segunda-feira, 13 de agosto de 2012

2012 | Viagens à tasca em período de férias III


Arena di Verona

E agora os Okkervil River, banda já recorrente nestes períodos de férias... Tudo leva a crer que os norte-americanos não reúnem grande consenso por cá. Pelo menos, e no que refere às apostas discográficas, é raro encontrarmos um disco dos texanos nos nossos escaparates. Por isso tenho conseguido reunir a discografia dos Okkervil River graças às pesquisas estivais. Se no ano passado encontrei «Down The River Of Golden Dreams» (2003) e «I Am Very Far» (2011), este ano foi «Don’t Fall In Love With Everyone You See» (2002). Aquele que é o primeiro LP da banda, e o sucessor dos EP «Bedroom» (1998) e «Stars Too Small To Use» (1999), mostra os Okkervil River de sempre, mas numa fase inicial da sua carreira. Contactos naturais com a música de Ryan Adams e Bright Eyes, texturas Neutral Milk Hotel e matriz Neko Case meets Giant Sand. Composições folk rock, com queda para a country, mas de olhos postos na pop e no storytelling. Ouça-se a extraordinária evocação do julgamento do homicídio “1991 Austin yogurt shop murders”, em «Westfall»: «They're looking for evil / Thinking they can trace it / But evil don't look like anything».

Quem também iniciou a carreira na folk foi o norte-americano Sufjan Stevens. Apesar de nos últimos tempos ter enveredado por caminhos mais electrónicos, o certo é que as suas composições sempre se apoiaram no trio guitarra acústica-banjo-piano. Ainda assim, na ficha técnica de «A Sun Came!», o debut álbum do singer-songwriter editado em 2000 e reeditado e remasterizado em 2004, verificamos que o músico alargou o leque a instrumentos de sopro (flauta, oboé e saxofone), percussões, baixo, xilofone, sitar e sintetizadores. Tudo pensado, produzido e gravado num 4-pistas pelo próprio Sufjan Stevens (excepção feita para «Joy! Joy! Joy!» e «You Are The Rake», os dois temas “novos” incluídos nesta reedição de 2004). O resultado final, uma mistura de folk com pop barroca e alguns elementos étnicos e mais tradicionais, fica um pouco aquém dos seus discos seguintes, notando-se, aqui, alguma imaturidade na hora de construir uma canção pop. «A Sun Came!» pode não ser aquele debut álbum que marca toda a carreira de um singer-songwriter, mas é um belo disco para quem decidiu gravar um conjunto de canções no seu 4-pistas. Quanto a «Enjoy Your Rabbit», o segundo trabalho do norte-americano, editado em 2001 e reeditado em 2003, é como se tratasse de novo debut. Isto por que Sufjan Stevens coloca de lado a folk para se entregar de corpo e alma às electrónicas. Diríamos tratar-se de um álbum de estreia do projecto paralelo de Sufjan Stevens, o qual já nos ofereceu belos momentos pop (quem se recorda de «The Age Of Adz»?). Um trabalho composto por um ciclo de canções organizado em torno dos animais do zodíaco chinês e que em 2009 acabou por ser recriado pela Osso String Quartet, no disco «Run Rabbit Run». “Instrumentasons” que, aqui e ali, até desenvolvem boas variações indie-pop-qualquer-coisa (ouçam-se

«Year Of The Ox», «Year Of The Dragon» e, claro, «Year Of The Horse»). Peças de fusão fragmentadas que apresentam sempre um ambiente e uma disposição próprios para cada signo. E assim, em vez de dar somente um passo em frente, Sufjan Stevens apostou no triplo-salto em direcção ao desconhecido e por isso atribuía-lhe já o ouro olímpico.

Quanto aos Japandroids, duo canadiano que desde 2009 nos aquece o corpo com as suas texturas garage-punk-rock, também não é fácil encontrar a sua discografia por cá. Se o álbum de estreia «Post-Nothing» (2009) foi descoberto em Madrid, o mais recente «Celebration Rock» (2012) chegou de Milão. Disco que começou a ser gravado ainda em 2010, com a edição do excelente single «Younger Us» (o sexto tema de «Celebration Rock»), voltando a apostar em canções frenéticas e ritmos acelerados. Os Japondroids mantêm, assim, intactos todos os pontos fortes do debut «Post-Nothing». Aperfeiçoam a urgência punk-rock, com um som mais limpo e estruturas amplificadas, mas o frenesim é o mesmo. Melodias proveitosas e canções feitas do entusiasmo “carpe diem”: «Long lit up tonight / And still drinking / Don't we have anything to live for? / Well of course we do / But until they come true / We're drinking» («The Nights Of Wine And Roses»). Um verdadeiro brinde à vida («It's a lifeless life with no fixed address to give / But you're not mine to die for anymore / So I must live», em «The House That Heaven Built»). Esta é, sem dúvida alguma, uma das melhores celebrações da música de 2012.

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