terça-feira, 10 de junho de 2008

Animal Goodies

Após o empolgante espectáculo oferecido pelos Animal Collective decidi divulgar alguns goodies adquiridos à saída do concerto do passado dia 28 e outros que esperavam a sua oportunidade para se mostrarem neste espaço.
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Seguindo uma metodologia cronológica dou início a esta autêntica viagem no tempo com a compilação «Spirit They’re Gone, Spirit They’ve Vanished / Danse Manatee» (aquisição tasqueira), álbum duplo que reúne as duas primeiras aventuras discográficas do clã Animal Collective. Enquanto «Spirit They’re Gone, Spirit They’ve Vanished» (2000) regista o fervilhar de ideias e emoções compartilhadas entre Avey Tare (a.k.a. David Porter) e Panda Bear (a.k.a. Noah Lennox), em «Danse Manatee» (2001) encontramos, também, as demências musicadas de Geologist (a.k.a. Brian Weitz). Porém, é a dupla que mais brilha, apresentando uma combinação da pop beatlesca com o psicadelismo pink floydiano: ouça-se, por exemplo, o soberbo «April And The Phantom». Do início sonhador e, simultaneamente, revelador da morbidez de David Lynch em «Spirit They’ve Vanished», Avey Tare e Panda Bear seguem caminhos fantasiosos e o resultado final é um autêntico conto de fadas electro acústico tribal. Os oito minutos de «Penny Dreadfuls» e «Chocolate Girl» são hipnóticos (para não dizer psicadélicos) e visionários. Pressentimos o germinar de ideias e melodias Animal Collective. A harmonia sonora é apurada, os ruídos são polidos, as vocalizações são acriançadas e habituais para o mundo Avey Tare e exercícios como «April And The Phantom», «Someday I'll Grow To Be As Tall As The Giant» e o arco-íris musicado «Alvin Row» compõem um dos discos mais criativos e arrojados dos últimos anos.
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Por sua vez «Danse Manatee» parece perdido em si mesmo. Se «Spirit They’re Gone, Spirit They’ve Vanished» é quase um álbum a solo de Avey Tare, dado Panda Bear se limitar a explorar a «perfect percussion», em «Danse Manatee» o protagonismo é compartilhado em simultâneo entre Avey Tare, Panda Bear e Geologist. Há sons animalescos, ruídos de feedback, experimentação a rodos e muita loucura à mistura, o que apesar de se colarem aos devaneios habituais dos Animal Collective, aqui vagueiam sem destino e sem qualquer orientação audível. À excepção de «Essplode», que recupera os espíritos perdidos da estreia, destaque-se a galopante percussão de «Running The Round Ball» que anos mais tarde resultou na pérola que é «Peacebone». «Danse Manatee» é, assim, um álbum de esboços e ideias que viu a luz do dia cedo demais.
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«Here Comes The Indian» (adquirido à saída do concerto do passado dia 28 de Maio) data de 2003 e é o primeiro trabalho em que encontramos os quatro Animal Collective juntos. Deaken (a.k.a. Conrad Deaken) junta-se aos restantes para equilibrar a equação «Danse Manatee». «Here Comes The Indian» contém algumas das composições mais explosivas e tresloucadas deste colectivo animal. Orgia sonora em ritual tribal, dirão alguns. Animal Collective a brincar aos índios, dirão outros. O que é certo é que a criatividade fervilha a cada novo tema apresentado e «Here Comes The Indian» é o primeiro grande caleidoscópio musicado do imaginário colectivo de Avey Tare, Panda Bear, Geologist e Deaken: a irmandade Animal Collective. Com uma atitude experimentalista q.b., os quatro exploradores do som misturam a aspereza dos Sonic Youth com ritmos e vocalizações indígenas, oferecendo-nos um disco envolvente e deveras cativante.
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Após os ovacionados «Sung Tongs» (2004) e «Feels» (2005), os Animal Collective recuperaram «Hollinndagain» (2006): disco originalmente editado em vinil e com tiragem limitada a trezentos exemplares que regista alguns dos temas que compunham os espectáculos dos Animal Collective em 2001 (altura de «Danse Manatee» em que partilhavam o palco com os Black Dice). Contrariamente a «Danse Manatee», as jam sessions aqui gravadas mostram-se mais trabalhadas e completas. Há, mais uma vez, experimentação para dar e vender. Procura-se a textura perfeita, a combinação sonora mais hipnotizante, a percussão mais diabólica, o ruído mais harmonioso, a música mais estranha e paralelamente mais sonhadora. «Hollinndagain» consegue-o a espaços, mas é o conjunto de músicas, ora perfeitas ora disformes, que marca pontos e revela que desde muito cedo esta banda norte-americana sabia o que queria e para onde ia: fazer boa música e divertir-se com isso.
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Chegamos finalmente ao EP «Water Curses», a mais recente edição discográfica dos Animal Collective e o que podemos identificar como o EP da praxe que desde «Sung Tongs», de 2003, sucede a cada álbum de originais. Depois da dreamy folk pop de «Prospect Hummer» (EP que sucedeu a «Sung Tongs»), «People» revelou alguns dos temas que não encaixaram em «Feels», de 2005. Agora é «Water Curses» que junta três temas retirados das sessões de «Strawberry Jam» e um outro gravado no estúdio de Brooklyn, o Rare Book Room. «Water Curses», a canção, é mais um excelente exemplo de como os Animal Collective conseguem atingir o nirvana indie pop como mais nenhuma banda consegue. O ritmo é mais moderado, as vocalizações são mais radio-friendly, mas a sua melodia circula ao som da cadência de um carrossel alegria. Razões pelas quais este «Water Curses» é mais um excelente momento pop oferecido pela banda. Os restantes três temas («Street Flash», «Cobwebs» e «Seal Eyeings») não beliscam em nada a qualidade musical dos Animal Collective, mas são claramente lados-b do soberbo «Strawberry Jam».
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Para finalizar destaco, uma vez mais, o vídeo promocional de «Water Curses», realizado por Andrew Kuo.

2 comentários:

Shumway disse...

Isto é mesmo de um Animal Colective "expert" :-)

Só mesmo o "Hollinndagain" é que nunca me convenceu.

Abraço

bitsounds disse...

tenho q ouvir, urgentemente, esse "Here Comes The Indian" ....

e grande concerto dos AC no lux !