domingo, 20 de julho de 2008

Optimus Alive!08

O passeio marítimo de Algés acolheu, entre os dias 10 e 12 de Julho, a segunda edição do Optimus Alive! As bandas em cartaz faziam do evento lisboeta o mais desejado da temporada festivaleira de 2008. Em três noites assistiram-se a algumas estreias em solo nacional e a alguns regressos há muito aguardados. Porém, houve a necessidade de fazer opções: logo no primeiro dia, além de termos de escolher entre os concertos de Beck e Duran Duran, que actuaram no décimo quarto Super Bock Super Rock que decorreu no Parque Tejo, e actuações de bandas como os Vampire Weekwend, MGMT, The National e Rage Against The Machine que passaram por Algés, foi necessário escolher entre os Spiritualized e os Vampire Weekend, os The National e os MGMT, os The Hives / Rage Against The Machine e os Hercules And Love Affair. Foi difícil, confesso, mas a vida é feita de escolhas e aqui ficam as minhas:
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O meu Optimus Alive!08 começou às 18h50m do dia 10 na tenda Metro On Stage, o palco secundário do festival, com o afro-indie-rock-pop&roll-e-mais-qualquer-coisa dos nova-iorquinos Vampire Weekend. Temas como «Cape Cod Kwassa Kwassa», «Walcott», «M79», «Oxford Comma», «One (Blake’s Got A New Face)», «Mansard Roof» e o inevitável «A-Punk» fizeram as delícias dos presentes. Numa altura em que o sol ainda se fazia sentir, as lonas de plástico que vestiam o Metro On Stage aqueceram ainda mais as hostilidades, activando a energia da prestação da banda de Ezra Koening e que o público retribuiu. Quem assistiu ao concerto teve muitas dificuldades em manter-se quieto. Ouviu-se um tema novo, apinhado de «uuuhhhhssss» e «yeahs», e dançou-se/saltou-se muito. No fim, só tive pena de não ouvir a extraordinária versão que os nova-iorquinos fazem ao clássico «Exit Music (For A Film)», dos Radiohead.
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Refrescado o espírito, com o habitual sumo de cevada, seguiu-se a escolha que mais me custou em todo o festival: MGMT ou The National? Dado ter assistido à singular apresentação dos The National na Aula Magna, a 11 de Maio, permaneci no encalorado Metro On Stage para ouvir os temas que compõem «Oracular Spectacular». No entanto, depois do fulgor demonstrado pelos Vampire Weekend, posso afirmar que os compatriotas MGMT não souberam manter o nível e a actuação foi tudo menos espectacular. Após um conveniente atraso de vinte minutos (relembro que a banda brasileira Cansei de Ser Sexy havia entretanto cancelado a sua actuação), Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden não se mostraram à altura dos acontecimentos nem do palco secundário que podia muito bem ser o cenário principal em qualquer canto do mundo. A equipa que auxiliou os norte-americanos também não ajudou em nada e os problemas técnicos foram uma constante. Andrew VanWyngarden mostrou alguma falta de profissionalismo e o concerto que supostamente deveria ser um pouco maior, devido ao cancelamento Cansei de Ser Sexy, acabou em menos de uma hora com o adoçado «Kids» transformado em exercício noisy-clumsy, com muito feedback à mistura. O público tentou sempre equilibrar as coisas, mas infelizmente este era um dia não para os MGMT.
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Um pouco desiludido e com o estômago vazio segui para o palco principal à procura de algo estimulante. Os The National haviam terminado a sua actuação (morna segundo algumas testemunhas) e os Gogol Bordello preparavam-se para incendiar o Palco Optimus. Como não conheço a carreira destes nova-iorquinos (mais uns na noite da passada quinta-feira), depois de uma meia hora explosiva do gypsy folk punk da banda de Nikolai Gogol decidi saciar outras necessidades e como a área da restauração se situava perto do Metro On Stage acabei por me render às capacidades em DJing de Peaches. Excepcional selecção de temas e artistas que resultaram numa ardente e provocadora prestação da canadiana.
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Para as 23h10m estava marcada a actuação dos The Hives, concerto que ficou marcado pela exuberância e carisma do vocalista Howlin’ Pelle Almqvist. As músicas são, só por si, uma autêntica descarga de energia. O ritmo é acelerado, os riffs incisivos e os rumos são sempre trepidantes. A presença de Pelle Almqvist amplifica cada explosão e a adrenalina triplica. Personifica o narcisismo da declaração «Your Favourite New Band» na perfeição e transforma temas simples como «Main Offender», «Walk Idiot Walk», «Tick Tick Boom» e, essencialmente, «Hate To Say I Told You So» em momentos bigger than life.
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Antes dos Rage Against The Machine subirem ao palco houve tempo para espreitar o Metro on Stage e confirmar que os Hercules And Love Affair vivem muito da presença e da voz de Antony Hegarty. Contrariamente ao esperado, o disco do colectivo não me surpreendeu por aí além e ver o projecto de Andrew Bulter órfão de Antony foi uma pequena desilusão. Retornamos assim rapidamente ao palco principal para recordar memórias e protestos doutros tempos com os Rage Against The Machine (RATM). Os californianos, inactivos desde Outubro de 2000, regressaram ao activo para uma série de concertos e após o fim dos Audioslave (super-banda que dificilmente chegaria a algum lado, pois, um pouco à semelhança da má experiência Red Hot Chili Peppers plus Dave Navarro, julgo que o funk rapcore metal dos RATM não se enquadra com o vozeirão não tão flexível de Chris Cornell). O espectáculo decorreu como esperado. Zach de la Rocha e Tom Morello não deixaram os seus créditos por mãos alheias e o público delirou ao som de hinos contestatários como «Testify», «Bulls On Parade», «Guerilla Radio», «Bombtrack», «Sleep Now In The Fire», «Killing In The Name», «Tire Me», etc. Concerto explosivo de quatro músicos que parecem ter recuperado o prazer e o espírito de outros tempos.
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O segundo dia, a meu ver o mais fraco dos três, servia para ver e ouvir uma das maiores lendas vivas da cultura folk protestante norte-americana e mundial: Mr. Bob Dylan. Os nomes que passaram pelo palco Metro On Stage não me diziam nada e dos que figuravam no palco principal somente os ausentes Nouvelle Vague, o mítico Bob Dylan e os portugueses Buraka Som Sistema me despertavam o interesse. Ora bem, os franceses Nouvelle Vague ficaram retidos no aeroporto em Paris e John Butler Trio esticou a sua actuação por mais quarenta minutos. Oh céus, pensei eu. Aproveitámos o momento para conhecer algumas das atracções do recinto Optimus Alive!08. Janta-se e jogam-se umas partidas (muitas) de matraquilhos. Pela altura do concerto de Bob Dylan estava sedento por boa música e alguma emoção. Notou-se um súbito aumento na média de idades dos presentes e Dylan munido do seu órgão entrou em cena. Ligou o piloto automático, deu o seu concerto padrão e não se esforçou muito mais. Apresentou a sua banda, tocou umas músicas (alguns êxitos e muitos temas menos conhecidos do grande público) e deixou-me completamente enfadado. Por muito que quisesse ver as actuações dos holandeses Within Temptation e dos sempre festivos Buraka Som Sistema, depois da amorfa prestação de Bob Dylan só consegui mesmo seguir para a minha caminha.
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A terceira e derradeira noite do Optimus Alive!08 iniciou-se com sons australianos. O multi-instrumentalista Xavier Rudd abriu as hostilidades e conseguiu transportar-me para uma belíssima praia australiana onde o didgeridoo marcou pontos. Interessante prestação de Xavier que aqueceu ainda mais o meu final de tarde de sábado. Seguiram-se os conterrâneos Midnight Juggernauts. Os autores de «Dystopia», um dos discos mais ouvidos durante o primeiro semestre de 2008, são descritos pela Rolling Stone como «a hipotética colaboração de David Bowie, na trilogia «Berlin», com Kraftwerk e Faust». Existe, contudo, uma vertente mais rock que me seduz neste trio de Melbourne. O concerto foi empolgante e o público contribuiu para isso. Temas como «Ending Of An Era», «Shadows», «Road To Recovery» e «Tombstone» obrigaram o público a dançar e todos perdoaram o momentâneo «apagão» que se viveu durante «Into The Galaxy». Todavia, Andrew Juggernaut e companhia regressaram ao palco para a devida reprise, fechando em beleza uma convincente primeira actuação em Portugal dos Midnight Juggernauts.
