quarta-feira, 19 de setembro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias II

Regressamos à metrópole e a primeira coisa a fazer é saber onde fica a tasca mais próxima. Genève é uma cidade com requinte, chique, elegante, cheia de portugueses e... com 2 grandes tabernas. Por isso a adaptação foi muito fácil e daí a entregarmo-nos aos vícios foi um pequeno passo.
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Jet d'Eau - Lac Léman (Genève)

A primeira das capelinhas genebrinas visitadas, a mais genuína das tascas, a FNAC, destaca-se por não disponibilizar as promoções de fim de estação, já habituais em Portugal. Porém, e para meu espanto, aqui as novidades discográficas são disponibilizadas por 21,90 CHF, o que na moeda comunitária significa(va) cerca de € 13,50. Assim, por mais que pareça estranho, enquanto em Lisboa o novíssimo álbum dos Wilco se vendia a € 18,95, em Genève (caro leitor, Genève está colocada na 2.ª posição do ranking mundial das cidades com melhor qualidade de vida) podiamos adquirir «Sky Blue Sky» por 21,90 CHF... Como poderá depreender bebeu-se muito durante a segunda metade das férias deste ano.

As expectativas eram grandes: novo mercado discográfico, novos costumes, novas tendências e novos bálsamos para alimentar o vício. A estratégia era simples: encontrar artigos estranhos (para as tascas) portuguesas, tentar explorar um pouco da cultura local e averiguar se compensava “importar” um ou outro disquinho.
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Bem, falemos da música, propriamente dita, pois é essa a razão destes «devaneios». Olhando para a minha «escolaridade» musical, quase que posso afirmar ter completado o 1.º ciclo em Seatle. O grunge corre-me nas veias (para o bem e para o mal) e bandas como os Pearl Jam, Nirvana, Soundgarden, Alice In Chains, Mudhoney, etc., etc., etc. fazem parte da minha «cultura geral» (para não dizer ADN). Aquando do início das férias os The Smashing Pumpkins (SP), ou melhor, Billy Corgan e Jimmy Chamberlin, tinham acabado de editar «Zeitgeist», álbum que em Portugal foi disponibilizado única e exclusivamente na edição standard. Em terras helvéticas a versão especial e limitada em formato livro com um total de 76 páginas aguçou o apetite e não resisti.

A promoção ao álbum anuncia estarmos perante a primeira gravação dos SP em 7 anos. Porém, e olhando para trás, a percepção do fim dos SP e o inicio dos vários projectos de Billy Corgan revela-se um exercício difícil. O facto é que tanto D’Arcy Wretzky, como James Iha são passado e Billy Corgan, depois do flop chamado Zwan e do medíocre álbum a solo, sentiu saudades dos estádios cheios e reabilitou os SP com Jimmy Chamberlin. Jeff Schroeder, Ginger Reyes e Lisa Harriton ocuparam os lugares deixados em aberto e «Zeitgeist» foi o resultado final.

Convém desde já esclarecer que não estamos perante nenhuma obra-prima, ao estilo de «Siamese Dream» ou «Mellon Collie And The Infinite Sadness», mas «Zeitgeist» tem conseguido sobreviver e recolocou os SP nas playlists de todo o mundo. Para trás ficou a pop lagareira de «TheFutureEmbrace» e a proclamada «revolução» em «United States» é um bom exemplo disso mesmo. O som é definitivamente mais rude, as guitarras são mais incisivas e o ambiente é mais austero. «Tarantula», primeiro single e tema já rodado neste «diário», «Doomsday Clock», «7 Shades Of Black» e «United States» revelam-no. Porém, «Bleeding The Orchid», «That’s The Way (My Love Is)» (segundo e actual single), «Neverlost», «For God And Country» e «Pomp And Circumstances» tentam seguir as pisadas de outros exercícios mais polidos na carreira dos SP, mas o resultado fica muito distante dos originais. No fim o resultado acaba por ser positivo, mas paira no ar uma sensação de monotonia. Os temas parecem clones de si mesmos e após 52 minutos de música não temos grande vontade em repetir a dose, obrigando-nos, igualmente, a recuperar os míticos «Siamese Dream» e «Mellon Collie And The Infinite Sadness».

