quinta-feira, 21 de outubro de 2010

2010 | Viagens à tasca em período de férias VIII

Albufeira da Caniçada (Gerês)
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Prosseguindo a minha recente passagem pelo norte de Portugal, decido permanecer nas rua do Porto, mais precisamente na Rua de Santa Catarina, para voltar a citar o duo norte-americano No Age. Recupero a minha descoberta da banda e de «Nouns» (ainda um excelente «souvenir» de Lovaina, Bélgica) para aqui transcrever alguma da história da banda de Los Angeles. «Formados em Dezembro de 2005 por Dean Spunt (bateria e voz) e Randy Randall (guitarra), esta dupla, …, fez furor no seio do movimento indie rock com «Weirdo Rippers», uma colecção de cinco EPs que viu a luz do dia no ano passado», portanto em 2007. Onze canções, seleccionadas de cinco EPs de edição limitada, os quais foram editados por cinco editoras diferentes no dia 26 de Março de 2007. O resultado é uma compilação de trinta e poucos minutos de pura distorção e punk pop and roll. Elementos que são favorecidos pela quimera noisy que tão bons resultados tem alcançado nos trabalhos dos apreciados Deerhunter (ouçam-se, por exemplo, o fantástico tema de abertura «Every Artist Needs A Tragedy», o melodioso «I Wanna Sleep», ou o balsâmico «Sun Spots»). Descortinamos a faceta mais pop and roll dos No Age, com «Every Artist Needs A Tragedy», «My Life’s Alright Without You» e «Neck Escaper», e perguntamos: Por que razão não incluíram todos os temas dos identificados EPs? Nós merecíamo-lo e os No Age também.
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De volta a Braga para notar o excelente regresso de Nick Cave, Warren Ellis, Martyn Casey e Jim Sclavunos. Refiro-me aos Grinderman e ao novíssimo álbum «Grinderman 2». Trabalho que prossegue com a demanda ao rock cavernoso e cru do homónimo disco de estreia (2007). Rock visceral e lúbrico que, por qualquer razão, Nick Cave não encaixa nos seus álbuns com os Bad Seeds e, louvado seja, é enquadrado no universo Grinderman. Um verdadeiro escape que permite a Nick Cave e restantes companheiros de estrada explorar os seus limites e fantasias, seja em termos de cadência sonora ou, mesmo, lírica («Well my baby calls me the Loch Ness Monster / Two great big humps and then I’m gone / But actually I am the Abominable Snowman / I guess that I’ve loved you for too long»). Produto que nasce da experimentação e que nos desperta os sentidos. Se «Evil» é um verdadeiro murro no estômago, «Kitchenette» uma áspera e esquizóide declaração capaz de baralhar qualquer um, «What I Know» um enigmático e perturbador momento e «Palaces Of Montezuma» um sonho em formato canção. Música vivida, composta por homens experientes e magníficos músicos, que mantém intactas a irreverência e espontaneidade da juventude. O certo é que os anos passam e Nick Cave continua a ser sinónimo de qualidade e actualidade e «Grinderman 2» é mais um extraordinário trabalho cravado com o seu nome.
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Continuo em trilhos experimentais, mas recuo a 2004 para documentar histórias dos anos 80. «Calling Out Of Context», do compositor, multi-instrumentista e produtor Arthur Russell (1951-1992), foi editado pela Rough Trade em 2004 e reúne material seleccionado de «Corn» – álbum que em 1985 acabou rejeitado pela sua editora da altura – e um segundo trabalho, nunca editado, gravado entre 1986 e 1990 para a mesma Rough Trade. Quanto ao resultado final, é surpreendente. Pouco conheço da história e da música de Arthur Russell, mas depois de ouvir canções como «You And Me Both», «Calling Out Of Context», «That’s Us/Wild Combination», «Make 1, 2», «Get Around To It» ou «Calling All Kids» atrevo-me a afirmar que a música perdeu em 1992 e precocemente um dos seus maiores visionários contemporâneos. É incrível como o material aqui compilado se encontre na fronteira entre a mera demo/esboço (gravação em quatro pistas) e o potencial single independente capaz de marcar toda uma época estival («You And Me Both» e «Get Around To It» comprovam-no). Composições registadas nos anos 80, mas que soam a presente e futuro. Ainda assim, a história diz que Arthur Russell passou um pouco ao lado de tudo e de todos.
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