domingo, 11 de novembro de 2007

Viagens à tasca

O regresso a Portugal resultou, obviamente, num retorno aos roteiros das principais tascas nacionais. Na primeira visita fomos surpreendidos pelos viciantes discos em formato E.P.. Já aqui o transmiti e volto a frisar: sou apaixonado pelos E.P.. Podem não trazer nada de novo, mas estas «pequenas» edições, encaradas como algo menos importante que os álbuns (aumentando o meu interesse), poderão compilar leftovers de outros registos ou aguçar o apetite dos ouvintes para um futuro álbum ou futura carreira cheia de sucessos. As escolhas, de mais uma viagem à tasca, recaíram sobre a mais recente aposta dos Yeah Yeah Yeahs, a estreia dos Bloc Party e o teaser dos Shivaree para o álbum «Who’s Got Trouble», de 2005.
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Gosto muito dos nova-iorquinos Yeah Yeah Yeahs. Fashion Punk Pop de alta qualidade. Karen O, uma das muitas rainhas do rock, sabe o que quer e para onde vai. Os seus variados registos, ora agridoce (ouçam-se «Down Boy» e «Is Is») ora grotesco (em «Rockers To Swallow»), são a mais valia deste colectivo. A música por vezes repete-se, mas as interpretações de O dão sempre um toque cativante aos Yeah Yeah Yeahs. «Is Is», E.P. que reúne novas gravações de alguns dos temas escritos e esquecidos na gaveta entre «Fever To Tell» e «Show Your Bones», é mais do mesmo. Nenhuma das canções aqui incluídas marca, de forma clara, uma viragem de rumo, nada que nos possa dar uma primeira ideia sobre qual o futuro recente deste trio nova-iorquino. Contudo, pergunto: quando se gosta de um determinado doce, repetimos esse mesmo doce que nos satisfaz plenamente ou procuramos outras sacarinas? Karen O volta a ser a estrela da companhia e Nick Zinner e Brian Chase continuam em constante despique um com o outro. O resultado é dezoito minutos de boa música e de pura sedução por parte de Karen O e companhia. «Rockers To Swallow» é visceral e recupera os bons momentos de Marilyn Manson. «Down Boy» é marca de registo Yeah Yeah Yeahs, início doce para logo depois Nick Zinner e Brian Chase revirarem tudo do avesso. «Kiss Kiss» é punk pop para danças lascivas/sexuais; «Is Is» acaba por ser o melhor tema aqui apresentado, juntando o belíssimo «Maps» ao não menos espectacular «Cheated Hearts». «10 x 10» tem a árdua tarefa de fechar mais uma proposta dos Yeah Yeah Yeah. Nada de novo, portanto, mas aguçamos o apetite para novidades Yeah Yeah Yeahs.
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Mantemos o registo das vozes femininas, para voltarmos aos Shivaree. OK, a banda norte-americana é irregular e somente o «Goodnight Moon» teve algum reconhecimento geral. Porém, há algo na voz e desempenho de Ambrosia Parsley que me prende. Algo de langoroso que busca ensinamentos pop a uns Sparklehorse, Mazzy Star e, porque não, Portishead. A música mantém a sua vertente indolente. A voz é cativante e a música, sem encantar, satisfaz. Um dos muitos guilty pleasures do final do século XX a marcar os meus ouvidos (para o bem e para o mal). A tracklist deste teaser para o álbum «Who’s Got Trouble?», trabalho que contém um dos segredos mais bem guardados da popNew Casablanca»), é composta essencialmente por covers (outra das minhas grandes paixões). Além de «I Close My Eyes» (primeiro single do supracitado álbum), encontramos «Fat Lady Of Limbourg», uma versão de Brian Eno e também incluída em «Who’s Got Trouble?» e os lados-b «Fear Is a Man's Best Friend», cover de John Cale, «Strange Boat», cover dos Waterboys e que conta com a participação especial de Ed Harcourt, e «657 Bed B» (original dos Shivaree). Só para aderentes Shivaree.
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Terminamos esta aventura ao som dos sempre bem-vindos Bloc Party e mais um E.P.. A compra colmatou uma falha na listagem de discos lá de casa, com o debut da banda britânica. Não nos alonguemos muito. O que interessa aqui é «Banquet», tema indie rock radio friendly com um refrão orelhudo e que recupera Gang Of Four, The Fall e The Cure em pouco mais de 3 minutos. O desenrolar dos acontecimentos para os Bloc Party é conhecido: uma operadora de telecomunicações descobre «Banquet» e a exposição é fulminante. «Silent Alarm» é apanhado na corrente e aquando de «A Weekend In The City», segundo registo de originais, a presença da banda nos tops europeus já é normalíssimo. Recentemente editaram «Flux» e as reacções têm sido díspares. Ora se ama ora se odeia, não havendo espaço para o meio-termo. «Bloc Party E.P.» é de digestão mais fácil. Além de «Banquet» (a «galinha dos ovos de ouro» do colectivo britânico), encontramos «She’s Hearing Voices», numa primeira gravação menos sofisticada; «Staying Fat», ritmo acelerado e riffs frenéticos com vocalizações sobrepostas e envolventes; «The Marshals Are Dead», canção que se mostra ainda num estado embrionário e que nunca foi terminada (pelo menos em disco); «The Answer», que começa ao som de «Price Of Gasoline» e pelo meio revela alguns riffs de «This Modern Love» é, porventura, o outro grande ponto de interesse deste E.P.. No fim há ainda espaço para a versão «Phones Disco Edit» de «Banquet», onde a bateria, o baixo e uma pitada de electrónica se evidenciam. Agradável estreia e excelente teaser para «Silent Alarm».
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Segue-se a actuação dos Yeah Yeah Yeahs no «David Letterman Show» com «Down Boy», excelente cartão de visita para a sonoridade Yeah Yeah Yeahs.

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