do mecânico «Girls Who Play Guitars» é a vez do pândego «Karaoke Plays» saltar para os plasmas de todo o mundo.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Viagens à tasca

Depois de mais uma semana de trabalho, mais dura que o normal, pois ainda nos estávamos a ambientar ao ritmo pós-férias, lá fomos beber uns copos. As escolhas, desta vez recaíram sobre Michael Jackson, Lauryn Hill e seguindo a corrente das tascas helvéticas, Johnny Cash.
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Vamos lá falar de Michael Jackson (MJ). Sempre esteve bem claro na minha cabeça que MJ desempenhou um importantíssimo papel na evolução da música urbana norte-americana, nas suas variadíssimas acepções e estilos. Do R&B ao Rap e do Hip-Hop à Pop. Desta forma, a vontade de comprar uma compilação de Mr. Jackson sempre existiu. Nesta inocente passagem pela tasca das tascas encontrámos artigos ao desbarato e o duplo «The Essential» acabou na nossa conta cliente por apenas € 5,00. O leque musical é extenso, passando pelos originais Jackson 5 até «Invencible», o último flop editorial de MJ, de 2001. É, de facto, um longo apanhado do melhor que Michael Jackson nos deu. Durante a sua infância, com os The Jackson 5, e juventude, nos The Jacksons (evolução natural dos anteriores cinco), a Motown era o pano de fundo e tanto Marvin Gaye como Stevie Wonder eram os ídolos a seguir. Quando em 1979 grava, com a ajuda de Quincy Jones, «Off The Wall» a admiração surge dos quatro cantos do mundo. Temas como «Don’t Stop ‘Till You Get Enough» e «Rock With You» marcavam a estreia em nome próprio de um artista que respirava talento e com um futuro promissor. Os prémios sucederam-se e os álbuns de platina multiplicaram-se. Daí até ao reconhecimento como Rei da Pop foi um pequeno passo. Por tudo isto e muito mais, ouvir este «The Essential» revelou-se uma experiência surpreendente. Se no primeiro CD encontramos os inevitáveis «Don’t Stop ‘Till You Get Enough», «Rock With You», «The Girl Is Mine» (dueto com Paul McCartney), «Billie Jean», «Beat It» e «Thriller»; o segundo capítulo passa pelos não menos importantes «Bad», «The Way You Make Me Feel», «Man In The Mirror», «Smooth Criminal», «Remember The Time», «Heal The World», «Earth Song» e «They Don’t Care About Us». Tudo motivos para recordarmos um dos maiores compositores pop do último século.
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Viramos as atenções para um dos mais conseguidos registos dos últimos anos. «The Miseducation Of Lauryn Hill» é um clássico, por isso mesmo a cópia pirata lá de casa merecia um upgrade. Em mais uma promoção Fnac acabamos por levar o disco para casa e reviver outros tempos. Note-se que esta «sinuosa» educação de Lauryn Hill é mais um tributo à soul dos anos 70 (com a Motown uma vez mais a marcar presença) que um álbum de hip-hop contemporâneo. Porém, é aqui que reside o segredo do seu sucesso. Canções baseadas em memórias soul às quais são adicionados beats contagiantes e uma lírica contemporânea. É, desta forma, um autêntico regresso ao futuro que meio mundo aclamou, nomeou e galardoou. «Ex-Factor» é um lamento delicioso que poderá levar o ouvinte mais sensível às lágrimas; «To Zion», que conta com a ajuda preciosa de Carlos Santana, é um autêntico bombom que Lauryn Hill ofereceu ao seu filho Zion; «Everything Is Everything» conta com John Legend (na altura um perfeito desconhecido) ao piano mas são os beats e o trabalho de edição que despertam a nossa atenção; «I Used To Love Him» regista a sempre agradável presença de Mary J. Blige (uma das rainhas da soul) e a comunhão com Lauryn Hill é perfeita; D’Angelo também surge na lista de convidados e o resultado é o «Melodicodoce» «Nothing Even Matters»; «Doo Wop (That Thing)» foi um dos singles e vídeos mais fortes dos anos ’90; e, a chegar ao fim, temos «Can’t Take My Eyes Off You» a servir de sobremesa.
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Regressamos ao mundo Johnny Cash e ao quinto e simultaneamente primeiro capítulo póstumo da série American Recordings. Se no admirável «American IV: The Man Who Cames Around» Johnny Cash já revelava alguma debilidade física, em «American V: A Hundred Highways», editado a 4 de Julho de 2006 (cerca de 3 anos após o seu desaparecimento), o cenário não é melhor. O ritmo é calmo e os temas são tranquilos, desempenhando como que um papel de despedida. Johnny Cash volta a formar equipa com Rick Rubin. O álbum é, mais uma vez, composto por alguns (poucos) originais e uma mão cheia de versões. No campo dos originais encontramos a serenidade folk de «I Came to Believe» e o country de «Like The 309», a derradeira composição assinada por Johnny Cash. Relativamente às covers, destaque para o tema tradicional «God’s Gonna Cut You Down»; «If You Could Read My Mind», de Gordon Lightfoot; «Further On Up the Road», de Bruce Springsteen; «On The Evening Train», de Hank Williams; «A Legend In Time», escrito por Don Gibson e interpretada por Roy Orbinson; e, a fechar, o «cristalindo» «Love’s Been Good To Me», tema popularizado por Frank Sinatra. O resultado final revela-se mais homogéneo que os seus antecessores, mas a sua serenidade não deixa de transmitir algum vazio e sentimento de perda do génio Johnny Cash.

