domingo, 30 de maio de 2010

Dois concertos, duas noites

Os dias não têm sido fáceis e a música continua a ser o meu escape da azáfama do dia-a-dia. Dessa forma e apesar de se tratar de uma semana ainda mais complicada que o habitual, foi com grande entusiasmo que assisti às estreias dos The xx e Grizzly Bear em palcos nacionais. Dois concertos em outras tantas noites, para mais tarde recordar.

Ora bem, «xx» e «Veckatimest», os últimos trabalhos dos The xx e Grizzly Bear, respectivamente, foram, na minha opinião, dois dos três melhores álbuns editados durante o ano de 2009. Discos que continuam a fazer a diferença neste primeiro semestre de 2010 e que prometem marcar a minha entrada nos trinta. Isto para dizer que as expectativas eram bastante altas e o sucesso dos concertos da passada semana já estava meio garantido. Intuição perigosa, eu sei. Contudo, tanto os The xx como os Grizzly Bear comprovaram-no em palco.
.

Existia, ainda assim, um ligeiro receio de que o concerto dos britânicos The xx caísse na monotonia. Nada que estivesse relacionado com a qualidade da música do trio londrino, mas sentia que o minimalismo que tanto êxito alcançou em disco dificilmente alcançaria o mesmo sucesso em palco. Isso comprovou-se, é certo, mas a banda soube reinventar-se, apresentando alguns momentos em registo jam session (relembro, por exemplo, a renovada roupagem de «Basic Space»). No entanto, sinto, igualmente, que a ausência de Baria Qureshi se fez sentir. A música dos The xx está diferente e a falta da segunda guitarra é evidente. Todavia, a prestação da banda não ficou manchada e o entusiasmo generalizado do público presente foi evidente. Aliás, a ansiedade de ver os The xx em palco sentia-se no início do espectáculo e nem a «verde» prestação dos novatos Long Way To Alaska arrefeceu as hostilidades. E assim, só quando se ouviram os primeiros acordes de «Intro» e se vislumbraram as sombras de Romy Madley-Croft, Oliver Sim e Jamie Smith projectadas no enorme pano colocado à frente do palco da Aula Magna é que o ambiente aqueceu verdadeiramente. A montra de possíveis singles de sucesso estava aberta e os The xx ofereceram um excelente concerto. Pecaram na hora de comunicar com o público, é certo, mas encantaram com o melhor que sabem fazer: canções simples e eficazes. Pena não se terem lembrado de apresentar «Teardrops» (original de Womack & Womack).

A noite seguinte ficou, igualmente, marcada pela actuação e pela música da banda que se apresentou em palco. Grizzly Bear é, para mim, sinónimo de melodias inteligentes e música desafiante. Canções pop que ambicionam o mundo, tentando palmilhar campos e géneros musicais tão dispares como a sedutora folk de um Elliott Smith e/ou Nick Drake, o romantismo «indiegente» de uns Mercury Rev, o irresistível melancolismo de uns Sparklehorse, ou o experimentalismo de um Brian Eno. Por isso há muito que esperava por este concerto dos norte-americanos. Ver uma das mais importantes bandas da actualidade em acção e ouvir algumas das canções mais inspiradas dos últimos tempos. O quarteto de Brooklyn esteve à altura dos acontecimentos e mostrou-se uma banda de excepção, também, em formato «live». Momentos como «Southern Point», «Cheerleader», «Knife», «Two Weeks», «Colorado», «Ready, Able», «While You Wait For The Others» e «All We Wask» (já no encore, em formato unplugged e a contar com a preciosa ajuda do público na percussão) permanecerão na minha memória durante os próximos tempos. Não só devido às músicas como também à forma como os Grizzly Bear destilaram suor e, principalmente, talento. A banda comunicou bastante com o público, mostrando um apurado sentido de humor, e confessou-se extremamente contente por finalmente estar em Lisboa. Algo me diz que o público também saiu do Coliseu bastante satisfeito.

Curiosamente tanto os Grizzly Bear como os The xx já têm novos concertos marcados para Portugal, desta feita inseridos em festivais de verão. No seguimento dos concertos da passada semana, a vontade de voltar a ver ambas as bandas é enorme...

Sem comentários: