terça-feira, 21 de outubro de 2008

Foi dEUS

A noite do passado domingo tinha tudo para ser notável. Os belgas dEUS regressavam à Aula Magna para apresentar o mais recente «Vantage Point» e o «meu» Benfica jogava, em casa, com o Penafiel para a taça de Portugal. Confesso que voltei a sentir alguma confiança no grupo de jogadores e equipa técnica que representam o actual Benfica. É evidente que a equipa está ainda num processo de construção, o número aquisições assim o obriga, mas vejo que há trabalho e de tempos a tempos dão espectáculo. Apesar da relatada confiança, não resisti e lá fui para a Aula Magna com o rádio do telemóvel sintonizado na TSF.
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Aquando da competente actuação dos portugueses Os Pontos Negros, a prestação do Benfica não convencia. Enquanto no Estádio da Luz se via Di Maria e Makukula a acertar nos postes, na Aula Magna, Filipe Sousa e Jónatas Pires demonstravam em palco que Os Pontos Negros têm boas canções e que o álbum «Magnífico Material Inútil» é mais que uma mera versão portuguesa do movimento garage rock. É certo que «Conto de Fadas de Sintra a Lisboa» – excelente tema que, graças a dEUS, vem minando as rádios portuguesas – respira a mesma energia que move os The Strokes e Franz Ferdinand. Porém, e a meu ver, isso só demonstra inteligência e revela que a banda de Queluz está atenta às «novas» forças motrizes do rock.
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A menos de um km de distância o Benfica continuava a desperdiçar oportunidades atrás de oportunidades e quando Tom Barman e companhia subiram ao palco da Aula Magna, Reyes e Suazo rendiam Urreta e Balboa. Desliguei o rádio, pois estava na presença d(os) dEUS e pensei que no palco da Luz, após as alterações efectuadas, a partida tomasse o rumo desejado...
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Quanto à actuação dos dEUS (confesso que já perdi a conta ao número de vezes que os belgas passaram por Portugal), uma vez mais a banda de Antuérpia concretizou todo o potencial revelado em disco e o culto mostrou-se vivo e de boa saúde. É um facto que já se tornou comum ouvir alguém afirmar que a prestação dos dEUS no festival X ou no palco Y foi notável. Também não deixa de ser verdade que Tom Barman costuma brincar com a situação e por várias vezes já afirmou que em Portugal é considerado uma grande «rock star». Depois da actuação do passado dia 19 de Outubro, se dúvidas houvessem, essas dissiparam-se por completo. Tom Barman é, de facto, um autêntico «one man show». Enquanto que o desempenho dos restantes membros da banda se pauta pela discrição, Tom Barman é dos que quebram o gelo logo às primeiras palavras. «Get Up!» foram as palavras de ordem para abrir uma actuação empolgante e, de certeza, marcante no ano de 2008. O público que até então se limitou a menear o corpo ao som d'Os Pontos Negros, sendo igualmente incapaz de levantar o traseiro da sua cadeira, aderiu ao chamamento e a sala (praticamente esgotada) não mais foi a mesma. Os novos temas de «Vantage Point», dos quais se evidenciaram os singles «Slow» e «The Architect» e a electrizante abertura com «When She Comes Down», encaixaram muito bem entre clássicos como os esquizóides «Suds & Soda», «Theme From The Turnpike», «Fell Of The Floor, Man» e «Morticiachair», os eléctricos «Bad Timing» e «Instant Street» (numa versão mais corrosiva) e os obrigatórios «Nothing Really Ends», «For The Roses», «Little Arithmetics» e «Serpentine». No fim ficou a satisfação de ter presenciado mais uma excelente actuação de uma das bandas mais queridas do público português.
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Quanto aos acontecimentos no estádio da Luz, os relatos finais e captados já a caminho de casa, aludiam ao grande regresso de Moreira. Todavia, o que é que isso realmente interessa? «And there's always something in the air sometimes / suds & soda mix OK with beer can I / can i break your sentiment»…

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