domingo, 7 de setembro de 2008

2008 | Viagens à tasca em período de férias II

Percorridas as principais artérias do centro de Bruxelas, onde não se vislumbraram grandes focos de interesse indie, damos um salto a Bruges, Knokke e Antuérpia. No que a música diz respeito, dado ter visitado o centro de cada uma das cidades numa manhã ou tarde, confesso que foi um pouco complicado ver o quer que seja. Porém, facilmente se notou a presença da FNAC em ambas as cidades. No entanto, foi a FNAC de Bruxelas que acabou por ser dissecada ao pormenor.
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Antuérpia
Estátua de Silvius Brabo (herói local)

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A primeira das escolhas daquele final de tarde - já constante de lista elaborada antes da viagem - foi «Emerald City», do norte-americano John Vanderslice. Muitos poderão conhecê-lo pelo trabalho de produção que realizou com os Spoon, em «Gimme Fiction» (2005), e Mountain Goats, em «We Shall Be Healed» (2004) e no mais recente «Heretic Pride» (2008). No entanto, Vanderslice já conta com seis álbuns a solo, sendo «Emerald City» (2007) a sua mais recente aposta e o primeiro contacto que tive com o apurado sentido pop do autor. Como o mercado português continua a estabelecer misteriosos requisitos para a entrada de determinados trabalhos em território nacional, a descoberta inicial fez-se pela via menos ortodoxa… Descortinaram-se influências várias que passam por Neutral Milk Hotel, Spoon, Death Cab For Cutie, The Flaming Lips e, numa vertente mais clássica, The Beatles, XTC, Bod Dylan e David Bowie. John Vanderslice revela, assim, um notável talento na escrita de boas canções aliado a uma excelente capacidade de contar histórias. Contudo, «Emerald City» é um disco com uma forte carga emocional: além de focar grande parte das suas atenções no pós 11 de Setembro de 2001, as suas restantes memórias pautam-se pelo pessimismo. Características, que fazem de «Emerald City» mais um excelente álbum, que acabou recusado pelas editoras nacionais. Felizmente, o mercado belga revelou-se menos restritivo e além de reencontrar temas como «Kookaburra», «Time To Go», «The Parade», «White Dove» e, principalmente, «The Minaret», o disco continha ainda duas faixas bónus: «The Hospital» e «Mother Of All Dead Time Factories».
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Outra das edições que, aparentemente, continua sem distribuição em Portugal é o mais recente EP dos The Smashing Pumpkins (ou se preferir metade dos The Smashing Pumpkins). Depois de no ano passado ter adquirido a edição especial de «Zeitgeist» durante as férias, este ano voltei a tropeçar em Billy Corgan e Jimmy Chamberlin. Como na altura tive oportunidade de referir, o regresso dos The Smashing Pumpkins soou a falsa partida. O álbum, com uma capa de fugir a sete pés, mostrava uma única faceta da banda original. A electricidade era levada ao extremo e foi a própria banda que saiu prejudicada. «Zeitgeist» é, porventura, o álbum mais monótono na carreira dos The Smashing Pumpkins, mas é, também, capaz de ser o melhor registo de Billy Corgan após findada a parceria com James Iha. Vislumbra-se, assim, um aparente rejuvenescimento do colectivo de Chicago. Os concertos sucedem-se por todo o mundo e o nome The Smashing Pumpkins voltou a ter algum peso comercial. No final de 2007, Billy Corgan e Jimmy Chamberlin decidem ir para estúdio e explorar uma das outras facetas dos originais The Smashing Pumpkins, o formato acústico. O resultado foi o EP, de quatro temas, «American Gothic» (trabalho que apresenta mais uma capa medonha). As músicas soam a boas demos para potenciais canções com a sonoridade The Smashing Pumpkins. Não há, assim, nenhum tema que se demarque dos demais, nem que consiga atingir iguais patamares de excelência como em «Disarm», «Tonight, Tonight» ou mesmo «Daydream», mas aqui e ali já se vão pressentindo resquícios da energia «Mellon Collie And The Infinite Sadness». «Pox» e «The Rose March» (este último sem os iniciais «la la la la las») fariam boa figura na box set «The Aeroplane Flies High», o que a meu ver é muito bom. Razão pela qual ainda guardo algumas esperanças quanto ao futuro destes senhores.
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Falemos agora dos Bloc Party. Formados em 1999 por Kele Okereke (voz e guitarra) e Russell Lissack (guitarra), aos quais se juntaram Gordon Moakes (baixo) e Matt Tong (bateria), só em 2003 e após Okereke ter oferecido uma cópia de «She’s Hearing Voices» a Alex Kapranos (Franz Ferdinand) e Steve Lamacq (DJ na BBC Rádio One) é que a banda londrina conquistou alguma atenção. Steve Lamacq que divulgou o então primeiro single dos Bloc Party no seu programa de rádio chegou mesmo a qualificar o tema de genial e convidou a banda para um merecido showcase radiofónico. Depois surgiu «Banquet» e o resto é história post-punk revivalista. «Silent Alarm», o primeiro álbum dos Bloc Party, chegou às lojas em Fevereiro de 2005. Porém, em Julho de 2006 e já depois da excelente experiência «Silent Alarm Remixed», o mesmo álbum é reeditado com duas faixas extra («Little Thoughts» e o soberbo «Two More Years») e um DVD que incluía o documentário «God Bless Bloc Party», algumas actuações ao vivo no festival francês Eurockeennes e os vídeos que até então promoviam a obra da banda. Uma autêntica edição deluxe que se repetiu com o segundo álbum «A Weekend In The City». O disco, lançado em Fevereiro de 2007, mas disponível para download ilegal desde Novembro de 2006, saiu em duas versões distintas: a denominada versão standard e a já habitual edição especial, a qual incluía um DVD com um documentário e os dois primeiros vídeos extraídos do álbum, a saber: «The Prayer» e «I Still Remember». Não bastando, em Novembro de 2007 foi dado a conhecer «Flux», a notável e primeira grande aventura de Kele Okereke e companhia nas electrónicas e o single que, de certa forma, fez a ponte entre o passado punk-rock e o presente electro-punk-rock. Os Bloc Party reeditaram «A Weekend In The City», com «Flux» encaixotado entre os temas que dividiram opiniões, mas que lhes atribuíram o estatuto de uma das maiores esperanças rock britânicas. Adicionalmente é disponibilizado uma segunda edição que incluía o concerto que a banda deu na edição de 2007 do Reading Festival e os vídeos que promoveram o disco («The Prayer», «I Still Remember», «Hunting For Witches» e «Flux»). Foi precisamente este último repackage que trouxe para casa, para juntar ao deluxe de «Silent Alarm» e complementar a primeira edição especial de «A Weekend In The City». O álbum, como disse, dividiu opiniões, mas o sucesso ficou garantido. Evidenciou-se uma maior tendência para a sonoridade radio friendly e temas como «SRXT», «The Prayer», «Uniform», «Waiting For The 7.18», «Hunting For Witches» e «Song For Clay (Disappear Here)» revelavam capacidades de encantar fãs dos U2 como dos Radiohead, The Cure, Coldplay, Pixies e Blur. Excelentes pronúncios que continuam a captar a minha atenção (agora ainda mais, com a inclusão de «Flux» e imagens de uma grande prestação da banda no Reading Festival de 2007).
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Para terminar e recordando um dos momentos chave da música dos anos 90 deixo os The Smashing Pumpkins com «Tonight, Tonight».
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