sexta-feira, 20 de março de 2009

2008 | Viagens à tasca em período de férias IX

Continuo nas estantes dos saldos londrinos para destacar aqui um dos mais marcantes inícios de carreira da última década, o do singer-songwriter Devendra Banhart. Nascido em Houston, Texas, e criado na Venezuela, Devendra Banhart é um dos principais responsáveis (senão o principal responsável) pelo aparecimento do movimento «New Weird America», ou, se preferir, «freak psych acid e-mais-qualquer-coisinha indie folk». Usualmente comparado com artistas como Nick Drake, Syd Barrett, Bob Dylan, Tim Buckley, Daniel Johnston ou mesmo Marc Bolan e Caetano Veloso, a musicalidade de Banhart assenta em arranjos simples e melodias certeiras que nos transportam para um lirismo surrealista e naturalista. Entoações que chegaram ao e-mail de Michael Gira, dos Swans e Angel Of Light, e daí à edição de «Oh Me Oh My…» (2002) foi um pequeno passo. A surpreendente e despretensiosa estreia de Banhart pela Young God Records revela um novelista capaz de melodicamente esculpir as suas histórias numa pequena caixa de fósforos. Suavidade que se poderá comprovar em clássicos como «A Gentle Soul», «The Thumbs…», «Happy Happy Oh», «Animals…», «Michigan State», «Pumpkin Seeds» ou «Soon Is Good». Contudo, a bizarria também está presente e temas como «Lend Me Your Teeth» e «The Red Lagoon» revelam momentos mais heterodoxos. Elementos que engrandecem as canções de Devendra Banhart e que se mostraram novamente no sucessor e, também, admirável EP «The Black Babies» (2003). Um disco mais conciso e luminoso, no qual o singer-songwriter demonstra todo o seu talento à guitarra e arte na hora de cantar (impressionante a forma como o timbre de voz de Banhart se coloca entre a harmonia de um Tim Buckley e a esquizofrenia de um Marc Bolan). Devendra Banhart volta, assim, a cantar e a encantar, colocando o seu nome na história da música norte-americana do século XXI.

Para terminar deixo o vídeo da emocionante interpretação de Devendra Banhart no programa Jools Holland com o tema «A Sight To Behold» («Rejoicing In The Hands», de 2004).
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