domingo, 9 de novembro de 2008

2008 | Viagens à tasca em período de férias V

A derradeira paragem tasqueira na cidade de Bruxelas foi na loja Media Markt. Mais uma vez, e como já havia percorrido as suas secções mais importantes, decidi apostar nos escaparates das promoções. Tal como na FNAC local, aqui, os discos em promoção iam dos quatro aos seis euros e as escolhas finais foram, na sua maioria, pensadas para completar discografias de um determinado grupo (ou não fosse eu um coleccionador de discos).
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Aproveitando a oportunidade de estar na Bélgica, adquiri o EP «My Sister = My Clock», dos dEUS, e «Leave The Story Untold», álbum de estreia dos Soulwax. Ambas as edições se destinam (e só farão sentido) aos fãs mais acérrimos de cada uma das bandas. «My Sister = My Clock», EP editado em 1995, contém esboços de algumas canções que ficaram de fora do excelente álbum de estreia «Worst Case Scenario», disco de 1994. É composto por uma única faixa que se divide em treze capítulos distintos, mas igualmente complementares. Vinte e seis minutos de experiências sonoras que, com um pouco de mais trabalho, poderiam resultar num qualquer sucesso indie belga como são exemplos «Suds & Soda», «Via» e «Hotellounge». O disco foi gravado em cinco dias e editado (leia-se, junção dos vários temas) em apenas seis horas. Não traz nada de novo à discografia da banda, mas colmata o espaço deixado em aberto entre «Worst Case Scenario» e «In A Bar, Under The Sea». Quanto aos conterrâneos Soulwax, o debut «Leave The Story Untold» data de 1996 e, tal como «My Sister = My Clock», não acrescenta nada de novo ao que já se conhece dos irmãos Dewaele. Encontramos a banda num limbo entre o teen-rock de uns Silverchair (ambicionando chegar aos calcanhares dos Nirvana) e a serenidade de um Jeff Buckley. Não há nenhum tema que se destaque dos demais e ainda não se evidenciavam momentos de brilhantismo pop. Contudo, é certo que se denota já uma importante preocupação pela canção, apesar dos resultados estarem longe do desejado. No entanto, «Leave The Story Untold» poderá, também, ser encarado como estando na génese do potencial de «Much Against Everyone’s Advice», álbum de 1999. Menção final para a produção que ficou a cargo de Chris Goss, consagrado produtor que, entre outros, trabalhou com nomes como Queens Of The Stone Age, UNKLE e Screaming Trees.
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Um dos meus maiores caprichos durante as férias 2008 foi a compra da edição japonesa de «Pablo Honey», o álbum debut dos mais que preferidos Radiohead. Lá tive que me livrar da edição standard (obrigado F.), pois, nos dias que correm, a crise também é de falta de espaço lá em casa. O álbum é, ainda hoje, qualificado como o mais «fraquinho» e o que menos se enquadra na história discográfica dos fab five. Paradoxalmente, «Creep» continua a ser o único grande sucesso comercial dos britânicos. «Pablo Honey» (1993) é fruto da geração grunge, mas além de se vislumbrarem influências de Pixies, Nirvana e Pearl Jam, nas suas entrelinhas sonoras também cabem nomes como The Kinks, The Who, U2 e Jane’s Addiction. Um caldeirão de distorção eléctrica que, aquando da sua edição, não convenceu quase ninguém. Poucos previam um futuro risonho para os Radiohead. Cenário que não melhorou quando, ainda em 1993, a banda editou o single/EP «Pop Is Dead» (tema que não figurava no alinhamento final de «Pablo Honey», mas que saiu para o mercado entre as edições dos singles «Anyone Can Play Guitar» e «Stop Whispering»). Ora bem, não se tratando de uma canção de encher o ouvido, o facto é que o single/EP «Pop Is Dead» já se encontra descatalogado. Razão mais que suficiente para adquirir a edição japonesa de «Pablo Honey», pois o seu alinhamento final contém cinco faixas extra, entre as quais a raridade «Pop Is Dead». Encontramos, também, os lados-b de «Creep» («Inside My Head» e «Million Dollar Question») e duas versões live de «Creep» e «Ripcord» (dois dos melhores temas do disco). Um autêntico capricho que, além de não estar nas prateleiras reservadas para as promoções, veio enriquecer a minha colecção de discos dos Radiohead.
