domingo, 11 de janeiro de 2009

2008 | Viagens à tasca em período de férias VII

Depois do formato EP, disco mais reduzido que continua no topo das minhas preferências coleccionistas, sigo para as edições especiais e limitadas. Mais uma vez as ruas de Londres mostraram-se especialíssimas nesta categoria. As versões, supostamente, melhoradas e de tiragem limitada proliferam em todos os escaparates londrinos que se prezem. Isto, apesar de na maioria dos casos o material extra não ser digno do dinheiro adicional que é solicitado. Todavia, o que é facto é que quando descubro uma edição especial de um disco que já figura na estante lá de casa fico desconsolado. Foi o que aconteceu com o álbum de estreia dos britânicos Foals (obrigado F por, mais uma vez, teres ficado com a versão standard).
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Picadilly Circus
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«Antidotes» foi, para muitos, a resposta britânica à afro-pop dos norte-americanos Vampire Weekend. É um álbum simpático, sim senhor, e com singles muito fortes, como são exemplos «Cassius», «Ballons», «Red Socks Pugie» e «Olympic Airways». Porém, apesar do resultado não ser melhor que «Vampire Weekend» (o disco), o debut álbum deste quinteto de Oxford é mais que a característica afro-pop dos nova-iorquinos. «Antidotes» é efervescência dance-punk com origem num rock clássico fortemente influenciado pelo techno e por uma faceta rock mais minimalista e paralelamente mais experimental (ou se preferir, math rock). Reverberação que deu muito que falar aquando da sua edição, mas que rapidamente perdeu fulgor nos meandros da pop de 2008. Como o meu entusiasmo com o disco continuava a ser o mesmo, resolvi adquirir a edição dupla de «Antidotes». Neste caso, os extras revelaram-se autênticas cerejas em cima do bolo que é «Antidotes». Assim, além do elegante e global afrobeat a la Talking Heads em «The French Opener», a empolgante ska-pop-jazz-punk-e-mais-qualquer-coisinha em «Cassius» e «Ballons» ou as deliciosas melodias indie-rock em «Red Socks Pugie» e indie-pop em «Big Big Love (Fig. 1)», encontramos um segundo disco com os primeiros dois singles que notabilizaram a banda, mas que acabaram fora do alinhamento do álbum («Hummer» e «Mathletics»), os seus respectivos lados-bAstronauts ‘N’ All» e «Big Big Love (Fig. 1)» e os cinco temas ao vivo, gravados em Fevereiro de 2007 no Liars Club de Nottingham, que compõem o EP «Foals: Live» (2007). Verdadeiros extras que enriquecem ainda mais «Antidotes» e fazem desta edição um autêntico regalo londrino, com a marca de Oxford Street.
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A dança continua na Oxford Street, mas agora ao som do duo electrónico The Knife. Já há algum tempo que andava a namorar «Silent Shout», o quarto álbum de originais dos suecos que em 2006 foi eleito álbum do ano pela publicação online Pitchfork. Razão mais que suficiente para dar atenção ao disco e à banda. No entanto, foi a edição limitada e deluxe de «Silent Shout» que acabou por aumentar os meus gastos londrinos. A presente reedição do álbum, de 2007, veio juntar num mesmo pack o marcante trabalho de 2006 e a experiência audiovisual que saiu um ano depois em CD+DVD: «Silent Shout: An Audio Visual Experience». Ora bem, «Silent Shout» é de facto um disco excepcional. Electrónicas old-school com personalidade. Retro-kitsch pop sombria e precisa que não se perde com adereços (ouça-se o extraordinário single «Marble House»). Música fria e mecânica capaz de nos assombrar pela forma, pela ousadia e pela sua singularidade. Particularidades que nos são apresentadas, também, ao vivo: ora em CD, ora em DVD. «Silent Shout: An Audio Visual Experience» regista uma actuação do duo em 2006 na cidade de Estocolmo e revela-se, também, numa experiência electro/techno obrigatória. Se no disco ao vivo escutamos os ecos da reconhecida originalidade dos The Knife, capaz de misturar ambientes Kraftwerk e Jean Michel Jarre com ritmos Aphex Twin e The Orb, no DVD adicionam-se imagens, um extraordinário jogo de luzes e alguma teatralidade que pisca o olho à robótica dos Daft Punk e a agitações synth-pop dos Devo. Depois de visionado o espectáculo áudio e visual dos The Knife, encontramos ainda onze vídeos e um pequeno documentário sobre o duo. Dados que fazem desta edição um verdadeiro disco de luxo.
