segunda-feira, 13 de outubro de 2008

2008 | Viagens à tasca em período de férias IV

Antes de seguir viagem para Londres decidi voltar aos principais locais do crime de Bruxelas para dissecar as secções das promoções locais. Os títulos que compõem as citadas estantes vão do descartável ao essencial, mas o preço, esse, ronda sempre os cinco / seis euros. Na penúltima visita tasqueira, as escolhas recaíram sobre o hip-hop e a folk norte-americanos.
.
Grand Place

A primeira aquisição foi o álbum conceptual do rapper Jay-Z. «American Gangster» é inspirado no filme, com o mesmo título, de Ridley Scott que documenta a história verídica de Frank Lucas (traficante de droga que, entre 1969 e 1975, dominou as ruas de Harlem, New York). Jay-Z, identificando algumas semelhanças entre a sua adolescência, passada em Brooklyn, e a história de Frank Lucas, gravou a versão em disco do que poderia ter sido a sua vida caso enveredasse pelo mundo da droga. Segundo o autor, quase todas as canções se baseiam numa cena específica do filme e em memórias de Jay-Z. Recordações pessoais e musicais. Desta forma, o álbum vive das crónicas de um gangster americano e da soul que marcou os anos 70. A mesma soul que inspirou «1972», o extraordinário álbum de Josh Rouse, surge aqui de mãos dadas com os beats e os loops que só Jay-Z consegue criar. «American Dreamin’», por exemplo, assenta num deleitoso sample de «Soon I’ll Be Loving You Again» do grande Marvin Gaye; o excelente «No Hook», recupera «Love Serenade» de Barry White; «Roc Boys (And The Winner Is…)», que conta com as vozes de Beyoncé, Cassie e Kanye West, contem um sample de «Make The Road By Walking» dos The Menahan Street Band; e «American Gangster» recorda Curtis Mayfield em «Short Eyes». A produção, entre outros nomes, ficou a cargo de Jay-Z, Antonio “LA” Reid, Diddy & The Hitmen, Just Blaze e The Neptunes. No campo das colaborações, além das supracitadas, encontramos ainda Beanie Sigel, Nas e Lil Wayne, o rapper mais quente da actualidade. Dados que fazem de «American Gangster» mais um excelente álbum na carreira de Shawn Carter.
.
A segunda e derradeira aposta, com o selo da FNAC Bruxelas, foi «Transnormal Skiperoo», o quarto álbum de originais de Jim White. Um repetente no que toca a aquisições tasqueiras em período de férias, pois em 2007 foi «Drill A Hole In That Substrate And Tell Me What You See» (2004) que por aqui passou. «Transnormal Skiperoo» (2007), termo que Jim White criou para descrever a felicidade que por vezes sente pelo facto de estar vivo, conserva o alternative country que o arrumou na mesma prateleira de uns Calexico, Handsome Family, Johnny Dowd, 16 Horsepower e/ou Woven Hand, Joe Henry e Tom Waits. Não fossem razões mais que suficientes para agarrar a minha atenção, a cada novo registo. Jim White colhe excelentes notas da imprensa especializada e aos poucos cimentou o seu lugar entre os nomes mais importantes da folk americana. «Transnormal Skiperoo» não foge à regra e temas como «Jailbird» e «Plywood Superman» podiam muito bem constar numa qualquer compilação de «best of alternative country». Jim White assegura que o álbum marcou uma clara mudança no seu estado de espírito pessoal e musical. Identifica-se, de facto, um certo contentamento que julgava difícil em Jim White (ouçam-se, por exemplo, o soberbo «Diamonds In Coal» ou o feel good «Crash Into The Sun»). O álbum é mais luminoso e mais vivo que os seus antecessores (delirante o exercício à la anos 30 «Turquoise House»). Todavia, e apesar da opinião do autor, a melancolia não deixou de ser tema de prosa e «Fruit Of The Vine», «Take Me Away» e «Counting Numbers In The Air» comprovam-no. Conclusão: Jim White continua a abrilhantar-nos com excelentes canções e álbuns obrigatórios para os amantes do alternative country.
.
Para terminar escolhi um homemade vídeo para «Jailbird», mais uma extraordinária canção de Jim White.
.

1 comentário:

Shumway disse...

Jim White merecia melhor atenção do público.
Cria grandes "canções".

Abraço