Um pouco em forma de homenagem deixo Johnny Cash e o vídeo para «God’s Gonna Cut You Down», tema que também foi aproveitado por Moby em «Run On», de «Play».
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domingo, 11 de novembro de 2007

Viagens à tasca

O regresso a Portugal resultou, obviamente, num retorno aos roteiros das principais tascas nacionais. Na primeira visita fomos surpreendidos pelos viciantes discos em formato E.P.. Já aqui o transmiti e volto a frisar: sou apaixonado pelos E.P.. Podem não trazer nada de novo, mas estas «pequenas» edições, encaradas como algo menos importante que os álbuns (aumentando o meu interesse), poderão compilar leftovers de outros registos ou aguçar o apetite dos ouvintes para um futuro álbum ou futura carreira cheia de sucessos. As escolhas, de mais uma viagem à tasca, recaíram sobre a mais recente aposta dos Yeah Yeah Yeahs, a estreia dos Bloc Party e o teaser dos Shivaree para o álbum «Who’s Got Trouble», de 2005.
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Gosto muito dos nova-iorquinos Yeah Yeah Yeahs. Fashion Punk Pop de alta qualidade. Karen O, uma das muitas rainhas do rock, sabe o que quer e para onde vai. Os seus variados registos, ora agridoce (ouçam-se «Down Boy» e «Is Is») ora grotesco (em «Rockers To Swallow»), são a mais valia deste colectivo. A música por vezes repete-se, mas as interpretações de O dão sempre um toque cativante aos Yeah Yeah Yeahs. «Is Is», E.P. que reúne novas gravações de alguns dos temas escritos e esquecidos na gaveta entre «Fever To Tell» e «Show Your Bones», é mais do mesmo. Nenhuma das canções aqui incluídas marca, de forma clara, uma viragem de rumo, nada que nos possa dar uma primeira ideia sobre qual o futuro recente deste trio nova-iorquino. Contudo, pergunto: quando se gosta de um determinado doce, repetimos esse mesmo doce que nos satisfaz plenamente ou procuramos outras sacarinas? Karen O volta a ser a estrela da companhia e Nick Zinner e Brian Chase continuam em constante despique um com o outro. O resultado é dezoito minutos de boa música e de pura sedução por parte de Karen O e companhia. «Rockers To Swallow» é visceral e recupera os bons momentos de Marilyn Manson. «Down Boy» é marca de registo Yeah Yeah Yeahs, início doce para logo depois Nick Zinner e Brian Chase revirarem tudo do avesso. «Kiss Kiss» é punk pop para danças lascivas/sexuais; «Is Is» acaba por ser o melhor tema aqui apresentado, juntando o belíssimo «Maps» ao não menos espectacular «Cheated Hearts». «10 x 10» tem a árdua tarefa de fechar mais uma proposta dos Yeah Yeah Yeah. Nada de novo, portanto, mas aguçamos o apetite para novidades Yeah Yeah Yeahs.
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Mantemos o registo das vozes femininas, para voltarmos aos Shivaree. OK, a banda norte-americana é irregular e somente o «Goodnight Moon» teve algum reconhecimento geral. Porém, há algo na voz e desempenho de Ambrosia Parsley que me prende. Algo de langoroso que busca ensinamentos pop a uns Sparklehorse, Mazzy Star e, porque não, Portishead. A música mantém a sua vertente indolente. A voz é cativante e a música, sem encantar, satisfaz. Um dos muitos guilty pleasures do final do século XX a marcar os meus ouvidos (para o bem e para o mal). A tracklist deste teaser para o álbum «Who’s Got Trouble?», trabalho que contém um dos segredos mais bem guardados da popNew Casablanca»), é composta essencialmente por covers (outra das minhas grandes paixões). Além de «I Close My Eyes» (primeiro single do supracitado álbum), encontramos «Fat Lady Of Limbourg», uma versão de Brian Eno e também incluída em «Who’s Got Trouble?» e os lados-b «Fear Is a Man's Best Friend», cover de John Cale, «Strange Boat», cover dos Waterboys e que conta com a participação especial de Ed Harcourt, e «657 Bed B» (original dos Shivaree). Só para aderentes Shivaree.