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Outro dos discos que veio colmatar uma falha numa determinada colecção de discos foi «Government Commissions BBC Sessions 1996-2003», dos escoceses Mogwai. Até então não tinha comprado o disco porque me recuso a dar mais de € 15,00 por qualquer compilação de gravações ao vivo que seja e de que banda for. Como em Portugal os discos continuam a ser vendidos a preço de ouro, foi na Bélgica que saciei a minha vontade de ouvir as várias Peel Sessions dos Mogwai [programa de rádio do carismático radialista John Peel (1939-2004)]. Na verdade, «Government Commissions» não nos oferece nada de novo. Todas as composições apresentadas foram originalmente editadas em LP ou EP da banda. Todavia, são os próprios Mogwai que afirmam ter gravado alguns dos seus melhores takes nas inúmeras sessões para a BBC. Razão pela qual decidiram juntar algumas dessas mesmas gravações num álbum que acabaria por homenagear um dos seus maiores seguidores, John Peel (que abre o álbum a anunciar mais uma prestação da banda nos estúdios BBC). Setenta minutos de música divididos por dez temas que mostram quase todas as facetas destes escoceses. Porém, são os temas mais antigos que acabam por se safar melhor. «Superheros Of BMX», originalmente editado em «4 Satin EP» (1997), e «R U Still In 2 It», do debut álbum «Young Team» (1997), apresentam uma sonoridade mais solta e revigorante, acabando por lhes dar uma roupagem nova e justificando as suas presenças no disco. Por sua vez «Hunted By A Freak», de «Happy Songs For Happy People» (2003), acaba por não se adaptar muito bem ao espaço, perdendo algum do esplendor revelado em disco. «Kappa» e «Cody», de «Come On Die Young» (1999), cumprem as suas tarefas. No entanto, os dezoito minutos de «Like Herod», original de «Young Team», arrastam-nos para um dispensável e maçador crescendo de som e feedback que, dependendo do ponto de vista, tanto pode dignificar a criatividade e o espírito rockeiro dos Mogwai como menosprezar a sua imagem, evidenciando uma banda chatíssima. Contudo, para quem segue a banda de Stuart Braithwaite e Dominic Aitchison, «Government Commissions BBC Sessions 1996-2003» pode ser um excelente cartão de visita para o melhor e o pior dos Mogwai.
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A última aposta com o selo da cidade de Bruxelas foi o álbum de estreia do duo francês Justice. Confesso que o baixíssimo preço foi a principal razão para a compra. O que, até então, conhecia dos Justice era o soberbo single «D.A.N.C.E.». Um autêntico toucinho-do-céu que se deglute em quatro escassos minutos e que nos deixa sempre a vontade de repetir. No entanto, e após cuidada audição a «», percebi que conhecia mais dos Justice do que eu pensava. Para além do toucinho-do-céu, encontramos uma deliciosa mousse de chocolate banhada por uma irresistível adega velha em «DVNO», um singular doce da casa que dá pelo nome de «Genesis», um ensopado brigadeiro em «Phantom» e um molotov (que é só para quem gosta) com a densa «Waters Of Nazareth». «» é, assim, um autêntico banquete de doces que não se aconselha a hiperglicémicos. Todavia, e como o fruto proibido é sempre o mais apetecido, será muito difícil resistir a esta «cruz» dos Justice.
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Para terminar deixo em alta rotação o extraordinário vídeo de «D.A.N.C.E.», dos franceses Justice.
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