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A noite prosseguiu com o concerto camaleão de Róisín Murphy. A vocalista dos Moloko (banda que vive um período sabático desde 2006, ano em que editou o best of «Catalogue») já conta com dois álbuns a solo e apesar dos mesmos não manterem os níveis conseguidos pelos Moloko, ao vivo Róisín revela ter a lição bem estudada, mantendo a intensidade alta e dando atractivos espectáculos. As electrónicas merecem toda a atenção dos intervenientes, mas é a figura desconcertante de Róisín Murphy que mais brilha. Fulgor que arde logo aos primeiros instantes da sua actuação e entusiasma a assistência. Excitação que se intensificou às primeiras batidas do soberbo «Forever More» (única revisitação ao catálogo Moloko). A maioria dos depoimentos descreve uma empolgante actuação de Róisín Murphy e eu, depois de ver os primeiros trinta minutos, acredito que tenha sido um verdadeiro espectáculo.
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Deixo o concerto de Róisín Murphy a meio para ver Neil Young, o outro sexagenário presente no Optimus Alive!08 e, para muitos, o avô do grunge. Contrariamente ao que aconteceu na noite anterior, com a actuação de Bob Dylan, a média de idades da assistência era bem mais nova e a bela prestação de Neil Young conseguiu animar os presentes. «Rockin’ In The Free World» foi o momento da noite, como era de esperar, mas os restantes temas que passaram pelo palco e a que eu assisti não desiludiram e o canadiano Neil Young saiu de cena com uma das mais acreditadas actuações da segunda edição do Optimus Alive!.
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Por muito que Neil Young merecesse toda a minha atenção, a prestação dos Gossip no SBSR de 2007 obrigou-me a ir até ao Metro On Stage. À semelhança do que sucede com os suecos The Hives, a prestação de Beth Ditto é um extra e um factor adicional de interesse nos concertos destes norte-americanos. As músicas são despretensiosas e não pretendem salvar nada nem ninguém, mas o vozeirão e a presença de Ditto são, sem dúvida, mais valias do rock alternativo dos dias de hoje e «Standing In The Way Of Control» um dos hinos indie rock mais forte dos últimos tempos. Banda e público sabiam disso e aquando da passagem de «Standing In The Way Of Control» pelo Metro On Stage viveu-se um dos momentos mais loucos a que tive a oportunidade de presenciar neste Optimus Alive!08: Ditto decidiu partilhar as suas emoções com o público e as primeiras filas juntaram-se aos restantes dois elementos que estavam em palco para expressar algum do entusiasmo que sentiam. Comunhão perfeita que fechou mais uma surpreendente passagem dos Gossip pelo nosso país.
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Ben Harper foi o senhor que se seguiu e para abrir mais um espectáculo em Portugal escolheu duas das minhas músicas favoritas da sua já considerável carreira: «Jah Work» e «Excuse Me Mr.». Início auspicioso, pensei. Porém, os temas mais insonsos de «Lifeline» arrefeceram o ambiente e o autêntico jogo de canções e de emoções protagonizado – se num minuto Ben Harper interpretava o desencanto (esperançoso, diga-se) de «Welcome To The Cruel World» no instante seguinte proclamava e gritava toda a sua fé em «Better Way» – não trouxeram nada de novo às já inúmeras actuações deste singer-songwriter em Portugal. Recordaram-se outras experiências, como «Burn One Down», e houve tempo para vermos a colaboração com o amigo Donavon Frankenreiter no tema «Diamonds On The Inside», mas foi a surpresa «Boa Sorte/Good Luck», com o público a interpretar em uníssono os versos portugueses de Vanessa da Mata, que se voltou a sentir o entusiasmo colectivo. O concerto que durou quase duas horas terminou com o manifesto reggae de «My Own Two Hand». Foi, assim, mais uma passagem de Ben Harper por palcos nacionais que não desiludiu nem causou regozijos de maior (excepto para os aficionados).
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Para fechar a noite e o festival a organização ofereceu-nos energia e excitação pelas mãos dos MSTRKRFT. Dançou-se, pulou-se e cantou-se «como não houvesse amanhã».
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