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Terminamos esta aventura ao som dos sempre bem-vindos Bloc Party e mais um E.P.. A compra colmatou uma falha na listagem de discos lá de casa, com o debut da banda britânica. Não nos alonguemos muito. O que interessa aqui é «Banquet», tema indie rock radio friendly com um refrão orelhudo e que recupera Gang Of Four, The Fall e The Cure em pouco mais de 3 minutos. O desenrolar dos acontecimentos para os Bloc Party é conhecido: uma operadora de telecomunicações descobre «Banquet» e a exposição é fulminante. «Silent Alarm» é apanhado na corrente e aquando de «A Weekend In The City», segundo registo de originais, a presença da banda nos tops europeus já é normalíssimo. Recentemente editaram «Flux» e as reacções têm sido díspares. Ora se ama ora se odeia, não havendo espaço para o meio-termo. «Bloc Party E.P.» é de digestão mais fácil. Além de «Banquet» (a «galinha dos ovos de ouro» do colectivo britânico), encontramos «She’s Hearing Voices», numa primeira gravação menos sofisticada; «Staying Fat», ritmo acelerado e riffs frenéticos com vocalizações sobrepostas e envolventes; «The Marshals Are Dead», canção que se mostra ainda num estado embrionário e que nunca foi terminada (pelo menos em disco); «The Answer», que começa ao som de «Price Of Gasoline» e pelo meio revela alguns riffs de «This Modern Love» é, porventura, o outro grande ponto de interesse deste E.P.. No fim há ainda espaço para a versão «Phones Disco Edit» de «Banquet», onde a bateria, o baixo e uma pitada de electrónica se evidenciam. Agradável estreia e excelente teaser para «Silent Alarm».
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Segue-se a actuação dos Yeah Yeah Yeahs no «David Letterman Show» com «Down Boy», excelente cartão de visita para a sonoridade Yeah Yeah Yeahs.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Interpol - Act 2

O que dizer do concerto dos Interpol? De facto, as condições eram propícias para uma grande noite. O Coliseu estava esgotadíssimo (já há algum tempo que não se via tanta gente no recinto lisboeta); o álbum e respectivos singles de «Our Love To Admire» continuam a portar-se bem; e o espectáculo surgia quatro meses após uma belíssima estreia em palcos nacionais (no Super Bock Super Rock). O que faltou então à actuação dos Interpol?

Os músicos são bons, a banda entende-se às mil maravilhas e as canções (personagens principais de qualquer concerto que se preze) são boas. Porém, aliado a um alinhamento de altos e baixos, o público lisboeta mostrou-se, durante grande parte da actuação, apático e sem sal. Longe vão os tempos em que os concertos em Portugal ganhavam dimensão pela entusiasmante prestação do público. Há cerca de dez anos um concerto em palcos lusos era um evento único, não só porque Portugal nunca fez parte do roteiro «normal» das digressões como o público mostrava-se sedento, fazendo tudo por tudo para criar empatia com os artistas. Hoje em dia, directamente relacionado com uma maior oferta ou não, a letargia predomina. A banda chega, dá o seu espectáculo e quando nos apercebemos o concerto já terminou. O que estará a prender o público português?

