segunda-feira, 2 de junho de 2008

'Eectro tribal jam' na noite de Lisboa

Depois do serão morno presenteado por Cat Power, a agenda de concertos em Lisboa marcava encontro, no Lux, com Bradford Cox e o seu projecto Atlas Sound e os Animal Collective. Numa noite em que a chuva assegurou o papel principal nas ruas de Lisboa, no Lux tanto Atlas Sound como os Animal Collective não deixaram os seus créditos em mãos alheias e à sua própria maneira mostraram como a qualidade dos seus últimos álbuns não se perde quando ensaiados em palco.
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Se Bradford Cox conseguiu transmitir na perfeição o sentimento que corre nas entrelinhas sonoras de «Let The Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel», o de estarmos no seu próprio quarto a ouvir os seus devaneios musicados (destaque especial para o etéreo «Recent Bedroom»); os três Animal Collective (faltou o guitarrista Deakin), de uma forma galopante e entusiasmante, transpuseram-nos para os quatro cantos do mundo e divulgaram algumas das suas maiores maravilhas. Assim, e enquanto Atlas Sound preferiu uma postura low profile, actuando sentado e longe dos olhares da maioria dos presentes, o que poderá ter dispersado a atenção de grande parte do público, os Animal Collective desde cedo mostraram que o final da noite seria festivo. É certo que depois dos álbuns «Feels» (2005) e «Strawberry Jam» (2007) a banda de Baltimore, sedeada em New York, vive em autêntico estado de graça. Porém, também ficou evidente que os espectáculos dos Animal Collective são raros em experimentação pop e enquanto energia electro indie pop tribal. Apresentaram, durante uma hora e meia, algumas das composições pop mais marcantes dos últimos anos, de «Leaf House» a «Fireworks», passando pelos inevitáveis «Grass» e «Peacebone». Aventuraram-se e exploraram as potencialidades de temas como «Who Could Win A Rabit?» e «Brother Sport» (o tema que vai surgindo nos alinhamentos dos vários concertos do colectivo, mas que ainda não viu edição discográfica) e tiveram tempo ainda para mostrar temas novos e «Comfy In Nautica» (um dos rebuçados mais deliciosos da colheita de 2007, extraído do admirável «Person Pitch», de Panda Bear). Houve energia a rodos e os músicos destilaram-na de um forma colorida e em todos os sentidos, mostrando que são, hoje em dia, um dos pólos mais criativos da música contemporânea.
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Aproveitando, uma vez mais, a ocasião de um concerto em palcos nacionais agarro numa das últimas aquisições tasqueiras para revelar um dos segredos mais bem guardados de 2008. «Let The Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel» é, até à data, um dos grandes álbums do ano. Bradford Cox, vocalista do grupo norte-americano Deerhunter, aproveitou a paragem da banda para se enfiar no quarto e gravar o que podemos intitular o «Person Pitch» de 2008. Seguindo a metodologia «copy + paste», Cox apresenta sons envolventes, melodias simples e ambientes caseiros, num álbum despretensioso e sonhador. Na voz, Bradford Cox, aproxima-se do timbre e das deambulações vocais de Chino Moreno, dos Deftones, mas musicalmente a jornada é etérea e devaneada, piscando o olho aos minimalismos de Björk, Spiritualized, Animal Collective e à característica caixinha de música à la Sigur Rós. Todavia, note-se que «Let The Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel» não é de fácil audição. Caso tenha apreendido «Person Pitch», o debut de Atlas Sound deverá ser bem recebido. Se o «bedroom record» de Panda Bear não lhe encheu o olho, então passe à frente que aqui não encontrará nada de estimulante.
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Para terminar em beleza deixo o vídeo de «Peacebone», um dos singles de «Strawberry Jam».

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