quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Oceano de heranças cor-de-laranja

Chegou tarde, mas chegou. O disco mais referenciado e falado neste final de 2012 infiltrou-se no meu dia-a-dia e a fusão neo funk em cenários R&B e enredo soul que tanto nos deu pela mão de D’Angelo, corria o ano de 2000, baralha a sua aparente ordem. Corro em busca de «Voodoo», de «Brown Sugar» e de todos os outros discos da escola soul meets rhythm & blues and funk que fui levado a procurar no início dos anos 00. De Prince a Stevie Wonder, passando por Marvin Gaye e Curtis Mayfield. Ainda assim, «Channel Orange», o disco de Frank Ocean, acaba por encostar-se também à mistura hip-hop Vs. R&B Vs. pop que tem em Kanye West, Outkast e Jay-Z os seus expoentes máximos (não duvido que Kanye West tenha perdido algumas noites de sono depois de ouvir «Pyramids», uma das canções mais fortes de 2012). Mas Frank Ocean não fica por aqui e à medida que nos vamos perdendo no colorido oceano de «Channel Orange» sentimos a necessidade de recuperar o início do colectivo UNKLECrack Rock»), o concentrado pop de Jamie WoonKelisLost»), o groove dos The RootsMonks»), a sensualidade de André 3000Pink Matter») e as engenharias N*E*R*D via The Beatles («Super Rich Kids»). O que nos trás então Frank Ocean de novo? Após uma mixtape em 2011, com muitas e boas razões para lhe seguirmos os passos, «Channel Orange» revela um compositor que acima de tudo assimila as heranças certas para construir um R&B contemporâneo, feito de produções alternativas e, igualmente, apelativas («Thinkin’ ‘Bout You» é irresistível). Um singer-songwriter sem medo de se expor («Bad Religion» merecia o prémio!) e danado para nos fazer balançar («I Wanna See Your Pom Poms From The Stands / Come On Come On», em «Forrest Gump»).

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