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É certo que o factor
España pode ainda estar por digerir, mas como o insucesso luso no mundial de futebol 2010 esteve mais relacionado com asnice alheia, regresso às
calles madrileñas para fechar a minha recente passagem por Madrid. Visita que, além dos
recuerdos já aqui explorados, me ofereceu alguns álbuns que teimam em não chegar ao nosso mercado discográfico e mais uma simpática proposta de
nuestros hermanos. Através de uma rápida pesquisa na Internet descubro que
Christina Rosenvinge nasceu em Madrid, mas a sua ascendência não é espanhola. Filha de Pai Dinamarquês e Mãe Inglesa, Christina é já uma veterana da música espanhola. Integrou as bandas Alex y Christina, no final dos anos 80, e Christina y Los Subterráneos, no início dos anos 90, mas foi em 1997 que Christina Rosenvinge editou o primeiro álbum em nome próprio. «
Tu Labio Superior» (2008) captou a minha atenção pela sua sedutora capa e alguns comentário surpreendentes incluídos num autocolante promocional ao disco. Como se não bastasse, a FNAC disponibilizava uma edição especial (2010) que incluía um segundo disco composto pelo EP «
Tu Labio Inferior», versões acústicas e uma
cover do sucesso de
Sufjan Stevens «
Chicago». Apostei, assim, em «
Tu Labio Superior» e não me arrependo. Como referi anteriormente o disco é bastante simpático e lá pelo meio encontramos canções que podiam muito bem fazer parte integrante da discografia de uma
Keren Ann («
La Distancia Adecuada»), ou
Wilco («
Las Horas»),
Sonic Youth («
Tres Minutos»),
Benjamin Biolay («
Eclipse»),
Cat Power («
Animales Vertebrados») e
Carla Bruni («
Nadie Como Tú»). Boas canções com melodias
pop e alma
indie que não surpreendem por aí além, mas satisfizeram a vontade de conhecer alguma da nova produção musical espanhola.
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Agora um dos discos que já há algum tempo constava na lista de desejos a concretizar. A edição especialíssima de «
Two Suns», o segundo trabalho do projecto
Bat For Lashes, está repleta de extras. Além do álbum original, o qual, apesar de tudo, não atinge o nível do seu antecessor «
Fur And Gold», encontramos oito faixas bónus e um DVD com o documentário «
Two + Two». Mas falemos de «
Two Suns». Disco que prometeu muito com os
singles «
Daniel», «
Pearl’s Dream» e «
Sleep Alone», mas que depois de bem mastigado deixa um pequeno buraco no estômago. Contudo, é algo que me intriga, confesso. Natasha Khan mantém a afeição pelas técnicas de composição
Tori Amos («
Moon And Moon»),
PJ Harvey («
Travelling Woman»),
Björk («
Glass»),
Kate Bush («
Pearl’s Dream») e Fleetwood Mac («
Sleep Alone»), aventurando-se, agora, em terrenos mais dançáveis, sombrios e próprios de uma
Heather Duby («
Two Suns») e de uns
Blonde Redhead («
Glass»). Dados que engrandecem qualquer trabalho. Além do mais, o álbum vive das electrónicas lúgubres que fizeram história nos anos 80. No entanto, há momentos que caem na monotonia e cortam o entusiasmo inicial (ouçam-se, por exemplo, «
Peace Of Mind» e «
Good Love»). Nada que me faça largar «
Two Suns», pois «
Daniel» e «
Glass» não o permitirão. Ainda para mais, e regressando aos extras desta nova edição, além de uma fascinante
remix de «
Sleep Alone», encontramos algumas versões alternativas de «
Daniel» e «
Good Love» e três excelentes
covers («
A Forest», dos
The Cure, «
Use Somebody», dos
Kings Of Leon, e «
Lonely», de
Tom Waits).
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Atravessamos o Atlântico para percorrer algumas das ruas de Nova Iorque. Primeiro ao som dos já veteranos
Nada Surf. Alguém se lembra deles? Confesso que nunca me interessei pela música da banda. Pulsei ao som de «
Popular», em 1996, e pouco mais.
Rock alternativo de segunda que não me convenceu, mas que agora me obrigou a apostar em «
If I Had A Hi-Fi». Porquê? Porque se trata de um trabalho feito de
covers. Já, por várias vezes, aqui mostrei o meu interesse em
cover versions. Interesse esse que chega ao ponto de provocar impulsos como este: adquirir um álbum de uma banda que nunca me disse grande coisa. No entanto, o disco é bem simpático. Não há nenhum tema que me surpreenda, é certo, mas o todo é consistente e muito recomendável. «
If I Had A Hi-Fi» oferece-nos versões bem conseguidas de «
Electocution» (
Bill Fox), «
Enjoy The Silence» (
Depeche Mode), «
Love And Anger» (
Kate Bush), «
Agony Of Lafitte» (
Spoon), «
Bye Bye Beauté» (
Coralie Clément &
Benjamin Biolay), «
Love Goes On!» (
The Go-Betweens), «
Janine» (
Arthur Russell) e «
Question» (The Moody Blues). E depois ainda somos confrontados com uma excepcional arte gráfica que acompanha a edição de «
If I Had A Hi-Fi».
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Terminamos com «
Beast Rest Forth Mouth», o segundo álbum dos
Bear In Heaven. Mais um produto com o selo de garantia de
Brooklyn que promete entusiasmar qualquer melómano mais atento. Ora bem, a particular capa do disco ficou gravada na minha memória quando fui confrontado com um texto entusiasmado publicado no sítio electrónico da
Pitchfork. Eric Harvey alertava que a música de «
Beast Rest Forth Mouth» era mais que o nosso
iPod, música com a qual nos iríamos querer envolver. De facto, «
Beast Rest Forth Mouth» foi amor à primeira audição. Bastou escutar os primeiros cinquenta e nove segundos de «
Beast In Peace», «
Wholehearted Mess» e, essencialmente, «
You Do You» para meter o disco debaixo do braço. Psicadelismo
pop em laboração
shoegaze.
Prog-rock nascido do sonho
pop «
The Soft Bulletin», dos norte-americanos
The Flaming Lips, e cantado por um Jake Shears em versão menos
camp. Um disco como há muito não ouvia. Um trabalho desafiante e para ouvir com auscultadores que tanto pode fascinar os adeptos da música mais alternativa, como os seguidores de sons mais electrónicos. «
Beast In Peace», «
You Do You», «
Lovesick Teenagers», «
Ultimate Satisfaction», «
Drug A Wheel» e «
Casual Goodbye» são algumas das melhores composições editadas durante o ano de 2009 e que, no meu caso particular, ficarão para sempre associadas ao ano de 2010 e à cidade de Madrid.
.Para fechar esta última passagem pela capital espanhola escolhi «
Lovesick Teenagers», o primeiro
single de «
Beast Rest Forth Mouth», dos Bear In Heaven.
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