segunda-feira, 5 de novembro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias XII

Últimos dias de férias. Refazer as malas. Arranjar espaço propício para o transporte dos discos importados. Despedirmo-nos das pessoas e dos locais que adoptámos como nossos. O stress regressa e o pensamento em Portugal, no trabalho e na monotonia do quotidiano também. Porém, ainda houve tempo e espaço (na bagagem) para mais uma visita a uma tasca genebrina. A escolha final recaiu sobre a segunda City@Disc da cidade, local onde descobrimos a versão deluxe de «Nolita», quarto álbum da menina Keren Ann, e «Live In Japan 2004» dos norte-americanos Incubus (um dos muitos guilty pleasures da minha juventude).
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«Nolita» marca a separação criativa definitiva entre Keren Ann Zeidel e Benjamin Biolay e é o primeiro registo da artista israelita após a sua mudança para New York (mais precisamente para o bairro de Manhattan, North Of Little Italy, i.e., NoLIta). Composto por quatro temas em francês e seis em inglês, Keren Ann canta e encanta novamente. A fragilidade da sua voz prende-nos do primeiro ao último segundo. A leve brisa bucólica que percorre todo o disco rejuvenesce qualquer que seja o ouvinte. «Que N’Ai-Je?», uma visão mais adocicada e frágil da bossa nova, abre as hostilidades. «L’Onde Amère», tema que conta com a participação do trompetista Avishai Cohen, conquista-nos por completo e a rendição está garantida ao segundo acto. «Chelsea Burns», primeiro tema apresentado em inglês e peça fundamental para a mediatização de Keren Ann, só adensa ainda mais a nossa entrega. Porém é «Nolita», com sete arrebatadores minutos, que ao abraçar a ardente frieza de uns Sigur Rós, Keren Ann parece atingir a perfeição. Comparativamente, o que se segue perde um pouco de interesse, mas nenhuma canção desilude. O magnetizante piano em «One Day Without», o baixo indolente de «La Forme Et Le Fond» e a deliciosa «Song Of Alice» só aumentam o encanto por Keren Ann. Como canta em «Greatest You Can Find» (faixa escondida), «Your love is greater greatest you can find here».
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Partimos em direcção aos Incubus e por muito que queiramos recordar bons velhos tempos, depois de tantas e tão boas (re)descobertas como Martha Wainwright, Benjamin Biolay, Keren Ann, The Shins, Johnny Cash, e por aí em diante, por mais espectacular que fosse o concerto registado em «Live In Japan 2004», saberia sempre a pouco. Ainda para mais, a digressão aqui documentada é que apresentou o desapontante «A Crow Left Of The Murder». Longe vão os tempos de «S.C.I.E.N.C.E.» e «Make Yourself», fase mais produtiva deste colectivo californiano. A genuína agressividade dos Incubus perdeu-se após «Make Yourself», álbum que os catapultou para os topes de todo o mundo e os corrompeu. O dinheiro parecia falar mais alto e o descalabro foi inevitável. «Live In Japan 2004» centra-se em «A Crow Left Of The Murder», mas os pontos altos são «Consequence», «Idiot Box», «Vitamin», «Clean», «A Certain Shade Of Green» e o soberbo «Pardon Me». Que me perdoem os Incubus, mas o espírito inicial murchou e não se vislumbra quaisquer indícios de renovação.
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Jet d'Eau - Lac Léman (Genève)

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