quinta-feira, 1 de novembro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias X

Há cerca de 2 meses e meio, durante a última semana de férias, decidimos procurar os verdadeiros souvenirs helvéticos, para presentear familiares e amigos mais próximos. A primeira sugestão foi o estabelecimento comercial Manor (o El Corte Inglês suíço). Escusado será dizer que perdemos uns valentes minutos na secção cultural, onde para além do Compact Disc os packs DVD das temporadas 1 & 2 de «Weeds» (série que começa a fazer história em todo o lado) também fizeram mossa. Relativamente à música, além da gracinha SuperBus (já agora amigo F., foi mesmo só uma brincadeira) o aliciante preço de «Amputechture» dos The Mars Volta e a recomendação local de Stephan Eicher completaram o rol dos recuerdos (daquele dia).
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Os The Mars Volta são um caso misterioso! Saídos do saudoso mundo At The Drive-In, cedo Omar A Rodriguez-Lopez e Cedric Bixler Zavala ocuparam uma posição impar no panorama stoner indie free rock norte-americano. A urgência sonora e estética registada nos vinte minutos dos três temas que compunham o EP de estreia «Tremulant» (de 2002) davam vivas ao novo rock progressivo. Seguiu-se «De-Loused In The Comatorium» (de 2003), álbum conceptual produzido por Rick Rubin que relata, na primeira pessoa, o período em estado de coma de um toxicodependente e amigo da banda. O disco não tardou a ser aclamado por público e crítica. Os concertos eram um estrondo (destaque para a passagem do colectivo pelo Paradise Garage, a 4 de Dezembro de 2003). O culto estava garantido. Em 2005, «Frances The Mute» (álbum com mais de uma hora de música e com apenas 5 grandes temas) é editado e os devaneios de Omar A Rodriguez e Cedric Bixler voltam a captar a atenção de todos. Por vezes, os delírios de Omar e Cedric parecem perdidos em si mesmos, quebrando o frágil fio condutor da música dos The Mars Volta e transmitindo alguns sinais de desgaste e desorientação. Todavia, cada jam session registada em disco acaba por revelar uma banda exímia no que faz: música sem qualquer tipo de regras. O rock mistura-se com a salsa. A melancolia é assolada pelo psicadelismo citadino. A pop vê-se prisioneira do negrume apocalíptico. O inferno é mais uma vez convocado e colocado à disposição do stoner rock. Tudo se mistura, tudo se transforma ao som destes The Mars Volta. É o que acontece também em «Amputechture» (álbum editado em 2006). O deserto, o apocalipse e o inferno continuam a ser referenciais. A alucinação da guitarra de Omar Rodriguez, apesar de desalinhada, torna-se aqui mais familiar. A voz ora sofrível, ora aguerrida ou estridente de Cedric Bixler também entusiasma. «Amputechture» é capaz de não ter nenhum tema comparável aos «populares» «Televators» de «De-Loused In The Comatorium» e «The Widow» de «Frances The Mute», mas os The Mars Volta, apesar da sua anarquia sonora, revelam uma consistência e proximidade que pareciam impossíveis de alcançar.
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Chegamos a Stephan Eicher, o verdadeiro e único representante da música helvética que acabou na mala suplementar do nosso regresso a Portugal. Eicher, nascido em Münchenbuchsee (localidade situada no cantão de Bern e muito perto da sua capital), compõe e edita singles desde 1978, ano em que se estreou com o hit-single, em terras germânicas, «Eisbär». A sua formação musical passou pela academia de artes de Zürich. Quando chegou a altura de compor Stephan Eicher não optou por nenhuma língua em especial, razão pela qual é normal ouvirmos temas em francês, suíço-alemão, inglês ou mesmo italiano. No entanto, e como não poderia deixar de ser, as influências exteriores delinearam-lhe um caminho e aqui Jacques Dutronc, Georges Brassens e o inevitável Serge Gainsbourg foram figuras de proa numa primeira fase da sua carreira. Paralelamente, nomes como Johnny Cash, Bob Dylan e Bruce Springsteen também eram invocados. O meu primeiro reconhecimento do terreno Eicher foi efectuado através do seu «Best Of» de 2001. O alinhamento de «Hotel*s: Stephan Eicher’s Favourites» resultou da votação online dos seus fãs. Musicalmente «Hotel*s» começa por respirar a pop de 80: «La Chanson Bleue», é batida New Order para logo depois se dispersar em ambientes Jean Michel Jarre e «Combien De Temps» (um dos maiores sucessos de Eicher), é a escola de uns Tears For Fears e/ou Fine Young Canibals. «Two People In A Room» poderá sugerir uma versão suíça de um Rod Stewart, mas evolução de Eicher revelou-se bem mais proveitosa que o escocês. Em «Guggisberglied» ouvimos Tori Amos a ensaiar ao som das variadíssimas vertentes de Matt Howden (Raindogs). «DéJeuner En Paix» (mais um dos grandes sucessos de Eicher) é pop europeia embebida no rock norte-americano dos finais de 80. «Hemmige», com uma introdução em tudo parecida a «I Will Survive», é uma surpreendente valsa suíça-alemã. «Tu Ne Me Dois Rien» recupera «Nebraska» de Bruce Springsteen e «Des Hauts, Des Bas» revela ensinamentos góticos de inícios dos anos 80. «Oh Ironie» (outro dos grandes sucessos de Eicher) anuncia melodias e orquestrações clássicas, mas o resultado é uma excelente peça para passar em qualquer discoteca vintage. Boa introdução à cultura pop suíça.
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A escolha para o habitual destaque final recaiu sobre os The Mars Volta. O vídeo mostra a versão live de «Meccamputechture», de «Amputechture». Em pouco mais de seis minutos comprovamos a força e a dedicação empregues pelos The Mars Volta nas suas actuações ao vivo e ouvimos um dos grandes temas do último álbum de originais da banda norte-americana.

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