Passando adiante. Os músicos são exímios, chegando ao ponto de reproduzir fielmente os temas de todos os seus álbuns de estúdio. Foi assim no SBSR (mas ninguém os crucificou, pois era a primeira vez) e foi assim na passada noite de 7 de Novembro. Pelo palco passaram os grandes sucessos do colectivo norte-americano. «Obstacle 1», «Mammoth», «Slow Hands», «Evil», «C’mere», «The Heinrich Maneuver», «No I Threesome», «PDA»… Tudo ingredientes favoráveis a um excelente concerto. No entanto, foi com «Pioneer Of The Falls» (a abrir), «No I Threesome», «Rest My Chemistry» e «The Lighthouse» que vimos algo de novo nos Interpol. Todavia, paradoxalmente foi com estes dois últimos temas que se deu uma quebra brutal no espectáculo. O público recostou-se e rapidamente chegámos ao final de mais um concerto em Lisboa. Já agora, qual é o próximo concerto?
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Especial menção para os Blonde Redhead, banda norte-americana que acompanha os «vizinhos» Interpol na digressão europeia. Uma boa parte da plateia revelou conhecer a discografia dos irmãos Simone e Amedeo Pace e Kazu Makino (elemento essencial para a estratégia de sedução do colectivo). A música é atraente e a voz, mais esganiçada em palco, de Kazu Makino (a lembrar uma Julee Cruise) dá um ar alucinado ao espectáculo. «23», o tema título do excelente último registo, fechou a tentadora prestação do colectivo e deu razões para uma outra visita e noutras condições.
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À semelhança dos últimos posts, damos especial atenção a um disco, colocado em lista de espera para se apresentar neste espaço, associado a um recente concerto e a mais uma viagem à tasca (já em território nacional). Os Blonde Redhead mostraram o que valem na primeira parte dos Interpol. Canções ensopadas em octanas de 2007. À escola New York, mais precisamente dos seus «vizinhos» Sonic Youth, juntam a eloquência pop gótica de inícios de 80. O resultado final são 10 vitaminados temas que revelando uma sonoridade etérea dão ânimo e assentam ainda mais a esperança no futuro deste trio norte-americano. «23», «The Dress», «SW», «My Impure Hair», «Spring and by Summer Fall», «Silently» e «Top Ranking» são excelentes exemplos da melhor pop que 2007 já nos deu.

A despedida é feita ao som de «23» dos Blonde Readhead. Vídeo realizado por Melodie McDaniel.
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quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Estrela à solta no Coliseu

«I don't know what it is / But you got to do it / I don't know where to go / But you got to be there». Foi com estas palavras que Rufus Wainwright, já de roupão, deu início ao encore final, a 3.ª e última parte do concerto do passado dia 6 de Novembro. Tal como o próprio afirma, não sei que sentimento é este, mas é obrigatório assistir a um espectáculo do artista canadiano pelo menos uma vez na vida. Era a impressão que tinha (depois de 2 concertos) e foi a sensação com que fiquei no final de mais uma brilhante apresentação em Lisboa («a cidade mais bonita da Europa», segundo as palavras de Wainwright).

A espontaneidade continua a ser a arma de sedução de Rufus, que insiste em entreter o público com confissões desconcertantes, tais como «I’m a little princess… without a throne… and available». A sinceridade é a alma do negócio. Rufus diz e o público acredita, não só pela maturidade demonstrada nas suas composições como pela aparente «inocência» evidenciada em palco. De certa forma, Rufus será sempre (um)a pequena princesa, mas o trono, esse já ninguém o lho pode negar nem tirar.
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Durante a primeira parte Rufus Wainwright esteve ao ataque, presenteando os seus adeptos com temas novos e menos novos. «Release The Stars» abriu as hostilidades de um espectáculo que durou quase três horas. «Going To A Town» seguiu-se e o talento já demonstrado conquistou o público com uma arrebatadora interpretação ao piano de uma das suas mais belas canções. «Sanssouci», «Rules And Regulations», «Tiergarten», «Leaving Paris» e a divertidíssima «Between My Legs» (com a participação especial da sua instrutora de ioga) completaram o leque de temas extraídos do mais recente álbum. Pelo meio e ao som de «Danny Boy», «Cigarettes And Chocolate Milk» e «The Art Teacher» reviveram-se outros momentos da admirável carreira de Mr. Rufus Wainwright.

