sexta-feira, 29 de julho de 2011

2011 | Viagens à tasca em período de férias II

Resolvida a questão do formato EP, sigo viagem com algumas das propostas que, ainda em Portugal, me aguçaram o apetite para as férias. Propostas estivais que, tratando-se de novidades para mim, se revelaram a «sombra do momento, tentação a experimentar».

Sony-Center

Os neozelandeses The Naked And Famous editaram os seus dois primeiros EP ainda em 2008. No entanto, só em 2010, com o estrondoso hit single «Young Blood», é que conseguiram dar nas vistas. Nesse mesmo ano é editado na Austrália «Passive Me, Agressive You», o álbum de estreia da banda. Na Europa, o disco, que combina a pop melodiosa com condimentos post-punk de 80, só viu a luz do dia em 2011. Descendentes directos da synth-pop de uns The Killers e da irreverência Yeah Yeah Yeahs, os The Naked And Famous seguem a pop fantástica de «Oracular Spectacular» dos MGMT, as electrónicas multicolor Passion Pit e alguma incorporação Nine Inch Nails. «Passive Me, Agressive You» está repleto de boas ideias e temas bem simpáticos para a época estival. Canções frescas capazes de fazer as delícias de rockers, popers e indiers. No entanto, o debut álbum dos The Naked And Famous peca por se revelar um caldeirão de referências, sem encontrar o seu próprio caminho. «Young Blood», «Punching In A Dream», «The Sun», «No Way», «All Of This», «Frayed» ou mesmo «Eyes» e «Girls like You» são momentos a reter. Porém, a distorção de «A Wolf In A Geek’s Clothing» mostra-se inconsequente, «The Ends» é etéreo de mais e sem rumo aparente e «Spank» retrata um mau dia dos Muse. É pena, pois os The Naked And Famous mostram que, quando no seu melhor, nos podem surpreender com composições nostálgicas e, ao mesmo tempo, empolgantes. Canções libertinas que se enquadraram na perfeição com a irreverência e descontracção berlinenses, estando ainda a marcar positivamente o meu Verão de 2011.

O segundo «Gelado de Verão» é «Torches», o álbum de estreia dos norte-americanos Foster The People. Banda que viu a sua sorte mudar quando os cremosos sabores de «Pumped Up Kicks» chegaram ao éter de todo o mundo. Sucesso inesperado que está a agitar o panorama indie de 2011. Ainda recentemente, numa votação do sítio electrónico Stereogum, «Pumped Up Kicks» foi eleito o hino indie para esta época estival e, verdade seja dita, o reconhecimento é bem merecido. A canção é um impecável modelo da premissa less is more. Ritmo solarengo, conduzido por um baixo lânguido, mas perseverante, e acompanhado por um canto descontraído e extremamente festivo. Ambiente apropriado para as férias e para as longas caminhadas que dominaram a minha passagem por Berlim e Estocolmo. No entanto, há algo em «Torches» que me assusta. Isto porque o debut álbum destes Foster The People se aproxima da estreia dos, também, norte-americanos Maroon 5Call It What You Want» e «Life On The Nickel», por exemplo, encaixam no alinhamento de ambos os trabalhos). Embora «Songs For Jane» e o hit «This Love» tenham marcado o ano de 2002, passado um ano já ninguém os podia ouvir. «Torches» não terá o mesmo impacto de «Songs For Jane» e «Pumped Up Kicks» não atingirá o sucesso de «This Love», mas a esperança é que a história destas duas bandas de Los Angeles seja bem diferente uma da outra. A ver vamos. Entretanto, e enquanto o calor apertar, vou-me deliciando com «Pumped Up Kicks», «Waste», «Helena Beat», «Miss You» e «Houdini».

Outra das tentações que se concretizaram em Berlim, provavelmente a mais saborosa, foi «Kaputt», o nono trabalho dos Destroyer, projecto do canadiano Daniel Bejar. Apesar do meu desconhecimento da história e da música destes Destroyer, vi-me obrigado a rotular «Kaputt» como mais uma tentação devido às apreciações dos opinion makers do costume. Juízos que irradiavam maravilhas sobre o recente caso de Daniel Bejar com a pop delicada dos Roxy Music e a elegância melodiosa de Sade. Elementos tremendamente sedutores, quentes e apaixonantes que consolidam as palavras de Paul Valéry: «O que há de melhor numa coisa nova é aquilo que satisfaz um desejo antigo». A verdade é que «Kaputt» recupera esse requinte sonoro que marcou a pop com temperos crooner de finais de 70 e inícios de 80. Melodias com as quais Daniel Bejar musica um sonho tornado realidade. O bálsamo de uma paixão de Verão que nos acompanhará para sempre. «Kaputt» colecciona os vários episódios desse ardente Verão, apresentando-se como um primoroso álbum de memórias doces e nostálgicas. Acontecimento que recordaremos com um sorriso nos lábios, apesar do sentimento de perda… um momento único… sem retorno… kaputt.

«Black Up», álbum de estreia de Shabazz Palaces, foi também motivo de interesse suscitado pela leitura de algumas críticas bastante elogiosas. Provavelmente, o primeiro disco hip-hop a ser editado pela conceituada Sub Pop, o “álbum da capa de veludo” obrigou-me a repescar os dois únicos e brilhantes trabalhos dos mui apreciados cLOUDDEADcLOUDDEAD» de 2001 e «Ten» de 2004). Portanto, «Black Up» oferece-nos hip-hop sombrio e urbano para ouvir com headphones. Música feita de beats bizarros e samples de tudo e mais alguma coisa. Ambientes sinistros e rimas sagazes que elevam o hip-hop a um novo patamar. Um estádio onde o formato canção não existe e o refrão é coisa de betinho. Campeonato que recentemente se viu no centro de todas as atenções com a edição de «Cosmogramma», de Flying Lotus, e «A Sufi And A Killer», de Gonjasufi. Peças estranhas, mas essenciais. Representações claras de uma nova forma de criar e manifestar o hip-hop. Uma evolução que se mostra cada vez mais necessária e que representa um claro passo em frente no género.





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