sábado, 20 de setembro de 2008

Madonna Redux

Nos dias que correm é cada vez mais difícil ver Madonna ao vivo. Confesso que há cerca de cinco anos julgava mesmo impossível ver a rainha da pop num qualquer palco nacional. Em 2004 deu-se a estreia (em grande, diga-se de passagem). Duas noites esgotadíssimas que decorreram num Pavilhão Atlântico, pequeno para a ocasião, mas à altura dos acontecimentos. Dois espectáculos memoráveis que reforçaram a imagem de Madonna e não desiludiram os presentes. Quatro anos depois dá-se o regresso de Madonna ao nosso país. O local escolhido para o concerto foi o parque da Bela Vista. Setenta e cinco mil almas acorreram ao chamamento, mas o sentimento final ficou aquém do que se viveu em 2004. É certo que a primeira vez é sempre a mais marcante, mas depois de quase duas horas de espectáculo, à distância, ficou a ideia de que a noite poderia e deveria ter sido melhor.
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Um autêntico mar de gente inundou por completo o vale Rock in Rio e as intermináveis filas para entrar e sair do recinto revelaram uma enorme falta de organização e de estruturação do concerto de 2008 mais mediático em Portugal. Desta forma, julgo que a pergunta que se deverá colocar depois do espectáculo do passado dia 14 de Setembro não é se estivemos presentes, mas sim, se tivemos a oportunidade de ver mais do que cinco centímetros de Madonna. Dado ter sido a primeira vez que coloquei os pés no Parque da Bela Vista, devo confessar que se trata de um anfiteatro «natural» agradável. Porém, não fossem os postes de alta tensão, os muitos arvoredos que teimaram em ocultar a vista de muitos e, principalmente, a tenda de som colocada num ponto estratégico, teria sido um concerto diferente. Continuaria a ver somente os cinco centímetros da rainha da pop, mas já seria possível vislumbrar o palco em toda a sua plenitude e não seria necessário estar constantemente a olhar para os «flutuantes» ecrãs gigantes.
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Quanto ao espectáculo da Sticky & Sweet Tour, facilmente se viu que está uns pontos abaixo das apresentações da Re-Invention Tour, de 2004. Perderam-se alguns elementos cénicos para se apostar mais no audiovisual. Os enormes ecrãs que integram a digressão são o motor de todo o espectáculo. Os vídeos apresentam convidados especiais (Kanye West, Britney Spears, Justin Timberlake e Pharrell Williams), desempenham excelentes pausas entre as quatro partes do espectáculo e chegam a enviar uma mensagem política e de esperança em Barack Obama. E Madonna? Aos cinquenta anos mostrou que mantém a vitalidade e o fulgor que a notabilizaram e que consegue arrastar para os seus concertos pessoas de todas as idades. Quer queiramos quer não, Madonna é e continuará a ser o ícone cimeiro no universo pop e independentemente da ocasião e do local, multidões persistirão em responder à chamada. Por isso, todos dançaram e vibraram ao som dos sucessos de Madonna e ninguém recusou as canções menos conseguidas de «Hard Candy», nem o rock descartável e de mau gosto que apareceu lá mais para o final do concerto, na sequência «Like A Prayer», «Ray Of Light» e «Hung Up». Não foi nem será o melhor concerto do ano, mas tivemos a oportunidade de ver uma vez mais a rainha da pop.
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Aproveito a ocasião para repescar a edição especial de «Hard Candy», o décimo primeiro álbum de carreira de Madonna. Editado já este ano, «Hard Candy» criou muitas expectativas. Além de se seguir ao mega sucesso «Confessions On A Dance Floor», de 2005, o disco conta com colaborações fortíssimas, capazes de vender discos aos molhos. Nomes como Timbaland, Kanye West, Justin Timberlake e Pharrell Williams vitaminaram a edição de «Hard Candy». O primeiro single mostrou, uma vez mais, a capacidade de Madonna se adaptar e reinventar face aos ventos do mercado discográfico. Contratou a dupla «Timbalake» e o resultado foi «4 Minutes», exercício discreto mas capaz de agradar aos fãs de Madonna e de Justin Timberlake. Aproveitou a presença de Timberlake e registou mais algumas canções, entre as quais, os slows «timberlakianos» «Miles Away» e «Devil Wouldn't Recognize You» e o funky beat de «Dance 2night». Convocou Pharell Williams dos The Neptunes e gravou uma mão cheia de canções, com destaque para o segundo single «Give It 2 Me» e os adocicados «Candy Shop», «Heartbeat», «Incredible» e «Beat Goes On», que conta com a presença de Kanye West. É um disco dançável, mas não tão virado para a pista de dança como o anterior «Confessions On A Dance Floor». Todavia, Madonna já nos habituou às edições de estrondosos sucessos após álbuns menores. Esperemos assim pelo sucessor deste «Hard Candy» e, porque não, por mais uma passagem da rainha por palcos nacionais (mas da próxima vez em locais preparados para o efeito).
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Para terminar fica a apresentação do tema «Hung Up» nos MTV Music Awards, em Lisboa. Uma das melhores canções da carreira de Madonna que se apresentou completamente transfigurada no concerto do passado dia 14 de Setembro.

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