Após um intervalo de quinze a vinte minutos, Rufus voltou à carga com «The Consort» do soberbo «Poses» (álbum de 2001), para logo depois regressar às «estrelas» com o tema bigger than life «Do I Disappoint You?» (mera pergunta de retórica, diga-se de passagem). Foi então que a sombra de Judy Garland se mostrou e Rufus, de uma assentada, interpretou «Foggy Day In London» e «If Love Were All», temas que poderemos encontrar nas gravações dos espectáculos homenagem a Judy Garland a editar em Dezembro próximo. «Nobody’s Off The Hook», «Not Ready To Love» e «Slideshow» fecharam «Release The Stars». Contudo, ainda houve tempo e forças para «Beautiful Child», «14th Street» e, surpresa das surpresas, «Macushla» (tema tradicional celta que Rufus cantou à capela, sem microfone, entenda-se; momento mais operático que revelou uma das grandes paixões deste cantautor de eleição).

Regressando ao encore. Após «I Don’t Know What It Is» Rufus apresentou «Poses» e chamou ao palco Kate McGarrigle (sua mãe) para interpretar «Somewhere Over The Rainbow» (da banda sonora d’O Feiticeiro de Oz) e «Barcelona» («uma vez que Portugal ainda faz parte da Península Ibérica»). A cereja em cima do bolo ocorreu quando Rufus resolve tira o roupão, colocar um par de brincos, batom e com a ajuda de um chapéu e traje à anos 20 bailou, com a sua banda de suporte, «Get Happy», mais um tema do universo de Judy Garland. Por fim ainda houve tempo para o inevitável «Gay Messiah».
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Aproveitando a boleia de mais um concerto, damos prioridade máxima a uma recente aquisição discográfica: «Release The Stars», o último álbum de originais do grande Rufus Wainwright. Após as aventuras e desventuras em período de férias e uma vez que tivemos conhecimento da edição, em território de sua Majestade, de um pack especial e limitado com uma faixa adicional e um DVD bónus, navegámos em direcção a essa autêntica selva de vícios que é a Amazon… «Release The Stars» só veio aumentar ainda mais a admiração pelo autor. Rufus Wainwright mantém o alto nível e a qualidade na sua escrita. Aponta novos caminhos em temas mais orquestrais / operáticos e enfeitiça com uma pop crivada de requinte e leveza. «Do I Disappoint You?» é, como tive a oportunidade de mencionar bigger than life. O lamento e a desilusão pessoais com a América em «Going To A Town» emocionam qualquer ouvinte. «Tiergarten» é doce como o mel. «Nobody’s Off The Hook» e «Not Ready To Love» mostram a vertente mais sensível e delicada de Wainwright. «Rules And Regulations», «Between My Legs» e «Release The Stars» dão um toque mais hedonista ao álbum. Concluíndo: excelente álbum associado a um magnífico concerto de um dos singer-songwritters de eleição da actualidade.

Como despedida segue-se uma gravação da reencarnação camp de Judy Garland.
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Antony And The Johnsons | I Will Survive

A imagem do vídeo não é a melhor. Aliás, é melhor esquecermos a imagem. O que interessa, neste post, é o som e a soberba capacidade interpretativa que Antony Hegarty demonstra ao pegar em «I Will Survive», clássico de Gloria Gaynor, sobrevivendo ao original. Mais palavras para quê. «Ouçamos» o vídeo...

