domingo, 9 de outubro de 2011

Viagens à tasca

As recentes passagens por Berlim e Estocolmo avivaram a minha vontade de aqui apresentar as minhas apostas e tendências pessoais. Desta forma, e um pouco no seguimento dos recuerdos e episódios vividos na capital sueca, aproveito para destacar os The Radio Dept., provavelmente a banda sueca da minha preferência, e, uma vez mais, olhar para a vida e obra de Patti Smith.

Posso afirmar que a minha relação com a dream pop de tempero shoegaze dos suecos The Radio Dept. amadureceu com «Clinging To A Scheme» (2010). Situação que, não só, me obrigou a recuperar «Lesser Matters» (2003) e «Pet Grief» (2006), mas, também, a visitar a magnética selva Amazon para comprar «Passive Aggressive | Singles 2002-2010». Formados em Lund, corria o ano de 1995, os The Radio Dept. contam com três álbuns de originais e um braçado de pequenas maravilhas pop em formato canção. Alguns desses momentos foram editados através do single e do EP, mas, verdade seja dita, nunca alcançaram a atenção devida. Volvidos oito anos após o primeiro registo discográfico, a banda decide lançar «Passive Aggressive». Trabalho que, num primeiro disco, reúne os singles editados entre 2002 e 2010 e disponibiliza, também, num apetitoso segundo disco, alguns dos seus lados-b. Neste particular, tratando-se de uma colecção de sobras, as quais não encaixaram nos álbuns, noto que esta poderá ser a cereja em cima do bolo para os habituais seguidores dos The Radio Dept.. No entanto, apesar da rodela «B-Sides» nos revelar alguns exercícios incompletos («Tåget» e «Slottet» são dois exemplos), o facto é que a música não deixa de seduzir. Ouçam-se «Mad About The Boy», tema que parece produzido por Pantha Du Prince, a etérea «You And Me Then?», a atitude punk de «Liebling» ou, mesmo, «Messy Enogh», canção com alma The Cure, mas cara The Radio Dept.. O resultado final é bastante positivo, mas, ainda assim, não posso deixar de apontar a falta de «Falafel», «Deliverance», «Let Me Have This» e, principalmente, «I Don’t Like It Like This». Quanto a «A-Sides», a outra metade de «Passive Aggressive», é um autêntico desfile pop com algumas da melhores canções da última década. Exemplos? «Why Won’t You Talk About It?», «The Worst Taste In Music», «Freddie And The Trojan Horse», «Pulling Our Weight» (esta, nem a “Marie Sofia Coppola Antoinette” escapou), «David», «Where Damage Isn't Already Done» ou «Heaven’s On Fire». A fechar somos, ainda, brindados com a corrosiva e exclusiva para esta colectânea «The New Improved Hypocrisy».

Agora, Patti Smith e «Outside Society». Mais uma colectânea de singles e a primeira do género na carreira da norte-americana. Isto porque «Land (1975-2002)», o notável primeiro disco retrospectivo de Patti Smith, juntava a alguns singles, lados-b, demos, covers e outras composições que marcaram os dezassete anos pós «Horses» (1975). É precisamente com «Horses» e o seu portentoso single «Gloria», tema construído a partir da música, com o mesmo nome, de Van Morrison e as palavras de Patti Smith, que «Outside Society» se apresenta. Não sendo o maior hit de Patti Smith, esse epíteto fica para «Because The Night», a canção escrita a meias com Bruce Springsteen, «Gloria» é a declaração que fez nascer o culto em torno da artista, dando, também, os primeiros passos para o surgimento do movimento punk, em Nova Iorque. Os versos “Jesus died for somebody’s sins / But not mine” são, ainda hoje, identificados como porta-estandarte do movimento mais anarquista da música pop. Palavras que, agora, ressoam de forma diferente. Isto porque «Just Kids», a impressionante obra que consagrou Patti Smith com o National Book Award, na categoria non-fiction, está ainda muito fresca. Na verdade, este «Outside Society» quase parece uma tentativa de prolongar o sucesso alcançado e, com isso, arrecadar mais royalties para editora e artista. Que fazer quanto a isso? Vivemos num mundo capitalista, certo? Julgo que não me compete criticar quem aproveita da melhor forma o momento e as oportunidades que vão surgindo. Por isso, «Outside Society» soube que nem ginjas e se até «Just Kids» bastava desfrutar «Land (1975-2002)» e «Twelve», disco composto por covers, agora sinto a imensa necessidade de explorar ao pormenor cada disco e cada canção da extraordinária carreira de uma das personalidades mais fortes da música norte-americana.

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