segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Viagens à tasca

Como não há duas sem três, voltamos à tasca da margem sul para repescar «Kill The Moonlight» dos Spoon e «Strawberry Jam» dos Animal Collective, uma das grandes obras de 2007.
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Já aqui expressei a minha admiração por Britt Daniel e os seus Spoon. Também já tive a oportunidade de referir que neste ano de 2007 decidi apostar um pouco mais no colectivo texano. Depois do deleite com «Ga Ga Ga Ga Ga», à primeira oportunidade e em troca de alguns euros, «Kill The Moonlight» ganhou corpo e lá apagámos os MP3 do computador. Editado em 2002, «Kill The Moonlight» é o quarto e um dos melhores álbuns dos Spoon. Composto por doze potenciais singles, Britt Daniel e companhia apresentam uma sonoridade fresca e deveras sedutora. «Small Stakes» e «The Way We Get By» (tema que «comercializou» a banda) é rock inteligente e cheio de «nervo»; «Paper Tiger» e «Back To The Life» são pop elegante e sinistra mas bem intencionada; o falsete de Daniel em «Something To Look Forward To», o swing despretensioso de «All The Pretty Girls Go To The City» e o apontamento beatbox de Daniel em «Stay Don’t Go» são momentos de puro encanto. Pelo meio ainda há espaço para momentos Pixies (ouça-se «Jonathon Fisk» e «You Gotta Feel It») e, a fechar, «Vittorio E.» numa pequena e etérea anotação de Britt Daniel. Trinta e cinco minutos de muito boa música em mais um álbum de excepção dos norte-americanos Spoon.
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Aquando do presente tropeção, os Animal Collective tinham acabado de editar «Strawberry Jam» (para ver, caro amigo, o quão atrasadas andam estas minhas divagações bloguistas). Após a minha (recente) descoberta e fascínio pelo universo paralelo Animal Collective, das amostras sucessivas que iam surgindo no YouTube à rendição perante «Person Pitch» de Panda Bear, «Strawberry Jam» era aguardado com grande ansiedade. Posição não isenta de risco, diga-se de passagem, pois quando as expectativas são altas o resultado é quase sempre diminuto. No entanto, Avey Tare, Panda Bear, Geologist e Deakin deram bem conta do recado e «Strawberry Jam» resultou num dos grandes trabalhos de 2007 (a par de «Person Pitch»). Os ambientes esquizóides regressam em força, as vocalizações únicas e extravagantes de Avey Tare estão no seu auge (ouça-se, por exemplo, «For Reverend Green») e as canções (agora sim podemos afirmar que existem canções dos Animal Colective) são o resultado perfeito de exercícios anteriores. Todavia, «Strawberry Jam», tal como qualquer outro trabalho dos Animal Collective, não é de fácil audição. Para o ouvinte habituado à construção estrofe / ponte / refrão / estrofe, esqueça «Strawberry Jam». Aliás, esqueça que alguma vez existiram os Animal Collective. Contudo, para os conhecedores deste mundo, nas agradáveis «irregularidades» sonoras de «Strawberry Jam» surge um leve romantismo, até agora desconhecido na sonoridade da banda. «Fireworks», um dos momentos mais bem conseguidos na carreira do colectivo norte-americano, é o exemplo máximo desse mesmo enfeitiço. «Cuckoo Cuckoo» e «#1» são etéreos e perfeitos para qualquer sonhador. «Peacebone» é uma mescla de sons e ambiências que culminam num rebuçado delicioso. «Chores» podia muito bem figurar na banda sonora de um filme de Emir Kusturika. «Unsolved Mysteries» é, tal como o título indica, misterioso e «Derek», a fechar, é a parada militar deste colectivo animal, é certo, mas domesticado…
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Para finalizar deixo «Fireworks» dos Animal Collective, uma das canções que marcaram o ano de 2007.
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