terça-feira, 15 de junho de 2010

2010 | Viagens à tasca em período de férias IV

Plaza de Cibeles (Madrid)
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Regresso às «calles madrillenas» e à música espanhola para dar conta de uma das mais recentes descobertas consumadas via Pitchfork. Os Delorean formaram-se em 2000, na cidade basca de Zarautz, e desde então já editaram quatro LPs e dois EPs. A minha história com este quarteto composto por Ekhi Lopetegi (voz e baixo), Guillermo Astrain (guitarra), Unai Lazcano (keyboards) e Igor Escudeo (bateria) começou em meados de Maio com o álbum «Subiza». A aposta no trabalho da então desconhecida banda basca foi como que uma reacção ao esplendor anunciado pela Pitchfork. Não costumo deixar-me influenciar por críticas, confesso. No entanto, o facto de se tratar de uma banda espanhola com uma sonoridade assente em pressupostos «alternative dance music», com especial enfoque nas electrónicas que fizeram a história dos clubes nocturnos de Ibiza, fez-me largar uns euros ainda em Lisboa e, há cerca de duas semanas, outros quantos em Madrid. Ainda em Lisboa, «Subiza» mostrou-me uma banda em busca da melodia perfeita e adepta de momentos electro-rave-indie-jam-party que continuam a fazer a festa dos Animal Collective. Porém, os Delorean movimentam-se em ritmos electro-tropicais (em vez de electro-tribais, dos Animal Collective) e os seus temas ficam a meio caminho entre o modus operandi Animal Collective, a prática experimental de uns Foals e El Guincho e a danceteria Cut / Copy. Temas irresistíveis como «Stay Close», «Grow», «Infinite Desert», «Warmer Places» (com cadência afro-som sistema), «Simple Grace» e, do soberbo «Ayrton Senna EP», o qual descobri em Madrid, «Seasun», «Big Dipper», «Moonson» e, principalmente, «Deli». Música estival que marcará, de certeza, o Verão que tarda em chegar. «Ayrton Senna» (2009) e «Subiza» (2010) são, assim, discos que se complementam e que muito provavelmente acabarão por ser reeditados numa única edição de luxo, ou melhor deluxe (expressão agora em voga).
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Agora um «disco da casa». As CocoRosie já são quase família e «Grey Oceans» vem, uma vez mais, confirmar o meu gosto pela aparente inocência que percorre as entrelinhas folk da sua música («Lemonade», o primeiro single, é uma verdadeira delícia). Faz, também, esquecer o menor «Coconuts, Plenty Of Junk Food», o EP que foi disponibilizado na última digressão (2009) que passou por Lisboa. «Grey Oceans» é, assim, um disco que mantém viva a identidade das CocoRosie, mas que revela uma clara intenção de ir mais além, mais ao encontro da canção. A dupla continua a utilizar a folk e a sua desafiante criatividade urbana para moldar as composições, mas agora os temas revelam-se mais ricos («Hopscotch», «The Moon Asked The Crow» e «Fairy Paradise» são bons exemplos disso mesmo). Desta forma, e apesar da habitual criancice bucólica («Gallows», «Undertaker», «Grey Oceans» e «R.I.P. Burn Face» recuperam bem esse registo), as CocoRosie mostram sinais de crescimento e amadurecimento, abrindo novos caminhos para a sua música. Exemplos? Enquanto «Smokey Taboo» nos transporta para Marraquexe, a diversidade sonora de «The Moon Asked The Crow» resulta num «je ne sais quois» Gotan Project. «Fairy Paradise» atira as irmãs Casady para a pista de dança e «Hopscotch» é um verdadeiro dois em um: ora uma paródia em estilo cabaret, ora um ritmo galopante capaz de meter inveja a Björk. Resumindo e concluindo, «Grey Oceans» não será um disco para angariar novos adeptos, mas, eventualmente, poderá recuperar algum do público que foi perdendo a esperança na música das irmãs Casady.
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Chegamos à dupla blues-rock The Black Keys e a um dos discos mais cool de 2010. Formados em 2001, por Dan Auerbach (voz e guitarra) e Patrick Carney (bateria), os The Black Keys foram imediatamente catalogados como descendentes directos dos conterrâneos The White Stripes. Na verdade, os factos eram evidentes: uma bateria perspicaz, uma voz penetrante e uma guitarra capaz de acordar para o mundo o Santo Papa Bento XVI. Pessoalmente, os The Black Keys eram, até há bem pouco tempo, mais uma entre muitas bandas «Black... something» com alguns singles interessantes. Porém, «Strange Times» (single do álbum de 2008 «Attack & Release») e, principalmente, «Tighten Up» (primeiro avanço de «Brothers», de 2010) vieram mostrar-me que afinal estava a perder um dos melhores projectos rock da actualidade. Vai daí decidi comprar não um, mas sim os dois últimos álbuns da dupla, entretanto já aqui identificados. Ambos os trabalhos são co-produzidos pelo camaleão Danger Mouse e este facto revela-se uma clara vantagem em relação ao passado garage rock minimalista que foi dominando os discos da banda. Ouçam-se, por exemplo, o falsete irresistível de «Everlasting Light», os lânguidos «Too Afraid To Love You» e «Lies», ou os sedutores «So He Won’t Break» e «Things Ain’t Like They Used To Be». Extraordinárias canções rock de uma banda de excepção que, apesar de chegaram tarde, chegam em boa hora.
O rock nunca pareceu tão cool!
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Para terminar fica um vídeo, recentemente disponibilizado pelos The Black Keys e registado em estúdio, para o soberbo «Too Afraid To Love You» (tema que surge no alinhamento de «Brothers»).

1 comentário:

Shumway disse...

Grande disco dos Black Keys.
Em permanente rotação cá em casa.

Abraço