terça-feira, 14 de agosto de 2012

2012 | Viagens à tasca em período de férias IV



Duomo, Milano

Foi através do sítio electrónico da publicação online Stereogum, num artigo sobre as promessas musicais para o ano de 2011, que esbarrei na pop minimal e hipnótica de Youth Lagoon, o projecto do norte-americano Trevor Powers. Logo percebi, no ADN do tema «July», que este era um projecto a seguir. Uma combinação cintilante da melancolia Mark Linkous (a.k.a. Sparklehorse) com a melhor dream pop dos The Flaming Lips e as tonalidades Sigur Rós (o crescendo de «July» e «Montana»), ideias Washed Out (a sedutora nostalgia de «Daydream») e o gosto pelo minimalismo e melodias pop dos The xx (ouçam-se «Posters» e «Cannons»). «The Year Of Hibernation», o debut álbum de Youth Lagoon, agarra-se, também, ao fatalismo Perfume Genius, o projecto do conterrâneo Mike Hadreas. No entanto, ao passo que Mike Hadreas se afoga no seu próprio derrotismo, Trevor Powers sabe controlar esse lado mais negro da sua música com outros elementos mais luminosos. As suas canções demonstram ter o tempero e as quantidades certas de melancolia e sobriedade. Um excelente álbum de estreia de mais um jovem compositor norte-americano, a seguir com atenção.

Grimes, o pseudónimo de Claire Boucher, também constava no supracitado artigo da Stereogum. Na altura, notavam que a canadiana, hoje com 24 anos, ainda tentava encontrar-se com a sua música avant-pop. No entanto, as ideias consistentes e melodias suaves de «Geidi Primes» (2011) já criavam água na boca. «Halfaxa», o debut álbum, adquirido em Milão, mostra-nos alguns ensaios electrónicos de peças maiores. Momentos introspectivos e atmosféricos que, mesmo antes da edição de «Visions», o disco de «Genesis» e «Oblivion» (dois dos melhores singles de 2012), já manifestavam uma identidade própria. Gravações caseiras e de tempero lo-fi processadas via Arthur Russell, o visionário contemporâneo que nos deixou precocemente em 1992. Temas dançáveis e vocalizações angelicais que, aqui, se apresentam no seu estado mais puro e evidenciam a arte de criar ambientes, por Claire Boucher. Dados que fazem de Grimes uma das grandes surpresas musicais dos anos 10.

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