sexta-feira, 5 de agosto de 2011

2011| Viagens à tasca em período de férias III


Holocaust Memorial

De regresso às férias e a Berlim. Os dias passavam e as pernas começavam a dar os primeiros sinais de cansaço, mas a mente e a minha sede de sight and sound intensificavam-se a cada nova jornada. Berlim é uma cidade fantástica e exerce no visitante uma estranha atracção.

No campo da pop, e já que falo em estranha atracção, o «Best Of The Capitol Years 1995-2007», dos The Dandy Warhols, foi outro dos discos a entrar para o álbum de recordações do Verão de 2011. Na verdade, esta compilação revisita os melhores anos da vida da banda norte-americana. Datas em que os boémios Courtney Taylor-Taylor, Peter Holmström, Zia McCabe e Brent DeBoer nos ofereceram os seus melhores registos: «…The Dandy Warhols Come Down» (1997), «Thirteen Tales From Urban Bohemia» (2000) e «Welcome To The Monkey House» (2003). Discos fortemente influenciados pelo Sex, Drugs & Rock n’ Roll e envoltos no psicadelismo cultivado pelos The Velvet Underground e The Rolling Stones (dois nomes incontornáveis na biografia da banda de Portland, tal como a capa do magnífico «Welcome To The Monkey House» o comprova). Ainda assim, os The Dandy Warhols conseguem mergulhar na brit pop e subir à superfície com verdadeiros hinos indie capazes de se tornarem na cara publicitária de uma grande marca. Canções que não os livram das críticas, sendo mesmo uma das bandas mais subavaliadas do pós-grunge. Música desvairada e afogada em excessos, brada a imprensa especializada. Mas, se assim não fosse, como poderia Courtney Taylor-Taylor escrever canções como «Every Day Should Be A Holiday», «Bohemian Like You», «The Last High» e «Not If You Were The Last Junkie On Earth»? Ou entoar, com ironia, "I never thought you were a junkie because heroin is so passé"? Quanto a «Best Of The Capitol Years 1995-2007», julgo que se trata de uma boa amostra da obra dos The Dandy Warhols. Além das passagens obrigatórias pelos trabalhos supra-identificados, encontramos também alguns temas do menor «Odditorium or Warlords of Mars» e o mediano «This Is The Tide» (o único inédito). No entanto, para quem sempre seguiu a carreira da banda norte-americana que mais parece britânica, é inevitável identificar algumas ausências, como são exemplo «Sleep», «Ride», «Mohammed», «Everyone Is Totally Insane» e as covers «Hells Bells» (AC/DC), «Call Me» (Blondie), e «Relax» (Frankie Goes To Hollywood).

Aproveitando a boleia do «Best Of», pego na compilação que reúne alguns dos momentos mais felizes da carreira dos Madrugada, banda norueguesa que desde início dos anos 00 me seduz com uma sonoridade intensa, mas extremamente requintada. Texturas que integram a sensualidade que fez escola nos trabalhos de Leonard Cohen, arranjos melancólicos e o aprumo melodioso a que nos habituou um Chris Isaak. Tudo muito bem conduzido pela intensa voz de Sivert Høyem. «The Best Of Madrugada» revê, assim, os quase 10 anos de actividade discográfica da banda de Stokmarknes. Cinco álbuns que me passaram um pouco ao lado, confesso, mas que ainda hoje são recordados por algumas das suas canções: «Vocal», «Majesty», «Strange Colour Blue», «Sail Away», «Hands Up – I Love You», «Quite Emotional», «Electric», «The Kids Are On High Street» e «Black Mambo» são obrigatórias. Portanto, já estava mesmo na altura de termos uma compilação como esta. «The Best Of Madrugada» está organizado em torno dos vários singles da banda, de temas ao vivo, versões remasterizadas e uma canção nova («All This Waiting To Be Free»). 28 gravações muito bem ordenadas e condimentadas em dois discos temáticos: se o primeiro apresenta a vertente mais agressiva e up tempo dos Madrugada, o segundo revela o quanto estes noruegueses conseguem ser doces, mantendo a mesma intensidade. Ambientes que não terão continuidade, uma vez que após o falecimento do guitarrista Robert Burås (1975-2007), Frode Jacobsen (baixo) e Sivert Høyem (voz) decidiram por um ponto final aos Madrugada.

«American VI: Ain’t No Grave» de Johnny Cash é, também ele, um disco de despedida. Gravado, essencialmente, entre a morte de June Carter Cash (1929-2003) e o desaparecimento do próprio Johnny Cash (1932-2003) – durante 4 meses –, o sexto capítulo da série American Recordings foi editado só no ano passado e, na KaDeWe, o disco já se encontrava na prateleira dos € 5,00. Negócio irrecusável e concluído na hora. Curioso o facto de me ter aventurado nestes American Recordings aquando da minha passagem pela Suíça Alemã e, agora, terminar a viagem em Berlim. Os elementos continuam a ser os mesmos, ou seja, inspiração e mestria de Johnny Cash e produções de Rick Rubin. Porém, os dez temas que compõem «American VI: Ain’t No Grave» mostram um Johnny Cash frágil e consciente de que o seu tempo está a esgotar-se («I Corinthians 15:55», composição de Johnny Cash, é um limbo constante entre a vida e a morte e «Can’t Help But Wonder Where I’m Bound» um olhar pungente do seu passado). Atenção, não encontramos aqui nada de novo. Johnny Cash reinterpreta temas de outros artistas e, como é habitual, sai-se muito bem. Por isso, «American VI: Ain’t No Grave» vale também pela sua carga histórica, uma vez que reúne algumas das derradeiras gravações de um dos nomes mais importantes da música norte-americana.

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