domingo, 30 de setembro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias IV

Após três dias em Genève, durante os quais não nos limitamos a bebedeiras, decide-se partir à descoberta da Suiça. Voltamos à estação de comboios e o primeiro destino escolhido é Bern. A capital política suíça, em fase de restauro para o Euro 2008 (organização conjunta da Áustria e da Suiça), é uma cidade pacata. Percorremos as suas ruas e nada nos faz ver que aquela é a capital de um dos países mais ricos do mundo. O tempo era escasso, pois a hora de partida para mais um canto helvético estava marcada para o final da tarde. Descobrimos a rua comercial lá do sítio e qual não é o nosso espanto quando o CityDisc se apresenta mais uma vez. Não resistimos e decidimos investir em souvenirs

Marktgasse - Bern

As escolhas de mais uma visita tasqueira recaíram sobre a folk.

Os britânicos The Coral são um caso misterioso. A sua música é simples, simples demais por vezes, e estranha, mas a cada nova audição sentimo-nos mais identificados com a banda e com a pop beatlesca a la Echo & The Bunnymen adicionada de pitadas de Nick Drake que apresentam. Aquando da passagem por Bern, o colectivo preparava-se para editar o mais recente «Roots & Echos», mas foram os poucos francos suíços marcados em «The Invisible Invasion» que resultaram em mais uma compra. O que dizer deste «The Invisible Invasion»? O trilho da banda não muda muito e mais uma vez revelam-se mestres em compor boas canções pop com um travo folkIn The Morning», «Cripples Crown», «Something Inside Of Me», «Far From The Crowd», «Late Afternoon» e o exercício à The Smiths «So Long Ago» são excelentes exemplos disso). Para a produção convocaram Geoff Barrow e Adrian Utley dos Portishead e os cenários ficaram mais sombrios (ouça-se, por exemplo, «The Operator»). Contudo, os The Coral continuam a jogar no mesmo campeonato de uns Gorky’s Zygotic Mynci e dos The Zutons. A imprensa especializada continua a gostar destes seis jovens amigos de rua, as rádios vão seleccionando um ou outro tema (destaque para «Pass It On» de «Magic And Medicine») e por estes lados a música continua a ouvir-se no estéreo lá de casa.
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Johnny Cash é um dos maiores símbolos da América do Norte. Conhecido como «Man In Black» a sua história é feita de sucessos e insucessos. Porém, não fosse o produtor Rick Rubin e Johnny Cash teria perecido esquecido do público em geral. Por mais incrível que possa parecer no início dos anos 90 Johnny Cash foi ignorado pelas editoras discográficas, mas Rick Rubin, um dos mais requisitados produtores da actualidade, não hesitou em apostar em Cash. O resultado ficou registado na «colecção» American Recordings (editora de Rubin) e além dos diversos prémios ganhos com as várias gravações Johnny Cash viu a sua carreira rejuvenescer. A ideia era simples, Johnny Cash interpretava temas novos e composições de universos mais ou menos contemporâneos seleccionados por Rick Rubin. Sessões que foram registadas e reveladas pelas, até à data, cinco edições «American Recordings». Da passagem por Bern, a escolha (mais uma vez muito influenciada pelo preçário) recaiu sobre «American IV: The Man Comes Around». As escolhas para este quarto capítulo revelaram-se irrepreensíveis. O country-blues dos originais «The Man Comes Around», «Give My Love To Rose» e «Tear Stained Letter» combinam na perfeição com covers pessoalíssimas de Cash para «Hurt» (dos Nine Inch Nails), «Personal Jesus» (dos Depeche Mode), «Bridge Over Troubled Water» (de Paul Simon), «I Hung My Head» (de Sting), «In My Life» (dos Beatles) e «I’m So Lonesome I Could Cry» (de Hank Williams). Como bónus encontramos ainda as presenças de Fiona Apple, na soberba interpretação de «Bridge Over Troubled Water», Nick Cave na, não menos espectacular, versão de «I’m So Lonesome I Could Cry» e John Frusciante, que dá uma mãozinha em «Personal Jesus».
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Como aperitivo deixo «Hurt» (dos Nine Inch Nails) na voz de Johnny Cash. É certo que o vídeo foi rodado poucos meses antes do desaparecimento de Cash, o seu estado físico já não era o melhor, mas o tema é sem dúvida uma das pérolas deste «American IV» (a par de «Personal Jesus», «Bridge Over Trumbled Water» e «I’m So Lonesome I Could Cry»).

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