quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Viagens à tasca

Depois de mais uma semana de trabalho, mais dura que o normal, pois ainda nos estávamos a ambientar ao ritmo pós-férias, lá fomos beber uns copos. As escolhas, desta vez recaíram sobre Michael Jackson, Lauryn Hill e seguindo a corrente das tascas helvéticas, Johnny Cash.
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Vamos lá falar de Michael Jackson (MJ). Sempre esteve bem claro na minha cabeça que MJ desempenhou um importantíssimo papel na evolução da música urbana norte-americana, nas suas variadíssimas acepções e estilos. Do R&B ao Rap e do Hip-Hop à Pop. Desta forma, a vontade de comprar uma compilação de Mr. Jackson sempre existiu. Nesta inocente passagem pela tasca das tascas encontrámos artigos ao desbarato e o duplo «The Essential» acabou na nossa conta cliente por apenas € 5,00. O leque musical é extenso, passando pelos originais Jackson 5 até «Invencible», o último flop editorial de MJ, de 2001. É, de facto, um longo apanhado do melhor que Michael Jackson nos deu. Durante a sua infância, com os The Jackson 5, e juventude, nos The Jacksons (evolução natural dos anteriores cinco), a Motown era o pano de fundo e tanto Marvin Gaye como Stevie Wonder eram os ídolos a seguir. Quando em 1979 grava, com a ajuda de Quincy Jones, «Off The Wall» a admiração surge dos quatro cantos do mundo. Temas como «Don’t Stop ‘Till You Get Enough» e «Rock With You» marcavam a estreia em nome próprio de um artista que respirava talento e com um futuro promissor. Os prémios sucederam-se e os álbuns de platina multiplicaram-se. Daí até ao reconhecimento como Rei da Pop foi um pequeno passo. Por tudo isto e muito mais, ouvir este «The Essential» revelou-se uma experiência surpreendente. Se no primeiro CD encontramos os inevitáveis «Don’t Stop ‘Till You Get Enough», «Rock With You», «The Girl Is Mine» (dueto com Paul McCartney), «Billie Jean», «Beat It» e «Thriller»; o segundo capítulo passa pelos não menos importantes «Bad», «The Way You Make Me Feel», «Man In The Mirror», «Smooth Criminal», «Remember The Time», «Heal The World», «Earth Song» e «They Don’t Care About Us». Tudo motivos para recordarmos um dos maiores compositores pop do último século.
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Viramos as atenções para um dos mais conseguidos registos dos últimos anos. «The Miseducation Of Lauryn Hill» é um clássico, por isso mesmo a cópia pirata lá de casa merecia um upgrade. Em mais uma promoção Fnac acabamos por levar o disco para casa e reviver outros tempos. Note-se que esta «sinuosa» educação de Lauryn Hill é mais um tributo à soul dos anos 70 (com a Motown uma vez mais a marcar presença) que um álbum de hip-hop contemporâneo. Porém, é aqui que reside o segredo do seu sucesso. Canções baseadas em memórias soul às quais são adicionados beats contagiantes e uma lírica contemporânea. É, desta forma, um autêntico regresso ao futuro que meio mundo aclamou, nomeou e galardoou. «Ex-Factor» é um lamento delicioso que poderá levar o ouvinte mais sensível às lágrimas; «To Zion», que conta com a ajuda preciosa de Carlos Santana, é um autêntico bombom que Lauryn Hill ofereceu ao seu filho Zion; «Everything Is Everything» conta com John Legend (na altura um perfeito desconhecido) ao piano mas são os beats e o trabalho de edição que despertam a nossa atenção; «I Used To Love Him» regista a sempre agradável presença de Mary J. Blige (uma das rainhas da soul) e a comunhão com Lauryn Hill é perfeita; D’Angelo também surge na lista de convidados e o resultado é o «Melodicodoce» «Nothing Even Matters»; «Doo Wop (That Thing)» foi um dos singles e vídeos mais fortes dos anos ’90; e, a chegar ao fim, temos «Can’t Take My Eyes Off You» a servir de sobremesa.
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Regressamos ao mundo Johnny Cash e ao quinto e simultaneamente primeiro capítulo póstumo da série American Recordings. Se no admirável «American IV: The Man Who Cames Around» Johnny Cash já revelava alguma debilidade física, em «American V: A Hundred Highways», editado a 4 de Julho de 2006 (cerca de 3 anos após o seu desaparecimento), o cenário não é melhor. O ritmo é calmo e os temas são tranquilos, desempenhando como que um papel de despedida. Johnny Cash volta a formar equipa com Rick Rubin. O álbum é, mais uma vez, composto por alguns (poucos) originais e uma mão cheia de versões. No campo dos originais encontramos a serenidade folk de «I Came to Believe» e o country de «Like The 309», a derradeira composição assinada por Johnny Cash. Relativamente às covers, destaque para o tema tradicional «God’s Gonna Cut You Down»; «If You Could Read My Mind», de Gordon Lightfoot; «Further On Up the Road», de Bruce Springsteen; «On The Evening Train», de Hank Williams; «A Legend In Time», escrito por Don Gibson e interpretada por Roy Orbinson; e, a fechar, o «cristalindo» «Love’s Been Good To Me», tema popularizado por Frank Sinatra. O resultado final revela-se mais homogéneo que os seus antecessores, mas a sua serenidade não deixa de transmitir algum vazio e sentimento de perda do génio Johnny Cash.

Um pouco em forma de homenagem deixo Johnny Cash e o vídeo para «God’s Gonna Cut You Down», tema que também foi aproveitado por Moby em «Run On», de «Play».
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