sábado, 10 de maio de 2008

Viagens à tasca

Depois da pop world music de Beirut e da folk sedutora de José González, os meus intentos melómanos atiraram-se de corpo e alma às mais recentes esquizofrenias dos irmãos Friedberger, dos The Fiery Furnaces, ao som matricial dos norte-americanos Battles e à recente revisitação dos islandeses Sigur Rós.
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Já aqui tive a oportunidade de salientar que os norte-americanos The Fiery Furnaces são um dos pólos de criatividade pop mais activos da música contemporânea. As criações indie psychedelic experimental pop rock de Matthew e Eleanor Friedberger não encontram barreiras. A cada novo álbum esta louca irmandade revela-se impar (para o bem e para o mal). «Widow City», quinto álbum de originais, sem contar com a compilação de singles e lados-b «EP» (2005), parece um somatório de todas as anteriores experiências discográficas (excluindo o tresmalhado «Rehearsing My Choir»). Contudo, a sonoridade parece agora mais acessível. As abruptas e características mudanças de ritmo e rumo já são menos surpreendentes (não sendo este um factor necessariamente mau). «Widow City» respira o rock dos anos 70 («Duplexes Of The Dead», «Uncle Charlie» e «Navy Nurse»), pisca o olho à pop de 60 («My Egiptian Grammar»), brinca, na óptica do utilizador, com as ferramentas copy + paste, dá de caras com o pink-death-metal dos Death From Above 1979 e com a pop desvairada dos The Go! TeamClear Signal From Cairo») e aproximam-se dos sinfónicos SparksAutomatic Husband» e «Japanese Slippers»). No entanto, alguns dos atalhos percorridos, como é bom exemplo o tema de abertura «The Philadelphia Grand Jury», revelam-se ambiciosos de mais e, por momentos, sentimo-nos completamente perdidos. Os dezasseis temas apresentados em uma hora de música também poderão transmitir algum cansaço ao ouvinte. Mas nada que manche a minha admiração por este duo norte-americano e por «Widow City», que à data nos ofereceu singles como «Ex-Guru», «Navy Nurse» e «Duplexes Of The Dead».
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Mantemos a orbita descontrolada para falar de um dos álbuns mais marcantes de 2007. Os norte-americanos Battles são compostos pelo baterista John Stanier (Helmet e Tomahawk), o guitarrista / teclista Ian Williams (Don Caballero e Storm & Stress), o guitarrista / baixista David Konopka (Lynx) e o vocalista (entre outras coisas) Tyondai Braxton. Quatro elementos que vêem o rock como uma enorme matriz, na qual o elevado número de variáveis electrónicas resulta em exercícios surpreendentes e inesperados. Cada tema apresentado parece um pequeno conto em formato de banda desenhada. «Atlas», o primeiro single de «Mirrored», é prog-rock a seguir caminhos indie. Sete minutos de pura experimentação prog-rock em que a percussão assemelha-se ao ritmo avassalador e disforme de «Beautiful People», do controverso Marilyn Manson, o riff de guitarra é compassado e eficaz e as vocalizações retiradas do imaginário tribal de Avey Tare, dos Animal Collective. «Tonto», segundo single, é um autêntico choque de civilizações: recuperam-se melodias folk, algum exotismo asiático e guitarradas funk que julgávamos possíveis só em John Frusciante (o dos anos 80/90). «Leyendecker» revela-nos a vertente mais fantasiosa dos Battles. «Rainbows», o tema mais longo e mais sónico de «Mirrored», é um verdadeiro caleidoscópio sonoro de ritmos e imagens; tal como «Tij». No entanto e paradoxalmente, ou talvez não, a música é negra e suada. Transpira rock em formato digital e vislumbra qual seria o resultado de vermos Marc Bolan e os seus T.Rex dominados pelas electrónicas do século XXI.
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Chegamos à mais recente edição dos islandeses Sigur Rós, uma das forças indie pop rock mais ouvidas e apreciadas por estas bandas. Foi em 2000, com a edição do fenomenal «Ágætis Byrjun», que os Sigur Rós fizeram história, marcando uma importante passagem da música contemporânea. Às melodias clássicas irrompem turbilhões de som em forma de riffs de guitarra. A canção é, quase sempre, um exercício em crescendo que ganha vida própria. Pressentem-se emoções fortes e o leve ou arfante respirar de cada criação. Não consigo explicar, mas sinto uma qualquer atracção pelos sons vindos do «estúdio piscina» dos Sigur Rós, razão pela qual qualquer edição do colectivo é marcada por alguma ansiedade. Há alguns meses os Sigur Rós editaram o DVD «Heima» (um dos documentários musicais mais interessantes e completos dos últimos tempos e o registo de actuações ao vivo nos locais mais improváveis da Islândia) e o que podemos classificar como um conjunto de dois EP: «Hvarf» e «Heim». Se o primeiro «Hvarf» (desaparecido) junta alguns inéditos (entre os quais o espantoso «I Gær») a duas reinterpretações do álbum de estreia, «Vón» (1997), a segunda trilha sonora, intitulada «Heim» (casa), revela versões acústicas e mais despidas de alguns dos temas mais conhecidos da banda. Não se tratando de um best of, «Hvarf / Heim» acaba por ser uma inteligente compilação de algumas memórias esquecidas e outras revisitações da primeira década de música dos Sigur Rós.

Para terminar em beleza deixo o vídeo de «Viðrar Vel Til Loftárása», uma das obras primas dos Sigur Rós.

1 comentário:

Anónimo disse...

adoro fiery furnaces, e este ultimo álbum está mesmo mt bom. acho que à conta disto vou ouvi-lo agora mesmo! :D