domingo, 29 de junho de 2008

Viagens à tasca

Nos últimos tempos tenho optado por efectuar as minhas investidas tasqueiras em estabelecimentos situados nos arredores de Lisboa. Porquê? Principalmente porque só aí a oferta me tem surpreendido: ora pelos discos que dominam o momento na «blogosfera» nacional e que desaparecem num abrir e fechar de olhos dos escaparates das principais tabernas da capital, ora pelas mais variadíssimas edições especiais, com principal enfoque para as importações nipónicas. Foram, precisamente, algumas destas últimas «encomendas» que surgiram nos meus movimentos bancários dos últimos meses.
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Começamos com «Creep – 4 Track E.P.» dos Radiohead. Tanto a banda como a canção dispensam quaisquer apresentações. «Creep» continua a ser o maior sucesso comercial dos Radiohead. Originalmente lançado em Setembro de 1992, «Creep» foi o primeiro single de «Pablo Honey», o debut da banda de Thom Yorke, e um dos maiores sucessos radiofónicos do início dos anos 90. Numa altura em que o grunge ainda dominava o panorama rock, «Creep» surgiu em cena como um autêntico «outsider». Mostrou ao mundo o «weirdo» Thom Yorke e classificou os britânicos Radiohead como mais uma banda «one hit wonder». Inesperadamente e ouvindo agora esta edição japonesa do E.P. «Creep», a história revelou-nos o primeiro caso «one hit wonder» com credibilidade. Os álbuns que se seguiram evidenciavam cinco músicos em estado de graça. O sucesso comercial ficou relegado para segundo plano e «Creep» acabou por se tornar numa das composições mais indistintas dos Radiohead. No entanto, os riffs são incisivos e a tensão é inquietante. Sentimos um leve desconforto emocional e fazemos nossas as palavras de Thom Yorke («But I’m a creep / I’m a weirdo / What the hell am I doin’ here / I don’t belong here»). Dos restantes três temas incluídos neste precioso E.P. encontramos «Yes I Am», um dos lados-b de «Pablo Honey», a interessante remistura de Phil Vinall para «Blow Out» e uma versão ao vivo de «Inside My Head» (original editado no single de «Creep»), registada na mítica sala Metro de Chicago. Nada de extraordinário na discografia dos Radiohead, mas um doce para qualquer admirador dos Radiohead.
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Seguimos em solo japonês e na companhia de Thom Yorke. 2006 foi o ano da sua estreia a solo. «The Eraser» seguiu as pisadas de «Kid A» e «Amnesiac» e as opiniões dividiram-se, tal como aquando da edição dos dois álbuns mais electrónicos dos Radiohead. O E.P. «Spitting Feathers», exclusivo para o mercado japonês, reúne os «leftovers» de «The Eraser» (lados-b dos singles «Harrowdown Hill» e «Analyse») e o vídeo de «Harrowdown Hill». Mais uma vez o disco revelar-se-á mais apetecível para os seguidores dos Radiohead e Thom Yorke. Dos cinco temas que compõem «Spitting Feathers», é a «Extended Mix» do soberbo «Harrowdown Hill» que mais brilha: as electrónicas são delicadas e sonhadoras, a cadência gerada é afectuosa e a interpretação de Thom Yorke oferece-lhe uma sedutora tensão emocional. Ouvimos ainda a noctívaga e embriagada «The Drunkk Machine», a despretensiosa e divagadora «A Rat’s Nest», o frenesim dopado de «Jetstream» e a tresloucada declaração «Iluvya» (I Luv Ya). Importante complemento a «The Eraser». Menção final para o extraordinário vídeo, realizado por Chel White, de «Harrowdown Hill».
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Falemos agora dos Kaiser Chiefs. Depois da auspiciosa estreia discográfica com «Employment» (2004), álbum que incluía os singles «Oh My God», «I Predict A Riot», «Everyday I Love You Less And Less» e «Modern Way», houve quem vislumbrasse um qualquer renascimento da britpop dos anos 90. Apesar de evidenciarem uma postura rock mais agressiva, Ricky Wilson e companhia não conseguiam disfarçar as constantes piscadelas de olhos a nomes como Blur, Elastica, The La’s, Supergrass e Pulp. Referências às quais adicionavam, habilmente, uma vertente cénica para apresentarem inebriantes exercícios pop. Cenário que se transmutou com o segundo e pouco inspirado álbum «Yours Truly, Angry Mob». Porém, e antes de «Your Truly, Angry Mob» surgiu, no mercado japonês, a compilação de lados-b «Lap Of Honour». Do single «I Predict A Riot» encontramos o frenesim pop de «Sink That Ship» e a empolgante versão live, gravada na sala Fillmore de San Francisco, do também lado-b «Take My Temperature». De «Oh My God» são repescados dois apontamentos: o divertido «Hard Times Send Me» e o slow dissimulado e em crescendo que é «Think About You (And I Like It)». Da edição maxi-single do mega-sucesso «Everyday I Love You Less And Less» surgem «Not Surprised», retirado do imaginário Morrissey + Johnny Marr, e um dos temas mais swingantes e dançáveis dos Kaiser Chiefs com «Seventeen Cups». Registe-se, ainda, a inclusão, exclusiva para este E.P., da remistura mais acelerada e mecânica do tema «Na Na Na Na Naa» (autoria do colectivo japonês Polysics). Desta forma, e com apenas sete temas retirados das sessões de «Employment», os Kaiser Chiefs superam «Yours Truly, Angry Mob», dando-nos algumas esperanças para futuros registos.
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Chegamos à derradeira proposta do presente post. Julgo que esta será a primeira passagem dos «manos» The White Stripes por este espaço. O duo de Detroit lançou em 2007 «Icky Thump», o sexto álbum de uma notável carreira discográfica. O disco acabou por ser galardoado com o Grammy de melhor álbum alternativo do ano. Porém, o que me traz aqui é a autêntica pérola que é «Walking With A Ghost», E.P. datado de Dezembro de 2005 (seis meses após «Get Behind Me Satan», provavelmente o registo menos inspirado da banda, mas igualmente bom). O tema título desta edição é um original do «twin-duo» canadiano Tegan & Sara, uma composição pop que respira o indie blues rock que faz mover os The White Stripes. Razão pela qual «Walking With A Ghost» é tão bem tratada por Jack & Meg White, que lhe dão uma imagem mais eléctrica e radiosa e um pouco mais acelerada. Como extras encontramos alguns dos lados-b dos singles de «Get Behind Me Satan», os quais passam pelas versões live, registadas a 1 de Junho de 2005 em Manaus (Brasil), de «Same Boy You’ve Always Known» e «Screwdriver» (um clássico dos The White Stripes que surge aqui anexada a «Passive Manipulation»); pela passagem da banda em Agosto de 2005 nas sessões radiofónicas «Morning Becomes Electric» da KCRW com os temas «As Ugly As I Seem» e «The Denial Twist»; e, exclusivamente para esta edição japonesa, a brilhante cover (mais uma) de «Shelter Of Your Arms», original dos The Greenhornes (banda onde militam alguns dos elementos que compõem os The Raconteurs, de Jack White). Enfim, mais uma extraordinária aposta dos norte-americanos The White Stripes.

Para terminar não deixo uma, mas sim duas propostas audiovisuais das edições agora apresentadas: o arrebatador «Harrowdown Hill» de Thom Yorke e a vibrante cover dos The White Stripes para «Walking With A Ghost».



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