sábado, 8 de dezembro de 2007

Viagens à tasca

Após se registar (apenas) mais um trabalho do norte-americano Ben Harper a minha procura coincidiu com as curvas de oferta de «Colossal Youth & Collected Works» dos fulminantes Young Marble Giants e «Ga Ga Ga Ga Ga» dos Spoon.
.
«Colossal Youth» é um daqueles álbuns que me habituei a ver em listas dos mais qualquer coisa. De disco fundamental na era pós punk a um dos mais emblemáticos trabalhos na evolução natural do rock, os Young Marble Giants são um excelente exemplo da velha máxima «keep it simple». O minimalismo é a alma do negócio deste grupo galês, formado em Novembro de 1978 pelos irmãos Stuart e Philip Moxham e Alison Statton. Construções simples dos irmãos Moxham embaladas pela postura «naïve» e despreocupada de Ms. Statton. Foi esse o «modus operandi» seguido pelo colectivo e a principal razão para a aclamação em finais de ’70 e início dos anos ’80 e para o meu contínuo fascínio em pleno século XXI. Por mais anos que passem, «Colossal Youth» soará sempre a actual, continuando a influenciar a maior parte das bandas contemporâneas. Em pouco mais de quarenta minutos ficamos a conhecer o ADN musical do melhor dos Pixies (apesar de até lhes encontrar alguma piada, continuo a pensar que são uma das bandas mais sobrevalorizadas da história da música pop); percebemos as boas referências dadas por Kurt Cobain e Peter Buck; compreendemos algumas interpretações de temas Young Marble Giants por parte de outras bandas («Credit In The Straight World», por exemplo, é revisitado pelo grupo Hole, de Courtney Love); e depreendemos referências em outros campeonatos, caso da adopção do título do álbum para a versão internacional de «Juventude em Marcha» de Pedro Costa. Por tudo isto e muito mais, a atenta editora Domino decidiu recuperar o catálogo Young Marble Giants e numa autêntica edição deluxe lançou para os escaparates uma reedição tripla de «Colossal Youth». Ao álbum original foram adicionados os temas que integravam o single «Final Day» (editado em Junho de 1980), o E.P. «Testcard» (Março de 1981) e a compilação de demos «Salad Days» (de 2000). Mais uma vez a simplicidade marca pontos e mesmo que a grande parte das peças apresentadas não se assemelhe em nada ao formato canção, vislumbramos aqui e ali primorosos momentos pop que nunca perderão a sua vertente neopunk. No terceiro e derradeiro disco deparamo-nos com a gravação (de 1980) das famosas e saudosas «John Peel Sessions». Razões mais que suficientes para nos embrenharmos e embebedarmos ao som Young Marble Giants.
.
Chegamos a «Ga Ga Ga Ga Ga» mas (e eu sei que é difícil) não nos engasguemos. Os Spoon já por cá andam há muito e julgo que não têm nada a provar. Britt Daniel é simplesmente um dos génios indie norte-americanos. Lá por casa os MP3 são mais que muitos e por variadíssimas razões neste ano de 2007 decidi apostar de uma forma mais concreta nesta banda de Austin (Texas) e vai daí gastei mais alguns euros num dos segredos mais bem guardados do indie rock contemporâneo. Formados em 1993, o primeiro LP surgiu só em 1996 («Telephono») mas o reconhecimento geral só chegou ao quarto ensaio, com «Kill The Moonlight» (de 2002). Na altura o single «The Way We Get By» obteve alguma exposição mediática, chegando a ser incluído na série «The O.C.» e em alguns outros filmes. Porém, foram «Stay Don’t Go» e «All The Pretty Girls Go To The City» que mostraram uma banda em quase estado de graça. Antes deste magnífico «Ga Ga Ga Ga Ga», os Spoon ainda se mostraram em «Gimme Fiction» (2005), álbum que incluía «I Turn My Camera On», «The Two Sides Of Monsieur Valentine» e «Sister Jack». Ora bem, «Ga Ga Ga Ga Ga» é cumulativamente um dos melhores álbuns da carreira dos Spoon e deste ano 2007. Musicalmente os Spoon poderão ser classificados como o resultado da soma folk dos Wilco, à intuição Tom Waits e à experimentação que fez história nos The Flaming Lips. «Ga Ga Ga Ga Ga» é o aperfeiçoamento dessa adição. «Don’t Make Me A Target» revela os belgas dEUS às voltas com o período «pseudojazz» de Tom Waits. A etérea «The Ghost Of You Lingers» atira os nossos problemas para trás das costas e liberta-nos do stress citadino. «You Got Yr. Cherry Bomb» inicia-se ao som dos britânicos Doves para lhe misturar pitadas Pulp num belo momento dark pop. «Don’t You Evah» pega no ritmo de «All The Pretty Girls Go To The City» e condimenta-o ao som de Beck Hansen. «Rhythm And Soul», e tal como o próprio título indica, é uma canção cheia de ritmo e alma. «The Underdog» abraça a faceta mariachi dos Calexico para libertar efusivos «Yeah!». «Finer Feelings» é a versão mais radio-friendly de Britt Daniel e companhia e «Black Like Me» recupera as construções «beatlescas» do saudoso Elliott Smith. Tudo em trinta e seis minutos de pura magia e encanto Spoon. Como extra ainda nos é oferecido o CD Bónus «Get Nice!» que compila doze faixas adicionais em vinte e três minutos de demos e divagações sonoras. «Ga Ga Ga Ga Ga» é assim mais um clássico para este ano 2007.
.
Como aperitivo de mais uma viagem às tascas fica o vídeo de «The Underdog», dos Spoon.
.

2 comentários:

Anónimo disse...

Como sempre um belo comentário, mas já agora,,,,, não sei se sabes mas para além das tascas existem restaurantes,,,,, bares, cafés, pizzarias, bares de tapas,,,,ahahahahhaah

Strumer disse...

spoon ;) com um dos albuns do ano! muito bom...!