domingo, 12 de agosto de 2012

2012 | Viagens à tasca em período de férias II


Bellagio, Lago di Como

Do mercado discográfico italiano não há muito a dizer. Numa curta análise e comparação com a realidade portuguesa, notei que a oferta é maior (o que não é difícil), os preços são idênticos, mas o consumidor é completamente descurado. Será possível, nos dias de hoje, uma loja de discos não permitir a audição de um determinado disco porque este não se encontra nos postos de escuta? Pois bem, em Milão, é assim que funciona. Como se não bastasse, o trabalhador de uma La Feltrinelli, Mondadori, ou mesmo, Fnac milanesa demonstra grandes dificuldades em comunicar inglês e vende discos como se estivesse a vender roupa ou, mesmo, batatas.

Problemas de expressão à parte, sigo viagem com alguns discos que constavam na lista “a comprar” antes da passagem por Milão. «Replica», do projecto de Daniel Lopatin, Oneohtrix Point Never, era desejado devido às maravilhas que lhe eram atribuídas na blogosfera, das quais já tinha aprovado algumas («Replica», o single, é um tema saboroso). No entanto, havia algo de misterioso e por descobrir no ciclo de canções que Daniel Lopatin criou a partir de fragmentos lo-fi obtidos em inúmeros anúncios de televisão. “Ambientasons”, feitos de sintetizadores vintage e da vontade de recuperar algo do passado. Pequenos momentos que sempre estiveram connosco, sendo despertados pela mestria de Oneohtrix Point Never em criar ambientes e lugares comuns. «Replica» mexe com o nosso passado e acaba por mexer também connosco. Uma obra que, em certos detalhes, se posiciona ao lado de «Person Pitch», de Panda Bear, com Brian Eno sempre à espreita. Composições em jeito de música ambiente, sem nunca chegarem ao campeonato da música de elevador. Electrónicas de sentido alargado, mas pensadas nos pormenores.


Outro disco que procurava há já algum tempo era «Coastal Grooves», o debut álbum de Blood Orange, o mais recente projecto de Devonté Hynes. Trabalho já descrito como uma profunda viagem à cultura pop de 80 da música norte-americana e que Devonté Hynes compôs depois de se instalar em Nova Iorque. O músico, nascido em Houston, no Texas, mas criado em Essex, em Inglaterra, explora assim o glamour e a extravagância da noite nova-iorquina, cruzando ritmos lânguidos e riffs ligeiros com elementos pop apaixonados, mas despretensiosos. Canções que misturam a melancolia e a paixão, o ciúme e a perda, a ansia de um novo amor e a saudade. Musicalmente, «Coastal Grooves» mostra o seu interesse pelos lugares propostos por Twin Shadow, perseguindo, também, as melodias lo-fi de Ariel Pink e a sabedoria dos The Deehunter. Este é um disco repleto de potenciais singles (além dos inevitáveis «Forget It», «I’m Sorry We Lied», «Champagne Coast» e, claro, «Sutphin Boulevard»). Só é pena a não inclusão de «Dinner» e «Bad Girls», dois dos primeiros temas gravados por Blood Orange, mas isso deve estar guardado para a possível Deluxe Edition, a editar daqui a uns anos.

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