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias XII

Últimos dias de férias. Refazer as malas. Arranjar espaço propício para o transporte dos discos importados. Despedirmo-nos das pessoas e dos locais que adoptámos como nossos. O stress regressa e o pensamento em Portugal, no trabalho e na monotonia do quotidiano também. Porém, ainda houve tempo e espaço (na bagagem) para mais uma visita a uma tasca genebrina. A escolha final recaiu sobre a segunda City@Disc da cidade, local onde descobrimos a versão deluxe de «Nolita», quarto álbum da menina Keren Ann, e «Live In Japan 2004» dos norte-americanos Incubus (um dos muitos guilty pleasures da minha juventude).
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«Nolita» marca a separação criativa definitiva entre Keren Ann Zeidel e Benjamin Biolay e é o primeiro registo da artista israelita após a sua mudança para New York (mais precisamente para o bairro de Manhattan, North Of Little Italy, i.e., NoLIta). Composto por quatro temas em francês e seis em inglês, Keren Ann canta e encanta novamente. A fragilidade da sua voz prende-nos do primeiro ao último segundo. A leve brisa bucólica que percorre todo o disco rejuvenesce qualquer que seja o ouvinte. «Que N’Ai-Je?», uma visão mais adocicada e frágil da bossa nova, abre as hostilidades. «L’Onde Amère», tema que conta com a participação do trompetista Avishai Cohen, conquista-nos por completo e a rendição está garantida ao segundo acto. «Chelsea Burns», primeiro tema apresentado em inglês e peça fundamental para a mediatização de Keren Ann, só adensa ainda mais a nossa entrega. Porém é «Nolita», com sete arrebatadores minutos, que ao abraçar a ardente frieza de uns Sigur Rós, Keren Ann parece atingir a perfeição. Comparativamente, o que se segue perde um pouco de interesse, mas nenhuma canção desilude. O magnetizante piano em «One Day Without», o baixo indolente de «La Forme Et Le Fond» e a deliciosa «Song Of Alice» só aumentam o encanto por Keren Ann. Como canta em «Greatest You Can Find» (faixa escondida), «Your love is greater greatest you can find here».
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Partimos em direcção aos Incubus e por muito que queiramos recordar bons velhos tempos, depois de tantas e tão boas (re)descobertas como Martha Wainwright, Benjamin Biolay, Keren Ann, The Shins, Johnny Cash, e por aí em diante, por mais espectacular que fosse o concerto registado em «Live In Japan 2004», saberia sempre a pouco. Ainda para mais, a digressão aqui documentada é que apresentou o desapontante «A Crow Left Of The Murder». Longe vão os tempos de «S.C.I.E.N.C.E.» e «Make Yourself», fase mais produtiva deste colectivo californiano. A genuína agressividade dos Incubus perdeu-se após «Make Yourself», álbum que os catapultou para os topes de todo o mundo e os corrompeu. O dinheiro parecia falar mais alto e o descalabro foi inevitável. «Live In Japan 2004» centra-se em «A Crow Left Of The Murder», mas os pontos altos são «Consequence», «Idiot Box», «Vitamin», «Clean», «A Certain Shade Of Green» e o soberbo «Pardon Me». Que me perdoem os Incubus, mas o espírito inicial murchou e não se vislumbra quaisquer indícios de renovação.
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Jet d'Eau - Lac Léman (Genève)

The Killers feat. Lou Reed | Tranquilize

Outro dos vídeos promocionais a chegar ao mundo virtual é a mais recente aposta dos texanos The Killers. «Tranquilize» é o primeiro single extraído de «Sawdust», a compilação de lados-b e raridades que será editada dia 12 de Novembro. Musicalmente o ambiente é mais sinistro que nunca. Lou Reed, convidado especial dos The Killers, dá uma mãozinha e o ar torna-se ainda mais pesado. Segue-se o vídeo.

QOTSA | Make It Wit Chu

«As raínhas» do stoner rock norte-americano estão de volta aos vídeos. Depois da aposta em «Battery Acid Spot», tema que mostra todo o ácido que corre nas veias de Josh Homme, a escolha recaiu sobre o surpreendente «Make It Wit Chu». Um remake das famosas «Desert Sessions» de Josh Homme e amigos que resulta num espantoso exercício pop indolente dos Queens Of The Stone Age.

domingo, 4 de novembro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias XI

Estávamos prestes a terminar as férias de 2007. Depois de 2 semanas e meia preenchidas pela novidade a sombra do regresso a Portugal já era visível e as saudades do estrangeiro já se começavam a sentir. As duas últimas grandes jornadas em território helvético foram a indispensável volta ao lago Léman (conhecido como «Route du Lac Léman») e a visita a Gstaad, a famosa estância de ski. Em ambas as excursões passámos pelas cidades de Lausanne e Montreux (a capital suíça da música).
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Memorial de Freddie Mercury em Montreux