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Numa das muitas caminhadas londrinas desemboquei na afamada e multicultural Brick Lane Street. Num dia em que a chuva teimava em desempenhar o papel principal, decidi dar um salto à Rough Trade de East London. Vá-se lá saber porquê, tive a sorte de chegar à hora do showcase dos norte-americanos HEALTH (banda que entrou na batalha «Crimewave» com os Crystal Castles e que em 2007 lançou o seu homónimo e estrondoso álbum de estreia). Apesar da pomposa actuação, que poderá ser visionada aqui, o que me agarrou mais £ 15 foram as edições especiais e limitadas dos dois últimos álbuns dos, também norte-americanos, The Hold Steady. Rapaziada animada e muito determinada. Banda formada em 2003 por Craig Finn e Tad Kubles (colegas de palco nos Lifter Puller) e pensada para dar continuidade à caminhada dos canadianos The Band. Ora bem, apesar de em Portugal não passarem de perfeitos desconhecidos, os The Hold Steady são, porventura, a banda rock norte-americana mais conceituada internacionalmente. Desde o álbum de estreia «Almost Killed Me» (2004) que o seu eufórico e musculado rock tem fomentado algum entusiasmo junto dos media e do público mais atento. Isto não só por praticarem um virtuoso rock clássico, que colhe as suas principais influências em nomes como os The Who, Lou Reed e em Bruce Springsteen, mas também porque Craig Finn é um dos grandes letristas norte-americanos (ouçam-se, por exemplo, os soberbos «Stuck Between Stations», «Chillout Tent», e «First Night»).
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Finn demonstra inteligência e extrema sagacidade na escrita de temas em que a temática cai muitas vezes no rotineiro cliché rock «sex, drugs and rock n’ roll». Excessos que encontramos, por exemplo, em «Chips Ahoy!», «Hot Soft Light» e «Party Pit» e que acabaram por ser o combustível perfeito para o motor The Hold Steady em «Boys And Girls In America» (álbum de 2007 que acabou reeditado numa edição especial e limitada que inclui um segundo disco com oito temas ao vivo). Excelente aquisição que acabou complementada com «Stay Positive» (2008), o seu não menos espectacular sucessor que aqui apresenta três temas extra. As reacções ao álbum foram muito boas e a euforia continuou. «Stay Positive» é mais um excelente álbum que acabou descrito por Craig Finn como o resultado de um deleitoso envelhecimento que decorre da possibilidade de aos trinta e sete anos conhecer os quatro cantos do mundo por tocar numa banda rock. Brindam à vida, aos excessos e ao génio de Joe Strummer («Constructive Summer»). Recusam passar por uma qualquer «midlife crisis» e à porta dos quarenta anos não têm vergonha em mostrar as suas rugas e rock n’ rollar como se tivessem dezoito.
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Continuamos com o rock norte-americano. Os Okkervil River são uma descoberta relativamente recente. O indie folk rock de «The Stage Names» e as cuidadas composições de Will Sheff foram uma das minhas grandes surpresas de 2007 e «Our Life Is Not A Movie Or Maybe», «Plus Ones» e «John Allyn Smith Sails» acabaram por encantar o meu segundo semestre de 2007. Como a sequela de «The Stage Names» tardava em aparecer no mercado, decidi agarrar a «definitive edition» do conceptual «Black Sheep Boy» (2005), trabalho que notabilizou a banda de Austin, Texas. Segundo Will Sheff, «Black Sheep Boy», o álbum, é inspirado na canção, com o mesmo título, do singer-songwiter norte-americano Tim Hardin. Tema esse que foi recuperado pelos Okkervil River para dar início à sua narrativa e que acabou por percorrer todas as entrelinhas da metáfora «Black Sheep Boy». As canções são melódicas e concisas. À aparente agressividade e/ou loucura demonstradas em «For Real», «Black» e «The Latest Toughs», contrastam com alguns dos momentos mais calmos, harmoniosos e, paradoxalmente, mais negros da carreira da banda (exemplos de «A Stone», «In A Radio Song», «A Glow» ou «A King And A Queen»). Porém, é o longo e deleitoso «So Come Back, I Am Waiting» que mais brilha nesta negra e moderna obra-prima dos Okkervil River. Disco que acabou por ser reeditado, em formato duplo, e que veio acrescentar ao álbum original os sete temas que compõem o EP «Black Sheep Boy Appendix», o etéreo «The Next Four Months» (lado-b de «For Real») e os vídeos de «For Real» e «No Key, No Plan». Brilhante é a palavra que mais se coaduna com esta «definitive edition» de «Black Sheep Boy» dos Okkervil River. Um álbum que tanta falta me fez nos últimos anos...
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Para terminar deixo aqui o extraordinário vídeo de «For Real», dos Okkervil River.
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