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Regresso ao norte e, desta vez, à cidade do Porto. Terá sido a terceira ou quarta vez que percorri as ruas daquela cidade atlântica que mais parece anglo-saxónica. Consegui, desta vez, tirar um retrato mais exacto da cidade e do que a rodeia. Não deu para conhecer quase nada, é certo (facto que posso agradecer a S. Pedro), mas apresentou-me a uma das tascas mais atraentes de Portugal, a CDGO.COM. Ainda assim, esta primeira paragem no Porto passa pelo espaço Gesto Cooperativa Cultural (GCC). Porquê? Bor Land diz-vos alguma coisa? Pois é, uma das editoras mais importantes no panorama indie pop português chegou ao fim e, para assinalar a data, os seus mentores (Rodrigo Cardoso e Inês Lamares) promoveram uma exposição no referido GCC. Um local que, apropriadamente, respira o espírito independente que percorreu toda a história da Bor Land. Muitos foram os projectos que viram a luz do dia graças à editora e, confesso, que aproveitei a oportunidade para me abastecer de algumas das suas compilações mais antigas. No entanto, e por razões pessoais, a minha ligação com a Bor Land ficará, para sempre, ligada a Old Jerusalem e ao álbum «April». Decorria o ano de 2003 quando dei início aos saudosos seis meses de trabalho no Diário de Notícias (antes de mais, os meus profundos agradecimentos ao Nuno Galopim e à restante equipa do extinto dnmais…). O ensino superior obrigava-me a estagiar e eu fiz tudo por aproveitar essa exigência ao máximo. Foram seis meses sem dias de descanso, é verdade, (não é fácil conciliar aulas em horário laboral com trab…, herrrr, hummm, estágio curricular), mas seis meses de gozo e puro encanto que me deram a conhecer, entre outras coisa, a Bor Land e «April», de Old Jerusalem. Sobre o álbum, e para os coleccionadores, sugiro a consulta do dnmais N.º 250, de 15 de Fevereiro de 2003. Relativamente ao projecto do economista Francisco Silva, o qual desde então me esforço por seguir, tive a felicidade de assistir à sua íntima e especial apresentação realizada na GCC. Um bem-haja à Bor Land e a todas as pessoas que directa ou indirectamente a ajudaram nos seus dez anos de vida…
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Paralelamente, e ainda no espaço GCC, dei de caras com um dos trabalhos mais fugidios de sempre. O debut de Foge Foge Bandido, do genial Manel Cruz, há muito que era desejado, mas por mais irónico que possa parecer, nunca lhe tinha metido os olhos, nem as mãos em cima. Abençoado 5 de Outubro, pensei. Mais, o centésimo aniversário da República ficará para sempre ligado ao excelente trabalho gráfico e discográfico d’«O Amor Dá-me Tesão/Não Fui Eu Que Estraguei». Pícaro, não? O certo é que a terceira edição do primeiro tomo Foge Foge Bandido está aí e correrá pelas salas de espectáculo nacionais neste final de 2010 e inícios de 2011. Ainda ontem tive a oportunidade de verificar isso mesmo no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. E que bem me tem sabido reviver o fenómeno Ornatos Violeta (ouça-se, por exemplo, «O Caminho Certo» para o recordar). Fenómeno que aqui surge de braços dados com a movida indie belga («Personal Contribution» e «Canal Zero» parecem retirados de «Worst Case Scenario», dos dEUS); a pop mais acessível e doce («Borboleta» e «Canção da Canção Triste» são notáveis); o experimentalismo mais trocista e cru («Eleva!», «Onan O Rapaz do Presente», «Cobói Inglês» e «Terceira Divisão» são divertidas e mordazes); o spoken word («Ainda Pode Descer» e «Uma Historinha»); a canção popular («Canção da Canção da Lua»); e um registo mais intimista (ouçam-se, por exemplo, «À Sua Volta», «Quando Eu Morrer» e «As Minhas Saudades Tuas»). Por fim, confesso, também, um enorme gozo em ouvir Manel Cruz a cantar «Foi na Tv que aprendi a ser puta / Estou tão feliz por não ter uma luta» («Canal Zero»), ou «Mãe / A vida é esta merda / Dela só o cheiro se herda / Trocamos sonhos por qualquer porcaria / Canta de novo a canção da lua / Enquanto não chega o dia» («Canção da Canção da Lua»), ou, ainda, «Eu não te traí / Foi masturbação em três dimensões / Diz-me até que ponto queres que eu seja sincero / Diz-me até que ponto me queres conhecer» («Onan O Rapaz Do Presente»). Este é um disco que retrata uma vida cheia e intensa. Um disco arrojado e palpitante, de uma vitalidade transbordante. Um álbum duplo só ao alcance de grandes escritores de canções, como é o caso de Manel Cruz.
Paralelamente, e ainda no espaço GCC, dei de caras com um dos trabalhos mais fugidios de sempre. O debut de Foge Foge Bandido, do genial Manel Cruz, há muito que era desejado, mas por mais irónico que possa parecer, nunca lhe tinha metido os olhos, nem as mãos em cima. Abençoado 5 de Outubro, pensei. Mais, o centésimo aniversário da República ficará para sempre ligado ao excelente trabalho gráfico e discográfico d’«O Amor Dá-me Tesão/Não Fui Eu Que Estraguei». Pícaro, não? O certo é que a terceira edição do primeiro tomo Foge Foge Bandido está aí e correrá pelas salas de espectáculo nacionais neste final de 2010 e inícios de 2011. Ainda ontem tive a oportunidade de verificar isso mesmo no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra. E que bem me tem sabido reviver o fenómeno Ornatos Violeta (ouça-se, por exemplo, «O Caminho Certo» para o recordar). Fenómeno que aqui surge de braços dados com a movida indie belga («Personal Contribution» e «Canal Zero» parecem retirados de «Worst Case Scenario», dos dEUS); a pop mais acessível e doce («Borboleta» e «Canção da Canção Triste» são notáveis); o experimentalismo mais trocista e cru («Eleva!», «Onan O Rapaz do Presente», «Cobói Inglês» e «Terceira Divisão» são divertidas e mordazes); o spoken word («Ainda Pode Descer» e «Uma Historinha»); a canção popular («Canção da Canção da Lua»); e um registo mais intimista (ouçam-se, por exemplo, «À Sua Volta», «Quando Eu Morrer» e «As Minhas Saudades Tuas»). Por fim, confesso, também, um enorme gozo em ouvir Manel Cruz a cantar «Foi na Tv que aprendi a ser puta / Estou tão feliz por não ter uma luta» («Canal Zero»), ou «Mãe / A vida é esta merda / Dela só o cheiro se herda / Trocamos sonhos por qualquer porcaria / Canta de novo a canção da lua / Enquanto não chega o dia» («Canção da Canção da Lua»), ou, ainda, «Eu não te traí / Foi masturbação em três dimensões / Diz-me até que ponto queres que eu seja sincero / Diz-me até que ponto me queres conhecer» («Onan O Rapaz Do Presente»). Este é um disco que retrata uma vida cheia e intensa. Um disco arrojado e palpitante, de uma vitalidade transbordante. Um álbum duplo só ao alcance de grandes escritores de canções, como é o caso de Manel Cruz.
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