Por incrível que lhes possa parecer, em Montreux não avistámos nenhum estabelecimento para saciar o vício musical. Desta forma, e depois de confirmarmos a sua existência na world wide web, lá encontrámos a Fnac de Lausanne. A visita foi a correr, mas houve tempo para descobrir o novíssimo disco de Joseph Arthur.
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«Let’s Just Be» é o sexto álbum da carreira de Joseph Arthur, o segundo registo a ver a luz do dia através da Lonely Astronaut Records (editora de Joseph Arthur) e a primeira gravação onde o singer-songwritter norte-americano se faz acompanhar por uma banda de suporte, os The Lonely Astronauts. O resultado é o pior disco de Joseph Arthur. Em parte percebemos que depois de arquitectar o seu espaço e construir o seu próprio estúdio e editora, Joseph Arthur se sente «free as a bird». De momento, nada e ninguém o impedem de gravar e lançar o quer que seja. As limitações editoriais deixaram de condicionar o trabalho de Joseph Arthur e isso está muito bem evidenciado neste «Let’s Just Be». Às primeiras audições constatamos a presença do espírito free de um Devendra Banhart, mas musicalmente as dezasseis composições aqui expostas não apresentam qualquer rumo. Os inarráveis «Cockteeze» e «Lonely Astronaut» (este último com mais de vinte minutos) mostram uma banda a ensaiar acordes, melodias, vocalizações, percussões, etc. É claro que Joseph Arthur já demonstrou todo o seu talento em álbuns como «Come To Where I’m From» e «Our Shadows Will Remain». Porém, «Let’s Just Be» parece-se mais com uma compilação de demos, lados-b e outras gravações perdidas do que um álbum de originais que resulte numa digressão. Desta forma, «Let’s Just Be» poderá contentar os mais acérrimos seguidores de Joseph Arthur. Todavia, para os restantes conhecedores da obra de Joseph Arthur os temas «Take Me Home», «Chicago», «Diamond Ring», «Lack A Vision» e «I Will Carry» não o deixam ficar mal de todo na fotografia. No entanto, é muito pouco para o tanto que já nos deu e nos prometeu.

Como recordação dos bons tempos de Joseph Arthur deixo «History», uma das grandes canções de «Come To Where I’m From», álbum de 2000 que incluía «In The Sun», o maior sucesso de Joseph Arthur até à data.
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quinta-feira, 1 de novembro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias X