Após a viagem ao passado com os The Smashing Pumpkins, optámos por aprofundar um pouco mais o universo francófono. Descobri a chanson française há relativamente pouco tempo. Desde a edição do soberbo «Quelq’un M’a Dit» de Carla Bruni que me tenho aventurado por «território» gaulês. Além de Carla Bruni o panorama actual da música francesa apresenta muito boas apostas e, nos dias que correm, uma colecção de discos sem a presença de Benjamin Biolay, Arthur H, Emilie Simon, Yann Tiersen, Carla Bruni e Keren Ann pode considerar-se incompleta.
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Keren Ann, de ascendência holandesa e russa, nasceu em Israel e passou grande parte da sua infância na Holanda. Cedo se estabeleceu em Paris, onde deu os primeiros passos nas lides discográficas. Com residência actual em Nova Iorque, esta israelita parece ser sinónimo de multiculturalidade. 2007 marca a edição do homónimo e 5.º álbum a solo de Keren Ann. Para trás ficaram as participações com os amigos Benjamin Biolay e Bardi Johannson. A língua inglesa ganha terreno e a sonoridade praticada por Keren Ann revela-se mais familiar que nunca. Reabilita os Mazzy Star, de Hope Sandoval e David Roback, e convida Leslie Feist, Shivaree, Nick Drake, Cat Power e Serge Gainsbourg para a «festa melancólica».
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«It’s All A Lie» mostra o quanto os Mazzy Star nos têm feito falta. «Lay Your Head Down», primeiro single, junta Feist aos mesmos Mazzy Star e o festim lânguido, com direito a palminhas e tudo, é garantido. «In Your Back» podia perfeitamente enquadrar-se na magnífica banda sonora do «Virgens Suicidas» de Sofia Cappolla. Em «The Harder Ships Of The World» damos de caras com o minimalismo de Cat Power. «It Ain’t No Crime», o tema trash do disco, mantém a influência de Cat Power, mas agora são os devaneios à guitarra que sobressaem. «Where No Endings End» chama ao palco François Hardy e os Shivaree fazem-se convidados. Em «Liberty» Nick Drake parece brincar com a caixinha de música dos islandeses Sigur Rós. «Between the Flatland and the Caspian Sea» abraça «Take A Walk On The Wild Side» de Lou Reed para darmos um passeio por Manhatham e «Caspia» recupera as divagações reggae de Serge Gainsbourg.
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«Keren Ann» pode não ser um disco excepcional, mas prende-nos. Keren Ann detém uma voz suave e viciante, revelando-se perfeita para as narrações melosas que apresenta. Assim, depois da minha estreia marcante com «La Disparition», de 2002, «Keren Ann» surge para aguçar e vincar o culto por esta artista israelita.
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Continuamos a pisar solo folk e os Wilco são chamados ao palco. Depois de muito ler na imprensa especializada (principalmente na excelente UNCUT) sobre o génio de Jeff Tweedy, lá me decidi a explorar um pouco mais as facetas destes norte-americanos. Há quem diga estarmos perante a melhor banda norte-americana, mas há também quem se mostre mais céptico, pois os álbuns deste colectivo têm-se pautado pela instabilidade. A sonoridade contínua num limbo entre os belgas dEUS e o alternative-country de um Bruce Springsteen e/ou Bod Dylan. «Sky Blue Sky» é assim mais um disco regular na já considerável carreira dos Wilco. Não será nenhum «Yankee Hotel Foxtrot» (não encontramos nenhum tema como «Jesus, etc.»), é sim um disco que se situa mais no nível de um «A Ghost Is Born». Porém, foi este mesmo «A Ghost Is Born» que deu aos Wilco o Grammy para melhor álbum alternativo de 2002. Por isso, a veneração irá prosseguir e o génio de Jeff Tweedy continuará a viver, pelo menos nas crónicas da imprensa especializada de todo o mundo. Por aqui vai-se ouvindo temas como «Either Way», «Side With The Seeds», «Impossible Germany», «Please Be Patient With Me», «On and On and On», mas o que se vai cantando é «There’s a Light! / What Light?».
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As últimas escolhas da primeira visita à tasca passaram por EPs, esse precioso formato que me vai enchendo os olhos e os ouvidos, esvaziando-me a conta bancária. Sim, sou viciado em EPs! Esses disquinhos malandros que têm 5/6 músicas daquele artista especial e que só são editados no Japão, ou, saíram numa edição muito especial e limitadíssima. Desta vez a escolha recaiu sobre artigos que dificilmente se encontram em Portugal.
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Despachemos os Sigur Rós. Já tive a oportunidade de aqui transmitir a minha «adoração» por este colectivo islandês. As suas edições discográficas revelam-se sempre autênticas peças de coleccionador, ora pela sua componente musical, ora pela vertente visual. Há pouco mais de duas semanas tinha adquirido «Hoppípolla», desta vez «Ný Batterí» e a edição japonesa de «Sæglópur» foram, igualmente, importados para terras lusas. Pouco há a dizer sobre estas duas edições. Enquanto «Ný Batterí» é composto pelo tema título e um dos expoentes máximos de «Ágætis Byrjun», uma adequada introdução ao mesmo «Ný Batterí» e as duas peças que os Sigur Rós compuseram, com a ajuda de Hilmar Örn Hilmarsson, para a banda sonora de «Angels Of The Universe». Desta forma «Ný Batterí» revela-se imprescindível para o fã incondicional dos Sigur Rós e para quem ainda não conhece as contribuições do colectivo islandês para «Angels Of The Universe» (filme de Fridrik Thor Fridriksson), com os exemplares «Dánarfregnir Og Jar∂arfarir» e «Bíum Bíum Bambaló». A segunda aposta, «Sæglópur (Japan Only Tour EP)», junta os lados-b incluídos na edição europeia (CD + DVD) do mesmo «Sæglópur» e «Hafsól» (tema incluído no já referido EP «Hoppípolla». Por fim ainda se adicionam os vídeos promocionais de «Glósóli» e «Hoppípolla», ambos retirados do último «Takk…». Portanto será uma edição só para os seguidores mais acérrimos.
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Chegamos à última bebida da tarde e a escolha recai sobre uma das mais respeitadas bandas do mundo (a minha «melhor banda do mundo»). Os Radiohead, conotados no início de carreira como mais uns «One Hit Wonders», editaram até à data 3 dos mais aclamados discos dos últimos anos. «The Bends», «OK Computer» e «Kid A» continuam a ser referenciados como obras superiores. O facto é que a carreira destes britânicos parece ter esmorecido nos últimos anos. Além de alguns dos seus elementos terem enveredado por carreiras e projectos paralelos, os dois últimos álbuns já não agradaram a todos. Por estes lados o apoio e acompanhamento têm sido constantes. Por isso o EP de edição limitada «Airbag / How Am I Driving?» foi a cereja em cima do bolo. Thom Yorke e companhia voltam a transmitir toda a electricidade, magnetismo e diversidade de «OK Computer». Porém, e dado que «Airbag / How Am I Driving?» foi editado logo após a edição de «OK Computer», os 6 inéditos apresentados revelam-se autênticos «leftovers» do aclamado disco de 1997. Todavia, Ed O’Brien e Jonny Greenwood voltam a seduzir em «Pearly*». «Meeting In The Aisle», instrumental, revela-se numa das primeiras experiências electrónicas que caracterizaram os posteriores «Kid A» e «Amnesiac». «A Reminder» e «Melatonin» são dois apontamentos pessoais de Thom Yorke. «Polyethylene [Parts 1 & 2]» é o andróide paranóico deste EP e «Palo Alto» mantém acesa a chama rock dos Radiohead. No fim a soma das partes acaba por ser melhor que o resultado final, mas o facto de estarmos perante um EP de edição limitada com 6 labos-b de «OK Computer» dissipam quaisquer descontentamentos que possam existir. No entanto, a inclusão do extraordinário «Talk Show Host» (editado na banda sonora de «Romeo + Juliet» de Baz Luhrmann) poderia representar outra cereja em cima de outro bolo…
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Por fim, e como já vem sendo hábito, deixo «Lay Your Head Down» de Keren Ann como aperitivo.
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4 comentários:

Anónimo disse...

os radiohead são a minha banda. o meu amor, aquele que nunca desvanece. e não há nenhum álbum deles que eu n goste. gosto até mt do hail to the thief. q grande compra, a desse ep. conheço as canções em questão, tenho-as num álbum d raridades chamado d lost treasures, e tal como dizes, a talk show host é para mim uma grande grande música.

adorei ler mais uma viagem às tasquinhas por esse mundo fora :)

bitsounds disse...

à Keren Ann falta apenas um pouco de voz, as melodias estão lá ... grande canção.

Anónimo disse...

volto à carga: a sério que não achas p amnesiac nada d especial? há canções menores, como a primeira, a like spinning plates é infinitamente melhor ao vivo. mas uma life in a glasshouse ou uma pyramid song...são maravilhosas!! :P

mas claro, n quero com isto insistir muito. gostos são gostos. por ex. para mim a there there é uma música completamente banal.

enfim....tenho mtas paixões, mas os radiohead são o meu amor musical! :)

Anónimo disse...

EU TB FUI EU TB FUI!!!! lol realmente qnd oiço aquela percussão lembro-me logo daquele dia... quando é q eles voltam? qnd qnd qnd?!? :)

foste a q dia? eu fui no dia 23!

se quiseres podes responder p o meu mail pessoal: im_bedazzled@hotmail.com :)