terça-feira, 20 de novembro de 2007

Viagens à tasca

Há algumas semanas tive a oportunidade de visitar, pela primeira vez, a tasca da Margem Sul, a qual se revelou um dos mais estimulantes estabelecimentos «disqueiros». Entre as novidades e as promoções do costume, lá descobrimos artigos raros para a nossa capital (e em formato E.P.)...
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Joan Wasser, mais conhecida por Joan As Police Woman, palmilha os trilhos da música há mais de 10 anos. De eterna namorada de Jeff Buckley a colaboradora habitual de variadíssimos artistas como os Scissor Sisters, Lou Reed, Sheryl Crow, Rufus Wainwright, Antony ou mesmo John Cale, Wasser foi ganhando prestígio e, nos intervalos das suas muitas participações em trabalhos alheios, foi gravando as suas próprias canções. Em 2003 edita «My Gurl», primeiro single e um dos seus melhores trabalhos que um ano depois integra o homónimo E.P. de estreia. «Joan As Police Woman» revela algum desequilíbrio, é certo, mas temas como o soberbo «My Gurl», «Stagger Into The Light» (onde paira o espírito de Jeff Buckley) e «Game Of Life» davam alguns indícios do que seria a sua estreia, em 2006, com «Real Life». Joan Wasser caracteriza a sua música como «punk rock r&b» que resulta de duas grandes influências: a soul clássica de Al Green e Nina Simone e o som rude e experimental de uns Sonic Youth. A experimentação é, de facto, a metodologia favorita de Joan As Police Woman, sendo as divagações sonoras ora ao piano ora ao violino e a sua voz lembra algumas soul artists. Porém, é a assimilação de traços interpretativos de Antony Hegarty e Rufus Wainwright que mais nos fascina. Para primeiros contactos com a obra de Joan As Police Woman aconselho «Real Life» (álbum que inclui o magnífico «I Defy»); para os admiradores «Joan As Police Woman E.P.» representa os primeiros meses de gestação do fantástico «Real Life».
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Se Joan As Police Woman foi uma das grandes surpresas do ano transacto, os norte-americanos The National têm-se revelado um dos melhores partidos neste ano de 2007. Desde a edição de «Boxer» que não consigo parar de os ouvir e de os procurar (ora na internet, ora nas tascas). Nesta estreia sulista encontrámos o saboroso E.P. «Cherry Tree». Lançado em 2004, entre «Sad Songs For Dirty Lovers» (2003) e «Alligator» (2005), este conjunto de sete temas representou um certo limar de arestas por parte dos The National. Se até então a banda revelava potencial, ainda por concretizar, após «Cherry Tree» apuraram-se fórmulas e os The National atinaram, dando indícios do que são actualmente: uma das melhores propostas vindas da terra do Tio Sam. O colectivo continua a abordar Nick Cave, Leonard Cohen, Tindersticks, Tom Waits, Bruce Springsteen, The Walkabouts, etc. de uma forma muito particular. A voz de Matt Berninger engrandece a música e a própria banda, mas é a empatia entre esta autêntica família que mais brilha. Os ambientes são harmoniosos q.b. e temas como «All Dolled-Up in Straps», «Cherry Tree», «About Today» e «Wasp Nest» revelam o início da fase mais proveitosa dos The National. Depois chegaram «Alligator» e «Boxer» e o culto surgiu.
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A última aposta, no meio de tantas outras possíveis, passou pelo álbum de remisturas dos sempre bem-vindos Bloc Party. Pela primeira vez encontrámos o dito álbum a preço decente (aceitável para uma colecção de remisturas, entenda-se) e nem pensámos duas vezes. As canções da recomendável estreia «Silent Alarm» são boas e os convidados, para a metamorfose sonora «Silent Alarm Remixed», foram escolhidos a dedo. O resultado final é bem bom para um álbum de remisturas. Entre as propostas apresentadas encontramos nomes e ambientes tão diversos como Ladytron que nos dão uma visão ainda mais sinistra e mecânica de «Like Eating Glass»; M83 que surge com uma assombrada versão de «The Pioneers»; Four Tet que pega em «So Here We Are» e o resultado é ainda mais etéreo que o original; Mogwai que desiludem um pouco com a pop plana em «Plans»; Nick Zinner (Yeah Yeah Yeahs) que traz lições dadas pelos TV On The Radio para o universo Bloc Party; e os saudosos Death From Above 1979 que dão um interesse adicional ao já por si admirável «Luno». Pelo meio encontramos ainda belíssimos exercícios como «Helicopter [Whitey Remix]» que nos transporta para o mundo esquizofrénico dos Avalanches; o já aqui comentado «Banquet [Phones Disco Edit]» com a bateria e o baixo no volume máximo; a serenidade «This Modern Love [Dave P. And Adam Sparkles' Making Time Remix]» com tempero disco; e o rebelde «Price of Gasoline [Automato Remix]» numa versão mais «kraftwerkiana». Resumindo e concluindo: é mais um excelente conjunto de canções pop com a assinatura Bloc Party.
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Segue-se o vídeo de «Christobel», um dos melhores temas de Joan As Police Woman incluídos em «Real Life» e que conta com a ajuda preciosa de Joseph Arthur.

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