Há cerca de 2 meses e meio, durante a última semana de férias, decidimos procurar os verdadeiros souvenirs helvéticos, para presentear familiares e amigos mais próximos. A primeira sugestão foi o estabelecimento comercial Manor (o El Corte Inglês suíço). Escusado será dizer que perdemos uns valentes minutos na secção cultural, onde para além do Compact Disc os packs DVD das temporadas 1 & 2 de «Weeds» (série que começa a fazer história em todo o lado) também fizeram mossa. Relativamente à música, além da gracinha SuperBus (já agora amigo F., foi mesmo só uma brincadeira) o aliciante preço de «Amputechture» dos The Mars Volta e a recomendação local de Stephan Eicher completaram o rol dos recuerdos (daquele dia).
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Os The Mars Volta são um caso misterioso! Saídos do saudoso mundo At The Drive-In, cedo Omar A Rodriguez-Lopez e Cedric Bixler Zavala ocuparam uma posição impar no panorama stoner indie free rock norte-americano. A urgência sonora e estética registada nos vinte minutos dos três temas que compunham o EP de estreia «Tremulant» (de 2002) davam vivas ao novo rock progressivo. Seguiu-se «De-Loused In The Comatorium» (de 2003), álbum conceptual produzido por Rick Rubin que relata, na primeira pessoa, o período em estado de coma de um toxicodependente e amigo da banda. O disco não tardou a ser aclamado por público e crítica. Os concertos eram um estrondo (destaque para a passagem do colectivo pelo Paradise Garage, a 4 de Dezembro de 2003). O culto estava garantido. Em 2005, «Frances The Mute» (álbum com mais de uma hora de música e com apenas 5 grandes temas) é editado e os devaneios de Omar A Rodriguez e Cedric Bixler voltam a captar a atenção de todos. Por vezes, os delírios de Omar e Cedric parecem perdidos em si mesmos, quebrando o frágil fio condutor da música dos The Mars Volta e transmitindo alguns sinais de desgaste e desorientação. Todavia, cada jam session registada em disco acaba por revelar uma banda exímia no que faz: música sem qualquer tipo de regras. O rock mistura-se com a salsa. A melancolia é assolada pelo psicadelismo citadino. A pop vê-se prisioneira do negrume apocalíptico. O inferno é mais uma vez convocado e colocado à disposição do stoner rock. Tudo se mistura, tudo se transforma ao som destes The Mars Volta. É o que acontece também em «Amputechture» (álbum editado em 2006). O deserto, o apocalipse e o inferno continuam a ser referenciais. A alucinação da guitarra de Omar Rodriguez, apesar de desalinhada, torna-se aqui mais familiar. A voz ora sofrível, ora aguerrida ou estridente de Cedric Bixler também entusiasma. «Amputechture» é capaz de não ter nenhum tema comparável aos «populares» «Televators» de «De-Loused In The Comatorium» e «The Widow» de «Frances The Mute», mas os The Mars Volta, apesar da sua anarquia sonora, revelam uma consistência e proximidade que pareciam impossíveis de alcançar.
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Chegamos a Stephan Eicher, o verdadeiro e único representante da música helvética que acabou na mala suplementar do nosso regresso a Portugal. Eicher, nascido em Münchenbuchsee (localidade situada no cantão de Bern e muito perto da sua capital), compõe e edita singles desde 1978, ano em que se estreou com o hit-single, em terras germânicas, «Eisbär». A sua formação musical passou pela academia de artes de Zürich. Quando chegou a altura de compor Stephan Eicher não optou por nenhuma língua em especial, razão pela qual é normal ouvirmos temas em francês, suíço-alemão, inglês ou mesmo italiano. No entanto, e como não poderia deixar de ser, as influências exteriores delinearam-lhe um caminho e aqui Jacques Dutronc, Georges Brassens e o inevitável Serge Gainsbourg foram figuras de proa numa primeira fase da sua carreira. Paralelamente, nomes como Johnny Cash, Bob Dylan e Bruce Springsteen também eram invocados. O meu primeiro reconhecimento do terreno Eicher foi efectuado através do seu «Best Of» de 2001. O alinhamento de «Hotel*s: Stephan Eicher’s Favourites» resultou da votação online dos seus fãs. Musicalmente «Hotel*s» começa por respirar a pop de 80: «La Chanson Bleue», é batida New Order para logo depois se dispersar em ambientes Jean Michel Jarre e «Combien De Temps» (um dos maiores sucessos de Eicher), é a escola de uns Tears For Fears e/ou Fine Young Canibals. «Two People In A Room» poderá sugerir uma versão suíça de um Rod Stewart, mas evolução de Eicher revelou-se bem mais proveitosa que o escocês. Em «Guggisberglied» ouvimos Tori Amos a ensaiar ao som das variadíssimas vertentes de Matt Howden (Raindogs). «DéJeuner En Paix» (mais um dos grandes sucessos de Eicher) é pop europeia embebida no rock norte-americano dos finais de 80. «Hemmige», com uma introdução em tudo parecida a «I Will Survive», é uma surpreendente valsa suíça-alemã. «Tu Ne Me Dois Rien» recupera «Nebraska» de Bruce Springsteen e «Des Hauts, Des Bas» revela ensinamentos góticos de inícios dos anos 80. «Oh Ironie» (outro dos grandes sucessos de Eicher) anuncia melodias e orquestrações clássicas, mas o resultado é uma excelente peça para passar em qualquer discoteca vintage. Boa introdução à cultura pop suíça.
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A escolha para o habitual destaque final recaiu sobre os The Mars Volta. O vídeo mostra a versão live de «Meccamputechture», de «Amputechture». Em pouco mais de seis minutos comprovamos a força e a dedicação empregues pelos The Mars Volta nas suas actuações ao vivo e ouvimos um dos grandes temas do último álbum de originais da banda norte-americana.